Capítulo 17 - Monster

— Lauren...

— Demi, por favor.

A voz de Lauren falhou quando as lágrimas finalmente escaparam. Seu corpo travou, paralisado pelo horror que se desenhava atrás da mulher que amava. 

Demetria franziu o cenho, prestes a se virar, mas Lauren não permitiu. Num impulso, envolveu-a em um abraço apertado, segurando-a firme para que não olhasse. 

— Eu preciso que se concentre em mim. — Sussurrou contra seu cabelo, sentindo o próprio corpo tremer. — Tudo o que eu fizer será para o seu bem. Eu prometo.

Aos poucos, soltou-a, as mãos ainda trêmulas. 

— Agora, quero que suba as escadas e não olhe para trás. 

Demetria hesitou, os pés inquietos no chão. Sua mente tentava compreender o que estava acontecendo, mas seu instinto lhe dizia para obedecer. Deu dois passos incertos em direção à escada, mas algo dentro dela gritou em alerta. 

Então, uma nova voz se fez presente. 

Os olhos castanhos de Demetria se arregalaram. Um calafrio percorreu sua espinha, e o pavor tomou conta de seu corpo. Suas pernas cederam, e ela caiu sentada no chão, incapaz de sentir qualquer dor que não fosse o terror absoluto. 

Camila estava ali. 

Seus olhos eram vazios. Sua pele, pálida e sem vida. Ela não carregava lembranças, apenas comandos gravados em sua essência. E esses comandos sussurravam, incessantes, o que precisava ser feito. 

Ela sabia. 

No fundo, sabia que Lauren era sua. 

E jamais permitiria que alguém a tirasse dela. 

— Camila, não!

Lauren lançou seu corpo sobre Demetria, cobrindo-a completamente. A tutora, em pânico, agarrou-se a ela, os braços apertados ao redor de sua cintura. 

O espírito inclinou a cabeça para o lado, observando a cena à sua frente. Os comandos dentro dela a alertavam sobre seu propósito. Sua alma não descansaria até cumprir o que deveria ser feito. 

Mas então, algo mudou. 

Camila olhou para seus pés, para o longo vestido que cobria seu corpo etéreo, e sentiu-se esvair. 

Estava sumindo novamente. 

Ela não sabia quando voltaria. Ainda não tinha controle. 

Antes que desaparecesse por completo, sua voz ecoou no ar como um sussurro sombrio: 

— Não espere ela voltar do poço...

Demetria sufocou um grito, o rosto enterrado entre as costas de Lauren, que respirava com pressa, desesperada. 

— Ela se foi. — Lauren virou-se rapidamente, segurando o rosto da tutora entre as mãos. Seu coração estava pesado de culpa, desesperado pelo que havia acontecido antes. — Está tudo bem agora, Demi.

Mas não estava. 

Demetria tremia, as lágrimas escorrendo sem qualquer controle. Lauren a puxou para um abraço apertado, sentindo seu corpo frágil contra o seu. 

— Shh... estou aqui.

A governanta depositou um beijo suave em sua testa, acariciando seus cabelos até que a respiração da menor começasse a se acalmar. 

O tempo passou depressa, e o único som que preenchia o silêncio era o choro contido de Demetria. 

Ela não conseguia compreender o que tinha acabado de ver. Nunca havia conhecido Camila em vida, mas no momento em que seus olhos a encontraram, soube. 

Sabia que aquela mulher já não pertencia a este mundo. 

Lauren, por outro lado, tentava desesperadamente afastar as palavras ditas pelo espírito de sua mente. Mas algo dentro dela gritava. Algo estava errado. E ela precisava verificar. 

— Lauren, por favor. — A voz de Demetria veio baixa, ainda embargada pelo choro. Ela segurava a mão da governanta com força, tentando impedi-la de continuar. — Está escuro. As crianças estão sozinhas.

Mas Lauren continuou andando, os pés pisando na grama úmida, a lanterna tremendo em sua outra mão. 

— Lauren, ela está morta! Como pode acreditar no que ela diz?

Lauren parou. 

Engoliu em seco, o olhar perdido na escuridão da floresta. 

— Demi, eu preciso. Eu sinto que tem algo errado.

O silêncio se estendeu entre elas. 

A brisa noturna carregava os uivos do vento, fazendo as folhas dançarem ao redor. Cada passo que davam era abafado pela terra úmida sob seus pés. 

Então, finalmente chegaram ao poço. 

Demetria hesitou, e sua mão soltou a de Lauren, sentindo um arrepio subir por sua espinha. 

O poço estava lá, exatamente como sempre estivera. Mas algo no ar estava diferente. 

Lauren deu um passo à frente e olhou para dentro. 

Foi então que ouviu. 

Uma voz grave e familiar. 

Seu corpo se virou num sobressalto. 

Ali, entre as árvores, Shawn segurava Demetria. 

Uma das mãos grandes tampava sua boca, silenciando qualquer tentativa de grito. Seus olhos estavam arregalados, transbordando terror, suplicando por ajuda. 

— Solta ela. — A voz de Lauren tremeu de ódio e medo. — Agora! 

Shawn sorriu, descaradamente. 

— Desde quando ficou tão mandona?

Lauren deu um passo à frente, mas congelou ao ver o brilho prateado da lâmina pressionada contra o pescoço de Demetria. 

— Aposto que veio atrás de algo. — Ele continuou, encostando-se a uma árvore, ainda segurando Demetria firme contra si. — Se procurar bem, você acha. 

Demetria mal conseguia respirar. O metal gelado contra sua pele a fazia tremer. 

Lauren recuou. 

Pequenos passos a levaram de volta para a borda do poço. Seu coração batia descompassado dentro do peito. 

Então, o cheiro veio. 

Forte. 

Podre. 

Seu estômago revirou, e ela precisou se apoiar na borda para não cair. Sua visão ficou turva. 

Mas ela viu. 

Viu o fundo do poço. 

E, naquele instante, soube. 

O que quer que estivesse lá dentro... 

Era o que Camila tentou avisar. 

Lauren não conseguiu conter a ânsia. Dobrou-se, vomitando todo o resíduo que restava em seu estômago. 

— Lauren! 

A voz de Demetria tentou alcançar a dela, mas foi abafada quando Shawn apertou ainda mais a lâmina contra sua pele. Um pequeno corte se abriu, fazendo-a sufocar um grito. 

Lauren ergueu a cabeça, os olhos marejados. 

Olhou para Shawn. 

Olhou para Demetria, ainda em sua prisão cruel. 

O ódio a preencheu por completo. 

Seus punhos se cerraram. 

Sua voz saiu num grito carregado de fúria: 

— VOCÊ É UM MONSTRO!

Seu corpo inteiro tremia. Suas lágrimas caíam pesadas, misturando-se ao terror e à raiva que consumiam sua alma. 

E naquele momento, soube que aquilo estava longe de acabar.

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