eu não estou tentando te seduzir

— Bom dia, Ten Chittaphon Lee-seja-lá-que-merda! — essa voz e uma sacudida nos ombros me dão uma acordada.

Percebo que minha cabeça está debaixo do travesseiro e, quando tiro, recebo uma rajada solar no rosto e isso é equivalente a um murro na cara. Com os olhos entreabertos, tento enxergar Taeyong. E antes de conseguir, ele começa a beijar-me os ombros e a nuca, uma vez que estou de bruços. Quase não tenho como respirar, mas também não quero levantar agora. Estou com muito, muito sono. Enfio minha cabeça debaixo do travesseiro outra vez e decido que irei ignorar as sacudidas e beijos de Taeyong.

— Tennie... Acorda... — o filho da mãe me dá uma mordida no ombro esquerdo. Vê se pode um negócio desse? — Docinho... Por que você não dormiu lá em cima comigo, hein? Prefere dormir no próprio quarto, né? Vamos, vamos... Acorda, Chittaphon...

Sim, eu aproveitei para dar no pé assim que Taeyong dormiu apoiado em meu peito. Na pontinha dos pés, desci as escadas e fui para o meu quarto. Me tranquei no banheiro por um tempo, claro, porque não queria deixar acumulado o tipo de coisa que senti quando suas mãos estavam na minha coxa. Após isso, eu acredito que tomei banho e literalmente caí na cama. Nossa senhora, que sono pesado dos infernos!

— Vou ter que te obrigar a sair da cama — eu sinto seu corpo afastar-se de mim e até solto um aleluia mental. Taeyong consegue ser um pé no saco de vez em quando. Cruzes!

Quando penso que ele irá desistir de me encher o saco, na verdade é o contrário. Faz um pequeno batuque na madeira de uma bancada só para me irritar. Tipo... Ele ainda quer viver? Porque há inúmeros sinais apontando que não.

— Taeyong, me deixa em paz — resmungo contra o travesseiro, na esperança de que ele me escute e faça exatamente isso.

— Só falta você acordar, bobão — daí ele tem a belíssima ideia de puxar o cobertor. Estou com tanto sono que meu instinto lento apenas me força a empurrar o travesseiro contra a cabeça, ao invés de me cobrir. — Que zorra é essa, Chittaphon? Tu tá pelado? — e então joga o tecido sobre mim outra vez. Eu até tinha esquecido deste fato.

— Não teria descoberto se não fosse bisbilhoteiro.

— Eu não estou sendo bisbilhoteiro, estou tentando te acordar, se você não percebeu... — sinto que ele está ajeitando o cobertor em mim. Um belo teatro e espetáculo por ter me visto nu deitado de bruços, hein. — Você bem que poderia avisar.

— Desculpa se não chequei minha bola de cristal para te avisar que não estou usando roupa, porque simplesmente estava suando.

— Porra, Ten, todo você vai dormir usando o equivalente a nenhuma roupa, porque não usa camisa nem cueca... Aí agora diz que estava com calor? — Taeyong faz o favor de arrancar o travesseiro da minha cara. Agora a claridade está me matando.

— Taeyong, se você tiver alguma crítica sobre como eu durmo, me mande um e-mail — cobro os olhos com o braço, mas até isso Taeyong afasta. Sério, eu estou louco pra meter um soco nele. — Caramba, você é insuportável!

— Levanta, levanta, levanta! — ele dá três tapinhas na minha bunda. Eu me sacudo para fingir que estou protestando, mas na verdade estou amando. Se ele puder continuar, eu ficaria imensamente feliz. — Meu joelho está bem melhor, então vamos andar bastante. Além disso, vamos fazer compras antes de visitar o local do casamento. Como você gosta de compras...

— Não vem me seduzir pra fora da cama com esse papinho, não... — cruzo os braços abaixo da cabeça para fazer como travesseiro. Agora estou me acostumando com a claridade, mas não significa que não não estou pistola com Lee.

— Eu não estou tentando te seduzir para fora da cama... — ele se senta na cama, ao meu lado. — Mas seria ótimo se você se levantasse essa sua bunda daí e fosse adiantar seu lado.

— Por que minha bunda? — olho para ele. Taeyong está fofinho com o cabelo molhado.

— Parte aleatória do seu corpo — ele dá de ombros.

Eu aperto um pouco os olhos como desconfiança, mas me lembro de algo.

— Em falar na minha bunda, faz massagem aí — dou uma sacudida no bumbum.

— Na sua bunda? — olha-me surpreso.

— Não, na sua — reviro os olhos. Jesus, quanta lerdeza. — Óbvio, panaca. Faz aí.

— É assim que pede? Cadê as palavrinhas mágicas? — exige, cruzando os braços.

Sério, eu mereço isso? Estou sendo super legal aqui pedindo com educação, mas ele realmente quer que eu diga as palavrinhas mágicas? Caramba, o cara não tem amor pela vida mesmo!

— Faz a porra da massagem na minha bunda, cacete! — e com essa minha gentileza ele até arqueia o cenho, meio incrédulo com a minha ousadia.

Fazer o quê se sou um pedacinho de mau caminho bem educado que gosta de dar livre arbítrio às pessoas ao meu redor? Sério, sou um amor.

— Tenho medo de te perguntar de novo e você me xingar em francês — então ele põe as mãos em meu quadril, gentilmente descendo com uma pequena massagem que desde já me arrepia.

— Eu te xingaria em tailândês — respondo. — Te xingar em francês não seria o suficiente. Iria parecer elogio. Quero que você sinta meus sentimentos com os palavrões que cresci absorvendo e disseminando.

— Você é uma peste e eu só descobri agora? — Taeyong ri. Parece até o discurso de Jaehyun sobre mim.

Lentamente, ele realmente escorrega as mãos até minhas curvas, porém apenas espalma e não faz nenhum movimento. Eu sigo seu olhar, e ele está encarando meu formato. Eu não sei como devo reagir a isso ou o que está acontecendo.

— Que foi? — eu pergunto.

— É que... Sabe... É seu corpo — agora ele movimenta uma das mãos de uma maneira carinhosa, subindo e descendo, movendo o cobertor junto.

— Eu te dei permissão — enfatizo, afinal acabei por obriga-lo.

Mas acredito que agora começou Taeyong naquele dilema dele de não querer fazer as coisas porque acha que isso pode fazer parecer como se estivéssemos apenas ligando para nossos corpos e pipipo. Eu sei que ele realmente gosta de mim (um erro, mas ok)... Mas tudo que diz respeito a mim, ele fica muito hesitante. Não sei se por medo de dar errado ou medo de eu não interpretar da maneira correta. Mas só estou pedindo uma massagem, então isso não é nada.

Eu realmente ficaria preocupado se ele eventualmente descobrisse que ontem à noite eu meio que exercitei meu bracinho pensando nele, porque atualmente não me sinto confortável em ser transparente com ele acerca de assuntos como este. Mas como não preciso falar e também não quero, vou deixar na minha caixinha de segredos que é bem grande. Pensei até que falando um pouco de mim ontem ajudaria nessa hesitação toda, mas a verdade é que não muda nada.

— Tá bom, então... — e depois de trezentos anos, ele começa a massagem.

— Eu estava brincando, deixe — sento-me na cama e puxo o cobertor para cobrir tudo que está abaixo do meu quadril enquanto me levanto da cama. — Quando eu me vestir, eu desço.

Sei que Taeyong está me olhando sem entender nada, mas estou ocupado tentando não tropeçar no cobertor durante minha jornada ao banheiro. E assim que entro, já me livro da roupa de cama e me jogo debaixo do chuveiro, porque o dia está terrivelmente quente. Eu esqueço que sou bem bestinha em ficar pedindo coisas ou tentando criar certos tipo de atividades para que nos tornemos mais íntimo, quando, na verdade... Isso não é preciso. Primeiro porque não sei que raios estamos fazendo um com outro. Nos beijamos inúmeras vezes e isso é ok. Isso quer dizer que ele está ficando comigo para quê, afinal? Não quero pensar muito sobre isso.

Tomo meu banho, cuido da pele, escovo os dentes e saio do banheiro. Me assusto todo com Taeyong deitado na minha cama, olhando para o teto, parecendo um demônio que não dorme e fica esperando a vítima aparecer para meter um sustão. Drama da minha parte, mas se bem que poderia ser, né? De todo modo, ele está bem bonitinho com essa calça jeans apertada. Taeyong mal usa calças assim. Ela é azul claro e tem um pequeno rasgo em ambos joelhos.

— Tá fazendo o quê ainda aqui? — pergunto, segurando a toalha enrolada no quadril. Taeyong olha para mim.

— Vim ficar com você.

— Por quê? — passo direto por ele e abro o armário onde coloquei minhas roupas. — Vou me vestir agora e não quero que você fique me espiando.

Como hoje é um puto dia calorento, eu acho válido ir com uma camisa mais curta. Fico procurando por alguns segundos, até noto uma preta sem manga. Taeyong vê e faz um barulhinho de negação, me mandando escolher outra. Pergunto o porquê.

— Está fazendo calor, Ten — é sua explicação. — E vestir preto não é muito legal.

— E daí?

— E daí que a coisa mais básica sobre ondas eletromagnéticas e a luz é que o preto absorve tudo, logo você irá morrer de calor — então se levanta da cama e vem até mim.

Deixo que Taeyong enfie a mão entre minhas roupas e dou uns três gritos no mínimo para que ele não bagunce. E o que ele faz? Isso, ele bagunça todas as minhas roupas, até aparecer com o cropped que usei no encontro com Lucas. Ele abre a camisa e a estende rente ao meu peitoral, como uma espécie de preview. Nisso, sorri e olha em meus olhos.

— Use essa, você vai ficar gatinho — me diz.

Eu pego a camisa da sua mão. Já ele, volta até a cama e senta-se. Eu não gostaria de usar esse cropped hoje, mas como ele me recomendou, acho que não é nada de mais. Empurro meu cabelo molhado para trás e me viro de volta ao armário, procurando minha bermuda jeans favorita — que eu tenho 100% de certeza que trouxe, mas não consigo achar por conta da bagunça que a porcaria do Taeyong fez aqui. Quase não noto a toalha caindo. E como isso definitivamente me irrita, arranco logo do quadril e jogo em qualquer lugar. O problema é que Taeyong ficou quietinho por tanto tempo que chega esqueço que ele está aqui.

— Ten? Meio que... estou aqui... — me avisa. Viro-me para olhá-lo e o encontro com os olhos cobertos pelas palmas das mãos.

— Você ficou quieto, esqueci da sua existência — explico. — Mas não é como se você nunca tivesse e visto, então...

— Eu sei — ele ainda está sem me ver. É um bobão mesmo. — V-você fica desconfortável se eu olhar?

— Taeyong, eu fico nu na sua frente desde que te conheci. Você acha que eu realmente me importo com isso? — abano a cabeça em negação, mesmo que ele não possa ver. Como preciso adiantar meu lado, volto-me para a busca implacável da bendita bermuda.

— Ten, amado, você pode... Sei lá... Vestir uma cueca?

— Pegue lá naquela gaveta — aponto para a bancada do outro lado do quarto.

O fato de Taeyong se levantar para ir pegar já demonstra que ele já tinha tirado as mãos dos olhos e ficou me olhando. Acho que, para ele, essas coisas possam significar algo, mas para mim é comum... Como uma intimidade que quero formar com alguém. Eu nunca fiz nada sexual com Jaehyun, mas o maluco me vê pelado desde o início da nossa amizade. Na verdade, a gente sempre se vê pelado. De fato, certas vezes me assusta estar me vestindo e do nada ele aparecer, porém não é como se não estivéssemos acostumados com isso. Não nos olhamos com segundas intenções. Da minha parte, pelo menos.

— Só tem roupa íntima de marca famosa, é? — Taeyong comenta. — Calvin Klein, Hugo Boss, Gucci, Burberry... Meu Odin, tem mais da Burberry que outra coisa aqui.

Pronto, ele vai ficar fazendo tour pelas minhas roupas.

— Eu meio que ganhei alguns mimos deles — conto. Desisto da bermuda e puxo uma calça jeans do ninho formado pelo indivíduo com quem divido o ambiente agora.

— Ricah — ele brinca. Noto uma presença atrás de mim e percebo que ele está me estendendo uma das poucas que tenho da Gucci. — Vai ficar bonitinha em você.

— Idiota — rio.

Eu jogo a calça jeans na cama, fecho o armário e pego a boxer da mão dele. Taeyong não olha diretamente para a minha virilha... Na verdade, o que gosto nele é que ele tem inúmeras oportunidades para ser indecente e aproveitador, mas sempre é respeitoso. Parece até que sou oferecido ao ficar pelado na sua frente, sendo que ele sempre pede permissão para olhar. Então eu me inclino e olho para baixo, tentando vestir a peça. Ele só fica olhando para o armário atrás de mim. Esse homem existe mesmo? Já saí com cada cara idiota que me come com os olhos só em me ver sem roupa, mas ele sabe bem separar os momentos. Se estamos conversando, brigando, sendo casuais ou amigáveis... Ele não olha. Se estamos literalmente num baita momento sexual, ele chega a se aproveitar do fato, mas somente porque a situação requer. E isso é bom nele. Eu gosto disso.

— Então você usa boxer durante o dia, mas à noite deixa solto o instrumento... — ele começa brincando.

Eu rio da sua palhaçada e me desequilibro todo ao enfiar a perna esquerda na roupa. Acabo por tombar para o lado. Ele, que está me deixando preso entre o armário e seu físico, me segura o corpo e me impede de cair. Aproxima-se mais de mim, como quem me servindo de apoio, e fico meio sem saber o que fazer. Subo meu olhar ao seu e ele faz uma careta.

— Você vai ficar fazendo piadinha só porque falei instrumento naquele dia, é? — pergunto, finalmente puxando a peça e cobrindo minha área íntima. Encosto minhas costas no armário e noto a aproximação do Tae.

— Sim, foi horrível...

— Foi, não. E também não estou errado. Sabe... A gente pode tocar... — e assim que começo meu discurso, Taeyong faz uma cara perfeita de nojo. — Se a gente toca, faz um barulho...

— Que barulho? — me interrompe.

Por favor, inserir aqui o emoji do bonequinho batendo na própria cara, porque estou me sentindo exatamente assim. Porque eu até abro a boca pra tentar mostrar, mas desisto. Ele me olha e entende sem nem precisar de uma simulação.

— O que mais podemos fazer com o instrumento? — fico pensando alto. — Ah, colocar na boca... Uh, a gente também pode bater! E bater na cara de alguém e...

— Chittaphon, você está me broxando — é o que me diz. — Você acabou de destruir toda a minha vida sexual. Você destruiu tudo. Tudo. Tudo. Por conta da sua metáfora ridícula, eu nunca mais vou ficar excitado na vida. Obrigado. Você me destruiu.

Ele está, literalmente, fazendo uma cara de desgosto. Eu não sei se é real ou não, mas é muito boa. Pena que não levo nada a sério e fico rindo dele.

— Toda vez que eu olhar um homem pelado, eu vou lembrar de você falando sobre instrumentos e vou vomitar — ele prossegue, daí ergue ambos braços e os encosta na porta do armário ao lado das minhas orelhas. — Eu vou vomitar, Chittaphon.

— Tem certeza que nunca mais ficará excitado? — pergunto. Meu momento de jogar duas toneladas de lenha na fogueira.

— Tenho.

— Posso te curar? — joguei.

Taeyong ri escandalosamente. Caramba, quando ele ri assim é horrível, mas ao mesmo tempo é magnífico. Tipo, ele é tão exagerado, só que esse exagero me deixa tão vívido e brilhante, é tão refrescante. Se inclina levemente para encostar o rosto em meu ombro e fica rindo grudado a mim. Eu dou tapinhas nas suas costas até perceber agora que ele está usando uma das camisas que dei no dia do seu aniversário.

— Ai, que raiva eu tenho de você... — comenta, se recompondo.

Eu penso que ele irá se afastar de mim, porém sentir seus lábios em meu pescoço me tira um pouco dos eixos. Sei não, me sinto meio tonto com todo esse carinho dele. É bom e gostoso. Eu o abraço pela cintura por isso, por ser tão gentil e carinhoso e brincalhão... Ele deixa alguns beijinhos molhados na curva do meu pescoço, então vai criando uma trilha destes ao meu ombro. E não vou negar que lhe dou espaço para fazer isso, ao inclinar a cabeça para o outro lado. Sinto que aproxima mais o corpo até nossos quadris se encontrarem. Eu amo quando isso acontece. E amo mais ainda quando ele segura meu quadril e me puxa contra o seu. Amo mesmo.

— Sua pele é tão macia... — comenta ele, antes de soltar um beijo estalado em meu ombro. — Seu corpo inteiro, quero dizer. Não só aqui.

— Isso é... Hum... Obrigado — digo, porque não sei bem o que responder.

Eu saberia o que dizer se eu soubesse que raios está acontecendo. Mas tem todo esse ar denso, porém fluído, rondando e rondando nós dois que chego a me enganar em pensar que daqui a pouco estaremos nos xingando e ele irá fugir de mim. Eu gosto de tudo antes da fuga. Os carinhos dele parecem poesia, é como ler um clássico literário e conseguir entender os primeiros parágrafos, após todas as tentativas falhas de quando era mais jovem e não compreendia muito bem. Às vezes eu não o entendo, às vezes o entendo. E vou girando nesse ciclo, nessa tontura, quando me beija os lábios e eu deixo estar, deixo rolar, lhe ofereço meu calor. E ele é tão convidativo...

Há momentos que apresenta-se como uma fenda de luz em mim. Porque nem sempre brilho, e então ele surge. E seus beijos fazem as coisas perderem o foco aqui. Como um terremoto ou algum outro tremor qualquer. Sua boca quente é acalanto agora. Seu cheiro floral contra minha pele exposta faz com que troquemos odores. Eu não me importo com isso, não me importo. Não me importo se estou deixando ele tomar o controle dessa vez e se de repente o beijo perdeu o freio e está demasiadamente fermentado. Às vezes algo too much é bom, sim. Absolument magnifique.

Eu sei que Taeyong está mais à frente que da outra vez quando percebo o modo com que desliza a mão até minha bunda. Ele demorou bastante para começar a fazer isso naquele tempo, porém agora a objetividade me deixa atônito. Esses picos de hesitação e atitude hão de deixar-me maluco da cabeça.

— Posso? — me pergunta, depois de afastar os lábios dos meus.

Eu não sei nem do que ele está falando.

— Uhum — concordo.

Sinto que ele pode fazer qualquer coisa comigo agora, porque não me sinto forte o bastante para lutar contra.

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