eu estou muito animado

— Eu estou muito animado! — grita Doyoung, após mastigar o tagliatelle à bolonhesa que preparei para nós.

Minyoung diz para ele ser mais educado e não agir que nem um louco, mas apenas responde que não consegue se segurar. Recosto-me na cadeira, olhando as provocações de Yuta na coxa de Taeyong enquanto tenho a boca da taça nos lábios. Reviro os olhos, não sei bem o porquê. Volto minha atenção ao casal de noivos.

Doyoung repete que está animado um bocado. Ele já contou ao Yuta, estamos apenas esperando Jaehyun aparecer. Jaehyun sumiu no mapa já tem algumas horas e isso significa que talvez ele esteja bebendo em algum lugar por aí, porém ainda temos esperança de que ele leia nossas mensagens e brote aqui.

— Uh, ele mandou um áudio dizendo que está chegando! — Doyoung responde, afastando o aparelho da orelha.

Em questão de minutos, Jaehyun aparece. Seu rosto está vermelho, evidenciando o uso de álcool. Senta-se ao meu lado, diz que gostaria de comer a mesma coisa que nós e dou graças a Deus por poder levantar e afastar-me dos dois idiotas sentados do meu outro lado. Que chato isso. Muito chato.

Trago seu prato e uma taça. Então ele pede para que eu traga logo a garrafa. Não julgo, faço o que ele pediu. Ele também está meio tonto, então não daria muito certo se fosse sozinho fazer isso.

— Querido casal que não para de se tocar, Ten com cara de quem está puto, Jaehyun bêbado... Eu e minha linda noiva estamos aqui para anunciar que vamos nos casar na Grécia! — Dodo anuncia outra vez, como se não fizéssemos ideia alguma do que se tratava.

— Você tá falando sério? — Jaehyun leva alguns segundos mastigando para enfim perguntar. Seus lábios estão melados de molho, o que me dá a liberdade para pegar um guardanapo e limpá-lo. Ele tenta fugir, mas eu consigo mesmo assim.

— Vocês têm cinco minutos exatos para surtar — Kim olha para o próprio relógio. Minyoung está rindo, ao seu lado.

— Deixa de inventar história, Young — a única mulher daqui decide cortar as asas dele. — Bem, pensamos que o tema poderia ser Grécia. Doyoung concordou com isso, por isso viemos comunicar. O dia será o mesmo, mas vai acontecer numa ilha da Grécia.

— Adivinhem qual? — Dodo pergunta entusiasmado.

Ficamos nós quatro olhando para a cara de abestalhado esperançoso dele.

— Filho, tu ainda não se deu conta de que ninguém conhece ilha nenhuma, não? — Yuta abre a boca.

— Credo — Jaehyun bêbado ri.

— Ah, eu conheço Maldivas... — Taeyong começa.

— Por acaso é na Grécia? — Doyoung questiona, irônico. Nem dá o tempo mínimo para a resposta, então vem com a patada: — Não, então cala a boca.

Eu tento esconder a risada, mas Taeyong percebe e me observa por alguns segundos. Finjo que não percebo.

— Você está sendo muito rude com seus amigos — Minyoung, sensata, comenta. Linda, nunca critiquei. — Enfim, meninos, o casamento vai ser em Lefkada e...

— Como é a história? — Yuta inclina exageradamente o corpo para frente, com o intuito de escutar melhor.

— Lefkada — Minyoung repete. — É uma ilha jônica.

— Gente, eu saí da escola e não sei onde fica mais nada — outra vez, Yuta comenta. — Me mostrem um mapa.

— Jogue no Google que você vai ver — Dodo responde.

— Hoje é o dia dos cavalos. Parabéns, Kim Doyoung — brinco, o que arranca a risada de todos. — Ok, vocês já organizaram algo quanto a isso?

— Sim! — Minyoung exclama, feliz da vida. — Eu preparei uma apresentação — daí ela tira o MacBook da bolsa e eu sou obrigado a arquear o cenho. Garota maravilhosa, já veio preparada.

Jaehyun comenta que a comida está deliciosa, ao passo que Minyoung inicia a máquina. Taeyong tira um caderno da mochila e, como estou ao seu lado, consigo ver que se trata de um bullet journal. Não consigo tirar os olhos, ainda que seja invasão de privacidade. É porque ele sempre foi tão artístico e agora que consigo ver de perto as coisas que faz, me sinto orgulhoso por isso. Só em espiar, percebo que ele tem rotina de sono, indicações de músicas para diferentes humores, pratica exercícios, faz ioga, uma lista de países para visitar, colagens com desenhos incríveis, frases motivacionais, aparentemente algumas poesias, textos, desenhos... meus? Desenhos do meu rosto ? Quê? Não consigo ver, ele passa muito, mas muito rápido essas páginas. Para numa que claramente se refere ao casamento de Dodo, daí tira a caneta da mochila e faz algumas anotações.

Olho para Yuta, mas ele não está prestando atenção no caderno. Como não? Como assim? Como é que há uma página inteira com um desenho do meu rosto? Como é que há outra página repleta de desenhos sobre mim, porque claramente são os meus traços visuais neles? Como? O Yuta sabe disso? Ele já viu isso? Mas... Quê? Que porra é essa...

— Aqui — Minyoung chama a nossa atenção. — Lefkada é uma ilha jônica...

— Já sabemos — Yuta provoca. Nossa, ele é bem insuportável mesmo, Taeyong tinha razão quando falava dele.

— Doyoung, eu vou bater no Yuta — Minyoung vira-se para ele, que simplesmente dá de ombros. — Continuando aqui...

— Gostei do design — interrompo por uma boa causa. Ela fez no Prezi. No Prezi! Quem, em santa consciência, teria paciência para preparar uma apresentação no Prezi? Minyoung é uma louca, uma deusa, uma feiticeira... Esqueci a letra, dane-se.

— Obrigada, Ten. Você é bem sensato — ela sorri para mim. — Continuando... Já traçamos tudo o que vamos fazer. Antes de tudo, não se preocupem com o financeiro, eu e Doyoung nos responsabilizaremos por tudo. Vamos realmente viajar à Grécia, para Lefkada!

Me sirvo com um pouco mais de vinho e, de relance, noto Taeyong escrever o nome da ilha no caderno. Sua caligrafia está muito linda. Aff...

— Tem como a gente reservar antecipadamente um ferry para Lefkada, então é isso o que vamos fazer — ela vai passando as apresentações, composta por tópicos do que vamos precisar e algumas fotos do lugar. — Desembarcamos no sul da ilha, em Vasiliki, já que o porto do norte está em reforma e a conclusão da obra será no início do inverno.

— Pelo nome, já não quero ir — Yuta me faz revirar os olhos.

— Porra, Yuta, vou dar um quilão na tua cara! — finalmente Taeyong fala alguma coisa, e nisso eu rio. — Continue, Minyoung.

— Obrigada, Taeyong — ela sorri para ele, mas joga um olhar azedo em Yuta. Eu me divirto com a situação, embora creio que poderei alcançar a cara de Yuta mais rápido que Taeyong, uma vez que minha raiva apresenta-se numericamente como o dobro da sua. — Então vamos alugar um carro, provavelmente uma van, para irmos até onde estaremos hospedados. Doyoung vai alugar uma casa de temporada para a gente apenas montar uma base na ilha, então passaremos os primeiros três ou quatro dias fazendo turismo e tirando fotos para o nosso álbum de casamento.

Eu sorrio, pois isso é fofo. De vez em quando gosto de acreditar que o amor dá certo, porque às vezes simplesmente dá.

— No terceiro dia, iremos visitar uma espécie de "mansão marítima" — Doyoung dá continuidade. — Que na verdade é só uma mansão com uma arquitetura bem legal, onde você é praticamente cuspido para o mar, caso se jogue dela. É só uma mansão grudada no mar, em síntese. Deve ser bem calmo e gostoso.

— Tá, mas por que vamos visitar a mansão? — Jaehyun arranca as palavras dos meus pensamentos.

— Porque o casamento ocorrerá lá. Iremos preparar, com a ajuda de vocês, tudo para o casamento durante uns dois ou três dias, mais ou menos, para que haja tempo de conserto de qualquer merda que venha acontecer — Dodo faz uma pausa curta, então boceja.

— Só dois ou três dias? — Taeyong quer saber.

— Não podemos gastar tempo, Tae, temos responsabilidades aqui também. Você tem trabalho e faculdade, o resto de nós tem que dar conta dos nossos empregos e tudo mais. Seria ótimo se durasse mais, até por uma questão de conforto mesmo, mas não podemos — ele calmamente explica. — Depois que o casamento ocorrer, ainda teremos mais três dias para arrumar tudo e fazermos mais um pouco de turismo. E iremos bancar todas as despesas, então não se preocupem com nada. Além disso, se quiserem ficar por mais alguns dias na ilha ou, quem sabe, em Atenas ou em alguma ilha ou cidade grega... Vocês decidem, nós pagamos.

Doyoung, falando assim, está parecendo até meu avô. Faz tempo que não o vejo, faz falta teu abraço. Sinto saudades das histórias contadas, dos carinhos que me deu, da criação que empurrou em mim e na minha irmã, jogando aos crocodilos as palavras indiferentes da minha mãe. Ele era o tipo de "você escolhe, eu pago", por isso acostumei-me a falar algo do tipo a alguém a quem tem meu gosto. Era como se ele dissesse que não importava nada, apenas queria ver-me rir, feliz, livre. Costumava insistir por viagens em família as quais ele não estaria presente, dizendo que era momento nosso, deveríamos aproveitar. Ele pensava mais nos netos do que em si mesmo e, infelizmente, eu acostumei-me em ser cuidado e não em cuidar. Saudades dele. Se eu tiver de ir para a reunião estúpida da minha mãe, irei só para vê-lo. O único que vale a pena.

— Isso é satisfatório para mim — digo, antes que ele pergunte por uma opinião. — Será um prazer, eu amo o mediterrâneo.

— Me diga uma parte da Europa que você não gosta — Jaehyun vira-se para mim, um pouco lento pelo álcool.

— Verdade, verdade — concordo. — Estou ansioso. Eu realmente amo o mediterrâneo. Só consigo pensar em praia e em culinária.

— Isso! — Dodo inclina-de todo para fazer um high five comigo. — Então preparem a pança de vocês e uma tonelada de protetor solar, amigos... Vamos à Grécia!

Eu sempre fui apaixonado pelo mediterrâneo, mas nunca achei que teria tempo de ir até lá tão cedo assim. Quero conhecer as praias, a cultura, a culinária... Oh, a culinária! Se alguém me desse um tema para um prato e esse tema fosse o mediterrâneo, eu com certeza saberia o que fazer. Nunca estive, mas só em conhecer um pouco da culinária, já me faz sentir-me um filho perdido de lá. Mal posso esperar.

Querido Zeus, que eu não surte até lá. Vou voltar frito, mas vou voltar feliz.

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