eu não estraguei nada
— Eu não estraguei nada, certo? — Taeyong pergunta para mim, deitado no sofá do interior do iate. Eu lhe dou mais uma garrafa de água, mas ele nega com a cabeça. — Eu me senti mal.
— Se o barco não estivesse tão rápido, ele não teria ficado tonto — Yuta abre a boquinha para foder com a situação. — Quem mandou ele ir mais rápido?
— Yuta, vem dançar sua Cardi B, vem — Dodo puxa ele para o convés outra vez, onde Jaehyun está limpando os últimos restos do vômito de Taeyong.
— Você não estragou nada, Tae... — digo.
— Eu sei, mas é que... — sua frase pela metade deixa claro o que vem a seguir. Ele ergue o tronco, já eu pego o balde que arranjamos com o condutor e dou para ele vomitar. Ele esguicha por alguns segundos, depois deixa o balde ao lado do sofá.
Sem querer dou uma olhada no seu vômito e faço uma careta ao perceber que tudo que ele comeu aqui, ele vomitou. Tenho que esquecer do que vi, então passo um lencinho umedecido nos seus lábios, para limpar, e faço com que ele se sente mais confortável. Ele é muito fraco para essas coisas, eu devia ter imaginado. Álcool, mais o movimento do barco e a dancinha ridícula que ele estava fazendo... Não foi uma combinação muito boa.
E eu nem sabia que aqui dentro tinha comidinhas, senão eu não teria trazido a torta. Mesmo assim, eu dou um pedaço para Taeyong e insisto que ele coma, senão vai esvaziar toda a barriga e, se ficar sem comer, vai ficar fraco. Nem que ele coma essas porcariazinhas.
— Come, Tae... — insisto.
— Tá bom — ele faz um beicinho ao finalmente aceitar.
Taeyong leva apenas uma hora e meia para se recompor. Eu fico com ele por alguns minutos, depois Yuta passa a tomar conta dele, seguido por Doyoung. E não demora muito para ele dizer que está se sentindo bem e que quer beber de novo. Sempre é assim. Taeyong cai, vomita, e mesmo assim diz que está espetacularmente bem para mais uma rodada de bebidas.
— Vocês não vão me excluir só por conta disso, né? — ele cruza os braços. Suas bochechas vermelhas e a asa torta me fazem rir. Ele é todo bobinho mesmo.
E se eu disser para Taeyong que ele na verdade parece um anjinho todo bonitinho? Meu deus, nem eu consigo me entender. Passei boa parte do tempo com raiva dele, de repente ele cai e eu já fico todo boiola. Não é possível. Não é possível. Mas olha só as bochechinhas dele, olha... Ele parece todo perdido, uma criancinha... Aish, deve ser o álcool que está me fazendo ter esses pensamentos. Deve ser.
— Tive uma ideia — Jaehyun sussurra próximo ao meu ouvido, depois se afasta. — Vamos brincar de "Eu nunca".
— Ui, gostei! — Dodo senta-se melhor num dos sofás. Jaehyun enche o copo de todo mundo, depois entrega um cheio para Taeyong. — Eu começo!
— Ih, lá vem merda... — Yuta resmunga. Dodo lhe lança um olhar de ódio.
Eu não quero brincar disso, porque sempre ficam sabendo das merdas que fiz. Não consigo ficar trapaceando toda hora. Vão desconfiar que estou trapaceando. Tenho certeza. Mas também não quero que saibam da minha vida. Por isso prefiro nem jogar. Jaehyun me paga.
— Eu nunca... — Doyoung fica olhando para o nada por alguns segundos. Acho que ele já está bêbado o suficiente para esquecer das coisas que começa a falar. — ... Nunca traí enquanto namorava.
Eu, Jaehyun e Yuta bebemos. Taeyong fica nos olhando com os olhos arregalados.
— Yuta? — ele fica mais é surpreso com Yuta do que comigo. Acho que isso está bem na minha cara mesmo.
— Eu sou o próximo! — Yuta ergue a mão, após dar de ombros sobre a surpresa de Taeyong. — Ahn... Eu nunca beijei meu melhor amigo.
Dessa vez eu penso se bebo ou não bebo. Mas ver o Jaehyun beber é o mesmo que eu beber, então eu só viro um gole. Todo mundo fica olhando para a gente.
— F-foi num dia que a gente se bateu sem querer — explico, olhando para Jaehyun. Ele me olha estranho, como quem não entendendo muito, mas depois releva.
— Que batida, hein... — Yuta brinca.
— Minha vez nesta merda — Jaehyun recosta-se ao meu lado e estica as pernas. — Eu nunca... Eu nunca... Eu nunca...
— Ai, vai logo! — Taeyong reclama.
— Relashhhhhhh... — ele estende a palavra por tanto tempo, depois começa a rir do nada. — Calma, já sei! Eu nunca... Eu nunca mandei fotos íntimas para alguém.
Eu, Doyoung e Yuta bebemos. Eu olho para Taeyong. É verdade, ele nunca me mandava fotos, sempre eu que mandava para ele. Ele é muito quietinho e certinho. Gente do céu...
Do nada comecei a pensar aqui sobre o nome Shrek. Sério. É que eu pensei que minha pergunta poderia ser algo mais leve, aí pensei em filmes, daí pensei em Shrek. E Shrek é o melhor nome já enventado. Iventado. Como é mesmo a palavra? Enventado ou iventado? Iventado. Ah, inventado. É porque ninguém acerta essa zorra. Todo mundo fala Shirek, Shuek, Shurek, Sh-reki, Shirwek, Shiureki, Shtyrhehsheereki...
— Oh, Ten... Ta rindo do quê, maluco? — Doyoung começa a rir comigo também. Mano, a gente tá muito bêbado, só pode ser... — Sua vez agora, doente!
— Tá, eu nunca... — e agora lenhou, porque me perdi com o negócio de Shurek e não sei mais de nada. — Eu nunca usei um brinquedinho de adulto.
Se é pra brincar de eu nunca pesadão, vamos brincar então...
— Que brinquedo? — Taeyong pergunta. Yuta finge que vai bater nele, mas na verdade sussurra em seu ouvido. Não sei se foi a queda ou a tontura, mas Taeyong está mais lerdo que o normal.
Doyoung, Jaehyun e Yuta bebem. Gente, eu tô ?????????? Yuta tudo bem, eu não tô nem aí para ele. Mas meus melhores amigos????????
— Doyoung?? — quase grito de surpresa. — Não estou te reconhecendo!!
— Para de gritar, demônio! — ele sacode as mãos. — Foi na minha adolescência. Passei um tempo na casa da minha tia, que não era casada, e encontrei um negócio lá.
— Você brincou com o quê na casa de uma mulher, Doyoung??? — agora todo mundo fica olhando para ele. E eu estou louco para que ele responda o que eu quero que ele responda. É agora que a verdade sai.
— Um negócio lá — ele resmunga, desviando o olhar.
— Sua tia é heterossexual? — quero saber.
— Até demais, teve uma vez que eu cheguei e ela tava com um homem lá... — quanto mais ele fala, menos eu escuto.
Por dentro, eu estou berrando demais! Eu estou urrando demais! Eu tô rebolando até o chão. Dodo é viado. É viado. É viado. É viado. Vontade de gritar ao moço: "motorista, pode correr, que os 100% viado não tem medo de morrer!!"
Gente, é normal descobrir na despedida de solteiro do seu amigo que na verdade ele não é hetero, mas sim bissexual? É normal? É normal? É normal???????????? Shurek.
— E você, Jaehyun? — viro-me para ele, querendo tirar satisfações.
— Não foi bem eu que usei... Eu usei numa pessoa, essa pessoa usou em mim... — acho que para ele é simples falar essas coisas.
Nunca mais eu brinco desse negócio, estou descobrindo coisas demais. Coisas demais!!!!
— Minha vez — a voz desesperançosa de Taeyong se faz presente. Até agora ele não bebeu nada. Nadica de nada. — Eu nunca fiquei com uma pessoa e nunca mais falei com ela.
Todo mundo bebe. Eu estou até sentindo pena de Taeyong, por isso vou bolando umas coisinhas para a próxima rodada. De fato, o que todo mundo fala não se encaixa com ele, então o coitado fica murchinho no sofá sem saber o que falar. Quando chega minha vez outra vez, eu falo:
— Eu nunca tive alguém dançando no meu colo.
Ele me encara por um tempo. Jaehyun, Yuta e Doyoung bebem... Taeyong fica só me olhando. Eu sorrio e dou de ombros. Ele bebe, então comemoramos seu primeiro gole da brincadeira. E ele decide brincar disso também, porque quando chega a vez dele, ele fala:
— Eu nunca dancei no colo de alguém.
Eu e Yuta bebemos. Eu bebo olhando diretamente para Taeyong. E ele não tira os olhos de mim. Não sei bem o que estamos fazendo um com outro neste momento. Na minha vez da outra rodada, lanço a braba para que ele beba outra vez:
— Eu nunca fumei um cigarro sequer.
Ele e Yuta bebem. Começa uma discussão sobre um tragar apenas uma vez, o outro disse que foi folha de papel e não conta... Mas no meio desse caos cheio de gritaria, eu tenho um Taeyong olhando diretamente para mim. Bem para mim. Não sei se grato por eu inseri-lo na brincadeira. Não sei se querendo me provocar por ter remexido em baús enterrados. Não sei não. Mas eu como um pedaço da minha torta e rio comigo mesmo. Sei lá. Shuek...
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