𓅂 𝓣𝓱𝓮 𝓦𝓮𝓭𝓭𝓲𝓷𝓰 𝓝𝓲𝓰𝓱𝓽
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#DocedePessego
🍑
Deixem o voto e comentem!
Boa leitura!
— Park "audacioso" Jimin! Eu adorei o seu vestido, estava horroroso! E aquele rosário enorme me pareceu uma afronta à igreja! Foi perfeito!
A garota ômega vestida com trajes pouco usuais em Londres e com um forte sotaque estrangeiro, segurou Jimin pelos ombros e o abraçou amistosamente, como se desfrutassem de uma amizade de longa data.
— Bom, agora sou um Jeon. — ele respondeu um pouco tímido, espremido entre os braços da divertida desconhecida.
— Claro! Um Jeon! — ela o soltou sem perder a euforia e se apresentou — Sou Carola, a princesa do Império do Brasil.
Jimin se espantou com a revelação por um instante.
O que uma princesa fazia em seu casamento e por que ela se misturava tão naturalmente aos outros convidados sem deixar evidente sua relevância social?
— Uma princesa?! Perdoe-me, alteza, eu... — e sem mesmo olhar para os lados, Jimin curvou o tronco no intuito de ajeitar a barra do vestido para poder ajoelhar-se. Contudo o ato foi prontamente repreendido pela princesa que o amparou pelos ombros num movimento rápido, impedindo-o de prosseguir.
— Não se atreva! Não quero ser o centro das atenções. — ela falou baixo, esgueirando o olhar entre os convidados da recepção.
— Mas...
— Olhe, estou em Londres a passeio, vim com minha noiva, a princesa Yasmin do reino da Jordânia. Passamos em frente à igreja e vimos algumas pessoas comentando sobre um ômega se casando com trajes inadequados e ficamos curiosas. — ela falou se divertindo com o fato — Eu gostaria de ver como são os casamentos em Londres, só que me pareceram muito frios e sem graça alguma. Você deve ser daqueles ômegas rebeldes, gostei de você! — cochichou — Querida venha até aqui, venha conhecer Jimin! — Carola chamou a noiva num tom de voz alto que atraiu olhares julgadores.
Seus modos eram espalhafatosos e livres, completamente diferentes dos ômegas ali presentes na sala de estar do casarão em Norwich.
De acordo com as regras e convenções, os convidados para a recepção na casa do ômega poderiam levar acompanhantes consigo, respeitando de antemão o bom senso. Dessa forma, mesmo sem terem qualquer proximidade com os presentes, Carola e Yasmin se misturavam aos convivas facilmente, sem gerar qualquer desconfiança.
O aroma de flores frescas surgiu como uma brisa reconfortante e Jimin fechou os olhos por um momento, ainda curioso com a convidada. Olhou ao redor e encontrou Jungkook conversando com seu pai e alguns alfas sisudos que possivelmente falavam de negócios.
— Sim, habiba! — a ômega que exalava o cheio tão fresco se aproximou de Carola e a beijou suavemente na bochecha, ato que fez Jimin soltar um pequeno chiado, quase inaudível, em espanto.
— Jimin, essa é Yasmin, minha noiva.
— Mas ela é...
— Sim, ômega! Já pude reparar que aqui em na Europa as coisas estão bem atrasadas, não é?
— Eu não sei como as coisas são em outros reinos, eu não costumo viajar. — ele se sentiu acanhado pela ignorância e surpreso por ver duas pessoas de mesma classe genética se apaixonando.
— Não se sinta assim, quem sabe quando passar o seu período de lua de mel, você não venha nos fazer uma visita no Brasil? A viagem de navio demora uma semana, mas garanto que é muito proveitosa. Você e seu alfa poderão até mesmo fazer uma segunda lua de mel no Rio de Janeiro, nossa capital. Temos praias belíssimas!
Por um momento Jimin achou que aquelas garotas poderiam estar contando alguma galhofa e caçoando de sua boa vontade, mas o sorriso delas e a forma como seguravam as mãos tão apaixonadas, o fez ter certeza de que era real.
Afinal quem lhe pregaria uma peça justamente no dia de seu casamento?
— Eu adoraria! O Brasil parece ser tão... livre?! — ele respondeu demonstrando entusiasmo.
— Ainda não estamos totalmente livres, mas em breve darei o golpe em meu pai e nos tornaremos uma república, as pessoas poderão escolher quem irá governá-las, finalmente. — ela bateu palminhas festivas.
E Jimin pigarreou com mais uma informação inusitada.
— Um golpe em seu próprio pai?
— Sim! — Carola quase gritou em empolgação — Um belo golpe no Imperador Dom Pedro II, vamos libertar os escravos e prender papai nas masmorras do Palácio!
Jimin desconfiou das palavras da princesa, não parecia praticável dar um golpe e tomar o poder das mãos de um imperador, afinal Londres também lidava com amotinação e revolta dos trabalhadores, mesmo que ninguém nunca houvesse tentado ao menos destituir Victória de seu trono.
E o pouco conhecimento que ele possuía acerca do assunto deixava explícito que não era tão simples como a princesa dizia.
— Espero que consigam! — ele disse sorrindo, tentando não subjugar os ideais alheios.
Intrigado com as presenças desconhecidas, Jungkook observava Jimin ao longe, interagindo com a convidada festiva. Estava na presença de Jisung, Yoongi e Jung Hoseok, o filho do conselheiro de obras da Coroa.
— Duque Jeon, o campeonato está próximo e dessa vez o reino da Noruega será um páreo difícil. Sei que eles estão treinando na neve há duas temporadas, estão em plena forma física! — Hoseok disse, tomando um gole do brandy.
— Está insinuando que eu não estou em forma, alfa? — Jungkook perguntou, mas seu tom era natural.
— Longe disso, o que quero dizer é que o foco necessita ser ampliado nesses últimos meses e...
— Bobagem — Jisung interrompeu — o duque Jeon sempre foi um exímio atleta, focado e alheio à distrações. Por certo gastará bastante energia nas primeiras semanas de casado, mas logo recobrará a boa forma — piscou para o genro com malícia.
— Posso garantir aos apostadores que continuarei enchendo seus bolsos. — Jungkook ignorou a fala jocosa do sogro — Heólico está sendo treinado por Yoongi durante à noite e também à sol pleno. Asseguro que não terão prejuízos.
— Será uma temporada bastante lucrativa! — o conde levantou o copo num brinde solitário.
E Jungkook viu na atitude dele a chance de começar a arquitetar seu plano.
— Sim, meu sogro. — ele também ergueu seu copo num brinde — Por lei não posso participar das apostas, mas conheço alguns alfas que procuram por parcerias, apostar em grupo costuma ser mais lucrativo. — ele jogou a isca, observando a reação de Jisung através do vidro molhado de seu copo.
— Sabe que é uma excelente ideia? Ainda mais agora que Jackson, meu parceiro de apostas está em maus lençóis — o conde gargalhou da situação do comparsa.
— Estão falando de Jackson Wang? — Hoseok retornou à conversa com curiosidade.
— Sim meu caro, ele foi preso pela polícia real. Parece-me que estava envolvido com tráfico internacional de conhaque. Um típico amador. — Jisung concluiu com sua usual petulância.
— Kim Namjoon também está sendo procurado... lembro-me de tê-lo visto em sua companhia em uma das raras reuniões do conselho em que compareci, vocês eram próximos? — os olhos negros e especuladores de Jungkook miravam a face espantada do alfa em sua frente.
Touché
Jisung engoliu em seco e ajeitou o cinto da calça que compunha o terno de três peças antes de manifestar uma resposta.
O duque permaneceu aguardando por uma reação e Yoongi estava apreensivo a certa altura.
Sabia onde Jungkook queria chegar.
— Bom... não tenho uma relação próxima com o duque de Westminster, não costumo me relacionar com criminosos — gargalhou e usou de seu péssimo hábito de interação física para dar algumas batidas bruscas no ombro de Hoseok que quase se desequilibrou com o ato.
Era perceptível a iminente tensão e até mesmo as gotículas de suor que se formaram na testa do conde.
Jungkook trocou olhares com Yoongi certificando que seu blefe havia sido utilizado com sucesso.
O conde havia mordido a isca.
— Cavalheiros, foi um prazer conversar com vocês, mas minha pedra preciosa me espera. — Hoseok apontou para Hyejin que o chamava discretamente para um canto do salão, dispersando a animosidade.
— A preceptora de Jimin? — Jisung indagou enquanto se recompunha do susto.
— Sim, sou o alfa mais satisfeito desse reino, minha cama jamais esfria.
— E quanto a sua noiva de longa data? — o conde continuou as perguntas.
— Continuará sendo por mais alguns séculos. — ele fez galhofa, rindo sozinho do comentário crasso.
Jungkook girou os olhos.
Será que existia algum alfa que não enganava ômegas?
— E quanto a você Jeon, esteja comprometido e fiel aos treinamentos, honre seu legado!
— Com certeza, Jung. Algum de nós precisa ser fiel a algo, afinal. — ele falou com indiferença
Jungkook voltou seu olhar para Jimin. Seu nível de paciência para aquele cerimonial estava se esgotando na mesma proporção em que a gravata lhe espremia o pescoço.
Percebeu que as garotas peculiares que falavam com o ômega pareciam querer se retirar.
— Já estamos de saída, acho que sua mãe não gostou muito de nós. — Yasmin apontou e Jimin avistou a condessa fulminando-os de longe. Ele realmente temia pela segurança delas, já que sua mãe estava a ponto de colocá-las para fora em único golpe.
— Sim, obrigado por terem vindo.
— Nos vemos por aí! — Carola falou informalmente, fazendo Jimin rir por um instante.
Era simplesmente reconfortante estar ao lado de pessoas de alma livre e inteligentes. Remetia a uma cena de algum livro ou até mesmo obra de suas divagações noturnas.
— Então no Brasil os ômegas namoram entre si? — ele falou para si mesmo, o semblante entusiasmado, sem notar que alguém estava bem ao seu lado.
— Sim, porém ainda escravizam as classes que eles julgam serem inferiores. É uma grande disparidade.
Jimin se sobressaltou com a voz grave e mansa de seu alfa o respondendo. Manteve-se em silêncio, tinha medo de falar demais e ser repreendido, não queria ter a infelicidade de ter de voltar a morar naquela casa novamente se por acaso seu marido o achasse tagarela demais.
E diante da falta de respostas, Jungkook ofereceu-lhe o braço e chamou:
— Vamos, o almoço já será servido.
A extensa lista de convidados feita por Dahye incluíra a maioria dos aristocratas londrinos. Banqueiros, secretários do reino, famílias de influência e figuras conhecidas da sociedade, compunham a vasta mesa da recepção, agora abastada com o banquete e o tradicional bolo branco ao meio.
Apesar de ter acordado tão cedo para a cerimônia, Jimin não sentia fome. Foi guiado por Jungkook até a cadeira à direita da grande mesa e viu o alfa se sentar na cabeceira, como mandava os costumes. Não demorou para que o tilintar de pratos e talheres começasse a ofuscar qualquer tentativa de conversa entre os presentes e Jimin sentiu o barulho perturbar-lhe a mente. Ele não gostava de recepções e de multidões, sentia-se sufocado, extremamente ansioso e somado ao fato da brusca mudança que sua vida teria a partir daquela noite, era natural que seu emocional estivesse um tanto abalado.
E num instante, sua visão ficou turva e a respiração se tornou acelerada até que seus sentidos se esvaíram como fumaça.
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— Jimin, meu pequeno, fale comigo!
Calista esfregava o pano úmido na testa do ômega e temia que ele pudesse não voltar do desmaio. Ela estava aflita, tendo Taehyung, Lily e Jungkook a observando na beira da cama do quartinho dos empregados.
— Eu acho que ele está fingindo! — Lily fez a acusação em meio ao silêncio.
— Ora, não diga besteira! Não vê como ele está branco como leite! — Taehyung fez as vezes de advogado.
— Tragam álcool! — Calista gritou desesperada pela falta de reação de seu protegido.
Colocaram o frasco em frente às narinas do ômega e como num passe de mágica ele esboçou as primeiras reações.
— Ah, Jimin! Não me mate de susto, estou velha, é por certo que não posso passar por tanta emoção! — Calista o repreendeu, o abraçando.
— Eu apenas tive uma indisposição. — ele balbuciou mantendo os olhos fechados.
— Sim e seu marido foi ágil o suficiente para segurar-lhe nos braços e trazê-lo até aqui. — a beta falou e todos encararam o alfa.
— Ágil, é? — Lily estava bem ao lado de Jungkook e o inspecionava como uma águia, olhando-o de cima a baixo. Queria saber se o alfa seria bom para seu amigo, mas preferiu usar de intimidação para deixar seu recado.
Talvez a imponência dos seus um metro e meio e sua voz tão fina quanto de um canário belga pudesse causar algum receio no duque.
— Hm. — ele usou do seu vício linguístico breve e seco para responder a garota.
— Hm, o quê? — e ela revidou, empinando o queixo, o olhar delinquente.
— Lily, vá já buscar água para Jimin! — Calista percebeu a rebeldia de sua filhote e tratou de para-la antes que algo irremediável acontecesse.
Porém Jungkook não se irritou, achou até mesmo engraçado a abordagem. Alegrou-se em perceber que havia apoio e amor para Jimin naquele local singelo.
O ômega ficaria completamente solitário em NewBrook's Farm, constatou.
— Duque, agora terei de pedir-lhe para que saia, preciso abrir alguns botões do vestido e aliviar o peito de Jimin para que respire melhor.
Acatando prontamente o pedido de Calista e já certo de que Jimin estava recuperado do mal súbito, Jungkook seguiu para a recepção com a intenção de avisar os convidados.
— Jimin está bem, foi apenas um mal estar. — ele disse esboçando um sorriso amistoso, pondo fim aos burburinhos na sala de jantar.
— O ômega já está tão apaixonado que mal se mantém de pé, você já cumpriu seu dever, alfa! — um dos convidados bradou e a reação dos demais foi de risos e mais piadas.
Jungkook, porém não achou graça do comentário, travou a mandíbula e bebeu um gole do champanhe quente em sua taça.
Queria estar bem longe dali, sozinho em sua cabana e fumando seu precioso charuto cubano. Por certo uma garrafa de conhaque ou hidromel também fosse bem-vinda.
Afastou-se até as janelas e fixou o olhar em algo abstrato.
— Parece entediado. — Yoongi se aproximou.
— Não poderia ser diferente, não é? — ele esfregou o queixo com a mão, demonstrando que o amigo falara a verdade.
— Jimin está bem?
— Sim, presumo que tenha ficado a manhã toda em jejum, provocando a queda de pressão.
— Achei interessante a forma como você quer se aproximar de Jisung. Porém usar as corridas para isso pode acabar afetando sua credibilidade, você e Jisung são da mesma família agora. — Yoongi coçou o nariz, receoso ao abordar o assunto.
— A minha intenção é me aproximar apenas, ganhar confiança e saber todos os passos do conde, desde que se mudou para Norwich até os dias de hoje. Eu soube que ele tinha uma relação bem próxima com Kim Namjoon, o duque de Westminster que está desaparecido após as acusações de contrabando.
Yoongi deu um longo suspiro, hesitante.
— Mas pelo menos nessas duas semanas, faça tudo parecer como um casamento normal para Jimin, sim? Taehyung parece preocupado e confesso que também estou.
— Não se preocupem, não vou matá-lo. — Jungkook negou com a cabeça rindo da própria piada — A propósito, irei pedir que Calista, Taehyung e a garota venham morar conosco, será bom para ele ter as pessoas que gosta por perto.
— Eu estou curioso sobre uma coisa que não ficou muito clara. Amanhã na primeira hora do dia a família do ômega estará à espera da marca de vocês dois para de fato declararem consumado o casamento. Se você não vai marcar o ômega, o que pretende fazer?
— Aguarde e verá! — Jungkook piscou para ele foi de encontro a Jimin que surgiu discretamente no canto da sala.
Jimin já estava recuperado e voltou para a recepção que já aparentava estar no final.
Sabia que eram seus poucos minutos naquela residência.
Encerraria um ciclo e começaria outro imprevisível.
Porém havia um bom pressentimento, uma sensação nova em seu peito, apesar da ansiedade daquele momento.
Segurou o braço de seu marido novamente para que pudessem se despedir dos que ainda restavam.
Contudo um alfa apressado surgiu na frente deles.
— Houve um atentado! Atacaram o castelo!
O grito surgiu em meio aos convidados espantando a todos. A movimentação se intensificou e rapidamente os alfas escoltaram suas famílias para fora do casarão dos Park.
— Um atentado? Como? — Jimin involuntariamente apertou o braço de Jungkook com força desmedida. Não sabia as proporções exatas de um ataque como aquele.
— Já não era sem tempo. Victória está pedindo por revolução. — Jungkook parecia observar com cautela o tumulto que se formava fora da residência.
—Revolução?
— Vou levá-lo para NewBrook's Farm, temo que a amotinação se estenda pela noite e Strand é bem próximo de Windsor. Preciso tirar Lorde Archer de lá também.
— Lorde Archer? — Jimin clamava por respostas enquanto o tumulto se evidenciava.
— Vá para o seu quarto e se tranque lá. Buscarei Heólico e volto para levá-lo comigo. — Jungkook fez menção em sair, mas sentiu a mão de seu ômega o segurar com força.
— Não vou a lugar algum se não responder minhas perguntas! — Jimin gritou sem ao menos notar o tom de imposição de suas palavras. O duque permaneceu estático, um tanto surpreso pela exigência justa do marido.
Jimin não era como os outros ômegas, relembrou a frase dita por Calista.
Pigarreou e procurou por palavras de fácil compreensão.
— Uma revolução é quand...
— Eu sei o que é uma revolução, o que me preocupa é se as pessoas serão feridas ou presas pela guarda real, sei que estão apenas reivindicando seus direitos, então parece injusto usar a força contra elas.
Jungkook arregalou os olhos, estupefato.
E Jimin prosseguiu.
— E se tem alguém em Strand, você deveria ir logo buscá-lo. Agora irei para o meu quarto, se é assim que deseja. — ele soltou o braço do alfa e tomou o rumo das escadas.
A reação de Jimin foi completamente inusitada. A forma segura e objetiva na qual ele usou as palavras e o senso de justiça empregado em defender os protestantes deu a Jungkook a certeza de que Calista havia falado a verdade, absolutamente.
O ômega era perspicaz, pensou, curvando levemente o lábio.
— Ouvi alguns burburinhos vindos de Windsor. — Jisung se aproximou dele assim que entrou novamente na residência. — Alguns arruaceiros se fingiram de comerciantes e adentraram o castelo. Fizeram a rainha refém, mas ao que tudo indica, foram interceptados pela Guarda Real.
Todos os convidados já haviam deixado o casarão de Norwich e restaram na sala de estar, apenas Jungkook, Yoongi e agora Jisung.
— Menos mal, pensei que era algo mais grave. — Jungkook respirou aliviado — Em todo caso acho prudente levar Jimin para NewBrook's Farm pelo menos por alguns dias, Strand é praticamente o alpendre de Windsor e se as coisas piorarem, temo pela segurança dele.
— Faça como quiser, duque. Jimin agora é seu.
Jungkook girou o corpo na intenção de responder a frase desagradável do conde, mas foi impelido imediatamente por Yoongi.
— Levará Jimin para a fazenda? Não sei se encontraremos um coche amplo para caber seus pertences, a cidade está agitada — o ômega ponderou — e você também solicitará pela presença da aia? E de Taehyung? — sua voz suavizou ao final da frase, ansiava em ter o beta consigo.
— Sim para todas as suas perguntas, mas de imediato, irei com Jimin. Vou buscar Heólico. — o duque deu o primeiro passo, mas a mão do amigo barrou seu movimento.
— Fará uma hora de viagem à cavalo sacudindo Jimin no lombo de Heólico? Perdeu o juízo?
— Hm.
— Está brincando, não está? — Yoongi tentou procurar por um fio de razão no semblante do alfa.
— Que mal fará? O ômega é mais leve do que uma pena, nem sentirá os solavancos. — Jungkook insistiu, certo do plano.
— Ah, Jungkook... se a rainha já não tivesse um, eu com certeza te recomendaria como o bobo da corte. Você é bom com galhofas. — o treinador de cavalos gargalhou — Vá até Strand e avise Lorde Archer que iremos para NewBrook's Farm. Eu tenho um amigo cocheiro em Mayfair, providenciarei a condução. — deu a última ordem, acompanhando com o olhar o alfa obedecê-lo de prontidão.
A certa altura, Jimin ainda se perguntava o motivo pelo qual respondeu o alfa daquela maneira e o fato de não ter sentido medo em desafiá-lo pareceu o instigar.
Com certeza receberia represálias.
Seria açoitado por ele ou preso em um porão?
O alfa possuía mãos grandes...
Sorriu mordendo o lábio, orgulhoso de si mesmo pelo ato de rebeldia.
Curiosamente havia gostado da sensação de perigo, ansiando estranhamente pela possível punição.
Não daria dias fáceis ao duque Jeon, decretou.
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Yoongi providenciou todo o traslado de Lorde Archer até NewBrook's Farm e já aguardava Jimin. Dahye havia causado uma briga negando-se a ceder Lily e Taehyung e alegando que a presença de Calista era suficiente para auxiliar Jimin.
A despedida entre os amigos foi bastante triste e desgastante para os três. Eles nunca haviam se separado daquela forma e mal sabiam quando se veriam novamente.
Taehyung contava com as palavras de Yoongi, estava confiante de que teria uma vida nova ao lado de seu ômega. Seu coração se despedaçou quando viu Jimin, Calista e Yoongi partindo pela rua, como se seu sonho nunca pudesse se tornar realidade.
— Passei minha vida toda observando a felicidade dos outros pelas grades desse casarão e parece que esse será meu destino. — ele lamentou resignado, secando a última lágrima com as costas das mãos.
— Não fale nada! Jimin prometeu que voltará para nos buscar! E se até semana que vem ele não aparecer, nós vamos fugir! — Lily decretou — Vamos entrar e fingir que não estamos abalados, a cobra peçonhenta está nos observando. — cochichou.
E com certeza aqueles dois não se dariam por vencidos.
Jungkook seguiu com Heólico para a fazenda e chegou primeiro do que os outros. Levou o garanhão para as cavalariças a fim de acomodá-lo e alimentá-lo.
O casarão imponente abrigava seis quartos principais no primeiro andar; uma ampla sala de estar, uma sala de jantar e lavabo no térreo e a cozinha aos fundos, além das instalações dos empregados que era composta por quatro quartos, toalete e cozinha.
A mudança brusca nos planos do alfa agitou a casa naquele começo de tarde. Sob orientação de Lorde Archer, os empregados trocaram todo o enxoval da suíte que seria dedicada a Jimin e que ficava imediatamente ao lado da suíte de Jungkook.
— Pedi para que servissem um refresco enquanto organizamos adequadamente os aposentos do ômega, me perdoem o transtorno. — Lorde Archer guiou Calista e Jimin para a sala de estar, acomodando-os ali.
— Se o senhor precisar de ajuda, eu me disponho, sou Calista, a aia de Jimin. — a beta se apresentou acanhada, oferecendo seus serviços.
— De modo algum, madame. Sua função é acompanhar o ômega, sintam-se a vontade. — ele disse, fazendo Calista corar por um instante.
Assim que Lorde Archer saiu, Jimin cutucou Calista.
— Hum, madame! Ele gostou de você, vi como ele te olhou!
— Ora, pare de bobagens! Me respeite, garoto! — ela o repreendeu, ultrajada, um sorriso bobo se formando no canto da boca.
Recuperando da risada, Jimin se levantou e seguiu até a janela, estava admirado com a beleza da fazenda. Sentiu-se imediatamente familiarizado com o ambiente, não conseguindo se lembrar de já ter frequentado aqueles campos.
Mas o cheiro fresco da brisa lhe causava a sensação de deja vu.
Avistou um pouco a frente as cavalariças e sua visão congelou ao notar o alfa sem camisa, lavando o rosto no tonel de água que havia ali.
Os traços brilhantes de água escorriam pelo peitoral forte e robusto e percorreram um caminho que alcançou o cós de sua calça, acumulando-se ali. Ele esfregou as mãos nos músculos do abdome com o intuito de livrar-se do suor causado pela longa cavalgada, espalhando gotas d'água que cintilavam através do reflexo do sol forte da tarde.
Jimin parou de respirar.
Era absolutamente viril e primitiva a força que Jungkook usava para puxar a corda que trazia a água do poço e servia para hidratar os cavalos e banhar seu próprio corpo.
Jimin estava tão petrificado com a cena que não notou de imediato que o outro também o observava.
Jungkook manteve seus grandes olhos negros mirando Jimin ao longe, certo de que o ômega nunca havia visto um alfa desnudo, dada a face impactada.
Curvou o canto da boca num sorriso que continha apenas surpresa genuína.
Jamais tocaria aquele ômega.
Contudo havia um traço de vaidade e orgulho que o deixava satisfeito em ser admirado.
Ainda encostado na janela, Jimin se sobressaltou ao notar que também era observado e então voltou-se imediatamente para o sofá onde Calista estava, tentando relembrar como se usava os pulmões.
O alfa já estava lhe dando sua punição por tê-lo desafiado em Norwich, confabulou para si mesmo.
— Está tão quente aqui — ele falou alto, parecendo histérico, abanando a face com as mãos.
— Está até fresco demais, você parece febril. — Calista respondeu desconfiada, tocando a testa de Jimin para averiguar a temperatura.
E Jimin encerrou o assunto.
Por certo seus dias naquela fazenda seriam bem diferentes e reveladores.
Após alguns minutos de silêncio, Lorde Archer surgiu na sala, convidando Jimin para conhecer seus aposentos e ele ficou maravilhado ao entrar no recinto.
Todo o enxoval era novo em pura seda, as cortinas harmonizavam coerentemente os tons com o restante dos tecidos que revestiam desde a mesinha do desjejum até os tapetes ao chão. Era tudo de extremo bom gosto e requinte, extraordinariamente agradável aos olhos.
E trazia paz.
— A duquesa pediu para que trouxessem o enxoval da Itália e os tapetes vieram diretamente do Império Cajar do Irã, são originalmente persas. — Lorde Archer explicava a origem dos itens com orgulho.
Jimin apenas agradeceu, não havia entendido palavra alguma que o beta dissera, mas de certa forma estava grato. Era comum que os ômegas levassem o enxoval para a casa do marido alfa e aquela atitude foi de extrema consideração.
— Agora eu gostaria de apresentar à senhora os seus aposentos. É justamente ao lado. — o beta se dirigiu à Calista com um tom manso na voz e Jimin mordeu os lábios imediatamente para esconder o sorriso jocoso.
— Eu não quero incomodar, me ajeito em qualquer canto. — a beta disse sem devolver o olhar, acanhada.
Mas seguiu atrás de Lorde Archer enquanto Jimin avisou que iria usar o toalete.
O quarto de hóspedes era simples, mas ainda mantinha o padrão de cores suaves e o cheiro de tecidos novos.
Conforto era definitivamente o cartão de visitas daquele casarão.
Por mais que Jungkook não tivesse dito à Magnólia que iria para NewBrook's Farm em sua noite de núpcias, ela não hesitou em deixar tudo preparado para caso algum imprevisto acontecesse. Os empregados da fazenda, assim como Lorde Archer já estavam de prontidão e devidamente orientados com a vinda do ômega-duque, Jeon Jimin.
Atenderiam sumariamente aos seus pedidos.
Já ao entardecer, Jimin despertou aflito de seu cochilo que pareceu durar alguns meses. A princípio não identificou o local onde estava e assim que recobrou a consciência, viu Calista passar pela porta.
— Eu adormeci e me esqueci até mesmo onde estava. — ele disse esfregando a testa.
— Você passou por fortes emoções neste dia, merece um descanso. — ela falou — Mas antes, você precisa anunciar o que será servido no jantar.
— O quê? — Jimin se espantou.
— Sim, você é o ômega, essa é sua atribuição.
— Mas eu nem mesmo sei o prato favorito do alfa, seria um desastre errar justo hoje. — ele realmente se preocupou com o fato de desagradar seu desconhecido marido.
Entretanto, algo o amedrontava ainda mais.
Algo que fez seu estômago revirar em ansiedade e desespero.
— Calista... hoje à noite eu... e o alfa... — ele foi reticente, porém Calista entendeu o recado.
— Ah, meu raio de sol, não se preocupe. — a beta tentou acalmá-lo — o duque será cordial com você, ele tem sido afinal, não vê?
— Alfas são ardilosos, eles sabem fingir bem para conseguirem o que querem. — Jimin cochichou, relembrando a cena das cavalariças.
Calista gargalhou ao ouvir as palavras tão sérias de seu pupilo.
— Mas o alfa já o tem. Não precisa conquistá-lo. — ela afirmou e Jimin fez bico — apenas fique calmo, tudo dará certo. Agora vamos.
Jimin seguiu para o jantar bastante aflito.
Sentou-se à direita de Jungkook, havia sugerido de última hora uma sopa de aspargos tradicional para o jantar e suas mãos tremiam com a possibilidade de ser repreendido pela escolha.
Sentaram-se os dois à mesa e Jimin aguardou o alfa se servir para que pudesse fazer o mesmo, como mandava os costumes
— Gostou de seus aposentos? — Jungkook perguntou de repente, servindo Jimin antes de si mesmo.
— Sim. — e o ômega respondeu em uma só palavra, as mãos trêmulas, escondidas por baixo do tecido da toalha de mesa.
— Bom.
O ômega confundiu-se com o tom da palavra e permaneceu calado, sua cota de ousadia para aquele dia já bastava.
Não deveria se arriscar tanto.
Terminaram o jantar em silêncio e Jimin sentiu que poderia desmaiar novamente a qualquer momento.
O pânico o consumiu por completo quando Calista abriu as gavetas recém-organizadas à procura do enxoval da noite de núpcias.
Seu corpo tremia, deixando escorrer as últimas gotas de água do banho recente.
— Estou com medo Calista.
Ele olhava para a ômega, suplicante. Estava assustado, sem saber o que fazer e como agir.
O alfa lhe provocava sensações estranhas e eles mal haviam trocado meia dúzia de palavras.
— Acalme-se meu filho, passará rápido.
Calista escolheu a camisola e a segurou com força nas mãos. Sabia que Jimin temia aquele momento e se preocupava também com a reação do duque quanto ao casamento, afinal não sentia um comprometimento amoroso por parte dele. Sentia que havia cordialidade e respeito, mas agora Jimin era seu esposo por direito, mas ainda não conseguia prever a sua reação.
Ela fechou a gaveta e retornou à Jimin que retirou a tolha do corpo e ergueu os braços para que Calista passasse o tecido fino de algodão pelo pescoço dele.
— Vai doer?
— Não vai querido, apenas feche os olhos e pense em algo bonito. Pense nas histórias dos livros, sim? Assim que acabar eu volto para preparar um banho quente para você. Vou avisar seu marido que você já está pronto — deu um beijo carinhoso na bochecha de Jimin e fez menção em se retirar.
— Outro banho? Está faltando a roupa de baixo.
Calista apenas negou com a cabeça e então ele compreendeu.
Observou com um nó na garganta a mulher se distanciar até a porta e sair do quarto.
Não havia escapatória.
Calista seguiu para o quarto ao lado e deu uma leve batida na porta, sendo atendida prontamente.
— Seu marido já está o esperando, duque. — avisou apreensiva.
Ainda sem se mover, a mulher criou coragem e continuou dizendo:
— Duque, espero que perdoe a minha intromissão, mas Jimin não sabe muitas coisas sobre a vida de casado, ele ainda é muito imaturo. Peço para que seja cuidadoso com ele. — sussurrou com as mãos em posição de súplica.
— Não sou nenhum selvagem Calista, não se preocupe. — ponderou Jungkook que estava vestido com uma camisa branca e calça de linho azul marinho, a mesma roupa do jantar.
A beta apenas acenou com a cabeça, certa de que o duque havia entendido seu ponto.
E assim que ela saiu pela porta, Jungkook voltou-se ao espelho, desabotoou o primeiro e o segundo botão da camisa e enrolou as mangas até a metade do antebraço, expondo as veias grossas e bem marcadas, ainda mirando sua própria imagem.
Sabia que Jimin mal era nascido quando Jisung matou Jungseok, mas imaginava que a maldade era inerente àquela família. Ademais, Jungkook não pretendia se vingar do ômega tampouco lhe fazer algum mal. Nutria um sentimento de pena pelo garoto e sabia que ele não tinha conhecimento algum sobre os negócios escusos do pai e já havia presenciado as cenas de maus tratos e violência a qual ele era exposto em Norwich.
Daria a Jimin a autonomia e liberdade que ele não tivera na presença dos pais.
Talvez isso amenizasse o dano de tê-lo obrigado a se casar.
No fundo os dois sairiam beneficiados, ponderou.
Seguiu para a porta lateral que dava acesso ao quarto do ômega e depois de um longo suspiro agarrou a maçaneta da porta, girando-a.
Avistou o ômega sentado na cama cabisbaixo com as mãos cruzadas no colo e sentiu o cheiro forte de pêssego penetrar por suas narinas.
Percebeu então que Jimin estava com medo.
E bem no fundo de seu peito, seu desolado alfa revirou-se aflito.
Mas não era momento para perder-se em distrações. Entre outro suspiro, puxou uma cadeira, colocando-a na frente de Jimin.
— Pela primeira vez em alguns meses, estamos finalmente sozinhos e podemos conversar sem sermos interrompidos. — Jungkook disse, amenizando o tom de voz.
Jimin permaneceu de cabeça baixa, brincando com os dedos e tentando procurar as palavras certas para dizer, porém não manifestou reação.
No entanto Jungkook achou que havia se precipitado.Deveria agir com calma, usar uma voz mansa e se preocupar com os sentimentos de Jimin, assim como Yoongi havia aconselhado. Olhou justamente ao lado de sua cadeira e viu a bacia de prata com um brilhante jarro dentro e se lembrou do ritual que Lorde Archer havia dito ser essencial.
Arrastou a cadeira para o lado e ajoelhou-se diante ao ômega.
— De todos os costumes condenáveis de nossa sociedade, esse é um dos únicos que me agrada. — segurou o calcanhar de Jimin que deu um leve sobressalto pelo contato direto da mão áspera do alfa em sua pele desnuda.
Com a outra mão Jungkook pegou o jarro de prata e derramou suavemente a água morna pelo pé do garoto.
Jimin sentiu o corpo se eletrizar com o contato. Nem mesmo seus pais tocavam-lhe os pés. Aliás, ficar descalço era proibido para ele.
— Você tem pés tão pequenos que me pergunto como consegue se equilibrar em cima deles. — o duque tentou descontrair o clima desconfortável que os rondava, notando o ômega secar discretamente uma lágrima.
— Me desculpe. — Jimin disse tão baixo entre soluços que apenas a capacidade auditiva fenomenal do alfa pôde captar.
— Eu fiz um elogio. — afirmou enquanto secava-lhe o pé.
— O-obrigado.
Jungkook estava incomodado com a posição de extrema submissão de Jimin. Ele evitava qualquer contato visual o que fez o alfa pensar até mesmo que o garoto recebera instrução prévia para agir assim.
— Jimin, quero que saiba que eu não sou um alfa como os outros. Fui criado por uma alfa que me deu uma educação diferente dessa que vivemos aqui no reino. Fui ensinado a tratar ômegas como iguais e gostaria que nossa relação fosse nesses moldes. — secou-lhe o outro pé e se levantou, sentando ao lado dele na cama. — Quero que antes de tudo, me olhe nos olhos quando eu falar com você.
Mais lágrimas rolaram pelo rosto rosado de Jimin que tentava a todo custo seca-las. Não imaginava ouvir aquelas palavras cuidadosas e estava profundamente sensível com a situação.
Queria que acabasse logo.
Queria também que o cheiro de pinus e hortelã o envolvesse um pouco mais e o reconfortasse.
Após um longo suspiro tomou coragem para olhar para Jungkook.
— O senhor pode apagar a luz, por favor, e ser breve? Eu gostaria de acabar logo com isso. — pronunciou entre suspiros.
Meneando a cabeça em negativa e fazendo Jimin se desesperar ainda mais, Jungkook declarou:
— Eu jamais tocaria um ômega à força, Jimin. É nítido o seu medo.
Imaginando toda a desgraça que sua mãe lhe prometera caso fosse devolvido por Jungkook, Jimin se jogou ao chão e suplicou apavorado.
— Pode deixar as luzes acesas e demorar o quanto quiser alfa, mas, por favor, não me devolva, eu faço o que você pedir, apenas me diga como fazer, eu imploro!
O pavor nos olhos de Jimin provocou a mesma sensação em Jungkook que num ato de proteção, ergueu o ômega pelos cotovelos, colocando-o sentado na cama novamente.
— Quem disse que irei lhe devolver, Jimin? Se acalme, por favor.
O alfa levantou da cama e pegou um copo d'água, oferecendo-o a Jimin na tentativa de acalmá-lo. O garoto bebeu todo o líquido se engasgando ao final do último gole.
— Foi a condessa que lhe disse esse absurdo? — Jungkook perguntou, tentando não se exaltar.
Jimin chorava copiosamente e secava vez ou outra as lágrimas no punho já molhado da camisola que vestia.
E Jungkook sentia a raiva por aquela família aumentar a cada segundo. Passou as mãos pelos cabelos negros e decido a tirar a história a limpo.
— O que ela disse que faria com você caso fosse devolvido?
— Ela disse que me mandaria sozinho para um convento de ômegas nas montanhas geladas da Noruega e jamais voltaria para me visitar. — ele disse controlando os suspiros.
— Sua mãe é uma mulher asquerosa. Não se preocupe, você está seguro comigo aqui. É um Jeon agora, não deve qualquer satisfação para seus genitores.
Jimin sentiu conforto nas palavras do alfa pela primeira vez desde que o conhecera.
Mas será que deveria confiar?
Aquele não seria um truque para testá-lo?
— Quero que saiba que eu gostei de você quando o avistei no baile. — Jungkook preparou o terreno, não gostava de rodeios — Eu tenho passado por alguns problemas em minha família, assim como você também. — ele esperou por alguma reação do ômega ante as suas palavras.
Já mais calmo, Jimin ouvia atento à história.
— A duquesa parece ser uma mãe tão boa, o que ela fez? — ele não segurou a curiosidade, mordendo a isca de Jungkook.
— Magnólia não é minha mãe, Jimin. Ela me salvou e eu mesmo assim, a desonrei.
O medo de Jimin se esvaiu dando lugar a curiosidade.
O que Jungkook havia feito de tão grave?
E antes que ele pudesse perguntar, o duque tomou a palavra:
— No ano passado, no baile de primavera, eu conheci um alfa vindo do sul e... — Jungkook cortou a frase e esfregou as mãos na face, atuando como um perfeito protagonista de um drama.
Por um momento, Jimin achou que ele pudesse estar chorando. Contudo aguardou pelo desfecho da história, quase sacudindo os braços, tamanha ansiedade.
— Eu me relacionei intimamente com esse alfa. Cometi sodomia, desonrei a mulher que me criou como filho, desonrei o reino ao qual pertenço e se eu for descoberto, posso ser executado por enforcamento, justamente como está escrito no Ato de Sodomia criado pelo rei Henry VIII. — o duque terminou a fala e continuou imóvel.
Jimin estremeceu.
Já ouvira falar sobre o Ato de Sodomia e por muitas vezes discutiu a respeito com sua preceptora, mas jamais pensou em conhecer alguém que o havia quebrado.
Seu alfa era um sodomita. Cometera um crime capital nefasto aos olhos da sociedade.
Mas não aos seus.
— E onde ele está agora? — Jimin perguntou com num tom de voz suave, tentando transparecer que não o acusaria como os outros.
Sabia o significado de sodomia e não entendia o motivo pelo qual as pessoas não poderiam ser livres para se relacionarem com quem quisessem. Tinha plena consciência do peso religioso do ato, mas não professava da mesma fé hipócrita dos acusadores.
— Em algum lugar que já não importa mais. Isso ficou no passado. — com um suspiro demorado, Jungkook levantou a cabeça, concluindo a cena.
— Eu.. eu não sei o que dizer... — Jimin foi reticente — mas entendo que nosso casamento não será nos moldes tradicionais, dada as circunstâncias.
Jungkook não gostava de ômegas, Jimin concluiu para si mesmo.
— O que eu quero que saiba é que o nosso casamento favorece a nós dois de toda forma. — Jungkook segurou-lhe a mão. — Mesmo que agora no início não tenhamos tanta afinidade, o que é natural, quero que se sinta livre, Jimin. Quero que você guarde meu segredo também e que confie em mim.
Ainda confuso com a história, mas genuinamente comovido, Jimin olhou para sua mão coberta pela do alfa e acenou positivamente com a cabeça. Compreendia perfeitamente a problematização social e a forma como as pessoas eram julgadas por suas atitudes particulares e arremessadas ao cunho crítico e hipócrita daqueles que detém da falsa moral cotidiana professada naquele reino.
— Eu guardo seu segredo. — Jimin selou o compromisso.
E Jungkook respirou aliviado.
— Não acho justo consumar esse casamento sem que ao menos nós nos conheçamos melhor. Por isso eu quero pedir para que faça algo. Você confia em mim?
Jimin balançou a cabeça em sinal de concordância.
— O que vou pedir é pouco convencional, mas me coloco a disposição de me entender com seus pais amanhã. Eu quero que morda seu punho como se fosse a nossa marca.
Jimin olhou pela primeira vez nos olhos negros do alfa, incrédulo. Jamais passaria por sua cabeça tal pedido. Seria antes de tudo um ato contra as leis do reino não ser marcado pelo próprio marido e Jimin já estava contando com a passagem só de ida para o convento na Noruega.
— Mas não é certo alfa, minha família vai descobrir. A minha mordida durará no máximo uma semana. — ele disse apreensivo.
— Sim, por isso peço para que use apenas vestidos de manga comprida, assim ninguém irá perceber. Garanto que sua mãe jamais contará nos chás que o filho é marcado no punho. — Jungkook zombou.
A marca entre um casal era a prova real da consumação do casamento e deveria ser mostrada às famílias sempre no dia seguinte a noite de núpcias. O fato era que mesmo que Jimin se mordesse, a marca sumiria com o tempo, já que não fora feita pelo alfa. Ela tinha um significado forte e bastante íntimo para os ômegas que não a mostravam para qualquer pessoa. Geralmente era feita no pescoço, sendo muito raro e um tanto rebelde fazê-la no punho. Porém, como era impossível Jimin morder-se no próprio pescoço, Jungkook não encontrou alternativa a não ser o punho.
Jimin se mostrava cada vez mais angustiado com o pedido do alfa, mas não negaria fazer parte do plano. Estava feliz por não viver mais com sua mãe fútil e NewBrooks Farm não parecia ser um lugar tão ruim.
Voltando a atenção para o alfa que estava ao seu lado, Jimin acenou timidamente e puxou a manga da camisola sem saber o que fazer a princípio. Jungkook percebeu que não deveria estar olhando tão fixamente quando notou a timidez do ômega que tentava disfarçar os movimentos.
— Me desculpe, posso sair do quarto se preferir. — ele se levantou rapidamente, ficando de costas para Jimin.
— Tudo bem, eu não me importo. — o ômega de fato já não se importava mais.
Mostrar as presas era um sinal de extrema submissão entre alfas e ômegas e por mais que o gene de Jimin não apresentasse presas grandes e proeminentes como as dos alfas, ainda assim era vergonhoso mostrá-las a quem quer que seja e não havia qualquer intimidade entre o casal ainda.
Decidido a seguir com o plano, Jimin abriu devagar a boca e mordeu profundamente o punho direito, soltando um gemido agudo de dor. O barulho incomodou os ouvidos sensíveis do alfa a ponto de fazê-lo virar-se e segurar o punho, agora marcado de Jimin, e lamber com cuidado o sangue que começava a escorrer. Aquele contato perturbou o corpo do ômega, causando arrepios descontrolados em sua pele alva.
Entendia o propósito do ato de seu marido, mas o toque tão íntimo o intrigava.
Jungkook por sua vez, apertava os olhos entre as pálpebras com força absoluta, impedindo que seu alfa tomasse o controle e marcasse verdadeiramente seu ômega.
Voltando do transe inesperado causado pelo toque, Jimin puxou rapidamente o braço de volta para seu colo.
— Obrigado, alfa.— disse desviando o olhar para algum ponto do quarto.
Ainda um pouco desconcertado, Jungkook apenas acenou.
— Peço para que não diga a ninguém sobre nosso acordo. Sei que não se beneficiaria tampouco teria algo bom em troca se dissesse, mas precisamos manter a discrição. — caminhando devagar em direção à porta lateral que dava acesso aos seus aposentos, ele concluiu: — Vou chamar Calista. — girou a maçaneta e saiu do quarto.
Jimin deixou seu corpo cair de costas na enorme cama coberta por lençóis de seda tão brancos e cheirosos que serviram para aconchegá-lo após os acontecimentos daquela noite. Uma mistura de sensações indecifráveis percorria sua mente não sendo capaz de distinguir os motivos pelos quais o alfa o havia escolhido como esposo. Simplesmente tê-lo achado bonito não era um motivo absolutamente especial, já que o reino contava com ômegas exuberantes e mais interessados em casamento do que ele.
Jungkook havia cometido um crime e o casamento deles era uma farsa, concluiu sem esboçar qualquer reação, aceitando o acordo.
Ouviu a porta do quarto se abrir e a silhueta de Calista passar por ela.
— Esta se sentindo bem? Vou preparar seu banho. — ela seguiu para o toalete e Jimin sentou-se novamente na cama.
— Estou bem.
— Consegue caminhar? — a beta perguntou com preocupação e ouviu um chiado zombeteiro vindo de Jimin — Por que está rindo?
— Ora, porque eu não seria capaz de caminhar? — ele ainda ria do comentário anterior, sem deixar transparecer o que realmente havia acontecido previamente naquele quarto.
— Eu disse que seu alfa seria cuidadoso — ela suspirou aliviada — a marca ainda dói muito?
Sabendo que poderia confiar em Calista pelo menos se tratando daquele assunto, Jimin puxou a manga da camisola agora machada e mostrou a marca recém-criada para a mulher.
— Pelos Deuses! No punho! — ela se espantou.
— Sim, digamos que o alfa seja pouco convencional, ainda assim é uma marca e prova que o casamento foi consumado, não é mesmo? — Jimin advogou em causa própria.
— A condessa terá um colapso nervoso quando chegar pela manhã e...
— Calista, agora eu sou um Jeon. Se meus pais e toda a sociedade exigem uma marca, eu a possuo, mas eles não têm mais direitos sobre minha liberdade, nunca mais terão. — um rompante de coragem e determinação se apossou dele naquele momento, como se realmente houvesse entendido a posição que exerceria dali em diante.
Jimin percebeu em poucos instantes o real significado de um acordo e como esses mesmos acordos podem ser facilmente manipulados.
Também exigiria seus direitos, não aceitaria ser submisso.
Guardava o segredo de um crime capital cometido pelo seu marido alfa e o usaria para satisfazer seus interesses.
O duque Jeon estava em suas mãos.
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Falei que eu voltava e voltei!
Esse mês foi um mês que eu só quero que acabe, viu... me desejem boas vibrações, por favor, e me desculpem os erros que possam aparecer no capítulo.
Finalmente os jikook vão começar a ser o centro da história e teremos coisas bem inusitadas por aí..👀
Jimin não é bobo, bobo é o Jungkook e tenho dito!🤣
O Ato de Sodomia realmente existiu e pessoas foram enforcadas verdadeiramente por infringir a tal lei. Ainda bem que evoluímos, pelo menos nesse aspecto.
Sodomia aqui na fic, é o ato sexual entre dois alfas somente. Seria o equivalente ao ato sexual entre dois homens que envolva sexo anal. Mas no contexto bíblico da palavra, sodomia significa sexo anal entre dois homens ou entre um homem e uma mulher e tem várias definições a partir dessa que eu não vou abordar aqui. Façam suas pesquisas!
Eu fiz um grupinho de whatsapp da minha outra fic e queria saber se vocês querem um grupinho também... preciso ser justa!
Me falem o que acharam e o que esperam do futuro..
Um dia eu volto 🙄
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