— Acho melhor sair, a água está ficando gelada. — Flora disse, levantando-se da banheira e ignorando completamente a pergunta da tutora. 

Demetria observou a pequena se enrolar na toalha e ajudou a secá-la. Em poucos minutos, Flora já estava vestida, com os cabelos úmidos escovados e alinhados. 

Mas Demetria não podia simplesmente deixar aquilo passar. 

— Flora, por que você sempre olha para algo atrás de mim? Você também vê uma sombra? Ou… vê outra pessoa? 

O corpo da tutora ainda estava em alerta, o coração martelando no peito. Era impossível ignorar a sensação de que algo a observava. Já perdera a conta de quantas vezes isso acontecera. Mas essa… essa foi a primeira vez que viu a sombra com os próprios olhos. 

Flora, no entanto, apenas desviou o olhar para os azulejos do banheiro, fingindo interesse nos pequenos detalhes do ambiente. 

— Não sei do que está falando. 

A voz da menina soou tão casual que Demetria sentiu a irritação crescer. 

— Posso brincar com as minhas bonecas? 

A tutora suspirou. 

— Sinto muito, mas agora vamos descer para tomar sopa. Precisamos esquentar o corpo, parece que uma frente fria está chegando. 

Demetria soltou a água da banheira, secou as mãos e guiou as crianças para o corredor. Só ao sair dali sentiu um pequeno alívio. 

— Ainda bem que aproveitamos o sol, né? — Nellie comentou, segurando a mão de Demetria. 

— Sim, querida. — A tutora sorriu. 

O entusiasmo das crianças ajudou a distraí-la, mas sua mente ainda estava bagunçada com tudo o que acontecera. 

Ao descerem as escadas, seus olhos captaram um movimento ao fundo. 

Lauren caminhava para fora da mansão, e sem olhar para trás, fechou a porta, deixando-se do lado de fora. 

Demetria franziu a testa, mas levou as crianças até a cozinha, onde Billie acabava de servir os pratos. 

— Pode cuidar deles por alguns minutos? — perguntou, ajudando os pequenos a se sentarem. 

— Claro, Mary Poppins. — Billie brincou com um sorriso leve. 

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Lauren sentia-se fora de órbita. Seu corpo estava em estado de alerta constante, como se uma presença invisível estivesse sempre à espreita. 

Passou o dia evitando contato com qualquer um. Não queria cruzar com Shawn, não queria ouvi-lo. Seus comentários a magoavam profundamente, e ela nunca sabia como reagir. 

Então, dormiu a maior parte da tarde. 

Mas quando a noite caiu, sentiu um peso no peito que não conseguia ignorar. Precisava se livrar daquela sensação sufocante. 

Foi até a capela. 

Seus músculos estavam tensos, e tudo o que desejava era que uma boa reza ajudasse a aliviar o que quer que fosse aquilo. 

Passou longos minutos em silêncio, focando nas palavras que murmurava. Respirou fundo, acendeu uma vela e, ao sair, fechou a porta da capela com cuidado. 

Mas então, a voz que menos queria ouvir ecoou atrás de si: 

— Acha que rezar vai ajudar a cobrir seus pecados? 

Lauren fechou os olhos, sentindo os ombros ficarem rígidos. 

— Eu não quero que me dirija a palavra. — disse, começando a caminhar de volta à mansão. 

Mas era impossível ignorar a sensação ruim que voltou a rondá-la. Energias negativas. Algo estava errado. 

— Srta. Jauregui, deveria ser mais gentil com as pessoas. Eu posso... 

— Me demitir? — Lauren virou-se para encará-lo, os olhos carregados de cansaço e irritação. — Sinceramente, eu não deveria nem perder meu tempo com você. 

Ela se virou rápido demais. 

Tão rápido que seu corpo não reagiu bem. 

Um leve torpor tomou seus braços, uma tontura momentânea a desequilibrou. 

E então, viu. 

Bem à sua frente. 

O par de olhos que a observava há dias. 

Era ela. 

A própria. 

Diferente, mas inconfundível. 

O mundo ao redor pareceu silenciar. 

Os arrepios percorreram seu corpo, e Shawn, que estava ao seu lado, afastou-se bruscamente, como se também tivesse sentido algo. 

Lauren tentou se mover, mas seu corpo não respondia. 

Quis piscar, quis chorar, mas nada aconteceu. 

Ela apenas se aproximava. 

Fria. 

Silenciosa. 

Sombria. 

**Um ano antes...** 

A chegada da nova tutora foi uma explosão de euforia entre as crianças, deixando Lauren de cabelo em pé. 

Miles corria pela casa com Luke nos ombros, enquanto Billie tentava alcançá-los. 

— Miles, pare de correr! Vai machucar seu irmão! — Lauren repreendeu, respirando fundo. 

Mas ninguém a escutou. 

— Ela chegou! — Flora deu um gritinho estridente, puxando Nellie pela mão e disparando para a entrada da mansão. 

— Flora, espere! — Lauren tirou Luke das costas de Miles, mas o garoto logo correu atrás da irmã. 

Suspirando, a governanta ajeitou o casaco de Luke e segurou sua pequena mão, guiando-o até a entrada. 

E então, viu. 

A nova tutora já estava ali, cercada pelas crianças. 

Seus olhos castanhos encontraram os de Lauren, e por um breve momento, tudo ao redor pareceu desacelerar. 

Seus cabelos caíam suavemente pelas costas, e havia algo na maneira como sorria que prendeu a atenção de Lauren. 

Ela retribuiu o sorriso. 

E então, a jovem se aproximou. 

— Sou Camila Cabello. Você é a governanta, certo?