Capítulo 11 - Love

Na manhã seguinte, Flora estava tão bem que nem se lembrava de ter adoecido na noite anterior. Enquanto as crianças se divertiam plantando no jardim ao lado de Billie, Camila aproveitava para conhecer melhor a mansão. Shawn, sempre solícito, a acompanhava, narrando histórias sobre o lugar e seus antigos moradores. O homem era gentil e demonstrava um conhecimento surpreendente sobre tudo ali. 

Os dias transcorreram tranquilamente. Em poucas semanas, Camila já fazia parte da rotina da casa. As crianças estavam completamente acostumadas com sua presença, encantadas por sua gentileza, carinho e dedicação. Lauren e Shawn também perceberam o quanto a nova tutora se tornara essencial. 

Desde que Lauren pôs os olhos em Camila, sentiu algo novo, algo que não sabia como nomear. O que ela não imaginava era que Camila sentia o mesmo. Aos poucos, sem perceberem, viveram sua própria história de amor. A atração entre elas crescia nos encontros furtivos à luz da lua e nas conversas sussurradas na escuridão da noite. Era como se sempre tivessem pertencido uma à outra. 

Camila sentia-se completa. Antes de chegar à mansão, sua vida era marcada pela solidão e pelo medo. Crescera reprimida por ser quem era, sem nunca experimentar o verdadeiro amor. Mas, com Lauren, encontrou refúgio. Lauren foi a chave que abriu as portas da sua escuridão. 

— Eu amo você — sussurrou Camila, deslizando os dedos com delicadeza pelo rosto de Lauren. A governanta sorriu, deitada ao seu lado. Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas frestas da cortina, iluminando o quarto com uma luz dourada e acolhedora. 

Enquanto isso, as crianças se deliciavam com os waffles preparados por Billie. Lauren ajudava com a massa, e as duas riam da bagunça que faziam na cozinha. Camila observava de longe, sentindo uma ponta de ciúme. Para ela, Lauren era só sua. Cada sorriso, cada gesto, lhe pertencia. Mas, tão envolvida em seus sentimentos, mal percebia os olhares insistentes que Shawn lançava em sua direção. O motorista admirava Camila de uma forma que ela sequer notava, mas seu interesse tornava-se cada vez mais evidente. 

Era domingo, o único dia da semana em que as crianças podiam fugir da rotina. A felicidade delas era contagiante. Lauren, aproveitando a presença da tutora na mansão, decidiu visitar os pais e passaria o dia fora. Assim que chegou, fez questão de ligar para avisar que estava bem. 

— Também estou com saudades de você — confessou Camila ao telefone, a voz suave. 

— Te vejo mais tarde, Cams — despediu-se Lauren. 

— Aguardo ansiosamente. 

Camila desligou, sorrindo com os olhos fechados. Nunca imaginou que pudesse amar alguém tão intensamente e em tão pouco tempo. 

— Atrapalho? 

Camila levou a mão ao peito, assustada com a súbita presença de Shawn. Ele estava encostado no batente da porta da cozinha, observando-a. 

— Me desculpe se te assustei — disse ele, com um sorriso. 

— Tudo bem — respondeu Camila, tentando se recompor. 

— As crianças estão desenhando com Billie. Achei que seria um bom momento para conversarmos. 

— Ah, claro. Em que posso ajudá-lo? — perguntou ela, curiosa. 

Shawn sorriu e estendeu uma pequena caixa de madeira, ornamentada com desenhos delicados. Camila a pegou com cuidado e abriu. Dentro, havia uma boneca de tecido, de cabelos longos de lã, olhos de botão e um vestido amarelo. Ela notou imediatamente que a bonequinha tinha semelhança com ela mesma. 

— Essa sou eu? — questionou, confusa. 

Shawn respirou fundo antes de responder: 

— É uma boneca. Agora ela pertence a você. E essa caixinha... ela nunca poderá deixá-la. Caixas são como um lar, coberto de amor. Quando algo lhe pertence, guarde ali. 

Camila franziu o cenho. Algo naquelas palavras a fez estremecer. Aquilo era estranho. Bizarro, até. 

— Oh, obrigada — respondeu, forçando um sorriso enquanto guardava a caixinha no bolso. 

— O que acha de sairmos para um café? — perguntou Shawn, aproximando-se lentamente. Suas mãos deslizaram até a cintura dela com suavidade, como se testasse sua reação. 

Camila arregalou os olhos, surpresa. Não podia acreditar que ele estava realmente tentando aquilo. 

— Não, obrigada. Preciso ficar de olho nas crianças — respondeu, afastando as mãos dele. 

Shawn não gostou da rejeição. Em sua mente, Camila deveria aceitar tudo o que ele queria, como se aquilo fosse natural. 

— Tudo bem — disse ele, forçando um sorriso. — Aquela empregadinha pode fazer o seu papel. Aliás, você é bonita demais para perder tempo cuidando de crianças nessa mansão velha e empoeirada. 

Camila sentiu um nó na garganta. Engoliu em seco, tentando manter a calma. Quando deu um passo para trás, Shawn foi mais rápido e segurou sua cintura novamente. 

Ele se sentia confiante, como se já soubesse o desfecho daquela interação. Deslizou os dedos pelo corpo dela com familiaridade, aproximando-se de seu ouvido. Com um toque quase casual, afastou uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto. 

— Você vai resistir? Lauren nunca me negou. Por que você negaria? — sussurrou ele. 

Camila congelou. Sentiu as pernas fraquejarem, o coração martelando no peito. 

O mundo ao seu redor pareceu desmoronar. Ela não queria acreditar no que ouvira. Seu sangue ferveu de indignação, sua mente girava em um turbilhão de pensamentos. Raiva, incredulidade, um aperto sufocante no peito. 

Seus sentimentos por Lauren estavam sendo destruídos em questão de segundos. Seu coração duvidava, mas sua raiva falava mais alto. 

E, naquele instante, Camila não sabia mais no que acreditar.

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