— Como é? — Lauren estreitou os olhos para Shawn, analisando sua postura sempre impecável de bom moço. Uma mão descansava no bolso da calça, e o rosto trazia aquele tom insuportável de sarcasmo. 

— Não se faça de desentendida. Primeiro a tutora número um, Camila Cabello, estou certo? Agora já pulou para a tutora número dois? — O sorriso de Shawn se alargou ao terminar a frase. 

Lauren sentiu o sangue ferver. 

— Não ouse falar sobre ela. Você não sabe de nada! — Sua voz saiu afiada, carregada de raiva. A petulância de Shawn era irritante além do limite. 

— Atrapalho alguma coisa? — A voz de Billie cortou o clima pesado enquanto entrava no ambiente. Só o tom das vozes já denunciava que algo não ia bem. 

— Não, querida. Está tudo certo por aqui. — Shawn sorriu com falsa tranquilidade e subiu os dois primeiros degraus da escada. — Só para avisar, ficarei na mansão essa semana. Harry pediu que eu ficasse de olho… em como estão as *coisas* por aqui. 

A ênfase na última palavra fez Lauren cerrar os punhos. Ela sabia exatamente o que ele queria dizer. 

Shawn virou-se e continuou subindo as escadas, indiferente ao efeito que suas palavras causavam. 

Lauren respirou fundo, tentando conter a fúria. Billie, percebendo o perigo, tocou seus ombros, puxando-a delicadamente para trás. 

— Eu odeio ele. — Lauren resmungou, desviando-se e indo direto para a cozinha. Sentou-se à mesa ainda de pijama, tentando acalmar os nervos. 

— Eu sei. E te entendo completamente. — Billie serviu uma xícara de chá e a entregou antes de se sentar à sua frente. — Seus olhos estão avermelhados. Não dormiu bem? 

Lauren suspirou e desviou o olhar para o líquido quente na xícara. 

— Miles. — Foi tudo o que disse. 

Billie assentiu, compreensiva. 

— Até quando vai se culpar? Miles se foi, Laur. E a culpa não é sua. 

Os olhos de Lauren brilharam com lágrimas não derramadas. Além da culpa, odiava o fato de que, sempre que o passado a assombrava, sentia vontade de chorar. 

Antes que Billie pudesse dizer mais alguma coisa, uma voz animada ecoou pela cozinha. 

— Lolo, já estamos de pé! 

Flora surgiu correndo e se agarrou ao pescoço de Lauren, arrancando dela um sorriso cansado, mas genuíno. Luke sentou-se à mesa, enquanto Nell ficou no colo de Demetria, aninhando o rosto na curva de seu pescoço. 

— Temos uma bebê na casa? — Billie provocou, lançando um olhar divertido para Nell. 

A pequena ergueu a cabeça na mesma hora, protestando: 

— Não sou um bebê! Só estou com sono. 

Para provar seu ponto, soltou o peso do corpo, colando as bochechas nas de Demetria, que riu e a apertou em um abraço. 

— Eu posso com isso? — Demi balançou a cabeça, rindo, antes de colocar Nell no chão. — A propósito, bom dia. 

Ela sorriu, meio tímida, lembrando-se da longa noite ao lado de Lauren. 

### 

O café da manhã foi reforçado. As crianças estavam animadas, e ninguém tocou no assunto do armário—algo que tanto Demetria quanto Lauren agradeceram silenciosamente. 

A manhã e a tarde foram recheadas de atividades planejadas pela tutora. Entre gargalhadas, briguinhas e reconciliações rápidas, os dias da semana passaram sem grandes novidades. 

Demetria e Lauren estavam cada vez mais próximas. 

As crianças, por sua vez, enchiam a casa de música e risadas. 

Já Shawn… bem, ele ficaria até o início da próxima semana. E Lauren ansiava pelo dia em que ele partiria. A cada vez que cruzavam o caminho, Mendes fazia questão de provocá-la. E Demi já havia notado os revirares de olhos frequentes da governanta quando ele passava. 

### 

— Eu vou primeiro! — Flora gritou correndo pelo jardim, com os irmãos logo atrás. 

— Vocês vão cair, seus pestinhas! — Billie gritou, rindo, enquanto corria atrás deles. 

Demetria soltou uma gargalhada ao ver a cena e também acelerou os passos para alcançá-los. 

Lauren havia encontrado uma piscina inflável no porão da mansão. Como o sábado estava quente e as crianças haviam se comportado bem durante a semana, decidiram enchê-la com água e algumas bolinhas coloridas. 

Nell e Luke jogavam água um no outro, as bolinhas já estavam espalhadas pelo gramado, e Flora cantarolava, declarando-se uma sereia e enviando beijos para as *humanas da terra*—vulgo Demetria e Billie, que entraram na brincadeira, rindo. 

Por um momento, Demetria se pegou sentindo falta de Lauren. A governanta ajudou a preparar tudo, mas depois sumiu pelo resto da tarde. 

Antes que pudesse pensar mais nisso, sentiu um par de braços gelados envolverem suas pernas. 

— Demi, estou com frio. — Luke se encolheu contra ela, os lábios levemente arroxeados. 

Demetria apressou-se a pegar as toalhas e, com a ajuda de Billie, secou os pequenos. A cozinheira foi na frente para preparar uma sopa quente, enquanto a tutora levou as crianças para o banho. 

Flora, na banheira, fazia espuma no cabelo e modelava em um penteado exagerado. Demetria ria das caretas engraçadas que ela fazia no espelho, enquanto os gêmeos, já trocados, brincavam no quarto. 

— Vamos, mocinha. Ficar tanto tempo na água vai te transformar em um peixe. — Demetria brincou. 

Flora cruzou os braços e corrigiu, rindo: 

— Uma sereia! 

A pequena ainda ria quando, de repente, seu semblante mudou. 

Seus olhos se fixaram em um ponto atrás da tutora. 

Demetria sentiu um arrepio percorrer sua espinha. 

Ela sabia. 

Sentia. 

Dessa vez, havia mesmo alguém ali atrás. 

Seu coração disparou. 

Engolindo em seco, virou-se devagar. 

Uma sombra. 

Não muito grande, mas o suficiente para fazer seus pelos se arrepiarem. 

O ar pareceu pesado de repente. 

Demetria fechou os olhos com força, respirou fundo e, quando os abriu novamente… não havia mais nada ali. 

Seu coração batia descompassado. 

Teriam sido apenas imaginação? 

— Você também viu, não foi? — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. 

Ela olhou fixamente para Flora. 

A menina apenas assentiu.