𓅂 𝓣𝓱𝓮 𝓡𝓮𝓬𝓴𝓸𝓷𝓲𝓷𝓰

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#DocedePessego
🍑

Deixem o voto e comentem!

Boa leitura!

Uma semana depois...

Jimin ressonava baixinho enquanto mantinha sua cabeça no peito do alfa.

Estavam em Strand, mais precisamente nos aposentos de Jimin.

O qual o alfa não se distanciava há sete dias.

— Já não sei mais o que é privacidade desde que voltamos de NewBrook's Farm. — Jimin falou rindo da constatação. — Você não me permite um minuto a sós comigo mesmo.

— Hm. — Jungkook chiou ainda de olhos ainda fechados. — Se você não tivesse o gosto mais viciante de todo o mundo talvez eu pudesse lhe dar trégua. Não me culpe, meu doce.

— Quem diria, não é? Você sempre se negou a me tocar, jurou que jamais estaríamos onde estamos agora e olha o que o destino fez. Você não sabe de nada, Jeon Jungkook! — o ômega riu, levantando a cabeça e encarando o marido.

O duque por sua vez, acariciou a face alva que o fitava com curiosidade. Jimin era uma incógnita para si e conforme o tempo passava mais dúvidas e incertezas preenchiam sua mente confusa, perturbada pelas fortes sensações que Jimin lhe causava.

— Sim, talvez eu não saiba. Mas o pouco que sei é que quero seu corpo sobre o meu todas as noites, assim como estamos fazendo.

Sem responder o marido com palavras, Jimin segurou a mão direita dele e a acariciou minuciosamente, passando a ponta dos dedos sobre a palma um tanto grosseira, embora possuíssem linhas suaves.

— Desde que o vi pela primeira vez, suas mãos me chamaram a atenção. — Jimin ainda mantinha o contato. — Talvez porque o primeiro toque de um estranho no meu corpo tenha sido daquele bode velho nojento. — ele fez uma careta de repulsa.

— Bode velho? De quem você está falando? — o duque empertigou-se.

— O barão de St. Louis. Ele tinha certa fixação por tocar minhas mãos e eu me sentia extremamente desconfortável. Certa vez quando ele foi até Norwich me cortejar, tive que simular uma doença pestilenta junto com Tae e Lily, justamente para que ele me deixasse em paz. Pelo menos foi divertido.

A história que Jimin acabara de contar causou uma sensação estranha de raiva em Jungkook que se ajeitou na cama de modo em que pudesse se recostar na cabeceira. Seu lobo o arranhava o peito, irado, obcecado de ciúme, afinal, alguém havia tocado seu ômega.

Por outro lado, Jungkook tentava manter o controle.

— Eu lamento que tenha passado por isso. Há alfas que realmente não merecem estar nesse mundo respirando o mesmo ar de ômegas como você.

— Sim, isso é passado. Hoje tenho autonomia para me defender dessas situações. Jamais irei admitir que um alfa me toque sem minha permissão. — ele olhou para o marido e continuou — apenas suas mãos tem o aval para sentir o toque da minha pele.

— Eu aprecio sua decisão.

E de fato Jimin jogou a permissividade, que sempre baseou sua vida, aos leões. Era considerado na corte como um ômega seguro de si, comprometido com os assuntos sociais e determinado a resolvê-los. Tudo isso em menos de um mês como conselheiro, mesmo não tendo sido nomeado solenemente, afinal Edward ainda estava escolhendo os outros representantes das demais pastas.

Jungkook não refutava as decisões que Jimin tomava sobre seus assuntos pessoais, apesar de não concordar algumas vezes com a maioria delas.

O ômega havia tomado algumas aulas de direção no carro do duque e já havia dirigido sozinho, para espanto dos súditos londrinos.

Ele era atualmente a revolução em pessoa.

— Hoje à tarde tomarei chá com Mme. Davaux então me espere aqui em meus aposentos. Quero você quando eu voltar. — Jimin avisou, se levantou da cama e vestiu o roupão.

Displicentemente confortável sobre os lençóis de seda pura, com apenas uma ponta da colcha de matelassê escondendo sua nudez, Jungkook observou Jimin andar até o recamier. Cruzou os braços abaixo da cabeça e esboçou um leve sorriso.

— Estou me sentindo como um garoto da Maison recebendo ordens de um cliente! — exclamou.

— E isso é ruim, alfa? — Jimin se aproximou da cama e abaixou o tronco de modo a encarar o marido. — Me diga se esse nosso arranjo não lhe agrada, talvez eu deva reduzir suas visitas aos meus aposentos?

Num ato abrupto, Jungkook o segurou pelos ombros e o girou na cama, colocando-se entre as pernas dele. Fitou-o nos olhos, mantendo o contato visual por alguns minutos.

— Você me intriga absolutamente, Jimin. Nunca sei qual será seu próximo passo ou sua nova decisão. Sinto-me perdido, completamente refém das suas vontades.

Jimin percorreu com a palma das mãos os braços fortes de seu marido, dedilhando as veias grossas do antebraço até o final do punho. Mordeu os lábios enquanto o encarava de volta.

— Esse é o nosso arranjo, Jungkook. Não temos um casamento de verdade, apenas compartilhamos sexo e eu estou plenamente satisfeito. Há alguma objeção de sua parte?

Jungkook engoliu em seco. Estava completamente envolvido por Jimin.

Apaixonado. Irremediavelmente apaixonado pelo ômega.

Mas jamais deixaria transparecer sua fraqueza.

Ele havia falhado em seu plano inicial.

Era um alfa fraco e indefeso nas mãos de seu ômega, completamente a mercê.

E sentia-se cada vez mais culpado por isso. Havia sucumbido miseravelmente.

— Vamos fazer como você quiser, ômega. — ele respondeu, a derrota óbvia em seu tom de voz.

— Ótimo! Agora me deixe ir, preciso ir até o castelo me encontrar com Edward e Hyejin. Ah, hoje à noite após o jantar, Taehyung virá até aqui para que possamos mostrar a você a caixa com as provas da participação de Jisung na organização. Eu devo isso a você. — Jimin completou, pedindo passagem entre os braços do marido para que pudesse sair dali.

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Os dias em Norwich já não eram mais tão aprazíveis quanto antes.

Dahye passava a maior parte do tempo treinando os novos empregados, que agora possuíam direitos trabalhistas e contrato de prestação de serviços instituídos por lei.

Graças ao ômega duque Jeon Jimin.

Desde que Jimin assumira o conselho de direitos sociais, a regulamentação dos empregados domésticos fora uma das suas primeiras ações no cargo.

E por certo, esse ato de Jimin causou um alvoroço sem precedentes na corte. Todos os empregados do reino deveriam obrigatoriamente receber salário pela jornada de trabalho que exerciam e que não poderia exceder oito horas diárias. Além disso, esses trabalhadores adquiriram o direito de um descanso remunerado, que era combinado com os patrões geralmente aos domingos. E o patrão que não acatasse a nova legislação, receberia multa e até mesmo a proibição de ter qualquer empregado dentro de seu casarão.

E era exatamente sobre esse ato, que a condessa de Norwich praguejava aos quatro cantos no escritório do marido, após ter dispensado mais um beta que não aceitou continuar trabalhando sob os termos ilegais dela.

— Maldita hora a qual me consultei com a sacerdotisa e pedi a ela que engravidasse! Maldita seja aquela mulher que tocou minha barriga e nove meses depois eu pari o mal nessa Terra! — ela esbravejava enquanto Jisung se mantinha imóvel, analisando alguns documentos.

Assim que casou-se com Jisung, a duquesa não conseguiu engravidar por vários meses e esse fato a fez pensar que era uma ômega infértil. Havia entre as ômegas da aristocracia que não conseguiam engravidar o hábito de se consultarem com uma sacerdotisa que vivia nas montanhas e manipulava o fogo, tendo logo seus objetivos alcançados após a magia misteriosa da feiticeira. E com Dahye não havia sido diferente. Seu medo em não engravidar e ser mal falada na corte era maior do que qualquer outra coisa que pudesse manchar sua reputação. Então ela visitou a mulher algumas vezes, tomou os chás indicados por ela em busca de sua graça que veio nove meses depois.

— Jimin é o ser maligno que saiu do meu ventre! Tudo de pior que aconteceu em minha vida foi tê-lo colocado nesse mundo! — ela bateu as mãos na mesa em que o marido assinava alguns papéis e ele a olhou com desdém.

— Pare de gritar, está me atrapalhando. — ele voltou o olhar para os documentos. — O que deveria fazer era se aproximar de Jimin e ganhar a confiança dele, não o contrário.

— Aquele garoto se tornou um imundo, se veste como alfas, fuma charutos, se esfrega no marido publicamente como uma cadela no cio! Agora o rei o contrata para atuar como um defensor dos pobres e oprimidos! Como se essas pessoas miseráveis tivessem alguma escolha a não ser servir a nós, os abastados! — ela estava consumida pela cólera.

O fato de ter Jimin sendo requisitado nos chás mais importantes de Londres feria Dahye de morte. Ele jamais a citava ou convidava para acompanhá-lo, fato bastante curioso nos modismos tradicionais, uma vez que ômegas casados jamais iam a chás sem a companhia de sua mãe ou pai ômega ou de um criado.

Mas Jeon Jimin era peculiar e estava ditando moda.

Usava ternos bem recortados que já serviam de inspiração para as festas que aconteciam no palácio. Era a nova tendência das ruas.

E provando mais uma vez que ele era livre e tomava suas próprias decisões, Jimin estacionou o carro em frente ao ateliê que Patrizia havia aberto na parte nobre da cidade e desceu. Ele vestia um terno de três peças reto, justo ao corpo, inteiramente preto, assim como a gravata. Os sapatos eram lisos de bico redondo, tão lustrosos quanto um espelho.

Impecável.

Assim que atravessou a rua e colocou os pés na calçada, seu ombro esbarrou abruptamente em alguém.

— Oh, me desculpe! — ele foi cauteloso ao se escusar.

Então sentiu um arrepio forte na espinha assim que teve as mãos da mulher tocando seu ventre.

— Alfa?! —ela disse absolutamente espantada, como se houvesse descoberto algum segredo impossível. Colocou a outra mão no ventre de Jimin, deixando-o desconfortável. No entanto ela ansiava aquele toque, desejava-o para si.

— Eu sou ômega. — Jimin respondeu desconfiado, haja vista que sua genética era óbvia.

Ela fechou os olhos, inalando profundamente o aroma de pêssego adocicado que pairou no ar, espalmou as duas mãos no ventre de Jimin que dessa vez, se desvencilhou do toque invasivo e constrangedor.

— Preciso ir. — ele avisou, se afastando imediatamente daquela mulher inconveniente.

Ela apenas o acompanhou com o olhar, eletrizada. Colocou o dedo indicador na boca e lambeu a ponta, fechando os olhos.

— Tão saboroso... — acompanhou com os olhos a sombra de Jimin se distanciar — minha missão está prestes a terminar. — disse, atravessando a rua que dava acesso ao condado de Norwich.

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Jimin segurava a caixa que continha as provas que incriminavam definitivamente Jisung. Estava na presença de Taehyung que fora convidado também para fazer parte daquela reunião.

Esperavam por Jungkook na biblioteca do casarão e eles o aguardavam com impaciência.

— Boa noite, me desculpem o atraso. — o alfa entrou pela porta e nem ao menos havia retirado o sobretudo.

Jimin o observou tirar o casaco e o chapéu. Amava observar os mínimos gestos de seu marido.

O excitava profundamente. No entanto, a presença de Taehyung no recinto o acanhou momentaneamente.

Viu Jungkook pegar um charuto e uma dose de hidromel e sentar-se diante de si.

— Essa caixa contém as provas que associam meu pai à organização. Talvez seja possível encontrar algo que você almeja. — Jimin falou usando um tom moderado, quase esboçando ansiedade.

Embora soubesse que esse ato pudesse causar o afastamento de seu marido, Jimin sabia que era o certo a fazer, afinal, a vida do rei Edward poderia estar em risco. Havia motivos concretos para ter o mínimo de cuidado e o ômega se preocupava com isso.

— Veremos o que Jisung andou aprontando. — Jungkook disse displicentemente, tentando amenizar a tensão que se formava.

O duque segurou a caixa e retirou os pertences dali um a um. Analisou primeiramente a agenda mortuária a qual Taehyung trouxera consigo e a folheou em silêncio.

Ambos, Jimin e Taehyung, observavam cada gesto mínimo que a face do alfa esboçava, tentando decifrá-la.

Entretanto, Jungkook rompeu o silêncio.

— Pelo que Taehyung nos contou, Jisung era parte da organização BlackCrow juntamente com o Kim e outros alfas. Isso era algo que já imaginávamos. — o duque disse, colocando a agenda de lado e verificando os outros pertences na caixa.

— Sim, duque. Ainda teremos o julgamento de Kim Namjoon na próxima semana e segundo Edward será definitivo. Precisamos juntar quantas provas pudermos e inquirir o alfa, sem deixar escapatória dessa vez. — Taehyung concluiu.

Buscando por mais alguma prova, Jungkook retirou todos os papéis da caixa e a girou de cabeça para baixo intrigado com um barulho estranho que ouviu ao movimentar o objeto. Sacudiu a caixa devagar e viu cair dali um anel de corvo.

Segurou a peça na mão e a observou com extrema minúcia. Era idêntico ao seu.

Provavelmente era o anel que Jisung usava no dia da final do campeonato de pólo. O dia em que sentiu que poderia fazer sua vingança.

Então algo absolutamente óbvio surgiu em sua mente.

Não havia qualquer certeza que fora Jisung o algoz de seu pai. Não havia provas cabais de que fora Jisung quem apertou aquele gatilho.

E esse fato fez Jungkook perder a própria noção da realidade daquele momento.

— Esse anel provavelmente era de Jisung. — Tae disse assim que viu o alfa segurar o objeto.

No entanto, Jungkook nada respondeu, enfiou a mão no bolso interno do paletó e retirou a réplica do anel de corvo que mantém sob sua posse há dezoito anos.

Jimin e Taehyung se entreolharam, presenciando a cena completamente estupefatos.

— Alfa, por qual motivo você tem um anel idêntico ao de uma organização criminosa? — Taehyung se levantou da cadeira, fixando seus olhos arregalados nos objetos.

E depois de um gole em seu hidromel, o duque de Strand olhou para o beta e falou:

—Não se preocupe, você não é amigo de um criminoso. — riu da própria fala. — Esse anel que tenho sob meus cuidados na verdade foi esquecido pelo algoz do meu pai. Meu amado pai, o alfa mais honesto e bondoso que pude conhecer, Jeon Jungseok. — havia um tom de decepção em sua voz. Mas havia também melancolia e saudade.

Jimn sentiu o amargor em sua boca ao ouvir o alfa falar sobre o pai daquela maneira tão intimista e profunda. Pode sentir a visão turva, uma vontade avassaladora de chorar no colo do marido e dizer que sentia muito.

Mas ponderou, pelo menos naquele momento era prudente manter o controle.

— Alfa, saiba que todos os esforços serão feitos pela Corte para que Jisung tenha a pena que merece por ter cometido um crime tão grave. — Taehyung disse pausadamente. — Precisamos apenas do depoimento de Namjoon e dos demais membros.

— Mas Tae, nós nem sabemos se realmente foi meu pai quem matou Jeon Jungseok... — Jimin falou, porém assim que teve os olhares do marido e do amigo o fitando, arrependeu-se amargamente de ter proferido aquelas palavras.

Ele se viu novamente defendendo o pai criminoso. Inconscientemente.

— Sim, Jimin. Nós ainda precisamos provar que seu pai tirou a vida do meu. — ríspido, o alfa apenas suspirou. Levantou-se do sofá e acendeu o charuto, indo para a janela de modo a exalar a fumaça.

Notando a angústia do amigo de infância, Tae estendeu sua mão e segurou a de Jimin, num gesto de pura simplicidade e apoio. Certificou-se porém, que o duque não os observava quando balbuciou que tudo ficaria bem.

— Bom, tenho que ir. Voltarei para a NewBrook's Farm hoje, tenho um compromisso com Yoongi. Até a próxima semana, Jimin, alfa. — ele se levantou retirando-se do local.

— Estou indo para meus aposentos, você vem? — Jimin indagou o marido com a voz baixa, quase embargada.

— Não. Passarei a noite aqui fumando. Boa noite. — o duque respondeu usando o tom que Jimin não apreciava. Levantou-se do sofá e segui para a porta da biblioteca.

— Boa noite, alfa.

Então ele subiu as escadas e seguiu para o quarto.

Afrouxou a gravata, retirou a camisa, abrindo os botões um a um.

Enquanto isso deixava as lágrimas rolarem por sua face. Seu peito desnudo subia e descia conforme seus suspiros se intensificavam.

Segurou na fivela delicada do cinto e o afrouxou também, descendo o zíper da calça.

Então jogou-se na cama agarrando ao travesseiro e desabando num choro copioso, ressentido, magoado e repleto de tristeza.

Sentia muito por Jungkook.

Sentia muito por si mesmo. Por não conseguir ter a certeza que seu futuro seria de fato feliz.

— Só existe uma coisa a ser feita. A coisa certa. — falou em meio ao choro, girando o corpo em seguida.

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Uma semana depois...

Namjoon suava frio, deitado no colchão precário das solitárias masmorras do castelo...

...— Victória, vá chamar seu irmão, é hora de irmos para as montanhas. — sua majestade, o rei Edward Augustus pediu à filha.

— Papai, ele é bem grandinho, já deveria saber o que faz sem que eu precise o dizer. Somos gêmeos, temos exatamente a mesma idade! — a pequena princesa ralhou em resposta. Sua geniosidade era seu cartão de visitas.

— Vocês dois são como carne e unha, Victória, não me diga que brigaram? — o rei perguntou num tom amistoso se aproximando da filha e afagando-lhe os cabelos.

— Não brigamos, apenas não quero chamá-lo. — A rebeldia da garota de apenas sete anos se fez presente e o rei apenas riu da atitude dela...

...O alfa girou o corpo dolorido por cima da cama precária, mas não despertou de seu pesadelo...

...— Não me levem! Socorro! Socorro, papai! — o garoto gritava a plenos pulmões tentando se desvencilhar das mãos pesadas do caçador.

— Não grite, garoto! — o homem bruto amordaçou a criança indefesa com um pano e o segurou mais forte os braços. — Se continuar gritando será muito pior!

E assim o menino apenas deixou que lágrimas densas lhe rolassem pela face enquanto a dor de ser raptado por um desconhecido lhe consumia o peito....

Namjoon finalmente despertou e com apenas um movimento rápido, sentou-se na cama.

Secou com a mão direita uma lágrima que rolou sem permissão por sua face.

Não se lembrava do motivo pelo qual havia chorado.

Tivera um sonho ruim, talvez?

Não se esforçou para lembrar, enfim.

Aquele dia seria o seu acerto de contas. Estava exausto, sem qualquer perspectiva de futuro e seu passado o rondava, o assombrava diuturnamente, sem qualquer trégua.

Ouviu passos se aproximando de sua cela e suspirou profundamente ao ver a figura tão familiar aparecer diante de si.

— Bom dia. — Seokjin foi reservado no tom.

— Bom dia. É você quem irá me escoltar até meu julgamento? — Namjoon usou o deboche habitual para indagar o beta. — Terá coragem de andar sozinho comigo ao seu lado, sem usar a guarda real?

— Não seja pedante. Sua condição atual não lhe permite caçoar dessa forma sobre um assunto tão sério. — Seokjin foi enfático.

— Sim, Jin. O assunto é extremamente sério. E se é uma confissão que eles querem, eu darei!

Assim que completou sua fala, Namjoon pode ouvir os guardas se aproximando da cela.

E ele sabia que a hora havia chegado. Teve seus pés e mãos acorrentados e seguiu escoltado pelas escadarias do castelo, podendo vislumbrar pela primeira vez em algum tempo através das grandes janelas, a movimentação das pessoas pelas ruas do reino.

E enquanto observava nostálgico os transeuntes com suas dinâmicas rotineiras, Namjoon avistou um casal que o chamou a atenção.

Um homem de terno preto e chapéu conversando intimamente com uma mulher... uma mulher vestida de vermelho, cabelos esvoaçantes de mesma tonalidade, que tocava o ombro do homem o qual conversava com bastante intimidade.

A estranheza da cena fez Namjoon parar imediatamente:

— Park Jisung?! — disse alto, estupefato.

Viu o conde de Norwich retirar uma quantia em dinheiro e entregar a mulher de modo discreto, tendo ela retribuindo com um beijo na face do homem.

— Vamos, prisioneiro, o recreio acabou! — os guardas o advertiram, puxando-o bruscamente.

A incredulidade e ultraje banharam a face do alfa de ira absoluta.

Jisung estava envolvido com a mulher que arruinara sua vida.

Maeve o havia enganado, roubado sua fortuna e jamais havia dado aquilo que o prometera.

O poder.

Ele não se passava de um pobre súdito moribundo naquele exato momento, correndo o risco de ser entregue à forca, enquanto Jisung estava livre, confabulando com a sacerdotisa. Colocando em prática todos os ensinamentos que a BlackCrow o ofereceu.

Essas constatações o asfixiavam pouco a pouco e ele já não controlava mais seus passos.

Sua busca egoísta e sua vontade de se vingar de Victória, o cegaram de maneira absoluta, fazendo-o chegar até ali, sem qualquer perspectiva de futuro.

Perdera o seu amor à medida em que buscara por vingança. Perdera seu doce e amado Jin.

Seu queixo trincou ao perceber definitivamente que ele buscou por vingança.

Enquanto ele deveria ter buscado por amor...

...— Majestade, há um rapaz lá fora exigindo falar-lhe. — o conselheiro da recém nomeada Rainha Victória a avisou.

— O que esse rapaz quer? Não falo com qualquer súdito diretamente! — Victória respondeu com mau humor habitual.

— É... bem... ele diz que é seu irmão...

A lembrança do fatídico dia em que havia tomado coragem para ir de encontro a Victória após ter sido raptado e abusado de todas as formas por um caçador do reino da Alemanha, fez Namjoon perder o ar de seus pulmões.

Victória não o aceitou de volta.

Victória ao menos se comoveu quando ele a relembrou sobre as histórias de infância vivida pelos dois, provando que era quem dizia ser e mostrando a pintura no pequeno papel, onde os dois estavam sentados no colo do rei a qual ele carregava consigo no bolso do paletó quando fora raptado.

Mas mesmo assim, ela o rejeitou.

Ela estava obcecada pelo poder e jamais cederia o trono ao irmão que se tornaria rei por direito.

Para comprar-lhe o silêncio, ela ofereceu o título de Duque de Westminster e posses suficientes para que ele nunca mais voltasse ali. E o fez jurar diante de sua espada que ele jamais a procuraria novamente e que nunca reivindicaria o trono.

E Namjoon aceitou, dada as circunstâncias miseráveis que se encontrava, mas a dor da rejeição o fez jurar vingança contra o reinado de Victória.

No entanto, manteve guardado consigo a pintura de infância. A lembrança mais pura de quando era feliz.

E como contra-ataque, criou a BlackCrow com intuito de tirar dinheiro da corte, mas sem atingir a rainha diretamente.

Afinal, Namjoon sempre amou sua pequena e mal humorada irmã...

...— Vic, quando papai morrer, seremos rei e rainha. Podemos reinar juntos, o que acha? — Namjoon perguntou enquanto brincava de arco e flecha com a irmã, nas montanhas do sul, como sempre faziam nas manhãs de sábado.

— Acho que não é assim que funciona. Irmãos não podem reinar juntos. E como você é macho, o trono é seu por direito. — Victória disse com a voz emanando indiferença ao passo em que alinhava a flecha no arco para dar o próximo tiro.

— Então eu renuncio e você será a rainha! — o irmão falou com um sorriso amplo nos lábios. — Estamos juntos desde a barriga da mamãe, Vic, eu te amo muito! — ele estendeu os braços e estreitou a garota contra o peito. Victória nada disse em contrapartida...

Namjoon suspirou ao relembrar aquela cena.

Seus olhos queimaram. Parou em frente a grande porta de madeira da sala de julgamento e exalou o ar de seus pulmões com tamanha força que o barulho ecoou pelo ambiente.

Ele já não sabia mais o que seria do seu destino.

— Faça o que deve ser feito. Acabe logo com seu sofrimento. — Seokjin sussurrou próximo ao seu ouvido e se distanciou.

Havia chegado a hora do acerto de contas.

Namjoon foi guiado até a cadeira central e pôde notar a presença de conselheiros reais, de um juiz e de um advogado. Esse último, um alfa recém-formado em Direito, se aproximou dele e o pediu:

— Negue todas as acusações. Precisamos de tempo para moldar nossa defesa.

Namjoon não o respondeu. Não queria defesa, queria apenas acabar com seu sofrimento assim como o amor de sua vida o havia implorado.

Olhou mais uma vez para o amplo salão e ouviu de relance Edward pronunciar algumas palavras iniciando a sessão.

— Iniciaremos, portanto, o julgamento do alfa Kim Namjoon, deposto do título de duque de Westminster e acusado de traição contra a Coroa. O réu tem o dever de responder todas as perguntas que serão feitas pelo conselheiro de investigação nomeado por mim, Kim Taehyung, ao qual dirijo a palavra. — o rei fez o gesto para que Taehyung fosse para o centro da sala.

— Obrigado, Majestade. — o beta parou em frente a Namjoon — Temos provas, alfa. — Ele usava um chapéu preto e uma composição de colete e paletó com suspensórios. Presente de Jimin.

— Vocês vieram até mim dizendo sobre terem provas e até agora não prenderam mais ninguém. Estão blefando. O verdadeiro assassino está à solta, confabulando com a sacerdotisa para ser mais exato. — Namjoon falou pausadamente, evidenciando sua exaustão.

Tae nem sequer deu ouvidos às reclamações indubitavelmente pertinentes e num bufar entediado, replicou:

— Jisung já o entregou. — disse sem encarar o alfa. — Aliás, todos os participantes dessa organização a qual você fazia parte, já falaram o suficiente. Diga o que sabe e o rei Edward poderá dispor de alguma misericórdia.

Namjoon pareceu surpreso com as informações trazidas pelo beta, porém ainda se mantinha rígido, procurando entender as palavras com exatidão.

— Quem é você, beta? Por que acha que irei aceitar um interrogatório de um reles serviçal? — Agitou-se na cadeira, irritado com a presença desconhecida diante de si ao se tratar de um assunto tão sério.

— Sou Kim Taehyung, o conselheiro de investigações da corte.

O alfa arregalou os olhos.

— Um beta!? Tal cargo exige a casta de um alfa experiente! O que um beta como você sabe sobre crimes? — A empáfia e soberba de Namjoon ainda não haviam se dissipado, mesmo estando em condições pouco favoráveis. Havia se tornado frio, mesmo sendo uma criança tão doce na infância. As dores haviam endurecido de vez seu coração e alma.

— Tem razão, alfa. Não sei nada sobre crimes. Não tanto quanto você e sua organização. Crimes? Eu os soluciono! Não os cometo como você!

— Ora!

Fazendo menção de se levantar para confrontar o beta, Namjoon teve seu corpo impedido de seguir por um dos guardas que faziam sua escolta.

— Nada do que disser me ofenderá, alfa. Estou aqui para fazer meu trabalho a pedido do rei. Vamos terminar logo com isso e posso interceder por sua pena. Podemos transformá-la em prisão com um tempo estipulado e não uma definitiva pena de morte. Tudo dependerá da sua colaboração.

Taehyung já havia conversado com o rei sobre mudar o tipo penal de alguns crimes no reino e colocar um fim na pena de morte. Ele achava prudente que um tribunal fosse organizado com a participação de conselheiros e que assim fosse decidido a pena dos criminosos. Tudo com o aval de um juiz.

Os juízes normalmente decidiam as penas sem ao menos ouvir os acusados ou analisar qualquer prova. Todos os capturados, sem que houvesse clemência de algum alfa influente, eram sumariamente decapitados, apenas baseado em denúncias, muitas vezes sem direito a defesa ou juntada de provas.

E isso era absolutamente injusto na visão humanista de Kim Taehyung.

O beta lia livros sobre direito que faziam parte do acervo da biblioteca do castelo quase que diuturnamente. Ficara horas estudando e perguntando aos anciãos do castelo sobre como os crimes eram solucionados ali. Inclusive, conheceu uma jovem ômega que veio da França acompanhar a tia num passeio ao reino e soube que a moça era formada em Direito. Tirou o máximo de conhecimento que pôde da garota e ainda foi encorajado a ir para França estudar na universidade de Sorbonne. Prometeu que ia pensar e ela prometeu que faria uma carta de recomendação para ele, facilitando assim o ingresso na universidade.

E o sonho do rapaz aumentara ainda mais.

Mas ali na sala de interrogatório, Tae já se portava como um doutor advogado com anos de experiência.

— Park Jisung nos disse que você era o mandante de todos os crimes. Aquela caderneta com os nomes riscados fora ideia sua inclusive. — mentiu, usando o blefe das palavras inexistentes do conde de Norwich, uma vez que ele nunca fora interrogado.

— Eu nem ao menos sei do que está falando, beta. Não tenho conhecimento sobre caderneta alguma. — Namjoon olhou para baixo, exausto, seus pensamentos e atos estavam dissonantes, tamanho o seu nervosismo.

— Vamos alfa, pense com sensatez. Quanto mais rápido resolvermos isso, mais rápido saberá seu destino.

— E qual será o meu destino se eu disser o que sei? — Namjoon perguntou sem ao menos olhar o beta nos olhos.

— Dependerá do quão satisfeito a mesa e os juízes ficarão com a sua confissão, alfa. — Taehyung esboçou um leve sorriso. Era astuto o suficiente para não ser enganado.

— Sim, beta. — Namjoon bufou em derrota. — O que Jisung lhe disse era verdade. Seja lá o que ele disse. Não importa agora. Uma vez que ele venceu, nada mais importa, não é mesmo? Se eu disser que ele está nesse exato momento confabulando crimes contra a corte e se envolvendo com uma sacerdotisa que manipula as pessoas ao seu bel prazer, vocês irão acreditar em mim? Se eu disser que fui encantado pela mulher a ponto de entregar todas minhas posses e me tornar um miserável porque tentei dar um golpe na rainha e no final das contas fui golpeado, vocês irão acreditar em mim?

— Quem matou Jeon Jungseok e essas outras pessoas que estão descritas nessa caderneta, alfa? — Taehyung se abaixou e olhou destemidamente nos olhos de Namjoon. Queria por um fim imediato àquele interrogatório.

— Eu nunca apertei qualquer gatilho. Jackson era quem matava a maioria. Jung Sangwoo também o fazia com frequência. Ao que me lembre, a vida do comerciante Jeon foi ceifada por Park Jisung, em seu batismo na organização. Era isso que queria saber?

— Por quê? Por qual motivo mataram Jeon Jungseok? — O sangue de Kim Taehyung fervia em suas veias.

— Talvez porque ele sabia demais... — Namjoon abaixou a cabeça, demonstrando pela primeira vez algum traço de remorso.

— Você era o mandante? Diga e acabaremos com isso.

— Eu não me lembro.

— Ora, alfa! Vai dizer que está com amnésia agora! — Taehyung fez os presentes rirem com sua atuação impecável.

— Como eu disse a sacerdotisa consegue manipular pessoas, eu estava obcecado por ela e obcecado pelo poder. Não retiro minha culpa, mas saibam que fui instigado a isso!

Namjoon já não achava mais necessário continuar a falar com aquelas pessoas sobre o assunto que deveria tratar diretamente com seu sobrinho.

— A partir de agora tudo que tenho a dizer será dito apenas na presença de Edward. É assunto de família.

Todos os presentes ficaram em silêncio e Taehyung franziu o cenho.

— Será feita sua vontade apenas se o rei permitir.

— Não tenho nada a falar a sós com você, alfa. Não existe assunto a tratar em particular com um criminoso. — Edward foi enfático.

— Garanto que você ficará surpreso em saber o quanto temos em comum, majestade. Prefiro que seja nas masmorras, tenho algo a lhe mostrar. Leve Matilda com você. Ela irá confirmar o que tenho a dizer.

O rei, tomado pela curiosidade vinda do convite feito pelo alfa, ordenou que os guardas levassem Namjoon de volta as masmorras.

Ordenou que buscassem a mãe ômega e a levassem também.

E a pedido do prisioneiro, entrou na cela e ouviu tudo o que ele tinha a dizer, tendo os dois seguranças o escoltando na cela.

E Namjoon não poupou os detalhes, narrou tudo com minúcia. Desde seu nascimento ao lado da irmã gêmea que ceifou a vida de sua mãe no parto prematuro.

Desde os primeiros passos de Victória, a menina ranzinza e mau humorada a qual ele nutria um carinho protetor.

Desde as brincadeiras na montanha, os passeios com o pai. Desde que fora raptado e tivera os piores dias de sua vida.

Narrou também sua volta a Londres, ao lado do beta que conheceu enquanto procurava abrigo num vilarejo nos Alpes Suíços. O beta que lhe fez relembrar o significado de família.

Edward ouvia tudo, perplexo. Não interrompera Namjoon, seu tio, nenhuma vez sequer.

Matilda confirmou os fatos narrados pelo alfa quando ele contou sobre seu encontro desastroso com Victória.

Mas a pobre Matilda não tinha qualquer importância para o reino. Jamais poderia dizer o que sabia.

— Mamãe, assim que mamãe morreu você poderia ter me contado, mas se afundou em depressão... eu sou um rei usurpador! — Edward lamentou e Matilda segurou a mão do filho, inerte.

— Não pense que usurpou o reino, Edward. Você não sabia de nada. — Namjoon surpreendentemente o acolheu. — Eu acho que você precisava saber, e não pense que fiz isso porque desejo seu perdão. Errei, cometi crimes e estou aqui disposto a consertá-los.

— Você e JinJin eram um casal... — Edward relembrava os acontecimentos narrados anteriormente com a face petrificada.

— Sim, e eu joguei o amor dele fora porque queria vingança. Jamais terei o perdão dele. E sofrerei por isso a cada segundo que me resta dessa vida.

— Mas se sou o rei usurpador, a partir de agora devo devolver o título a você, meu tio...

— Não, Edward. Eu não quero. Ter vivido esses meses em clausura me fez perceber que poder nenhum trará minha paz. Eu errei com todos. Não sou digno de ser rei. Quero apenas que tudo acabe e cumprirei minha pena segundo as ordens do reino. Mas peço, em nome de sua segurança, que não diga a ninguém sobre o que ocorreu aqui.

O choque por ter sido enganado por Jisung e pela sacerdotisa mudou a percepção de Namjoon quase que imediatamente. Ele sabia que não havia mais nada a ser feito.

Apenas o certo a se fazer.

— Manterei esse segredo de família apenas comigo e com as pessoas certas. Terá minha palavra. — Edward prometeu.

— E assim que tudo terminar gostaria de poder voltar a montanha do sul. Saber se a casa de madeira que construí com Victória ainda resta.

A lembrança fez com Edward rememorasse momentos bons de sua infância e ele permitiu que uma lágrima rolasse por sua face.

— A casa está onde você deixou, tio. Mamãe me levou algumas vezes e JinJin também dizia que aquele local trazia paz. — o rei deixou aflorar o lado sentimental que jamais havia demonstrado.

— Jin veio até aqui buscando emprego a meu pedido. Mas quando eu quis me vingar de Victória ele achou prudente que terminássemos nosso relacionamento. Ele havia jurado lealdade à rainha antes que eu lhe contasse que queria me vingar. Ele sempre honrou nossa família e fez a coisa certa. Ele não era um espião. O erro foi apenas meu.

Edward ainda processava as informações como se uma avalanche o tivesse atingido. Sabia que precisava amadurecer como um rei e proteger os interesses da corte e dos súditos dali, mas também precisava fazer justiça.

O silêncio permaneceu nas masmorras por instantes até que ele finalmente se pronunciasse.

— Busquem Park Jisung. Prendam-no nas masmorras. Irei convocar um novo julgamento e dessa vez serei implacável. — ordenou, mas havia apenas um segurança o escoltando naquele momento.

𓅂

— Sua esposa lida bem com o fato de você ter uma amante? — Maeve perguntou, deitando-se ao lado de Jisung na grande cama de casal do casarão de Norwich.

— Eu nunca a indaguei. Deveria me preocupar? — o conde usou de deboche em suas palavras.

— Soube que seu filho tem que colocado revolução na mente dos ômegas, acho que em breve deverá se preocupar com o que sua esposa pensa.

— Ela nutre um ódio mortal por Jimin. Jamais seguirá qualquer tendência que ele propague.

— Seu filho é um ômega muito bonito... — a ruiva disse, saboreando o conhaque denso que apanhara na mesinha de canto — há séculos não via um lúpus tão intrigante.

— A mãe dele sempre foi muito exigente. Mas mesmo assim Jimin se rebelou. Acho que faltou pulso firme. — Jisung tocou os quadris da mulher, acariciando o local de forma erótica.

No entanto, Maeve apenas olhava um ponto fixo qualquer, obstinada a não perder o foco do assunto.

— Ele casou-se com um alfa muito abastado. Fez um ótimo casamento, a propósito.

— Sim, o duque Jeon tem muitas posses.

— Ele é estrangeiro? — a mulher queria mais informações. — Nunca vi esse sobrenome pelas redondezas.

Algo empertigou Jisung naquele momento. Ele também nunca ouvira falar sobre as origens de Jeon Jungkook, além de Magnólia que sabidamente era uma tia distante.

Então sua mente o levou para dezoitos anos atrás, num dia chuvoso....

— Não pode ser... não faz o menor sentido...

Sacudiu a cabeça e reviveu da memória o momento em que apertou o gatilho.

— Jeon... Jeon Jungseok...

A figura do menino abraçado ao pai morto no chão surgiu sem pedir passagem em sua mente.

"— Papai!!"

Viu a cena de seu anel de corvo rolando pelo chão.

E uma gota fria de suor desceu pela têmpora de Jisung.

— Não pode ser...

A sua sede pelo poder o cegou de tal forma que ele jamais associou o nome de Jeon Jungkook ao de sua vítima, Jeon Jungseok.

— Acalme-se, querido. — Maeve pediu, colocando suas mãos no peito abaulado do alfa. — Isso já não importa mais, ninguém saberá.

Jisung estava em pânico. Sua respiração era descompassada.

— Jeon Jungkook, o filho do alfa que eu tirei a vida é marido do meu filho! Como isso passou completamente despercebido por mim? É tão obvio! — ele sentiu o peito se aquecer pelo atrito das mãos de Maeve e uma densa aura relaxante o arrebatou.

— Tudo será solucionado em breve, não há o que temer. Esperei séculos, atravessei eras e finalmente encontrei o que tanto procurava. A união de dois lúpus permitirá o nascimento daquele que nos dará a vida eterna! — ela festejou e Jisung pode notar que os olhos dela se tornaram escarlate, da mesma cor de seus cabelos.

— O que quer dizer?

— O quero dizer é que deverá trazer Jimin para perto, devemos cuidar dele e do filhote que ele espera.

— Jimin está esperando um filhote?! — a incredulidade estampada na face do conde.

— Sim! Um alfa! Um lúpus puro, filho de dois machos igualmente puros! — ela permanecia em êxtase. — Devemos fazer com que sua esposa traga Jimin para cá e assim podemos cuidar bem dele. Dar os chás para fortificar o filhote, para que o parto ocorra na hora exata e sem quaisquer problemas. — ela planejava tudo em detalhes.

— Não creio que seja uma boa ideia... Dahye jamais faria isso e...

— Você não almeja o trono, Park Jisung? Não almeja o poder? Ora, se matar um pobre alfa comerciante não endureceu seu coração o que mais poderá endurecer?

As palavras da mulher aguçaram a sede pelo poder instigada em Jisung desde que pisara em Norwich. Sua entrada para a organização apenas aflorou o que havia de pior dentro si.

Inveja, cólera, desejo de posse.

Não nutria sentimento qualquer pelo filho, assim como sua mulher. Jisung achava que apenas cumpria o dever de pai, dando-lhe comida quando ele era apenas uma criança.

Jimin agora era um ômega crescido. E deveria honrar sua família, uma vez que recebeu comida e abrigo, constatou o alfa.

Então, olhando para a face banhada de luxúria da sacerdotisa, ele decretou:

— Faremos conforme o seu plano.

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Voltei como prometido! Me sinto tão feliz de conseguir entregar esse capítulo pesadíssimo!

Acho que ninguém acertou sobre o passado de Namjoon, hein...

Muitas percepções quanto aos personagens podem mudar de acordo com o desenrolar da história... Ninguém nasce, cresce e parte desse mundo sem alguma transformação. Somos seres cíclicos e quero mostrar isso aqui. Alguns merecem redenção, outros uma punição severa. Cada um na sua jornada.

Sei que o desenrolar pode não agradar alguns de vocês de alguma forma, mas cest la vie, como diria Mme. Davaux.

Próximo capítulo é paulada de novo, se preparem. 😔

Tempos difíceis virão...
Mas depois das tempestades vem a bonança!

Eu volto até 15 de janeiro! Colocar datas tem me obrigado a escrever mesmo quando me sinto desanimada e tem sido ótimo para minha recuperação!

Teoria sobre o que vai acontecer no próximo capítulo?? Darei um mimo para quem acertar! 👉

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