Shawn estava parado no final do corredor, um sorriso discreto ameaçando se formar em seus lábios. Minutos antes, estivera encostado na porta, ouvindo cada palavra da discussão entre Lauren e Camila. O som da briga era como uma melodia para ele. Seu corpo estava relaxado, satisfeito ao ver Lauren devastada.

A governanta desceu as escadas apressada, o coração batendo forte. Não sabia como lidar com aquela situação. Na verdade, nunca imaginou que precisaria enfrentar algo assim. Seus lábios tremiam, e a frustração borbulhava dentro dela. Cerrando os punhos, descarregou sua raiva contra a mesa posta à sua frente, fazendo os objetos tremerem.

Pouco tempo depois, Billie surgiu na cozinha, os cabelos bagunçados e o pijama desalinhado.

— Que barulheira é essa? — perguntou, observando Lauren, que estava de rosto vermelho, tomada pelo choro. — O que aconteceu? As crianças estão bem?

— Sim, estão — Lauren respondeu, a voz fraca, antes de esconder o rosto entre os braços sobre a mesa.

Billie suspirou, aproximando-se.

— Vou esquentar um chá, e aí você me conta o que houve, tudo bem?

Ela passou os dedos de leve sobre a mão de Lauren antes de seguir até o fogão. Ao tocar na chaleira, percebeu que ainda estava morna. Alguém já havia esquentado a água antes. Ignorando o detalhe, serviu o chá em duas canecas e voltou para a mesa, sentando-se de frente para a governanta.

— Quer me contar agora?

— Eu… não sei. Não sei nem por onde começar — Lauren respondeu, erguendo os ombros e tomando um longo gole do chá, que estava numa temperatura agradável.

Ela não conseguiu contar tudo, apenas alguns acontecimentos recentes. Sua mente estava uma bagunça, memórias embaralhadas, os olhos pesados de sono. Billie também sentia o cansaço puxá-la para baixo, os músculos recusando-se a obedecer. No começo, acreditaram ser apenas exaustão. Mas estavam tão fatigadas que nem perceberam quando seus corpos cederam e adormeceram sobre a mesa, mergulhando em um sono profundo, sem sonhos.

No andar de cima, Shawn observava tudo se desenrolar exatamente como planejado.

Ele se lembrou dos detalhes: depois que as crianças subiram com Lauren, desceu até a cozinha e preparou um chá. Esperou a água ferver e então adicionou uma boa quantidade de uma substância química que conhecia bem. Subiu novamente, posicionando-se perto do quarto onde Lauren e Camila discutiam. Quando viu Lauren descer as escadas, foi até o quarto de Billie, provocando um ruído alto o suficiente para acordá-la. Como esperado, Billie foi até a cozinha, atraída pelo barulho, e encontrou Lauren.

Agora, Shawn estava satisfeito. Sabia que Billie ofereceria o chá a Lauren. E quando ouviu exatamente isso acontecer do outro lado da porta, seu sorriso se alargou.

Na manhã seguinte, antes mesmo das crianças acordarem, Shawn cuidou da última etapa do plano.

Entrou silenciosamente no quarto de Billie e encontrou as duas ainda adormecidas. Com delicadeza, despiu-as peça por peça, tomando cuidado para não acordá-las. Depois, cobriu-as parcialmente com um lençol e admirou seu trabalho.

Perfeito.

Ao sair, encontrou Camila no corredor, prestes a ir acordar as crianças.

— Bom dia! — cumprimentou, com um sorriso que ela ignorou.

— Não devo, nem quero, falar com você amigavelmente — respondeu, fechando a porta do quarto atrás de si.

Depois da discussão da noite anterior, Camila mal conseguia processar seus próprios sentimentos. Ódio, tristeza, confusão… tudo misturado, tudo causado por Shawn e Lauren.

Mas Shawn permaneceu calmo.

— Acho que você vai querer falar comigo sobre o que tenho para te mostrar — disse, fixando os olhos nela.

— Eu sinceramente não quero saber…

— Apenas veja. Prometo que será a última coisa que te pedirei.

Havia algo no tom de Shawn que a fez hesitar. Relutante, seguiu-o sem saber o que esperar.

Quando se aproximaram do quarto de Billie, Shawn parou ao lado da porta entreaberta, dando espaço para que Camila olhasse lá dentro.

O mundo dela desabou.

Na cama, Lauren e Billie estavam completamente nuas, dormindo sob um lençol fino.

O peito de Camila se apertou. Era uma dor sufocante, uma sensação de traição como nunca antes havia sentido. As lágrimas começaram a rolar antes mesmo que pudesse controlá-las.

Seu corpo se moveu sozinho, e quando se deu conta, já estava se apoiando na porta, que se abriu de vez, batendo contra a parede com um estrondo.

As duas na cama se sobressaltaram.

Lauren piscou várias vezes, confusa. O susto deu lugar ao desespero quando seus olhos encontraram os de Camila, cheios de mágoa e raiva.

— Camila, espera…! — Lauren tentou se levantar às pressas, puxando suas roupas. Mas antes que pudesse ir atrás dela, Billie segurou seu pulso.

— Laur, deixa ela se acalmar — disse a amiga.

Lauren se sentou na cama, as lágrimas finalmente transbordando.

— Ei, a gente não fez nada — Billie continuou, prendendo os cabelos com pressa.

— Eu sei que não. Na verdade, eu não lembro de nada… — Lauren admitiu, passando as mãos pelo rosto. Sentia-se zonza, como se sua mente estivesse nublada. — Como ela vai acreditar que isso não aconteceu, se nem nós sabemos o que houve?

Camila não esperou por explicações. Correu para fora da mansão, desesperada para fugir da dor que queimava dentro dela.

Os galhos das árvores arranhavam sua pele enquanto ela se enfiava no meio da vegetação. Tudo que queria era se esconder, sumir, não sentir mais. Mas a imagem de Lauren e Billie na cama a assombrava, se repetindo sem parar em sua mente, alimentando o ódio que crescia dentro dela.

A raiva a consumia tanto que não percebeu Shawn a seguindo de perto.