eu estou desesperado
Taeyong tenta segurar minha mão enquanto caminho pelo pátio. De relance, vejo Minyoung posando para o fotógrafo, junto com as outras madrinhas. Não sei o que fazer agora. Por um lado, quero acreditar que talvez estejamos agindo precipitadamente. Concomitantemente, porém, agarra-me a mente a ideia de que eu esteja com meus instintos frescos e acesos, pois hei de ter razão. Endereço-me onde encontra-se Yuta, que tenta em vão fazer uma ligação ao sumido. E, no meio da nossa discussão sobre onde possivelmente possa estar, dou-me conta:
— Onde está Jaehyun?
Ninguém sabe. Rodamos todos os lugares, até nos dividimos para buscar. Não encontramos. Vou em todos os cômodos da mansão, inclusive os superiores, os quartos, banheiros, áreas de lazer, até detrás da churrasqueira eu procuro e nada do Jung. Nada. Em lugar nenhum. Expandimos nossa área de busca. Eu, Yuta e Taeyong decidimos sair e ir buscar pela vizinhança, uma vez que nenhum dos dois está atendendo os telefonemas ou respondendo nossas mensagens.
— Acho que se você não tivesse bloqueado meu número, eu teria falado com você antes... — Yuta vai comentando durante o percurso.
Mas é claro. Dei block no kakao e, quando percebi que estava começando a me mandar mensagens pelo chip do celular, eu decidi que iria dar block no seu número também. Não me arrependo disso. No entanto, honestamente, compreendo que talvez tenha piorado um pouco a questão do sumiço dos dois rapazes. Certamente cometi um erro.
— Cala a boca — lhe respondo. Taeyong solta um suspiro ao meu lado. — Não vê que eu estou desesperado?
— Relaxa... — Lee põe a mão em meu ombro, tenta me acalmar com esse tom baixinho dele. Mas não é verdade. Ele está tão nervoso quanto eu com essa história toda.
— Ah, vamos entrar nesse bar sinistro aí... — Nakamoto aponta para o bar onde eu e Taeyong fomos mais cedo. — Parece coisa de filme de terror, né? Como devem ser os filmes gregos de terror? Não assisti muitos filmes gregos. Só assisti Hércules... Hmm... Deve ter mais alguns sobre mitologia grega... Ah, também tem Quatro amigas e um jeans viajante...
— Você tem consciência de que nenhum desses filmes são gregos, né? — lhe digo, descendo um pouco a ladeira para chegar ao bar. — Sinceramente, Yuta, se eu sou a dondoca do grupo... Então você é a loira burra. E eu me sinto tão mal por estar contribuindo com esses estereótipos ridículos... Mas você é.
— A dondoca também é burra, tá? — ele rebate.
— A dondoca aqui está bronzeada, vestindo roupa cara, loira e estufada de euro... — cruzo os braços. — Se aceitei seu rótulo ridículo, aceite o meu.
— Tá, então abra a porta — ele aponta para a maçaneta da porta transparente. — Eu sou burra, não sei abrir.
— Eu sou dondoca, eu não toco em lugares onde milhões pessoas encostaram com dedos de meleca, espirro e restos de fezes.
— Como alguém teria restos de fezes nas mãos?
— Tem gente que não sabe usar o papel higiênico — lhe respondo. — Você não deve saber, já que é burra.
— Já deu, né?!! — repentinamente, Taeyong surta e abre a porta. — Vocês escolheram o momento perfeito para ficar de briguinha!
Deboche? Ironia? Aliens raptaram Taeyong e substituíram por uma sósia? Ele, bravinho assim? Gritando comigo? Comigo? Gritando? Quê?
— Relaxa, TaeTae — Yuta ri e segue atrás dele para dentro do estabelecimento. — Só estamos tentando quebrar o gelo.
— Tá, mas não precisa exagerar... — ele nos diz, e assim percebo que seu silêncio todo desde que soube do sumiço de Dodo está trazendo estranheza.
— Calma — como está de costas para mim, virado para o balcão, avanço para a sua frente e o puxo pelo braço. — Vamos pedir informação.
E isso é inútil. Inútil porque acabamos passando uns vinte minutos tentando nos comunicar com o cara do bar, mas ele não entende tanto de inglês. E agora contamos com a ajuda de um cliente, que está traduzindo do grego para inglês e vice-versa. A confirmação dele me deixa meio sem ar, quando perguntamos se eles viram os moços da foto que Yuta o mostra. Acho que não poderia estar pior.
— Ele disse que eles saíram com algumas coisas que compraram na vending machine. E que eles vieram juntos e foram embora juntos. E que também pegaram um táxi, porque ele viu quando foi botar o lixo para fora — o cara traduz. O sotaque dele é forte, mas consigo entender.
— Muito obrigado — agradeço com as mãos juntas.
Não quero mais ter de pensar sobre isso, porém a festa está feita e não podemos ignorar. Olho para Taeyong, que não para de encarar o chaveiro que Yuta tem num dos passadores da calça. Acho que ele está distraído. Já eu, me sinto traído. Eu estou chateado e, de certa forma, magoado também. Compreendo que sentimentos são complicados demais, mas olha só o que fizemos crendo que haveria casamento e que haveria amor na relação?
— Quer saber? Dane-se! — Yuta derrama a mão sobre o balcão e o som amadeirado faz dançar nossos tímpanos. — Vamos para a festa. Se não tiver cerimônia, tudo bem. Nós fizemos nosso melhor e iremos aproveitar. Vamos apoiar Minyoung e cuidar dela, mas que se dane todo o resto. Vamos beber tanto hoje que nós três iremos acordar pelados na mesma cama!
Quê? Que papo é esse?
— Bem, não tem muito o que fazer... — Taeyong solta um suspiro outra vez, erguendo seus ombros magros e derrubando-os em seguida. Ele parece cansado ou de saco cheio. Queria abracá-lo agora, pôr o queixo em seu ombro, dizer que tudo está uma merda, mas que fica menos pesado quando estou com ele. — Vamos voltar, então. A não ser que vocês queiram sair no soco aqui.
— Meu sonho é sair no soco com o Ten — o japonês comenta, com um sorriso perspicaz nos lábios, mordaz, malicioso. Desencosta-se afoito do balcão, caminha com passos moderados rumo a saída. Seguimos adiante com foco e desprezo pelo tempo gasto. — Não existe algo mais homoerótico que isso, sabia?
— Espera... — Taeyong de repente diz. — Você tem algum tipo de atração por ele?
— Eu usei o homoerotismo para resumir a impressão que tenho numa imagem minha e dele brigando no chão do bar — Nakamoto olha pra mim. Talvez o rubor tenha subido à minha face. Ele ri da minha expressão. — Quê? Briga masculina é homoerotismo puro!
— Você é esquisito — Lee aparece entre nós dois. — E nem invente o negócio do trisal, ok?
— Você deveria pensar com carinho... — o loiro põe as mãos no bolso e fica olhando a natureza, a medida que caminhamos de volta.
— Tem como ficarmos em silêncio, por favor? — eu peço.
Yuta faz uma careta e sussurra que sou muito impaciente, já eu o mando ir se lenhar antes que eu perca mais a minha paciência. Ele entende. Voltamos em silêncio, como pedi. Sinto-me aflito. Não sei o que fazer. Yuta disse: dane-se. Dane-se? Não posso fingir que estou despreocupado com tudo. Sei que Taeyong está, porque ele está em silêncio e, se não está falando coisas bregas ou me xingando, há algo de errado. Penso em pegar sua mão, mas não quero forçar nada. Eu não estaria fazendo porque quero.
E de volta ao casamento, somos questionados sobre tudo. Minyoung está sentada no bar, sem saber como reagir, com o telefone grudado ao ouvido, a expressão de ânsia. Está mais aflita que eu. Mais aflita que eu, Yuta e Taeyong juntos. E então nós quatro sentamo-nos numa mesa da área externa da festa, as luzes azuis e roxas dos projetores estapeando nossa tez. O que vamos fazer?, pergunto. Ela respira fundo... E a maquiagem está linda, o penteado, o vestido alvo, o buquê ornamentado por Taeyong pousado no colo, as luvas de cetim que fez questão de exigir... Ela está linda. Ela é linda. E eu sinto muito.
Não é o fim do mundo... Ok. Mas decepções são difíceis de se impedir. As dores demoram para sumir, não são voláteis. E explica isso para um coração que almeja acalanto, mas é privado disso? Eu sei como é doer. Não que tenha chegado a casar, sempre fui capenga demais no amor para chegar a um nível tão insano quanto esse. Gostava de imaginar que o problema estava em outrem, não em mim. Certo ou errado, segui a vida. O eco das minhas decisões repercute até hoje. Sou uma droga com relacionamentos e as pessoas me decepcionam o tempo inteiro. Eu também decepciono as pessoas, porque sou uma merda com elas. Mas eu insisto nos contatos e não privo-me disso. Não sonho com príncipes, não busco casamento, não gosto de romantizar situações. Tudo é tão simples. O amor não é nada disso que vemos. Não é o fim do mundo. Mas eu sei que as coisas machucam. E a gente pensa que não vai acabar nunca, porque somos jovens e ainda não nos acostumamos com as pancadas.
Não consigo dizer nada disso a ela, mas de relance vejo quão triste ela está. A postura levemente curvada e a maquiagem um pouco borrada, evidenciando um possível choro que viera a ter. Ela olha para as flores que decoram a mesa. Lembro-me de Taeyong colocá-las ontem, dizendo os nomes e tudo mais. Só que estive tão ocupado que não prestei atenção. Nunca presto atenção nas coisas que gosto, como se elas me tornassem fraco. Sinto-me fraco ao lado dele. Como se ele pudesse arrancar tudo de mim só em abraçar-me ou pedir beijo como sempre faz. E seus olhos encontram com os meus. Ele sorri tristemente. Seu cabelo preto é lindo. Ele não entende que é cruel comigo. Que a ideia de estar apaixonado por ele me assusta, tira o ar, faz-me querer gritar. Eu quero gritar.
— Vamos suspender o casamento — Minyoung nos diz. — Mas vamos manter a festa. Vai ter o buffet, o bolo... Tudo. Vamos fingir que eu me casei. E que está tudo ótimo. Tudo bem por vocês?
— Tudo bem por você? — lhe questiono.
A garota olha para as próprias mãos enluvadas por um tempo, como quem pensando na pergunta. Está tudo bem. A melancolia assola mesmo. No fim das contas, nem sabemos mesmo porque é que estamos existindo, como é que teremos certeza de algo nesta vida? Tudo é um borrão.
— Tá sim... — ela balança a cabeça positivamente, mas dá uma fungada. Um feixe arroxeado lhe lambe o rosto, expondo uma presente torrente. Ela está chorando.
— Oh, noona... — Taeyong levanta-se e vai ao seu encontro, abraçando-a forte. Ela encosta a cabeça em seu ombro e desmonta inteira. E eu queria, eu queria tanto consertar as coisas por aqui. Mas não sou o deus de alguém. Sou o deus de mim. E o mundo roda tanto, que só consigo enxergar o meu umbigo. Um deus egoísta. Não sei ser outro alguém. — Pode chorar o quanto precisar... Isso... Chore...
Yuta levanta-se para pegar água. Levanto-me para a anunciar a suspensão. Se tivesse previsto a balbúrdia, teria ido buscar o copo d'água. A família de ambos quer respostas. Eu mal sei resolver minha vida, como poderei ter respostas? O microfone é alto; minha voz, falha. Estou nervoso, explicando que procuramos, mas que talvez possamos aproveitar a festa e resolver esse assunto num outro momento. Pego uma taça de champanhe rosé e brindo a Minyoung. A mesma que chora nos braços de quem amo, por alguém que ela ama e que certamente a decepcionou. Sinto-me descontente e desesperado. Queria consertar as coisas, mas as perguntas são demais... Demasiadas perguntas, quero que a família cale a boca. Eu não sei onde eles estão, não sei onde estou ou onde quero ir. Só tenho vinte e quatro, não sei para onde ir. Tenho muitas coisas para fazer, muitas coisas para ser, eu tento ser perfeito, conquanto as coisas saem dos trilhos sempre. Não vou admitir desconhecimento. Mas é um pânico, sinto-me em pânico, que fazer quando me desespero? Se fecho os olhos e suspiro fundo, gritam para mim. E eu bebo para que o álcool rasgue minha garganta e me impeça de gritar. O álcool é pouco, mas eu rosno após beber. É doce e nocivo. Eu não sei onde estão. Eu não sei.
Se eu penso nisso, a cabeça avoada leva-me para terras desconexas. Com meus dedos levemente avermelhados, deixo a taça numa das mesas e digo que podem se empanturrar. Que tem música, comida e lugares para tirarem fotos. Temos pão e circo, o que querem mais? Isso funciona com o governo, por que não funcionaria comigo? Deixo-os com suas perguntas pairando o ar. Caminho pelos canteiros, a brisa do mar invadindo meu peito, eu sem saber se devo ajudar ou assistir ou em qual dos dois eu posso miseravelmente falhar.
As amigas de Minyoung levam-na ao banheiro, tentando animá-la. Eu cruzo os braços, vendo as pessoas buscarem pela comida. Espero que esteja bom. Não obstante, não consigo pensar nisso agora. Eu sempre me pergunto por que é que fico tão mal com essas coisas. Que, por mais que não pareça, eu sinto tanto e isso me destrói. É como dilacerar o peito. Detesto o drama dos relacionamentos. Dos dramas dos namoros, dos casamentos e dos divórcios... De como tudo termina sem nem mesmo começar.
— Chittaphon, você está bem? — Taeyong segura-me a mão. — Parece meio assustado.
— Detesto casamentos — engulo em seco. — Detesto todos eles. Todos.
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