eu achei um lugar
Jaehyun perguntou-me por que é que demorei tanto para voltar. Respondi que estava com sono, por isso demorei para me arrumar. Nunca que eu confessaria minha masturbação por algo já passado. Sobretudo por algo que eu não sei se está tão no passado assim. Talvez fosse questão de momento. Sim, deve ter sido. O vídeo. O maldito vídeo.
No final de semana, vou correndo ao café onde nos encontramos da última vez. Estou com uma mania de me atrasar um pouco, mas é porque tenho dormido tarde e fico na preguiça para levantar. Ontem dormi tarde, ainda, lendo poesia ao som de música clássica. Nunca pensei que me apaixonaria tanto por um momento quanto aquele. E aqui estou eu.
Sento-me apressado, já me desculpando pela demora em chegar. Desta vez, Taeyong não está ao meu lado, ele está do outro lado da mesa. Peço um café gelado, tentando ao máximo não trocar olhares. Mas simplesmente não dá, porque ele está bem à minha frente e é só eu tirar os olhos do monitor do notebook que dou de cara com seu semblante focado na torta de coco que está a degustar.
Parece que ele veio diretamente de uma dark academia. Uma estética clássica, ainda mais neste café, que combina com suas vestes, combina com o óculos que ele está usando. Nunca soube que ele precisava usar óculos, mas eu não acredito que Taeyong seja do tipo que usa por estilo. Porque se for, realmente funcionou. Ele está lindo.
— Eu achei um lugar — Jaehyun anuncia, quando todos paramos de fazer coisas pessoais. — É em Gangnam.
— Ui — Yuta brinca. Eu dou um gole no meu café.
— Vocês decidiram uma data em específico para o casamento?
— Não, definimos o mês. Pode ser em qualquer dia do mês — Doyoung tira o garfo da boca e fala embolado. Eu acho que ele está amando toda essa coisa de casamento. — Decidam aí.
— Como assim decidam aí? — pergunto, olhando-o atentamente.
Olho para Jaehyun, que está encarando Dodo como se ele fosse um maluco falando asneiras.
— Não é assim que se resolve coisas de um casamento. Você já conversou com a Minyoung? — sensato, Jung conserta a postura.
— A gente decidiu que poderia ser em qualquer data, contanto que encontremos um lugar para a cerimônia. Vejam bem... Se decidirmos a data, as chances de não encontrarmos lugares bons disponíveis é menor do que se apenas definirmos um mês para acontecer.
— Stonks — Yuta bate no tampo da mesa e depois bate palmas.
— Faz sentido, mas... Não é comum — Taeyong finalmente fala algo que não seja "não vou dar minha torta" — É uma coisa importante, então você deveria pensar numa data.
— Sério, eu não me importo. E consegui convencer a Minyoung sobre isso, então ambos acabamos por concordar. Então, diz aí? Quais são os dias disponíveis? — Doyoung dá de ombros, então eu começo a pensar que talvez a teoria de Jaehyun esteja realmente certa.
— Dia 2, 10, 19, 28 e 30 de julho. Julho, certo? — Jung lê algo do próprio notebook e, como estou ao lado dele, consigo ver que está na agenda do site.
— Sim, sim — Doyoung concorda. — Tire os dias de semana e só deixe final de semana.
— Tem mais chances de conseguir em dia de semana, do que final de semana — Jaehyun move-se na cadeira, encarando Doyoung. Ok, isso foi estranho. Usando o próprio argumento dele contra ele. Quanto tempo eu fiquei fora mesmo?
— Isso não foi stonks, Dodo — Yuta balança a cabeça.
— Se for em dia de semana, teremos que fazer à noite, já que teremos o dia inteiro para nos preparar — Kim explica, mas eu não entendo.
— Sim, e...? — instigo.
— A faculdade noturna do Taeyong — ele me fala com aquele tom de "isso é óbvio" — Ele não pode faltar.
— Ah — meus olhos param nele. Taeyong não olha de volta.
Faculdade noturna... Essa é nova.
— Relaxa, eu posso faltar — Taeyong estica os braços sobre a mesa cheia de pratinhos e notebook. — Não levem em conta isso não, posso pegar a matéria em outro momento.
Dá de ombros, desdenhoso, como se isso não fosse nada com que não devêssemos nos preocupar. E, modesto, querendo que as atenções fujam, pega a xícara de Yuta e dá um gole na bebida que ali reside. Funciona, pois todos desviam o olhar. Menos eu. Eu não quero desviar.
Taeyong franze o cenho, levemente aperta os olhos e tira a xícara com um pequeno beicinho formado nos lábios. Demora cerca de três segundos para decidir engolir o líquido e assim concluo que talvez não tenha sido do seu agrado. Como na boca da xícara tem rastros de café, concluo que esta é a bebida em questão. Então ele leva alguns segundos com os lábios espremidos, queixo amarrotado e sobrancelhas tão próximas que a dobrinha da pele protagoniza sua expressão. Se é café e ele fez essa cara, com certeza não é o que ele está acostumado a tomar. E se ele gosta de café amargo, talvez esse seja o oposto. Taeyong acabou de beber um café extremamente adocicado. Eu sei disso só em olhar para ele.
Jaehyun volta a falar sobre datas e disponibilidade, mas só consigo olhar o jeito com que ele pega a garrafa de água — não é uma descartável, essa é realmente uma garrafa de uso pessoal e durável — e bebe três goles sem pausa alguma. E quando põe a garrafa sobre a mesa, teu olhar tomba o meu. Ele me olha. Eu olho de volta.
Eu não quero olhar para mim, quero olhar para ele. Parece um escritor cujo livro ninguém ousa ler por achar dramático demais, irônico demais, a escrita violentamente formal demais. E que ninguém acha beleza em algo pesado e duro como isso. Mas eu acho, eu vejo, eu encontro. Essa franjinha que forma um arco na tua testa, esse colar metálico, essa camisa num marrom castor denso e de gola alta — não está tão frio assim, honey —, esse olhar perdido, confuso, essa postura cansada. Taeyong não parece mais um garoto. Ele parece um homem.
Ele sorri de desgosto, aquele típico sorriso de "não estou acreditando nessa merda", irônico, mordaz. Levemente abana a cabeça, torce o nariz e desvia como quem tivesse aversão a isso, a nós, a mim. Passa a anotar alguma coisa no caderno dele, mas daqui não dá para ver o que é.
— ... Então todos concordam em ser dia 19? É domingo e fica mais fácil para todo mundo — finalmente me dou conta de que estava rolando uma discussão aqui. Esqueci completamente.
— Acho que não depende de nós, mas sim dos noivos. Os convidados que lutem, não o contrário — tiro os olhos de Taeyong e viro-me para Jaehyun.
— Os noivos estão cagando — Jaehyun diz, claramente revoltado com isso. Eu nem sei o porquê de ele estar ligando para essas coisas, nem é o casamento dele.
— Credo, seu animal! — Dodo reclama, fazendo cara feia. — Não temos preferências quanto a isso. Vamos fazer um plebiscito, então.
— Dodo, cala a boca — Yuta interrompe. — Dia 19 e pronto, estamos todos de acordo. Se Ten abrir a boca e dizer que tem compromisso, leva pau. Se Taeyong abrir a boca pra dizer que vai lavar banheiro ou depilar o cu, leva pau. O negócio é o seguinte: se os noivos não têm preferências, vamos decidir tudo pelo nosso bom gosto. E o meu bom gosto diz que vai ser dia 19 e pronto. Fim de discussão, vamos pra casa!
Eu poderia até rir do Yuta, mas ele às vezes me deixa desconfortável por ser extremamente objetivo. O conteúdo que fala não parece passar por um filtro, o que torna tudo engraçado. Mas eu vejo a pontinha de uma marca no pescoço de Taeyong quando ele joga a cabeça para trás ao rir e meio que isso tira minha vontade de gargalhar. Não sei muito bem o porquê.
— Podem decidir, eu confio em vocês — a indiferença de Doyoung com o próprio casamento está me tirando dos nervos. Se bem que ele é indiferente com tudo, então não é de se surpreender.
— Eu ia dizer que está confiando errado, mas como queremos te dar uma sensação de segurança, vou dizer que pode confiar de boa, pois faremos nosso melhor. Se tudo sair cagado, a gente põe a culpa no Taeyong que tá tudo certo — e essa fala de Yuta acaba por tirar mais uma risada de Taeyong, que o golpeia com uma pequena e suave cotovelada. — É brincadeira, é brincadeira...
Taeyong não é tão violento com Yuta como ele era comigo. Nós realmente éramos mais intensos nisso. Lembro de quando estávamos em Paris, de quando brigávamos, de quando eu segurei teu corpo forte e tentei imobilizá-lo quando ficou a me insultar, sem dar atenção ao que eu falava. Lembro de quando brigamos dentro do supermercado, após sair dele, das brigas para saber quem é que senta no metrô e qual lugar do cinema iremos nos sentar. Lembro das mordidas que deixavam minha orelha vermelha. Mas eu não consigo mais reconhecer esse Taeyong antigo. Não neste do outro lado da mesa, com um sorriso que não quer estar em seu rosto. Porque eu sinto que ele está forçando. Talvez eu esteja paranóico.
— Está decidido, então — digo, querendo logo que a discussão sobre isso vá embora.
— Ótimo, vamos lá agora — então Jaehyun começa a organizar as coisas dele para sairmos. Amado??
— Como? — pergunto. — Amadinho, existe uma coisa chamada número de telefone.
— Eu já liguei e marquei uma visita para daqui a uma hora — põe o notebook na bolsa e, quando vejo todo mundo fazer o mesmo, percebo que ninguém vai refutar. — Temos que checar o lugar, né? Existe uma coisa chamada Photoshop. Uma incrível ferramenta, se tu não sabe.
— Grosso — reclamo, levantando-me para recolher minhas coisas também.
— Você sabe que sou.
Reviro os olhos enquanto guardo tudo e pago meu café antes de sairmos apressados. Compro uma caixa de rosquinhas de coco e peço que ele me mande o endereço.
— Tem no e-mail de todo mundo — responde.
Jaehyun está apressado, então entra no carro e some na próxima curva. Doyoung vai com ele, daí percebo que talvez tenham vindo juntos. Não estou com tempo nem paciência para questionar isso, pois estou ocupado comendo algumas das rosquinhas. Ainda preciso ir ao banheiro, comprar uma garrafa de água para então ir ao tal lugar.
No mictório, checo a localização que Jaehyun me mandou e concluo que não faço a mínima ideia de onde seja. Mas nada que o Google Maps não ajude, certo? Agradeço muito às tecnologias. Enxugo as mãos na calça — que tipo de estabelecimento não conta com papel toalha? — e compro não uma, mas duas garrafas d'água. Medo de ficar sem água e precisar contar com ajuda de outrem. Não suporto.
Assim que ponho os pés fora do café, encontro um Yuta irritadiço no telefone, do outro lado da rua, e Taeyong com uma cara de pombo, sem saber o que fazer, ao seu lado. Pela sua expressão de perdido, noto que é a mesma expressão de garoto dele. Aquela expressão que me fazia acariciar seu cabelo e dizer que tudo iria ficar bem. No fundo, eu sinto que esse lado dele aquece meu coração.
— Ahn... Tudo bem aí? — pergunto, aproximando-me deles dois. Eu quero parecer simpático ou realmente estou interessado? Estou querendo ser eu mesmo, mas não quero parecer forçado.
Yuta faz um gesto para que eu espere um pouco, erguendo uma das mãos. Fico ao lado do Taeyong, quieto, esperando, fingindo olhar para o chão, porém de olho nos seus anéis. Nunca achei que veria ele de anéis, já que é uma coisa minha.
— Koi, eu meio que vou ter que resolver essa merda — Yuta desliga o telefone com raiva. — Avise a Doyoung e Jaehyun que não vou poder estar presente. Faz esse favor para mim?
— Claro, claro — Taeyong concorda com a cabeça, segurando o braço dele para acalmá-lo.
— Ah, oi, Ten... Então, meio que a placa está completamente ilegível e não deu para perceber, com facilidade, que não pode estacionar aqui... — ele começa a contar e já posso imaginar o que aconteceu.
— Rebocaram?
— Sim, isso mesmo. Vou lá resolver isso — ele afasta-se para tirar foto da placa, então checa logo em seguida.
— Quer que eu vá contigo? — Lee pergunta.
— Não tem problema, é melhor que um de nós dois esteja lá para ver — responde e, pela expressão de Taeyong, talvez ele esteja um pouco desconfortável com isso.
E eu não consigo entender o porquê de ele ter estacionado aqui, porque é em frente a uma farmácia e todo mundo sabe que não pode ultrapassar o tempo máximo de 15 minutos. Ele não tem isso gravado em mente?
— Ah, então eu vou de...
— Eu te dou carona — interrompo Taeyong. — Vamos ao mesmo lugar, então faria mais sentido.
Yuta muda a expressão de estresse e preocupação para algo que não consigo ler, de início. Algo como: "O que quer dizer com isso? Eu deveria reagir a isso? O que eu devo fazer com essa informação?" Eu sei disso, porque não para de olhar para Taeyong, e depois para mim, depois para Taeyong... E, olhando o Tae, concluo que ele também está com a mesma confusão na cabeça. Leva tempo bastante pensando no que responder e eu dou um desconto, tenho ficado paciente.
— Tá, tá bom — concorda, enfim. Seria esse um progresso?
Yuta diz que está tudo bem, tudo bem. Despede-se de mim, despede-se dele. Quando estou prestes a caminhar até meu carro, não sou rápido o suficiente para não pegar a parte em que eles se beijam bem na minha frente. Eu nunca tinha visto ele beijar outro alguém, só me lembro de eu e ele.
Mas ele não sorri depois do beijo. O beijo serve para quê, se não for para sorrir? Lembro dos nossos sorrisos naquele vídeo. Onde estão os sorrisos agora? Eu quero perguntar. Eu realmente quero perguntar. Mas assim que eles se afastam e Taeyong olha para mim, sério, e depois passa direto, percebo: Taeyong mudou.
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