eu fiz uma coisa horrível
Olá. Hoje iremos falar sobre como (quase) acabei com a organização do casamento de Kim Dongyoung. Sente-se, beba um copo — d'água, só para deixar claro, e apenas um — e respire bem fundo. Bem fundo mesmo.
Já fez? Que bom. Vamos lá.
No dia seguinte ao momento narrado por mim, a noite em que eu e Taeyong dormimos juntos conversando e trocando carinho, eu decidi que faria algo para me vingar de Yuta. Isso ficou em mim o dia inteiro. Fui ao aeroporto, encontrei-me com parte da minha equipe, levei-os ao hotel próximo a casa que estávamos e ficamos a organizar nossas atividades e pendências antes da preparação do buffet e o bolo. Demasiadamente corrido. Mas foi no horário do almoço, quando eu tive uma ideia genial, e fui a procurar Taeyong para contar-lhe. Encontrei seu corpo alto no próprio quarto, dizendo ele que estava indeciso sobre uma coisa.
— É que eu quero usar algo diferente na festa — foi o que disse-me. — Vou assistir a cerimônia vestindo o terno, mas quero pôr algum acessório diferente na hora da festa.
— O que sugere? — lhe questionei, uma vez que não iria ignorá-lo só porque eu tinha uma coisa grande e importante para dizer.
— Isso — ele tirou do guarda-roupa um chapéu branco de faixa vermelha. Eu quis chorar quando vi, mas ele colocou na cabeça e virou-se para mim tão animado que senti até pena. Com a mão no chapéu, cabeça levemente inclinada para baixo e um sorriso filho da puta de maravilhoso, ele disse: — Vou chegar lá e lançar um: festa em Ipanema, meu amor!
Ok, compreendo que este fato não tem peso algum sobre a cagada (uma palavra muito importante, guarde-a bem) que fiz. Na verdade, foi feito em conjunto. Na verdade, a ideia veio de mim. Na verdade, quem executou não fui eu. Na verdade, a maior parte da execução foi feita por mim. A culpa é toda minha, mas não toda assim. Mas toda. É complicado.
— Tá uma desgraça. Tira — eu resumi logo o babado, porque convenhamos né, estava ridículo. Eu, se bebesse três copinhos de uísque barato, iria cair no chão de tanto rir ao olhar para ele.
— Poxa, eu pensei que a gente ia dançar que nem no filme... — ele tirou o chapéu da cabeça, fazendo um beicinho fofo com os lábios numa cor tão forte que deixava claro que bebeu o suco de frutas vermelhas que eu tinha feito no café.
— Eu vim falar com você sobre uma coisa — fechei a porta para ninguém escutar. — Posso te usar para um trabalho sujo?
— Que tipo de trabalho? — Taeyong abraçou o chapéu junto ao peito. — Preciso matar ninguém não, né?
— Se eu tivesse que matar alguém, eu mesmo matava.
— Credo, isso foi dark.
— Foi responsável. Se você quer fazer algo, vai lá e faz você. Suja suas mãos, ué.
— Estamos indo para uma conversa estranha...
— Mas eu tenho razão.
— Tu já matou alguém, foi?
— Tu quer ser o primeiro?
Taeyong riu.
— Se você acha responsável fazer o trabalho sujo, por que está me mandando fazer um?
— Porque se eu for, não vou ter êxito. Eu não vou conseguir fazer.
— Por que não?
— A pessoa não confia em mim.
Taeyong estreitou os olhos e ficou a olhar-me. Fiquei parecendo uma estátua no quarto até ele concordar que me ajudaria, mas só se eu dormisse com ele outra vez. O Taeyong é tão bobinho, ele valoriza tanto essas pequenas coisas... Eu acho tão normal e comum, que não fico boiolando. Mas ele sim. E aceitou.
Expliquei o que eu iria fazer e ele até achou legal. Estava tudo combinado. Eu desci, trabalhei, e no momento de descanso fiz o que tinha que fazer. O que deu errado não foi nem o que fiz. Foi o que Taeyong fez. Ou, especificamente, o que ele não fez. O que ele não falou. Foi o que ferrou tudo. Mas a culpa é minha, né? Eu que falei que o "festa em Ipanema, meu amor" estava ridículo e o induzi a fazer o que mandei.
Vi um vídeo no YouTube que garantia a perda de não-sei-quantos quilos. Era um suco. Resolvi testar. Eu fiz, pus em duas garrafas de plástico de outro suco e instruí Taeyong: finja que está bebendo, mas não beba. Quando Yuta aparecer, você oferece a segunda a ele e depois diz que está cheio ou que não gostou, então guarda o seu na geladeira, ou joga fora, e deixa Yuta beber o dele todo. Obviamente, Taeyong me fez trezentas perguntas. Eu menti, disse que era para ele ficar soltando peidos toda hora. Depois de uma crise de riso dele, pegou as garrafas e deixou-me na cozinha. Claro que o Yuta iria desconfiar se fosse eu, porque ele vê os olhares que dou quando ele passa por mim. Ainda pensei: os humilhados serão exaltados. Mas tudo deu errado.
A única coisa que deu errado, confesso, foi um mínimo detalhe. Quando Taeyong chegou na cozinha, após o feito, pedi que contasse como foi. Ele disse que Yuta aceitou o suco. Deu um gole, amou. Eu fiquei feliz com isso. Imensamente feliz. O problema foi o que disse-me depois.
— Eu fui jogar no lixo — narrou. — Mas ele já tinha provado e havia gostado tanto que acusou ser desperdício... Então ele me pediu e eu dei. Se ele gostou tanto, é bom que peida mais.
A casa caiu! Aquela receita era a dosagem certa. Ele bebeu duas! Duas! Duas garrafas! Yuta é um monstro, sinceramente. Eu comecei entrar em desespero, culpei muito Taeyong por isso, porque vai que o menino morre por falta de nutrientes? E vai que a bunda dele cai? Eu sei lá, na hora do desespero um bocado de coisa surgiu na minha cabeça.
Passei a primeira hora apreensivo. Acabei afastando Taeyong de mim, porque ele achou que estava me incomodando. E isso me deixou com mais raiva, porque eu comecei a julgar aquilo como frescura. Depois de uma hora e meia, relaxei. Puxei Taeyong perto e contei a verdade para ele. Então passamos quarenta minutos recitando versos de religiões diferentes que encontramos na internet para que as divindades nos ajudassem naquele momento de desespero.
Estávamos quase nos beijando no sofá, quando vimos Yuta descer as escadas numa lentidão. Ele tinha os olhos demasiadamente assustados. Parecia ter visto uma cena traumática, não sei. A mão estava na barriga e parecia meio enjoado também. A testa suada e os fios loiros bagunçados. Então eu tive a certeza: havia funcionado.
— Koi, você tá bem? — Taeyong levantou-se para acudi-lo.
Taeyong é uma naja. Está comigo e ainda chama Yuta de "koi". Sem contar que foi todo preocupado perguntar se Yuta estava bem, sendo que foi ele quem deu o veneno. Vê se pode um negócio desse? Eu realmente não consigo entender. E foi aí que a desgraça foi feita:
— Eu passei uma hora e meia no banheiro — Yuta resmungava, esfregando a palma da mão direita na barriga. — Eu acho que até minha alma saiu pelo cu. Tá ardendo... Porra, eu pus para fora todos os meus órgãos. Eu chorei umas cinco vezes lá dentro.
Eu juro que me segurei para não rir. Afinal, a questão era essa, não era? Taeyong olhou-me todo preocupado. Na verdade, ele estava com pena. E eu percebia isso, pelo modo o qual tentava acalmar o japonês com palavras que nem ele acreditava.
— Vai passar, vai passar... — consolava.
Mas não ia passar tão cedo. Yuta logo correu para o banheiro outra vez, dizendo ele que foi soltar um pum e "acabou saindo bosta". Eu não sou uma pessoa totalmente má, porém minha risada na ausência dele foi inevitável. Taeyong culpou-se mais do que divertiu-se. Lembrei-o da queda dele no sequestro falso e da vez que jogaram ele na piscina. O problema é que Taeyong é tão bonzinho que acha tudo exagerado.
— Mesmo assim — sentou-se perto de mim. — E se ele morrer?
— É dieta, menino. Vai dar tudo certo, ele vai sair super renovado. De acordo com minha fonte, irá tirar todas as porcarias do corpo. Então eu meio que salvei a pátria, não?
Esse foi o meu discurso.
E, bem... Eu só não sabia que ele iria ficar assim por dias, né? Tudo bem que a dose original não faria tanto estrago assim. Mas como o garoto bebeu duas de uma só vez, ele literalmente ficou sem fazer nada para o casamento durante dias e tudo ficou sobre Taeyong e Jaehyun (que resolveu ajudar nas pendências). Toda vez que Yuta aparecia, eu já ficava nervoso. E nisso tudo, ele só ficava com cara de quem estava mal. Em certos momentos senti pena, confesso, mas escutar o barulho da descarga durante a madrugada fez-me sorrir para as paredes incontáveis vezes.
Hoje Yuta apareceu e disse que muita coisa estava errada e que deveríamos refazer tudo. Não encaixava a mim, uma vez que sou responsável apenas pela cozinha e está tudo indo bem. Além do mais, o bolo está lindo. Fiz com Yangyang e ainda provamos algumas partes. É branco e até as colunas gregas são comestíveis. E, honestamente, consegui fazer um bom trabalho de modelagem. Talvez quando eu estiver mais velho, eu foque um pouco mais na confeitaria. Adoraria viajar para aprender mais.
O babado todo deu errado quando Yuta subiu numa escada e foi fixar alguma coisa na parede. Eu não vi, pois estava na cozinha, só escutei a desgrameira acontecer. Aparentemente, ele sentiu um espasmo esquisito e uma vontade de ir ao banheiro, desesperou-se e acabou por cair da escada e ainda puxar uma faixa e um suporte de microfone junto. Os dois estão destruídos. Yuta sobreviveu. Quando chegamos, disse que estava bem e que, na verdade, era só um peido forte que havia saído, porque após a queda a vontade de defecar tinha ido pelos ares. Foi a maior ilusão da vida dele.
Yuta passou o dia inteiro fedendo a cocô. Quer dizer, isso saiu deveras impróprio. Irei melhorar: Yuta estivera, enquanto reinado do sol, expelindo um odor grosseiramente similar aos excrementos do reto humano. Lhe questionei incontáveis vezes que raios havia de errado, porém ele desconversava sempre. E percebemos que, se ele tivesse apoiado-se numa estrutura que estava atrás dele, decerto que faria muita coisa cair e iria destruir o local de cerimônia do casamento. Quase — mas quase mesmo —, iria acabar com o casamento do Dodo e Minyoung.
E eu estava de volta a cozinha quando fui cutucado por Taeyong. Parecia-me preocupado, ansioso, num ócio sem fim. Questionei que fazia ali, e de cochicho pediu minha cueca emprestada. Pensei que era brincadeira, mas seu tom dizia que não.
— Por que você quer minha cueca? — quis saber.
— Para usar — deu de ombro. — Eu estou sem.
Sem querer, acabei descendo o olhar para checar. Taeyong vestia uma calça jeans, então não tinha grande problema assim.
— Por que você está sem?
— Eu dei a minha para Yuta.
— Por que tu deu a sua a Yuta?
— Porque quando ele caiu, acabou cagando na cueca e não percebeu. Sério, ele disse que está meio descontrolado. A gente quase matou o coitado.
— Morre não — lhe assegurei. — Vem comigo ao banheiro.
Fomos ao banheiro. Assim que entramos, abri meu uniforme de chef e abaixei as calças. Taeyong ficou literalmente pasmo em olhar-me sem vergonha alguma e tão decidido sobre. Nem comentei nada. Tirei o tênis, a calça, depois arranquei a cueca do corpo e entreguei a ele.
— Você não consegue ficar sem cueca não, é? — perguntei, quando estive vestindo-me ao vê-lo fazer o contrário.
— Me incomoda — disse. — Mais tarde, quando voltarmos para casa, eu te devolvo.
— Por um momento — comecei, fechando o botão da calça. —, desejei ser minha própria cueca.
— Que isso quer dizer? — a lerdeza do Taeyong ainda me surpreende. — Ah... Entendi... Tu é muito de um safado, Chittaphon.
— A malícia está em você, anjinho — fiquei organizando os fios do meu cabelo por um tempo, depois lavei as mãos. — Eu vou indo, tá?
— Uhum — ele puxou a cueca e tentou ajeitá-la. Aproveitei sua distração para lhe dar um tapa na bunda. — Rude. Violento.
Dei tchauzinho com a mão e saí do banheiro com o tênis desamarrado. Voltei para a cozinha e continuei meus afazeres. Yuta não tentou mais nada idiota, só ficou dando apoio a Taeyong e Jaehyun. Ele também estivera receoso para comer, com medo de piorar sua situação. E acontece que, para ser franco, eu percebo que foi uma sacanagem brincar com o sistema digestivo dele. Mas não era para ter chegado nesse extremo, né? Mas vai passar, tudo passa. Morre não.
E agora estamos todos nós sentados no sofá, olhando para Doyoung de braços cruzados querendo saber que merda foi que aconteceu nesses dias para hoje termos essa confusão na organização do casamento. Obviamente todos estão desconfiados de alguma coisa, porque se estamos comendo basicamente a mesma comida, não faz sentido só um de nós estar com uma caganeira ignorante que só não levou o cu porque está preso na bunda. Na verdade, essam foram as palavras de Yuta ao descrever sua situação.
— Gente, parem de rir... É sério — Dodo tenta manter-se sério. — Alguém envenenou o Yuta.
— Yuta é um amor, nem tem como isso ser possível... — a Minji, uma das amigas de Minyoung, tenta miseravelmente defender o japonês. Mas é óbvio que é mentira. É óbvio.
— Eu e Dodo conversamos sobre isso — Minyoung diz. Ela está bem ao meu lado e o cheirinho dela é bom. — E eu concordo com ele. Porque não faz sentido... Você acha isso, Yuta?
— Tentaram me matar — agora Nakamoto decide jogar o jogo do drama. Parece até alguém que conheço, e esse alguém está sentado do meu outro lado, esfregando um pirulito de cereja nos lábios e encarando o chão. Deve estar mais nervoso que eu. — Botaram veneno na minha comida para me matar.
— Yuta, nem a morte te quer — o que Jaehyun diz me faz soltar a gargalhada que estive segurando esse tempo todo. Yuta me olha feio. Me controlo um pouco.
Decerto, peguei pesado. Bem pesado. Mas olha só como é divertido vê-lo pagar por tudo que aprontou até agora? E não vinguei as coisas que fizera comigo, mas com os outros também. Até mesmo quando Dodo lhe pedia água, ele ia lá pegar, mas ao invés de dar ao Kim, bebia tudo de vez bem na frente dele. Sinceramente, eu sou um deus. Um verdadeiro deus justiceiro. O que Yuta tem de babaca, ele tem de fezes agora. Pronto, resolvi o problema.
— Sério, gente... Levem a sério... — Dodo tenta nos controlar. — Yuta está bem mal. O banheiro daqui de baixo foi interditado, só ele usa agora. E no meio do noite, o coitado sente calafrios... Toda hora fica soltando puns, ele fica tremendo também e a barriga dói. Isso não é normal.
— Na minha opinião — Jaehyun se pronuncia. — Metade disso deve ser exagero da parte dele. E... Nossa, quem nunca passou por uma experiência dessa? É normal. Acabou a reunião.
— Jae... Foi você? — o olhar carinhoso, porém hesitante, que o Kim joga sobre o meu amigo é de surpreender. — Tu fez isso com o menino, foi?
— Não, mas ele mereceu... — Jaehyun encolhe os ombros.
— Ai, gente, voltou... — Yuta, do nada, sai correndo para o banheiro e bate a porta com tanta força que me assusta. Ficamos quietos aqui por alguns segundos, até escutá-lo gritar: — Eu não aguento mais!
— Tá, gente, eu fiz uma coisa horrível — admito logo, jogo as cartas na mesa. Não devo levar isso ao caixão, certo? — Fui eu. Eu fiz isso com Yuta.
— Não, não... A culpa foi minha — Taeyong afasta o pirulito dos lábios, dando a entender que só agora ele acordou para a vida. — Foi totalmente minha.
— Taeyong, deixa de idiotice... — reviro os olhos. — Eu fiz um suco que vi na internet, dei para Yuta e agora deu merda. Pronto.
— A gente fez isso juntos, então— Taeyong reparte a culpa. — Porque se não fosse pelo meu erro, não teria dado tanta merda.
— Quê? Expliquem direito — Doyoung pede.
E, enquanto Yuta morre e ressuscita dentro do banheiro, eu e Taeyong explicamos a merda que fizemos. Jaehyun não se importa com essas coisas, então ri mesmo e na cara dura. Ele até abraça-me por trás, dizendo que foi genial. Claro que Taeyong começa a prestar atenção em nós dois. Ele não fala nada, mas sei que ele não gosta muito de quando eu e Jaehyun somos carinhosos. Acho que ele usa isso como ferramenta de sabotagem própria também, por achar que não é bom para mim e que eu e Jaehyun somos amigos que se beijam também. Se ele pensar assim, apenas na segunda opção ele está certo. Mas eu também não me importo com isso, pois não devo mudar meu tratamento com Jaehyun só por conta dele. Só não vou beijá-lo, claro. Amo demais o Taeyong para traí-lo — não que eu ache beijos uma traição, porém esse é um outro assunto. Eu nunca o trairia.
— Ok, eu vou contar ao Yuta direitinho o que aconteceu e se prepare que amanhã o pau vai comer — Dodo diz logo de antemão. — Vamos dormir, porque o dia foi cheio. Amanhã é o último dia antes do casamento e eu estou tremendo de nervoso.
— Sim, eu também! — Minyoung sorri.
Batemos papo sobre o casamento, então todos vamos aos nossos quartos. Com exceção de Dodo, que realmente vai conversar com Yuta na saída do banheiro. Eu realmente não me questiono mais se fiz o certo ou errado. Dane-se. Já fiz, está feito. Agora ele não me enche mais o saco. Meu lance agora é aprender venenos e poções para acabar com a vida das pessoas. Esse será meu novo ofício.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top