Capítulo 7 - Rip

— Eu fico, sim. Mas só se não se importar em dividir a cama, porque, se eu descer para pegar meu colchão, não subo mais. — Lauren brincou, arrancando um riso discreto de Demetria. 

A tutora se ajeitou para o lado esquerdo da cama, dando leves tapinhas no espaço ao seu lado, convidando-a. 

Já deitadas, o silêncio preencheu o quarto. O cansaço pesava em seus corpos, mas o sono insistia em se manter distante. 

Demetria deixou o olhar se perder nos detalhes esculpidos no teto. A mansão, observada tão atentamente, parecia ainda mais antiga do que imaginara. De soslaio, viu Lauren fazer o mesmo, mas sua expressão indicava que seus pensamentos estavam longe dali. 

— Há quanto tempo trabalha aqui? — Demetria quebrou o silêncio, virando-se de lado para encarar Lauren. 

— Há bastante tempo. — A governanta sorriu de leve e virou-se para a tutora, apoiando o rosto nas mãos. — Meus pais eram caseiros daqui, então cresci nesse ambiente. A família Styles só vinha nas férias de verão, e nós ficávamos em uma casa próxima. Você precisava ver Luke e Nellie ainda bebês, aprendendo a andar... Eram adoráveis. Ainda são. 

Seus olhos brilharam com a lembrança. 

— Imagino. Eu mesma já me apeguei tanto a eles em tão pouco tempo. — Demetria sorriu, mas logo desviou o olhar. Havia algo na intensidade dos olhos verdes de Lauren que a fazia perder o fôlego. 

— São crianças incríveis… e já passaram por tanto. — O semblante de Lauren ficou sombrio. — Imagino que o Sr. Styles tenha lhe contado sobre os pais deles. 

Demetria assentiu. 

— Apenas que faleceram. 

Lauren hesitou por um instante, mas então respirou fundo e continuou: 

— Eles viajaram a negócios e nunca voltaram. O acidente foi tão trágico que nem tivemos corpos para velar... Naquela noite, as crianças ficaram comigo. Eu não sabia como contar, mas elas entenderam. 

A governanta se sentou na cama, desviando o olhar. A dor ainda era nítida, mesmo depois de tanto tempo. 

Demetria, sem pensar muito, segurou sua mão e entrelaçou seus dedos aos dela. Com o polegar, fez carinhos suaves, oferecendo conforto. 

— Eles são fortes. E agora têm a nós. — Sua voz era suave ao acariciar o rosto úmido de Lauren. 

A governanta soltou um riso amargo, mas seu olhar se encheu de tristeza novamente. 

— O pequeno Miles também se foi… Ele tinha apenas nove anos. 

O coração de Demetria apertou. 

Antes que pudesse dizer algo, Lauren estremeceu e soltou um suspiro trêmulo. 

— Ele era travesso, difícil de lidar. Naquela tarde, o céu escureceu mais cedo, e eles brincavam no jardim. O vento começou a ficar forte, mas Miles insistiu em mexer numa casinha de abelhas no topo de uma árvore. Eu só percebi quando Luke gritou... 

Lauren fechou os olhos, a voz embargada. 

— Os primeiros pingos de chuva caíram junto com ele. 

Demetria sentiu seu peito apertar. 

— Você não precisa continuar… — murmurou, temendo que Lauren se afogasse na própria dor. 

Mas Lauren continuou. 

— Eu o alcancei antes que batesse no chão. Ele tossiu, puxou o ar com força. Mas algo estava errado. Ele me olhava… e não conseguia respirar. 

O silêncio pesou entre elas. 

— Ele foi picado por várias abelhas. Tentou espantá-las, e foi isso que causou a queda. Só descobrimos depois que ele era alérgico. Eu tentei… tentei de tudo… 

A culpa na voz de Lauren fez Demetria se mover instintivamente. 

Puxou-a para seus braços, segurando-a firme, como se pudesse protegê-la da dor do passado. 

— Você fez tudo o que podia. — sussurrou contra os cabelos da governanta, sentindo-a estremecer. 

Lauren engoliu em seco. 

— O que mais dói… é que, por tanto tempo, reclamei quando as crianças corriam, gritavam, faziam bagunça. Mas depois de Miles… o silêncio nunca foi tão cruel. 

A voz dela quebrou, e as lágrimas voltaram. 

— Agora, quando ouço seus risos, suas brincadeiras… é o som mais bonito do mundo. 

Lauren soltou um soluço, finalmente cedendo ao choro contido. 

Demetria a apertou contra si, sentindo a umidade das lágrimas frias tocarem sua pele. Seus dedos se perderam nos cabelos longos da governanta, fazendo carinhos suaves. 

Nenhuma delas percebeu quando o sono finalmente venceu as lembranças dolorosas. 

Apenas Lauren notou quando os primeiros raios de sol tocaram a cama naquela manhã. 

Com cuidado, saiu da cama sem acordar Demetria. Puxou o cobertor até seus ombros e a observou por um instante antes de sair. 

Caminhou silenciosamente até o quarto das crianças. Ainda dormiam. Não teria coragem de acordá-los tão cedo depois de uma noite como aquela. 

Desceu as escadas lentamente, sentindo o frio do chão de madeira sob seus pés. 

No final da escadaria, deu de cara com Shawn. 

O motorista, assistente e faz-tudo de Harry. 

Lauren nunca gostou dele. Não sabia exatamente por quê—era só uma sensação. 

Shawn passou os dedos sobre uma flor no vaso da mesinha central da mansão e lançou um sorriso que ela odiava. 

— Ora, ora… Parece que a Srta. Jauregui não perde tempo, não é mesmo?

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