eu enganei direitinho
Estou prestes a arrancar-me as vestes para uma ducha quando três batidas à porta irrompem o silêncio do quatro.
— Quem é? — pergunto, porque agora não confio em ninguém e passarei a trancar meu quarto com duas voltas da chave.
— Eu, o amor da sua vida! — Taeyong responde.
Solto um suspiro e destranco. Ele tem uma garrafa plástica cheia d'água numa das mãos e as duas pistolas na outra.
— Fiz o Yuta aparecer lá na piscina... Na verdade, ele irá aparecer daqui a cinco minutos. Vamos lá nos vingar! — entrega-me uma das arminhas, animado que só ele.
— Você deveria era dar um soco nele de novo, isso sim — eu aperto o gatilho e a água esguicha na porta.
— Você vem ou não? — ele olha para trás, como se quisesse certificar-se de que ninguém esteja por perto.
— Vou só por você — desligo o interruptor e puxo a porta comigo, a medida que saio. — Tenho outras formas de me vingar de alguém.
— E como você se vingaria dele, então? — Taeyong passa a caminhar rente a mim pelo corredor.
Usando você. E com sua ajuda.
— Não sei — encolho os ombros. — Eu iria pensar sobre.
Taeyong responde que compreende. Então ambos descemos as escadas, passamos pela sala, depois pela piscina, caminhamos até a lateral, subimos os degraus até o terraço e aqui estamos nós. Em pouco tempo, Yuta realmente aparece. Tentamos nos esconder direitinho quando atiramos nele. De mansinho vejo ele olhando ao redor, passando a mão no cabelo, onde molhamos. Eu e Taeyong nos abaixamos, cobrindo nossas bocas para não rirmos alto.
E passamos cerca de dez minutos tirando uma com a cara do Yuta, fazendo ele ficar aí na piscina, pensando que está chuviscando ou algo do tipo.
— De quem é esse celular? — sussurro, vendo Taeyong tirá-lo do bolso. Quando vejo a capinha, constato que é o de Doyoung. — Por que está com o celular de Dodo?
— Porque eu pedi emprestado para isso — Taeyong ri baixinho. — Yuta tinha que acreditar, né... Eu sou demais também. Eu enganei direitinho...
— Como?
Me ergo rapidamente para esguichar mais água nele, e dessa vez alcança sua nuca. Ele olha para trás, mas não para cima. Ele realmente está perdido e isso me faz rir muito.
— Mandei mensagem do celular de Dodo para que ele e Yuta se encontrem para conversar sobre um babado — e então Lee passa a digitar algumas coisas. — Mas, teoricamente, o Dodo está dando um bolo nele.
— Ah, entendi...
Taeyong guarda o telefone no bolso da calça, depois se ergue e é sua vez de atirar água também. Depois, abaixa-se para ficar comigo.
— Dodo idiota... Me faz ficar aqui fora enquanto transa com a noiva... — escutamos Yuta resmungar.
— Tu mandou o quê para Yuta?? — cutuco Taeyong com o indicador.
— Que eu... No caso, Dodo... Ainda não desceu porque ele decidiu que teria um momento mágico com a Minyoung antes de ir se encontrar com ele.
— Uh, informação demais — faço cara de nojo.
— Não é, não. Dodo fala sobre a vida sexual e amorosa dele o tempo todo. E quer saber a de todo mundo também.
— Ele só me arranca coisas quando estou bêbado — lamento.
— Sim, eu sei disso — Taeyong responde. — Foi através dele que eu soube coisas suas.
Quê?
— Quê?
— Ih, falei demais... Hehe... É brincadeirinha... Pegadinha... — ele dá aquele sorriso de nervoso.
— Que tipo de coisas?
— Hm... Bem... Sobre... Hm... — ele limpa a garganta engolindo em seco. — Sobre como vocês se conheceram e... Hm... Sobre você ir a Paris... Ahn... Sobre quantos idiomas você fala...
Eu aponto o cano da arma falsa na direção dele e atiro água em seu rosto. Taeyong fecha os olhos instantaneamente e resmunga um "eu mereci". E atiramos no Yuta inúmeras vezes até ele entrar na casa bufando impropérios. Eu e Taeyong ficamos aqui por um tempo, rindo que nem idiotas. Escondemos as armas, descemos nas pontinhas dos pés e vamos cada um ao seu quarto.
Depois de um banho e de lavar o cabelo — eu disse que faria isso, após aquela confusão debaixo da cama —, eu desço e fico a brincar com o grupo por um tempo. De início, jogando Uno. Rompi minha amizade com Doyoung e ameacei sabotar o casamento dele, após ter de cavar dezesseis vezes depois de uma série de cartas muito mal postas. Yuta fala que não sei perder. Eu respondo que ele não sabe sequestrar e ele dorme com essa. Eu não sei bem o que mais fazemos durante a noite, porque pegamos um vinho branco e decidimos beber. Quando vejo, já estou pintando as unhas da Minyoung de amarelo. Não sei bem que é que está acontecendo.
— Shine bright like a diamond... — ainda estou cantarolando, puxando a mão dela para mais perto e próximo da luz.
Taeyong não bebeu muito. Eu acho. Não sei. Talvez sim. Ele está jogando alguma coisa no notebook com Yuta, porque já nos cansamos de Uno. Dodo... Eu sei lá onde Dodo está. Acho que ele foi ao banheiro, ficou resmungando a noite toda que a barriga está doendo. Deve ter sido as porcarias que ele comeu durante o dia também. Isso que dá não ter Ten para cozinhar sempre.
— Isso que dá comer adobró o dia inteiro — eu reclamo.
— Quê? — Dodo ri de dor ao sair do banheiro.
— Gororoba — traduzo.
— Cozinhe pra mim, então, ora... — passa direto por mim.
Penso em dizer que só quando ele falar mais sobre sua sexualidade, mas Minyoung está presente e não quero deixar tudo tão desconfortável. Deixe estar, outro dia arranco a verdade dele. Na verdade, chega a ser bastante injusto ele me embebedar, arrancar informações minhas e depois sair espalhando aí... E eu não posso nem saber sobre a sua bissexualidade notória? Não que me importe, mas ele vive dizendo que é hétero e preciso corrigir isso nele. Amigo, você não é hétero. Não é.
Eu nem sei bem o que acontece após eu terminar de pintar as unhas de Minyoung — habilidade essa que adquiri desde pequeno, uma vez que servi de escravo para a minha irmã, quando precisava pintar a mão direita e não tinha firmeza para fazer com a esquerda. Só sei que, tempos depois, vejo-me sentado à beirada da piscina, batendo os pés e sentindo o bouquet de um vinho Xerez que Doyoung arranjou-nos repentinamente. E quando bebo o terceiro gole, alguém senta-se ao meu lado. Reconheço as pernas de Taeyong.
— Você ainda está acordado? — pergunta ele, desbravando meus ombros com seu braço longo. — Está com cara de sono, Chittaphon. Para de beber, maluco.
Eu rio, então dou mais um gole e termino.
— Vou te levar ao seu quarto — ele me diz, levantando-se e puxando-me pelo braço.
Taeyong me leva ao meu quarto. Até desliga as luzes, após deixar-me na cama, crendo que irei dormir em breve. Porém, ainda que eu esteja cansado, sinto-me demasiadamente acordado. Saio cerca de quinze minutos depois, com o celular na mão. Da escada, bisbilhoto a troca de beijos hétero na sala. E, cansado da monotonia, abro a porta do quarto de Taeyong sem nem mesmo bater. Ele está sentado na cama, usando o notebook, de costas para mim. Não penso muito bem antes de encostar a porta, sentar atrás dele e abracá-lo.
— Que susto! Pensei que estava dormindo, Ten — ele vira o rosto para mim. Apoio o queixo no seu ombro. — Por que não está dormindo, huh?
— Me chame de hyung...
— Ahn? — Taeyong ri. — Você deve estar muito bêbado para falar isso. Muito bêbado mesmo.
— Não, só estou meio avoado... — rodeio sua cintura com meus braços e seguro meu celular acima de sua virilha.
Olho para a tela do notebook. Ele está jogando The Sims, construindo alguma casa. Ou algo parecido com isso. Não sei. Mas gosto de abracá-lo quando está sem camisa. O corpo dele tem um jeito tão tiny, mesmo sendo longo. Eu gosto disso. É delicado.
— Eu não consigo dormir — eu comento. O cheirinho dele é tão bom e gostoso... — Vou ficar um pouco aqui, viu?
— Uhum — vira-se outra vez para o jogo e continua o que estava fazendo.
Como estou sentado no calcanhar, me aproximo mais dele e afasto as coxas o suficiente para encaixá-lo entre elas. Taeyong não esboça nenhuma reação óbvia e, logo quando dou um beijinho no seu ombro, meu celular vibra. Desbloqueio. É uma mensagem de ex perguntando sobre a Grécia, pois tem visto minhas postagens. Respondo de maneira objetiva, e logo em seguida migro para o Kakao. Yangyang está me dizendo que daqui a algumas horas irá embarcar.
— Seu wallpaper... — Taeyong ri, apertando os olhos.
— Hm? — a anta aqui não tinha percebido antes que ainda está com o papel de parede do Taeyong fazendo espacate. — Ah... Foi... Foi do seu aniversário. Para eu lembrar do bolo.
— Ah, sim...
Bloqueio o telefone e fecho os olhos. Vez ou outra ele põe a mão sobre as minhas, porém retira do nada. Não sei quanto tempo ficamos aqui. Escuto bem como ele resmunga, teimoso, sobre como pareço estar cansado e que eu deveria era dormir. Mas não quero dormir agora, ele não entende? Fica dando tapinhas no meu joelho para me acordar, insinuando que estou cochilando e coisas mais. Mas não estou com sono não. Não. Não. Eu só não consigo ficar tanto tempo com os olhos abertos.
— Vou te tirar daqui, já que você se recusa a ir dormir — ele diz. Abro os olhos e vejo como derruba a tela do notebook e se estica para deixá-lo sobre a bancada, levando-me consigo.
— Não... — resmungo. Acho que o álcool trouxe-me a qualidade de manhoso.
— Sim... — solta-se de mim.
Como sei que ele irá tentar me levar para fora do quarto, deito-me e cruzo os braços como recusa. Taeyong tenta puxar-me as pernas, mas não tem êxito. Eu sacudo tanto que o faz rir.
— Pô, Tennie, assim não vou poder te ajudar...
— Eu quero ficar aqui com você... Não percebeu? Preciso desenhar? — ajeito a calça verde que, no início do minha bebedeira de horas atrás, vesti de qualquer jeito e ainda fiz o favor de usar cueca dessa vez. — Deita aqui logo.
— Normalmente as pessoas são mais carinhosas quando falam isso — ele curva o corpo sobre a cama, depois deixa-se cair de ladinho. Até arrasta-se sobre o colchão para ficar junto a mim.
— Je m'en fous — ponho a mão em seu rosto.
— Pois deveria se importar, sim — e, por incrível que pareça, o desgraçado entende o que quis dizer.
— Je m'en fous carrément.
— Você deveria se envergonhar disso.
— Tais-toi...
— Rude.
— ... Et embrasse moi.
— Quê? — ele ri.
— Tais-toi et embrasse moi.
— Calma... Estou meio ruim no francês... — olha para o teto por alguns segundos. — Você disse que é para eu calar a boca e te beijar?
— Nossa... Sim, Taeyong! — eu rio da sua cara de palerma pensativa. É muito bobo esse menino, credo. — Você vai ou não?
— Por que você não me beija, então? — pronto, começou a bunda de açúcar.
— Você é chatão, cara — empurro-o para trás, que acaba por cair de costas ao meu lado. — Nem parece que quer.
— Quem quer é você. Venha buscar.
— Tá ousada hoje... — rio das suas brincadeiras e fico olhando o teto branco. O ventinho que entra da sacada bate em meu peitoral e fico levemente arrepiado com esse contato.
Aos poucos, acabo por fechar os olhos. Eu estou mesmo cansado. Exausto. Não quero barulho nem grulha. Ficarei feliz em dar uma cochilada e esperar o momento em que Taeyong irá carregar-me ao quarto outra vez. Sinto-me leve assim, a preguiça batendo, ou talvez seja o álcool... Ou ambos. E Taeyong ainda fica brincando com meu cabelo. Percebo como mexe-se na cama e como sua respiração quente abraça-me o rosto, pouco antes de ter os lábios beijados por ele. Sorrio, porque no fundo eu sabia que isso ia acontecer. Ele não sabe ser pulso firme comigo. Ele não sabe. És muito fraco. Fácil, até. Está disposto a tudo, ainda que negue ou rejeite de primeira.
— Só porque você já está quase dormindo... — ele explica, jogando o cobertor sobre nós dois. Acho que irei dormir aqui.
— Não estou, não — coço os olhos.
Tae traz perto o travesseiro e levanta minha cabeça para que possa colocar abaixo. Eu realmente estou quase dormindo, mas não quero admitir. Não vou. E como ele já sabe, só preciso negar. E agora Tae está ajeitando-se para ficar de lado outra vez, significa que iremos dormir grudadinhos. Eu até jogo minha perna sobre as suas e entrelaço.
— Seu cabelo está loiro e você é baixinho... — acaricia meu rosto. — Está parecendo O Pequeno Príncipe.
— Para com isso, caramba! — lhe dou um soquinho na barriga. — Que saco isso.
— Desculpa — ele não sente nem um pouco essa desculpa. E está tudo bem, não achei mesmo que ele fosse me levar a sério. — Vou desligar a luz.
Ergue-se um pouco. Taeyong é tão preguiçoso que, ao invés de se levantar e desligar o interruptor com a mão, ele estica a perna para fora da cama e desliga com o dedo do pé. O dedo do pé. Qual o sentido disso?
Beija-me do nada quando volta a ficar perto a mim. Até mesmo enfia o braço debaixo da minha cabeça enquanto desliza a língua pela minha. A leveza do seu carinho em mim traz a sensação de paz contínua. Quero levá-lo a todos os lugares que apaixonei-me, para que assim a obra fique completa. Levá-lo a museus, galerias, a restaurantes, a um lugar de boa vista. Só para que ele entenda que ele ali é uma peça bônus. Que acrescenta muito. Muito em mim. Aqui. Beijando-me vagarosamente, pois sabe que és do agrado meu e quer que tudo seja bom entre nós dois. E ele tenta. Todos os dias ele tenta ficar comigo.
Não temo traumatismo craniano ao atirar-se em seu mar, pois sei que não é raso. Não sei o que temo, ainda é desconhecido. Ainda não sei. Mas eu sei que gosto quando ele mergulha sobre mim, como quem sem medo, e não prolongamos os beijos para que não precisemos fazer longas pausas para respirar. Mesmo que eu queira mais. Taeyong move-se para cima de mim, tirando o braço da minha cabeça e jogando o cobertor por cima. Estilo o que fizemos no terraço. Estilo o que os casais em reality shows fazem para transar. Imagina só se a gente fizesse isso, bem baixinho e em segredo?
Credo, no que estou pensando?
— Vai ficar calor — comento, meio sem ar.
— Temos mais privacidade.
— Ninguém vai ver, se você trancar a porta.
— Todo mundo vai descobrir, se eu trancar a porta e virem que você sumiu.
— Que diferença faz se entrarem e virem isso daqui?
— Podemos fingir que estamos dormindo abraçados.
— Mas podem escutar.
— Escutar o quê? Você vai gemer?
— Você não?
— Ten, a gente só vai se beijar...
— Ah — acabo por não me atentar a esconder a decepção na minha voz.
— Se bem que você faz isso até com beijo... — ele deixa um beijo na minha mandíbula.
— Não faço, não.
— Haha, morri de rir — ele acaba rindo de verdade ainda. Nossa, que raiva dele. Tenho tanta raiva que fico todo molenga nesses beijos rápidos e estalados na minha boca.
— Mas... Sabe... — interrompo uma mordida sua. — Você sabe que não dá pra aguentar muito tempo de beijo, né?
Taeyong dá um suspiro.
— Você pediu por beijo.
— Justo.
Justo. De fato, é justo. Eu deveria ter dito: "cala a boca e tira a roupa, que o resto eu faço". Mas isso nem passou pela minha cabeça. Uma lástima. Mas é bom ter seus beijos também. Porque num segundo ele morde levemente, no outro é tão doce ao beijar-me que me sinto até no céu. Gostaria de estar melhor nas palavras, mas ando tão de frouxa mente. Deve ser o álcool. Ou o sono. Ou a preguiça. Ou os beijos dele. Leves. Doces. Talvez como... Pão fresco. Um pão fresco francês que acaba de sair do forno. É quente. E o aroma me busca. O barulhinho... A textura... O sabor... O jeito como despedaça na minha boca... Sim. É isso mesmo. Tudo isso é fenomenal. Ele quer tanto de mim... mas tanto...
Eu quero tanto dele... Mas tanto... Queria só estar com ele e dane-se o resto. Que se fôssemos as únicas criaturas do planeta, desde o princípio, provavelmente pudéssemos pôr fogo nesta cama. E nossos corpos seriam a braçada de lenha. O mundo iria arder sob nós. Porque a lei seria nossa: não existiria lei. Não haveriam limites. Que a inconstância do mar padeceria de inveja por não nos acompanhar. E que as fases da lua veriam quão amáveis somos, porém selvagens também. Não um selvagem animal. Um selvagem urgente. Sob mantos, encantos e sossego... Seríamos um todos os dias. Pensar nisso causa-me arrepio. Calor. Sim, isso também. Fazer-se-ia calor na tez para a condução. Também beijar-te-ia o rosto, cheio de preocupação, para que sentisse proteção antes da matina. Talvez pudéssemos tornar o dia do deserto em inverno, comparado a nós.
— Viu só? — afasta-se para sussurrar. — Tu faz um barulhinho... Acaba gemendo no beijo.
— Vai esfregar isso na minha cara? — abraço-o pela cintura.
Pressiono-lhe a pele quando sinto seus lábios em mim. Ele traz as estações mais quentes, agradáveis e caretas. Sinto-me poesia quando estou com ele. Tece versos em mim. A mão descendo em meu corpo, as linhas sendo formadas... Ele não me completa, ele me adiciona. Sinto-me livre. Livre demais. Ele chega com as mãos até minhas pernas e afasta. Fica entre, entre tudo que sou. Quero que ele entre, mas tá tudo tão slow. Ele não vai entrar. Eu não vou forçar. Há portas que são mais bonitas fechadas. Uma hora ou outra se abre. E esperarei, como sempre esperei. Com sua boca em mim, os beijos rápidos e estalados. E às vezes nossas línguas encontram-se bem antes dos lábios. E ele sorri com isso. Com seu quadril contra o meu.
— Sabe o que odeio? — deixa-me, lépido, dois beijos antes de tirar o cobertor das nossas cabeças.
— O quê? — lhe pergunto, num sentimento de falta. Que falta. Falta ele aqui e é melhor voltar.
— Acreditar que haverá amanhã — toca meus lábios com o indicador direito. — Isso nos destrói.
— Por quê? A presença do amanhã permite que você possa viver mais.
— Nah, eu não preciso viver mais — desce o rosto e enterra no meu pescoço. Sinto o molhado e quente do seu beijo aqui. — Se não houvesse amanhã, eu iria aproveitar mais o hoje. Não tem como viver como se não houvesse amanhã, entende? Mas eu gostaria. Ser mais feliz, só por um dia. E fazer coisas com você. Talvez você não entenda...
— Você tem planos comigo? — lhe pergunto, ao passo que sinto o modo como morde minha orelha. Sua mania voltou.
— Desejos contigo — me corrige. — Planos sempre dão errado. Pelo menos para mim.
— Depois a gente vê isso, tá? — beijo-lhe o rosto.
— É por isso mesmo que falo essas coisas — vira o rosto para que nossos lábios se encontrem. — O adiamento.
— Não sei o que falar para te confortar — faço carinho nas suas costas nuas. — Quando eu arrumar algumas coisas da minha vida, e... Bem... Se a gente ainda estiver assim... Talvez a gente possa viajar. Só nós dois. Tudo bem por você?
— Uhum — timidamente, deita-se ao meu lado. — Mas não se preocupe... Eu só queria compartilhar o que estive sentindo. Não quero que se sinta na obrigação de me confortar.
— Eu quero — seguro sua mão. — Só não precisamos fazer isso agora.
— Tudo bem — ele suspira. — Já comecei a te entender. Só quero te ver feliz. Então foda-se se isso não me incluir.
— Tae... — viro meu corpo na sua direção. — Eu consigo ser feliz sem você, docinho. Mas eu me sinto mais feliz com você. Entende?
— Uhum. Eu também.
— Que bom — lhe abraço. Seu cheiro quente e primaveril nos rondando é tão bom... — Vamos cuidar do casamento de Dodo e depois vemos o que iremos fazer com nós.
— Certo, não se preocupe... Você é ocupado — Taeyong enrola as pernas às minhas e larga minha mão para fazer carinho na minha barriga. — Vai dormir, você está com sono.
— Beijinho!
Taeyong ri e inclina-se para beijar-me os lábios. Lhe acaricio a nuca, o cabelo, sentindo quão bom é tê-lo aqui nesta intimidade. Porque o tempo falhou. Sim, o tempo falhou em fazer-nos despedaçar, fazer dissipar, extinguir isso aqui. Foi inesperado como aconteceu e como permaneceu. Gosto de pensar que a insistência disso tudo é realmente o que deveria acontecer. Pouco considero-me supersticioso ou crente, porém faz-se necessário atentar-se ao fato de que, se isso não era para acontecer, já teria ido embora. Mas não foi. Sinto-me amado e amante. E durmo fazendo carinho na sua cabeça.
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