Capítulo 5 - Silence
Durante o dia, como prometido, Demetria acompanhou as atividades e as lições das crianças. No meio da tarde, Luke se desculpou por ter pegado a pulseira, e, mesmo sem compreender completamente a situação, Demi aceitou as desculpas do pequeno.
À noite, o céu foi tomado por nuvens escuras, e uma fina garoa começou a cair. Em questão de minutos, a chuva se intensificou. Todos ajudaram a fechar as janelas da mansão para evitar que o vento forte trouxesse a tempestade para dentro.
— Dentes escovados? — Demetria perguntou com um sorriso, observando os três pequenos exibirem os dentes em uma careta engraçada.
Flora, com seus oito anos, era apenas dois anos mais velha que Luke e Nellie, mas o comportamento entre eles não diferia tanto. Em pouco tempo, Demi se apegara às crianças e percebera o quanto ansiavam por atenção—adoravam mostrar seus desenhos, brincar juntos e compartilhar cada pequena conquista. Ainda que tentasse evitar, sentia um aperto no peito ao pensar no quanto deveriam sentir falta dos pais.
— Meu dente é o mais branquinho, tia Demi! — Nellie disse, forçando um sorriso exagerado.
Demi riu, apertando de leve as bochechas rosadas da menina, que corou, envergonhada.
— O que acham de brincarmos um pouco antes de dormir? — sugeriu, animando as crianças.
— Sim! — Eles pularam de alegria.
— Vocês se comportaram e fizeram todas as tarefas. Então, qual brincadeira vão escolher?
— Esconde-esconde! — Flora exclamou entusiasmada, dando um pulinho. — Mas não podemos ficar acordados até tarde, Srta. Lovato.
— Isso mesmo. Só um pouquinho, porque amanhã também temos um longo dia de brincadeiras.
— Sim! — Luke sorriu, ajeitando os óculos no rosto.
— O Mail pode brincar também? — Nellie perguntou baixinho, fitando fixamente a porta ao lado de Demetria.
A tutora franziu o cenho. Até aquele momento, não conhecera ninguém com esse nome.
— Não, Nellie! — Flora praticamente gritou, fazendo a irmã se encolher.
Luke encarou Flora por alguns segundos antes de assentir. Demetria observou a troca silenciosa entre os irmãos, sem entender.
— Flora, não precisa gritar com sua irmã. Agora, me digam… Quem é Mail? — perguntou, intrigada.
— Não vamos brincar? Já está quase na hora de dormir. — Luke desviou o assunto, pegando a mão de Nellie.
— Vou contar! Um… Dois… Três… — Flora se virou para a parede do quarto, ignorando completamente a pergunta de Demetria.
Nellie correu para se esconder atrás da porta.
— Quatro… Cinco… Seis… Sete… Oito…
— Se esconde no armário… — A voz sussurrou tão perto de seu ouvido que Demi sentiu os pelos do braço se eriçarem.
Virou-se instintivamente para agradecer Luke pela sugestão, mas ele já estava debaixo da cama, sinalizando silêncio com o dedo nos lábios.
O incômodo a tomou por um momento, mas ela tentou ignorar. Não queria assustar as crianças. Assim que Flora terminou a contagem, Demi correu para dentro do armário, fechando a porta com cuidado.
O silêncio dominou o ambiente. Então, um grito ecoou pela mansão.
Um arrepio percorreu sua espinha. O medo começou a se espalhar pelo corpo. Algo parecia errado. Tentou abrir a porta, mas ela estava trancada.
— Ei! Abram aqui! — bateu três vezes, mas ninguém respondeu.
A respiração acelerou. O peito subia e descia rapidamente, sentindo o ar se esvair.
**Flashback On**
— Você vai ficar quietinha aí dentro. Só sai quando eu mandar. — A voz firme e cruel do homem ressoou antes de empurrar a menina para dentro do armário.
O corpo pequeno e frágil de Demetria tentou protestar, mas era inútil.
Todas as noites, quando escurecia, ela ficava ali, trancada, ouvindo os horrores do lado de fora. Seus pais faziam coisas terríveis. Maldades impensáveis com pessoas que não mereciam—pessoas como ela. Pequenas. Indefesas.
**Flashback Off**
Os olhos de Demetria transbordaram. Não queria sentir tanto medo por algo tão bobo. Respirou fundo, tentando recuperar o controle.
— FLORA, ABRE A PORTA! — gritou. — LUKE… NELL! LAUREN!
Nada.
Encostou a orelha na porta, tentando ouvir melhor.
— Você tem que ir agora! — a voz de Flora saiu baixinho.
— Eu já vou… Estou me escondendo dela! — outra voz respondeu. Um menino.
Não era Luke. Era a mesma voz que sussurrara para Demi minutos antes.
— Ela não pode te pegar. — Nellie afirmou com naturalidade.
— Eu tenho medo dela. Ela não é mais a mesma. — O garoto soava aflito.
— Ela não vai te machucar. — Luke assegurou, sua voz cada vez mais próxima da porta.
A maçaneta girou, mas não abriu.
— Não consigo abrir!
— Luke, por favor! — Demetria implorou, sentindo o pânico crescer.
Toda a atenção das crianças estava voltada para a porta.
Então, algo gelado tocou seu ombro.
O corpo de Demetria travou. Ela não teve coragem de se virar.
A última coisa que sentiu foi seus joelhos cederem contra o chão.
E então, tudo escureceu.
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