— Você deve ser a Srta. Lovato, estou certa? — A pequena perguntou, segurando os dedos da tutora, que se abaixou para ficar à sua altura. 

— Certíssima. E você é...? — Demetria fingiu pensar, levando a mão ao queixo, o que fez a menina sorrir. Seus cabelos lisos estavam entrelaçados em uma trança que caía sobre suas costas. — Flora? 

— Sim, acertou! Sou Flora. Sabia que meu nome vem do latim? Significa florida. — A garotinha sorriu animadamente, explicando com orgulho. Demetria riu do entusiasmo. Quando levantou os olhos, notou uma bela jovem segurando as mãos de duas outras crianças. 

— Ah, Srta. Lovato, esses são meus irmãos! Nellie é a nossa pequena. — Flora apontou para a menina ao seu lado. 

— Oi, Nellie. Você é tão linda quanto sua irmã. — Demetria sorriu para a menor, que riu timidamente, suas bochechas corando levemente. Ela parecia mais reservada que Flora, e seus cabelos lisos estavam soltos, caindo delicadamente sobre os pequenos ombros. 

— E esse é o Luke. Ele é um pouquinho chato, mas é gêmeo da Nell. — Flora cutucou o braço do menino. 

— Eu não sou chato! Você que é! — Luke respondeu irritado, desviando o olhar da tutora. 

— Ei, o que combinamos? — A jovem de cabelos longos interveio com um tom sereno, mas firme. Por um instante, Demetria teve a sensação de já tê-la visto antes. Havia algo nela que lhe chamava a atenção. 

— Combinamos que iríamos nos comportar, sem brigas, para não assustar a Srta. Lovato. — Flora disse, voltando-se para a tutora com um olhar arrependido. — Desculpe, Srta. Lovato. 

— Tudo bem, mas espero não ouvi-la chamando seu irmão de chato novamente. — Demetria sorriu de forma compreensiva, e Flora assentiu. — Se quiserem, podem me chamar de Demetria ou Demi. 

— Certo! Srta. Lovato, venha comigo! Você precisa conhecer o jardim das estátuas! — Flora exclamou, animada, puxando Demi pela mão na direção do lado esquerdo do jardim. 

A voz calma da jovem de olhos verdes se fez ouvir: 

— Flora, mostre depois. Teremos tempo para conhecer toda a mansão. 

Mas Flora estava tão empolgada que sequer respondeu. Antes de segui-la, Demetria notou Luke entrando na mansão, o semblante fechado. 

— Ah, você veio! — Flora sorriu ao ver a irmã mais nova se juntar a elas, enlaçando sua mão na dela. Nellie apenas assentiu, ainda tímida, o que fez Demetria sentir um súbito desejo de apertar suas bochechas. 

— Srta. Lovato, este é o jardim das estátuas! 

Demetria permitiu que seus olhos percorressem o gramado verde, onde cinco estátuas estavam espalhadas, cada uma com uma beleza singular. As marcas do tempo eram visíveis nos musgos e manchas escuras que cobriam parte delas. 

Quase sem perceber, Demetria começou a caminhar na direção do lago ao lado do jardim. Havia uma névoa densa pairando sobre a água escura, tornando impossível ver sua extensão. Havia algo de sombrio ali, mas, ao mesmo tempo, um certo fascínio a atraía. 

— Não, Srta. Lovato, esse lago não! — O grito de Flora a fez despertar. 

Demetria piscou, sentindo o frio na pele. Estava agachada à beira do lago, observando seu reflexo como se nunca tivesse se visto antes. Mas... não se lembrava de ter se ajoelhado ali. 

Ela se levantou de um pulo e virou-se para as meninas. 

— Esse lago é mal. É um laguinho bobo. — Nellie finalmente falou, sua voz doce carregando um tom de desagrado. 

— Me desculpem... Nem percebi que me aproximei tanto. Mas por que vocês dizem que o lago é mal? — Demi perguntou, abaixando-se para ficar à altura das duas. 

Flora permaneceu em silêncio, os olhos fixos atrás dos ombros de Demetria. Seu semblante sério fez um calafrio percorrer a espinha da tutora. 

— O que foi? — Demi virou-se rapidamente, mas tudo o que viu foi o lago, exatamente como antes. 

— Que tal conhecermos a mansão? — Flora sugeriu de repente, seu tom voltando ao entusiasmo habitual. 

Demetria franziu o cenho, achando a mudança repentina estranha, mas assentiu, segurando a mão da menina enquanto era guiada para dentro da mansão. 

O interior da casa parecia saído de um filme antigo. A arquitetura clássica e as cores escuras davam um ar solene e imponente. Enquanto observava tudo ao redor, Demetria não pôde evitar um pensamento: seria aquele o tipo de lugar onde fantasmas vagavam pelos corredores? Ela sorriu para si mesma, divertindo-se com a própria imaginação. 

As meninas a levaram até seu quarto, que destoava do restante da mansão. As paredes eram pintadas em um suave tom de rosa bebê, e duas camas ficavam lado a lado. À esquerda, havia um grande armário e, ao lado, uma enorme casa de bonecas que imitava a mansão em miniatura, completa com pequenas luzes e vários andares. 

No quarto ao lado, que pertencia a Luke, Demetria o encontrou sentado perto da janela. Ele ajustava impacientemente os óculos no nariz, que insistiam em escorregar. O cômodo tinha um tom verde-água e prateleiras cheias de bonecos, ursos e carrinhos. 

— Mal tivemos a chance de nos conhecer. — Demetria disse, sentando-se ao lado dele. — Não quer se juntar às suas irmãs para me mostrar a mansão? 

— Não, obrigado. Elas são muito chatas. — Luke respondeu sem desviar o olhar da janela, observando o céu escurecer. 

— Amanhã faremos algumas atividades, e eu adoraria que você participasse. O que acha? 

— Uma grande besteira. — O garoto a encarou nos olhos, e um arrepio percorreu o corpo de Demetria. 

— Sabe por quê? Porque você não é a Camila! Você não é nada! — Ele gritou, se levantando abruptamente e saindo do quarto. 

As irmãs, que até então apenas observavam, correram atrás dele. 

Demetria respirou fundo, pronta para ir atrás das crianças, mas parou ao dar de cara com a jovem de olhos esverdeados. Ela estava encostada no batente da porta, observando-a em silêncio. 

— Acho que ele não gostou muito de mim. — Demetria suspirou. 

— Sinto muito. Mas, com o tempo, ele vai ceder. — A jovem se aproximou, e Demetria, vista de perto, achou-a ainda mais linda. 

— Espero que sim. Hm... Camila era a tutora antes de mim, certo? 

— Sim... — Houve uma breve hesitação antes da resposta. A expressão da jovem mudou, como se a pergunta a incomodasse. — Eles a amavam muito. 

— Imagino que sim... — Demetria murmurou, apertando a barra da blusa. Seus olhos encontraram o par de esmeraldas à sua frente. — Não fomos devidamente apresentadas. Você é...? 

— Lauren Jauregui. Sou a governanta. Mas pode me chamar de Lauren. — A morena sorriu, e por algum motivo, o sorriso fez o coração de Demetria acelerar. 

Antes que ela pudesse dizer algo, Flora apareceu na porta, pálida como um fantasma. 

— Srta. Lovato! Lauren! — A menina segurou a mão de ambas, puxando-as para fora do quarto. Seu rosto estava alarmado, e sua voz, um sussurro assustado. — É o Luke... Ele correu para o elevador desativado e... caiu lá embaixo.