𓅂 𝓣𝓱𝓮 𝓖𝓸𝓸𝓭 𝓞𝓶𝓮𝓰𝓪

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#DocedePessego
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Deixem o voto e comentem!

Boa leitura!

— Há muitos anos, os primeiros híbridos se misturavam aos últimos homens e o mundo vivia em constante conflito. Alfas, ômegas e betas possuíam uma forte religiosidade e culto à natureza e tinham o Deus Lugus, o deus da luz, prosperidade e natureza como seu líder espiritual. Contudo o rei Thorus da Cornualha, onde nós moramos hoje, era extremamente cético e egocêntrico e não aceitava que cultuassem outros deuses dentro de seu reinado e por esse motivo, mandou caçar e matar todos os híbridos que não obedeciam a suas ordens.

A pouca luz vinda da lamparina que ficava ao lado da cama de Calista, refletia os olhos arregalados de Jimin, Lily e Taehyung. Assim que o jantar era servido no fim das tardes, as crianças desciam para o quartinho da empregada e ouviam as histórias de tempos longínquos.

— O rei Thorus dizia que quem alimentava o povo era ele e dessa forma não aceitava que houvessem deuses a serem agraciados pela boa colheita, ou pela chuva vinda dos céus. — Calista entoava a voz e dava dramaticidade à narração do conto. — A sacerdotisa do castelo, uma mulher ruiva misteriosa e aparentemente mais humana do que híbrida, tentou por muitos anos provar ao rei que o Deus Lugus existia e a insistência dela apenas causou mais ira e ódio no monarca, sendo a mulher expulsa do reino e proibida de voltar ali. Mas o que o rei não esperava era que a sacerdotisa fosse jurar vingança e navegar em porões de navios de carga até a Irlanda onde iniciaria seu plano para destruí-lo.

Um sonoro "oh" vindo das crianças fez Calista rir baixinho em contentamento. Era inverno em Londres e os pesados cobertores de lã merino cobriam os ouvintes interessados no desfecho da história.

— Ela foi recebida pela rainha Noelle da Irlanda, que era frequentemente cultuada como deusa por ter exercido poder e fascínio entre seus súditos. Ela era uma ômega muito bela e forte, dotada de uma mente brilhante, estrategista hábil, talhada para enfrentar todo o tipo de batalhas. Deusa da guerra, participou efetivamente de vários combates, pois os ômegas naquela época e cultura, não eram vistos como frágeis ou incapazes e lutavam bravamente. Assim que Noelle viu a ruiva, se apaixonou perdidamente e as duas se entregaram àquele amor considerado proibido, já que eram ômegas.

As crianças suspiraram, imaginando um belo final feliz e Calista notou a expectativa.

— Porém a sede de vingança da mulher ruiva a tornou cega e obcecada. Passou a usar constantemente seu poder de manipular as chamas e numa noite em meio aos campos floridos do castelo, viu a profecia de que ela geraria o lúpus, o príncipe eterno que destronaria Thorus e todos os reis do mundo. Em meio ao caos e tormenta que a vida da sacerdotisa se tornou, sua fixação por engravidar deixou a esposa triste e abalada e por mais que tentassem, elas nunca conseguiram gerar um filhote e foi bem aí que o mal se instalou.

— Que medo! — Jimin interrompeu a beta para demonstrar seu temor. Calista acariciou os cabelos dourados do pequeno ômega para confortá-lo, deixou um sorriso leve e prosseguiu.

— A mulher ruiva matou a esposa e fugiu novamente, escondendo-se em cavernas e manipulando o fogo contra os soldados inimigos. Com a intenção de providenciar um disfarce que a camuflasse a tempo de chegar a terras seguras, ela queimou a própria face com fogo ardente se tornando agora uma desconhecida.

Jimin se escondeu debaixo dos lençóis e foi seguido pelos dois amigos, completamente amedrontados pela mulher ruiva do conto e provocando risadas divertidas em Calista.

— Não se sabe mais qual a face da sacerdotisa, mas dizem que ela ainda procura como realizar sua profecia. — a beta concluiu.

— Eu acho que ela está aqui, Calista. — Jimin disse entre dentes, colocando apenas os olhos para fora do cobertor.

— Não diga bobagens, ninguém sabe como ela é ou com quem se parece. Como sabe que ela estaria aqui?

— Você disse que ela quer ter um bebê lúpus e a mamãe sempre me diz sou um lúpus e que não posso contar isso para ninguém, então eu acho que a mamãe me roubou e está me escondendo. — a mente fértil do garoto aflorou com o conto fantasioso narrado por Calista.

— Sua mãe apenas tenta te proteger, ela não roubou você. — a beta sabia que Jimin sentia a frieza da mãe em seu pequeno coração — Seu cheiro é maravilhoso, meu amor e atrai curiosos, é por isso que a condessa o protege. — afagou os cabelos dele, por fim.

— A mamãe também faz fogo com as mãos! — dessa vez foi Lily quem confidenciou.

— Basta! Não contarei mais histórias para vocês, ficam todos confabulando coisas que não existem. — Calista sobressaltou-se pegando a pilha de roupas dobradas que estavam em cima da cama de Lily e guardando-as nas gavetas da cômoda.

Tentando mudar o foco do assunto, ela resolveu provocar mais uma dose de pânico nos pequenos.

— Há algo sobre o Deus Lugus que vocês não sabem. — sua voz se tornou propositalmente sombria. — Ele tem o poder de se transformar em corvo e saber o que se passa com todos os seres da Terra. Portanto tomem cuidado comportem-se!

Dez anos depois...

Uma onda de violência, mortes misteriosas e saques rotineiros de mercadorias assolavam a paz e o sossego no reino. Victória não sabia mais o que fazer para frear os ataques e os súditos não se mantinham passivos diante aquele fato preocupante.

Inclusive a burguesia.

Reuniu às pressas seus conselheiros, a fim de encontrar alguma solução plausível para por fim àquela revolta social.

— O meu filhote foi raptado há dez anos e até hoje não superou o trauma, pobrezinho... — o conde de Norwich vociferou à mesa. — exijo que medidas sejam tomadas!

Jisung foi plenamente ouvido pelos presentes e por um Namjoon que exalava ira pelas narinas.

— Acredito que temos algo mais urgente para tratar no momento e graças aos céus, o seu filhote está a salvo em casa, então deixemos essa pauta para um momento oportuno. Prossiga, majestade. — o Kim passou a palavra para a rainha com um aceno de mão, ignorando veementemente a proposta um tanto absurda de Jisung.

O tom usado por Namjoon transpareceu uma carga de nervos aflorados que o conde de Norwich compreendeu nas entrelinhas. O conselheiro de tributos estava em maus bocados tendo um alfa que não fora capaz de perceber que instigar a fundação de uma investigação, ou até mesmo provocar a realeza para a instituição de uma polícia preventiva, minava drasticamente os trabalhos escusos da BlackCrow. Necessitava urgentemente reunir seus membros e colocar um pouco de consciência na cabeça de Jisung.

Victória percebeu a animosidade entre os alfas, mas ponderou sua próxima fala e não deu prosseguimento a discussão.

— Sim, temos algo urgente a tratar. — ela levantou-se de sua cadeira e caminhou até a ampla janela do salão de reuniões, permanecendo ali de costas para os conselheiros. — Há tempos alguns distúrbios de arruaceiros tem tomado conta das vielas de Westminster e creio que não irão parar tão cedo. — recebeu o silêncio dos alfas em resposta e então continuou. — Revoluções sociais estão na moda, é a nova onda em todo mundo e meu reino não está ileso. — seu tom foi mais ameno, se permitindo sorrir ao final da frase.

Victória era justa quanto ao pão na mesa dos súditos, dava trabalho e projetava o desenvolvimento econômico como ninguém. Por outro lado, seu viés altamente conservador e puritano, exigido principalmente na aristocracia, frisava que o papel do ômega era ser submisso, passivo e obediente, dedicando-se somente ao trabalho doméstico e cuidados com a prole. Os ômegas que ousavam a quebrar esses paradigmas perante a sociedade, enfrentavam preconceito e eram considerados fora do padrão adequado da realeza.

Excluídos do mundo público, dos negócios e recolhidos ao mundo privado do lar, por injunções de uma estratificação social fundada na diferença de classes, era de se esperar que os jovens ômegas de 'boa família' recebessem uma educação destinada apenas a fazê-los reluzir nas salas de visita e a cativar com o seu brilho o olhar de algum pretendente. Naquele reinado, um ômega adequado deveria ostentar determinados atributos, que incluíam: falar francês (e, se possível, latim), tocar piano, dançar, pintar, desenhar e mostrar proficiência no trabalho com a agulha. O problema seria como e onde os ômegas adquiririam tais qualidades. Ômegas da alta classe aristocrática já não queriam ou não podiam ensinar seus próprios filhos, pois isto poderia comprometer o status de que gozavam e, além disso, nem sempre estavam suficientemente preparados para fazer um roteiro de estudos elaborado.

A aristocracia tinha, há muito, resolvido o problema de poupar o ômega das obrigações pedagógicas para com os filhotes, contratando os serviços de uma professora residente, a preceptora. A principal função da preceptora era dar aos seus pupilos uma orientação moral e social. Por agir dentro de um ambiente refinado, era necessário que a preceptora, como substituta da mãe, fosse alguém de respeito. Em geral, esse cargo pertencia a um ômega ou alfa solteiros de ambos os sexos, ou alguém da própria família, como primos/as ou sobrinhos/as e até mesmo ômegas mais velhos/as e viúvos/as de reputação ilibada, poderiam se incumbir àquela tarefa de revestir ômegas aristocratas com certo verniz cultural.

Os baixos salários e as difíceis condições de trabalho que as famílias burguesas impunham à preceptora provocavam em Victória sérias preocupações. Na verdade, havia o temor de que se levasse para o espaço sagrado do lar a mesma onda de revolta que varreu Londres em meados do século passado, conduzindo às ruas levas de operários que reivindicavam melhores salários e condições mais dignas de trabalho e mesmo nos dias atuais com a rainha dando o suporte necessário a estes trabalhadores, a insatisfação com certas demandas ainda prevalecia. Suscetível de indignação e revolta com a situação vigente e, ao mesmo tempo, detentora de certo saber, a preceptora poderia instigar em seus pupilos, novas ideias que provocassem uma subversão dos valores construídos pela burguesia.

Desse modo, levados pela onda de insatisfação com falta de direitos sociais e pela repressão sexual, atrelada ao preconceito de classe genética, tornaram-se bastante comuns nos arredores de Londres pequenas manifestações de ômegas pertencentes à classe baixa e média, reivindicando uma mudança na forma de construção sociocultural, relativa à moralidade e relações dos ômegas na sociedade vitoriana o que fazia a rainha perder o sono ultimamente.

— Preciso tomar decisões quanto aos ômegas insatisfeitos, mas gostaria de saber de onde vem tal insatisfação. Em nenhum lugar do globo ômegas são tão bem instruídos como aqui, Londres é referência de boa educação e finesse, as famílias mais refinadas insistem em trazer seus filhos e filhas para serem qualificados à nossa moda. — a rainha ainda insistia em encontrar respostas para o motivo dos distúrbios rotineiros. — Sei que a violência está aumentando, mas pondero que este fato não é exclusivo do meu reino, já tenho em mente as devidas providências que tomarei quanto a isso.

— Talvez uma reunião em que vossa majestade possa ouvir as demandas desses ômegas fosse urgentemente necessária. — a duquesa de Strand se manifestou pela primeira vez, causando espanto nos presentes.

Magnólia nunca aceitou um papel de conselheira naquela monarquia, preferia ficar isenta de tal responsabilidade, contudo dada à insistência de Victória, ela se sujeitou a participar das reuniões na condição de orientadora, possuindo também poder voto em quaisquer decisões que aquela corte tomasse.

Era sabido que Magnólia sempre fora um tipo de alfa fora dos padrões alfistas aristocráticos. Ela pregava discursos sobre liberdade e direitos iguais dentro das classes genéticas, entretanto suas ideias eram rotineiramente rechaçadas naquele conselho. Todavia ela possuía o dom da paciência e perseverança e mesmo sendo ignorada soberanamente em suas falas sobre igualitarismos, ela nunca perdia a oportunidade de deixar uma pequena pulga inconveniente atrás das orelhas irredutíveis daqueles alfas imponentes.

— Demandas, duquesa? Ora, quais demandas esses ômegas necessitariam? — Jisung foi novamente impertinente, um traço marcante de sua personalidade. — Nós alfas já suprimos as demandas dos ômegas com maestria, o que mais poderiam querer?

— Me diga o senhor, conde. Se fosse ômega, quais demandas necessitaria, tendo em conta a vida livre e libertina que leva, mesmo sendo um senhor casado e com responsabilidades morais com o lar? — Magnólia tocou-lhe o ponto fraco com a mesma delicadeza que Heólico coiceava dentro das baias em NewBrook's Farm, deixando Jisung ultrajado.

— Como se atreve? — o alfa impôs sua voz como um rugido — Como é capaz de me dirigir tamanha calúnia! — esbofeteou a mesa — A senhora é que deveria se preocupar com responsabilidades morais com o lar quando trata como filho um rapaz que nem carrega seu sobrenome, ou me dirá que o garoto lhe serve para outras utilidades, como servir-lhe o chá em seus aposentos?

— Blasfêmia! — Magnólia agarrou com fervor o pequeno peso de papel em bronze com formato de bigorna e o arremessou na direção de Jisung, lhe acertando em cheio a testa.

Não admitiria quaisquer insinuações que colocassem a prova seu amor genuíno e respeito mútuo que a ligava sentimentalmente a Jungkook. Toda ilação caluniosa a esse respeito seria devidamente tratada, em seus termos.

E Jisung poderia provar pelo corte extenso que minava sangue de sua testa, que Magnólia solucionava seus problemas de modo definitivo e bastante doloroso.

A partir dali, a sucessão de acontecimentos foram completamente ignorados pela rainha. Magnólia berrava a plenos pulmões enquanto outros dois alfas a seguravam; Jisung era amparado por Jackson que pressionava o lenço branquíssimo na testa ensanguentada do conde, que parecia desacordado.

Victória preocupou-se pela primeira vez como há muito não se preocupava.

Tinha muito a resolver com os ômegas desordeiros e também com seus conselheiros, olhando agora para a sala toda revirada.

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A rotina de Park Jimin em Norwich exigia dedicação extrema e um nível ímpar de paciência para lidar com as imposições da condessa Park Dahye, sua insuportável mãe.

— Vejo que já está em um nível satisfatório nas aulas de piano, então presumo que sua preceptora poderá iniciar as aulas de latim na próxima semana. — a ômega anunciou aquele fato assim que entrou nos aposentos do garoto.

Ela não recebeu aceno ou palavra alguma vinda de Jimin, que continuou de costas enquanto Calista ajustava o corset em sua cintura e o fato de ter sido ignorada a deixou em um nível perigoso de irritação.

— Calista saia. Eu ajudo Jimin a terminar de se vestir.

A beta obedeceu prontamente à condessa e saiu do quarto em silêncio e Jimin pressupôs com um rolar de olhos que aquela manhã provavelmente seria longa.

Dahye se aproximou dele e segurou as fitas que eram trançadas por Calista, apertando forte a peça na cintura do ômega, desequilibrando-o por um instante.

— Assim terei um sangramento nasal, mamãe. — Jimin avisou com um toque de deboche.

— Você sempre me desafia, gosta de me envergonhar e nunca agradece pelo que faço em seu benefício. — a mulher se vitimizou. — Você está com dezessete anos e em breve será cortejado por alfas de respeito e para tanto, precisa ter modos decentes. Alfas apreciam cinturas marcadas e uma educação refinada, portanto dedique-se! — apertou o último nó com brusquidão.

— Não quero me casar, não gosto dos chás, dos vestidos e muito menos dos assuntos fúteis que vocês adoram. Prefiro ser um preceptor, o professor de outros ômegas a perder minha liberdade. — Jimin não percebeu que aquelas palavras afrontaram Dahye de várias formas, sentindo apenas a mão da mãe agarrar-lhe o punho.

Ela o puxou até a cama, fazendo-o sentar-se ali e fitar-lhe os olhos.

— Existe apenas um destino para ômegas que não se casam na minha família e você não ficará satisfeito com o itinerário. — ela falava entre dentes, as bochechas tornando-se róseas pelo acúmulo da raiva. — Não medirei esforços para mandar-lhe até o convento de Geirander nas montanhas geladas da Noruega se tentar me envergonhar dessa forma. — segurou o queixo do filhote e concluiu — É lá que você irá compreender realmente o significado da palavra liberdade.

A visão consciente que Jimin possuía acerca de casamentos e alfas na sociedade em que vivia, confirmava a cada dia mais sua aversão a toda aquela estratificação de classes. O conceito geral sobre ômegas bons e bem criados causava-lhe repulsa e indignação na mesma proporção, entretanto não esperava que algo fosse melhorar aquele contexto alfista segregador que rebaixava ômegas a simples objetos de decoração e beleza dentro dos casarões burgueses.

Suas convicções e pensamentos livres eram frutos vindos de uma semente que germinou há um ano em Norwich e tinha nome e sobrenome: Ahn Hyejin, sua preceptora.

Hyejin, uma ômega de vinte e cinco anos, possuía cabelos pretos e longos, um corpo bem marcado, um tanto curvilíneo que saia dos padrões sociais que agradava e muito alfas hipócritas e bastante exigentes. Filha de um barão pouco conhecido, ficou órfã de pai e mãe devido a um surto de cólera que dizimou centenas de vidas há alguns anos. Veio morar em Norwich na casa de uma tia viúva e passou a oferecer seus serviços como professora incumbida de dar refino e classe aos ômegas daquela região.

E Jimin não poderia ter ficado mais grato por conhecê-la.

Não passava das duas da tarde quando ela chegou ao casarão dos Park e seguiu até o quarto do ômega.

— Me desculpe pelo atraso. — ela passou pela porta com rapidez e a fechou em seguida.

Jimin notou um toque amadeirado mesclado ao cheiro natural da ômega e não perdeu tempo em comentar.

— Cedro? — manteve um sorriso ladino ao perguntar.

— Para um ômega jamais tocado por um alfa, você até que conhece bem sobre os cheiros deles. — ela sorriu de volta, deixando Jimin um pouco desconcertado.

Os dois se tornaram amigos tão rapidamente que a intimidade entre eles era um lugar confortável de se transitar.

— Estava com Hoseok?

— Sim e já estou com saudades. — ela se jogou na cama e deitou-se de costas, deixando os seios marcados à mostra pelo decote cavado do vestido.

— O que é isso em seus seios? — Jimin perguntou ao ver a mancha roxa sobressaindo-se pelo vale globoso.

— Digamos que meu alfa estava sedento. — os dois riram daquele comentário despudorado da mulher que continuou. — Ah Jimin, meu sonho é ver você se casando com um alfa lindo e fogoso, que te faça ficar de pernas bambas a cada noite de amor.

— Impossível com o tipo de educação e respeito que tenho que demonstrar, mamãe disse que serei devolvido se não souber me comportar diante do meu marido.

— Então não se case! — ela sugeriu — Tenha casos com alfas, vá aos chás e jogue seus belos olhos azuis na direção certa. Posso garantir que é muito mais interessante do que casar. — piscou para Jimin.

— Serei enviado para um convento nas montanhas da Noruega, a condessa me garantiu a pouco, sentada onde você está. Meu destino é ser um frígido embaixo de um alfa. — constatou.

— Bata na madeira! Vou lhe fazer uma promessa, irei encontrar o alfa mais lindo e bem avantajado de Londres para ser seu marido, nem que eu tenha que testar os atributos pessoalmente. — Hyejin prometeu e Jimin se ofendeu com as últimas palavras dela.

— Não irá se deitar com o meu futuro marido, Hyejin! Eu te proíbo!

— Mas como saberei se ele será capaz de te servir na cama com a devida qualidade?

— Ora, e como sabe o tipo adequado de alfa que me agrada?

Encararam-se como duas feras prestes a lutar por suas vidas e então explodiram em gargalhadas assim que perceberam que estavam brigando por algo hipotético e ilusório. Jimin foi o primeiro a parar de rir e seu humor tomou uma aura de descontentamento quase que repentinamente, fazendo Hyejin mudar de assunto.

Ele sabia que não teria um futuro cheio de aventuras ao lado de um alfa como Hyejin possuia.

— Terminou de ler o livro? — ela perguntou sentando-se na cama.

— Sim, mas fiquei desapontado com o final de Tess. Ela passou por tantas coisas, foi estigmatizada, vítima da segregação social alfista, ela merecia pelo menos um desfecho decente. — Jimin disse pegando o exemplar de Tess of the D'Urbervilles, devolvendo-o a sua dona.

— Já é o suficiente para mim você ter entendido o ponto central da história. Agora quero deixar algo um pouco mais apimentado para você, mas deve guardá-lo com mais prudência. — Hyejin retirou outro livro de sua pasta de mão e depositou no colo de Jimin.

— Kama Sutra? — ele abriu o livro e o fechou em seguida, boquiaberto com teor erótico e explícito das imagens. — Hyejin eu serei mandado hoje para o convento! Não posso ficar com isso aqui! — ele empurrou o livro de volta à mulher.

— Fique com ele apenas hoje e observe bem as imagens. — a ômega riu jocosa, empurrando o livro de volta. — Imagine como é a vida de um ômega livre para desfrutar de uma boa noite de amor.

— De que me adianta imaginar algo que nunca poderei ter? — Jimin indagou desesperançoso.

— Nunca se sabe, meu caro... nunca se sabe.

Jimin queria acreditar em Hyejin, mas não encontrava saída para um futuro monótono e frio, casado com algum alfa machista e dominador, como era padrão no universo em que vivia.

Ele pensava.

— Amanhã será a final do Troféu Westchester, já decidiu o que irá vestir? — Hyejin seguiu até o guarda roupas para procurar vestes de passeio.

— Não quero ir, vou fingir um desmaio no desjejum e papai concordará em me deixar aqui com Calista. — Jimin afirmou com naturalidade.

—Onde está aprendendo a ser tão ardiloso assim? — a ômega riu debochada.

— Com a minha preceptora, a mestre em trapacear!

— E você adora meus ensinamentos! — ela tocou-lhe o nariz enquanto segurava um vestido com a outra mão. — Esse vestido é lindo!

— É horrível! — Jimin quase gritou — Aliás, é perfeito! Se eu vestir algo tão tenebroso e cafona assim, nenhum alfa colocará os olhos em mim e passarei despercebido. — ele se vangloriou por ter tido brilhante ideia.

— Ah, Jimin, não seja tão rígido consigo mesmo. Hoseok me levou para assistir um treino e pude notar vários alfas charmosos com braços e coxas enormes que jogam pelo time, posso garantir que será um dia proveitoso, pelo menos para a visão. — ela bateu palmas em euforia.

— Você deveria respeitar seu noivo, senhorita! — Jimin a repreendeu.

— Hoseok não é meu noivo, é apenas um caso que mantenho por conveniência e deleite. Não pretendo me casar.

— Mas e se ele lhe pedir a mão?

— Eu negarei. — foi sucinta na resposta.

Era impressionante como Hyejin fazia aquela situação tão complicada e inimaginável parecer simples e tangível.

Jimin constatou com aquela conversa que jamais conseguiria alcançar tal liberdade, a prisão a qual era submetido pela sociedade aristocrática era intransponível.

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O Troféu Westchester de Polo Equestre aconteceria em Londres naquele ano e reunia atletas de vários reinos, tornando o evento um dos mais importantes na confraternização mundial das monarquias.

O príncipe Edward, no auge da virilidade de seus dezoito anos, foi obrigado pela mãe, após ameaça de ser destronado, a demonstrar interesse em algo produtivo que não fosse apenas dormir e divertir-se com ômegas e alfas, em orgias que a rainha não imaginaria em seus piores pesadelos. O rapaz não era mimado e muito menos mal criado, porém fazia gosto em levar uma vida sem preocupações ou objetivos concretos o que deixava Victória possessa com a falta de tato do filho para assuntos pertinentes da realeza. Bastou uma conversa rápida com Jung Hoseok, para que ela encontrasse uma ocupação proveitosa para os dias inertes do príncipe: fazer parte do time de polo e ser treinado pelo jogador mais importante da equipe, Jeon Jungkook, o atleta de técnicas refinadas e perfeccionistas dos Hurlinghans.

Há quatro anos, quando Jungkook completou dezoito, Magnólia passou seu título honorífico em definitivo para o jovem rapaz que já conhecia seu destino, mesmo não o aceitando completamente. Ganhou responsabilidades de duque e mudou regras que julgava relevantes para o bom funcionamento do ducado e suas decisões deixavam Magnólia orgulhosa. Entretanto preferia passar seu tempo dedicando-se ao esporte que mais amava, mesmo não concordando com várias decisões que seu técnico amador tomava.

Jung Hoseok era filho do conselheiro de obras e barão de St. Louis, Jung Sangwoo. Talvez a importância do pai diante a realeza tivesse sido um facilitador para que o jovem alfa de vinte anos conquistasse o cargo de técnico dos Hurlinghans, já que talento nato para o esporte não era um atributo que ele possuía. A fundação do time fora ideia de Sangwoo, que avistou Min Yoongi praticando polo em NewBrook's Farm, num dia em que visitou Magnólia. Contudo o barão não poderia oferecer o cargo de treinador para um ômega da plebe sem titulo ou procedência alguma e dessa forma colocou o filho completamente inexperiente na função. Jungkook foi um dos primeiros atletas a se juntar aos Hurlinghans, mas exigiu que apenas jogaria se Min Yoongi pudesse ser o tratador de Heólico, algo que só foi aceito depois de muitas conversas e reuniões.

— Está segurando o taco errado pela quinta vez, Edward. — Jungkook esgotava a pouca paciência com os erros do príncipe naquela tarde ensolarada, ao final de mais um treino.

— Posso lhe garantir que seguro um taco como ninguém, alfa. Se tiver disposto, posso te ensinar. — ele sorriu ladino, provocando Jungkook.

— Dispenso seus ensinamentos depravados. Agora desça ou Hoseok irá colocá-lo de castigo. — Edward desceu com dificuldade do animal, dada sua pouca forma física para o esporte, que exigia condicionamento corporal rígido.

O recém-nomeado duque de Strand não esbanjava um humor amistoso naquela tarde que antecedia a final do evento esportivo. Esteve preso na cabana na última semana devido ao cio e tomou supressores pela primeira vez, temendo que seu condicionamento físico atrapalhasse seu rendimento em campo, era sua primeira decisão junto ao time e não pretendia falhar.

Ele segurou as rédeas do puro sangue inglês montado por Edward e seguiu para o estábulo no intuito de alimentar o animal e pentear-lhe as crinas, haja vista que Yoongi estava ocupado com a colocação de ferraduras em todos os cavalos de NewBrook's Farm e não pôde comparecer ao treino naquele dia.

Edward observou o azedume do amigo e decidiu que perturbaria seus nervos um pouco mais. A implicância era traço forte da personalidade do príncipe.

— Olha, Jungkook, convidei alguns ômegas e alfas para um reunião em meus aposentos mais tarde, você está precisando de um pouco de sexo para relaxar. — ele seguia o duque, acelerando os passos para alcançá-lo.

— Você tem ciência de que sua mãe abomina o relacionamento entre híbridos de mesma classe? Ela irá destronar você se descobrir suas sessões de sodomia e eu não vou acobertá-lo nessa. — Jungkook disse irritado, conduzindo o cavalo para a baia próxima a qual Heólico se encontrava.

— Mamãe jamais irá descobrir. E você sempre foi um alfa tão avesso aos costumes monárquicos, não entendo esse rompante moralista logo agora. — o monarca provocou.

— Sim, sou avesso a tudo que envolva a segregação de liberdades, seja sexual, de pensamento ou de direitos. Nunca concordei com a forma como a rainha lida com os ômegas, nós estamos avançando industrialmente e como sociedade então creio que já deveríamos ter o mínimo de sensatez nesse tópico. Será que Victória não deveria aprender mais com os franceses sobre igualitarismos? — Jungkook indagou e partiu para a baia ao lado, onde Heólico mastigava alfafa fresca, atento a cada passo de seu dono. — Quanto ao sexo, você é livre para fazê-lo com quem quiser. —concluiu.

Jungkook não era um falso moralista. Era de conhecimento em Strand e nos arredores, que o alfa aproveitava dos prazeres carnais sem cerimônias, contudo sempre prezou pelo respeito aos ômegas e betas da plebe que não encontravam recurso e apoio para participarem efetivamente do crescimento econômico e social daquele reino em constante mudança. O contexto atual da aristocracia era manter marginalizados aqueles que não tinham o mínimo para sobreviver: ômegas órfãos e estrangeiros sem laços familiares na corte eram geralmente fadados ao relento, apanhavam e comiam restos das lixeiras dos abastados, não existia um espaço moral que os cabia e até certo ponto, Victória era diretamente responsável por aquela situação deplorável.

Ele continuou sendo seguido por Edward que tentava limpar as botas de montaria, atoladas até a altura do salto com o mais puro e fresco estrume esverdeado e não parava de falar por um só minuto.

Na intenção de dar um basta ao falatório desatinado, Jungkook aproximou-se de Heólico e massageou-lhe a fronte, colocando sorrateiramente uma maçã na boca do garanhão. Fazendo jus aos anos de adestramento, confiança e amizade entre os dois, o cavalo apenas aguardou seu dono se afastar e numa breve ordem vinda do alfa, cuspiu a maçã com toda força na face do príncipe que praguejou palavras impronunciáveis.

— Isso é um crime contra um príncipe! Guardas, prendam esse pangaré! — Edward gralhava limpando os restos de maçã que se espalharam por sua roupa.

— Heólico é um puro sangue, alteza. É aconselhável tratá-lo com um pouco de respeito, senão atitudes como essa ocorrerão com frequência. —Jungkook disse zombeteiro, saindo dos estábulos e deixando o príncipe fanfarrão para trás.

Ele olhou para Heólico com desprezo e saiu correndo, tropeçando nas próprias pernas quando o garanhão armou o coice em sua direção. Aquele cavalo era espirituoso e já havia percebido a impertinência do príncipe, decidiu impor seu respeito.

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O cocheiro aguardava pacientemente seus passageiros enquanto fumava um charuto, porém tratou de apagar o objeto assim que ouviu Dahye passando pela porta de entrada do casarão.

— Segure a cauda do meu vestido, Taehyung, não quero sujá-lo. — a condessa esbanjava sua pose esnobe ao mesmo tempo em que descia as escadas.

Jimin vinha logo atrás, desinteressado e alheio aos chiliques da mãe, que entrou com bastante dificuldade na cabine da carruagem de passeio, alugada por Jisung especialmente para levar a família até o evento daquela manhã. O alfa já se encontrava no estádio real onde a final de polo ocorreria, fazendo as últimas apostas para o jogo, um de seus vícios inegáveis.

Por mais que não quisesse ir e até encenasse algum desmaio ou dor de barriga, sair de casa para ir até um evento solene pareceu menos desagradável pela presença animada de Taehyung, que só foi autorizado a acompanhar Jimin na condição de valete, já que o ômega escolheu um vestido propositalmente pesado para aquela ocasião. Conseguiu deixar a mãe satisfeita, contudo necessitaria de auxílio para subir os degraus da tribuna e para ir até o toalete. E também teria alguém para conversar decentemente sem ter que fingir interesse por bordados e tendências de moda cafona de ômegas medíocres que marcariam presença no torneio.

Jungkook dormiu mal naquela noite em seu casarão em Strand, estava com o humor péssimo e praguejou assim que seu dedinho do pé acertou o pé da cômoda situada próxima ao banheiro. Fazia tempo que o alfa não tinha pesadelos terríveis com a figura do falecido pai e dentre todas as noites mal dormidas que passara no auge dos seus vinte e seis anos, aquela definitivamente havia sido a pior. Estava nu, deitou-se tarde depois de passar horas em seu escritório, sozinho, embebedando-se com hidromel fabricado em NewBrook's Farm. Andava melancólico além do habitual e fumar seu charuto cubano e pensar em nada era a melhor forma de aproveitar o tempo tendo em vista que Magnólia desfrutava de uma de suas infindáveis viagens pelas Índias e não havia pressa em retornar, agora que se encontrava aposentada de suas obrigações como duquesa e o alfa sentia-se um tanto solitário na ausência dela.

Usou o vaso sanitário ainda de olhos fechados, torcendo mentalmente para que estivesse mirando no lugar certo ou então Lorde Archer, seu mordomo, iniciaria um monólogo de bons modos àquela hora da manhã. Lavou-se em seu washstand após escovar os dentes, não necessitava de um banho completo já que iria se desmanchar em suor em algumas horas.

— Bom dia, duque. — o mordomo beta cumprimentou assim que Jeon adentrou a sala de jantar.

— Péssimo dia, Archer. Sinto que fui atropelado por mil cavalos selvagens. Preciso de algo forte ou minha cabeça irá explodir. — disse baixo, deitando a testa na mesa em clara derrota.

— Presumi esse fato, afinal o senhor passou a noite toda abraçado a garrafas de bebida. Não foi uma atitude prudente. — Archer alertou.

— Hum. — Jungkook assentiu à advertência com sua interjeição usual, ainda abatido com a testa colada à mesa.

Lorde Archer seguiu até a cozinha e voltou rapidamente, segurando um pequeno frasco contendo um líquido âmbar, não muito diferente do hidromel consumido com entusiasmo pelo alfa na noite passada.

— Tome. Beba tudo. — o beta colocou o objeto em frente a Jungkook que ergueu a cabeça aos poucos, com dificuldade.

— Você quer me matar? Se eu tomar um gole dessa poção serei arrebatado imediatamente! — inquiriu ultrajado.

— Deixe de frescura, alfa. Beba e faça seu desjejum. Precisa estar em Stoke-on-Trent para a final em cinquentas minutos. — Lorde Archer apontou o grande relógio de coluna e Jungkook se apavorou.

Estava atrasado.

Conseguiu chegar ao estádio praticamente lotado faltando quinze minutos para o inicio do jogo. Levou Heólico, um tanto agitado pela corrida matinal inesperada, até os estábulos para que tomasse água e se preparasse para a partida.

— Onde estava? — Yoongi perguntou um tanto preocupado pelo atraso do amigo, afagando a fronte de Black Pearl que também participaria do jogo.

Dos quatro chukkas, ou tempos de sete minutos que totalizavam o tempo total da partida, era regra que o cavaleiro utilizasse um animal diferente a cada quarto, sendo permitido no máximo um animal por dois chukkas e Jungkook jogava dessa forma, alternando os tempos entre Heólico e sua robusta mãe, Black Pearl.

— Bebi um tanto a mais noite passada, passei da conta, me desculpe. — o alfa vestia o uniforme ali mesmo, nas baias, deixando os tratadores boquiabertos com o conjunto de músculos bem trabalhados que ele ostentava.

— Heólico já está aquecido, vou correr por cinco minutos. Pode levá-lo até o campo para mim? — Jungkook pediu e recebeu um aceno positivo de Yoongi, saindo apressado em seguida.

A tribuna de honra abrigava os nobres londrinos que estavam agitados pela presença ilustre da rainha alfa naquele local. Ela usava sua indumentária para eventos especiais, composta por um conjunto de duas peças, semelhante às armaduras usadas pelos guerreiros da idade média. Mas não era a veste pouco habitual para aquele evento que chamou a atenção dos presentes: ela embainhava a espada real que reluziam feixes da luz solar nos olhos dos bajuladores que insistiam em cumprimentá-la.

Jimin andava de braços dados com Taehyung e procurava a todo custo não olhar nos olhos de ninguém. Não queria ser notado ali, causava vertigem pensar que algum alfa pudesse querer cortejá-lo e dado os últimos atos de rebeldia contra a condessa, presumia que ela tivesse um plano para apresentá-lo a algum pretendente.

Sentaram-se em um local bastante favorável para avistar amplamente todo o campo e acompanhar o jogo.

— Para qual time temos que torcer? — Jimin perguntou inocentemente.

— Apenas sorria, olhe quantos alfas elegantes estão por aqui. — a condessa mantinha um sorriso forçado, mostrando os dentes manchados pela quantidade exagerada de batom vermelho intenso que aplicou nos lábios e Jimin não teve vontade alguma de alertá-la.

Os Hurlinghans venciam com larga vantagem, sendo a maioria dos gols anotados por Jungkook que transformava sua ressaca em fúria e jogava a partida de sua vida. Era ovacionado pela torcida e após o penúltimo chukka, recebeu Heólico novamente das mãos de Yoongi.

— Vamos garotão! A plateia merece mais alguns gols. — massageou as orelhas do garanhão e afagou-lhe os flancos antes de montá-lo com destreza.

Ele notou que a poção de Lorde Archer fez um efeito além do esperado. Estava eufórico e lembraria-se de agradecer o mordomo assim que voltasse para Strand.

Os próximos minutos que antecediam o fim da partida foram no mínimo curiosos. Edward conseguiu a proeza de despencar do cavalo por duas vezes, causando crises de risos nos súditos e um ataque de pânico na rainha.

— Edward, seu paspalho! — a monarca gralhava das tribunas. — Nunca passei por tamanha vergonha em frente aos meus súditos! — ela lamentava e era consolada pela rainha ômega.

Em meios às distrações da plateia, Taehyung saiu para procurar o toalete e temia não conseguir voltar até o final da partida. Embrenhou-se por corredores logo atrás das arquibancadas e percebeu estar perdido ali.

— Deseja algo? — sobressaltou-se de imediato ao ouvir a voz calma e profunda atrás de si e temeu ser enxotado sem poder dar explicações.

— E-estou procurando o toalete se-senhor, mas não irei importuná-lo, já estou de saída. — tentou correr, mas teve o punho levemente agarrado pelo rapaz.

— Acalme-se, sou Min Yoongi, posso mostrar-lhe o caminho.

Os olhos de ambos cruzaram-se em sintonia e Taehyung corou vergonhosamente por perceber que fitava o ômega mais do que deveria. Achou adoráveis seus olhos que se assemelhavam aos de um gatinho e estava arrepiado pela aspereza marcante das mãos do rapaz segurando seu braço. Sentiu algo novo que não saberia explicar, mas que era definitivamente bom.

— Sou Kim Taehyung, preciso ir. — não conseguia distinguir o que estava sentindo e por esse motivo preferiu sair logo dali.

— Tudo bem — Yoongi disse frustrado — siga mais alguns metros e vire à direita, chegará ao seu destino. — orientou por fim deixando um sorriso largo.

— Ah sim, muito obrigado! — Taehyung retribui o aceno simpático e correu o quanto pôde até não ser mais visto.

Sentiu o ar faltar-lhe nos pulmões e adentrou o toalete em pânico, se perguntando o que acabara de acontecer minutos atrás.

Faltavam apenas poucos minutos para o final da partida e a plateia estava em polvorosa, comemorando a vitória incontestável do time londrino. Jimin se mantinha absorto até o momento em que os jogadores dos Hurlinghans passaram próximo a cerca da arquibancada, incitando gritos de guerra para a torcida. Notou que um dos jogadores era mais querido pelo público e também não deixou de notar que era o mais charmoso. Recebeu um aceno leve de cabeça assim que fitou o moreno mais uma vez e então desviou o olhar, corando. Queria ir embora o quanto antes, estava derretendo por baixo de tanto pano inútil e nada ali o interessava, muito menos o olhar de um alfa que provavelmente teria uma noiva ou esposa, já que se mostrava tão bem apessoado.

Teve a atenção voltada assim que Taehyung chegou ao seu lado, mas não houve tempo para que pudessem conversar.

— Park Jimin, quero apresentar-lhe o barão de White Hall, Thomas Kitsch. — a voz de Jisung foi impositiva e Jimin apenas analisou a mão do alfa, que concentrava a maior parte de sua composição corporal no abdome e possuía um bigode idêntico as penas de algum pássaro sobressaindo pelos lábios superiores.

Não ofereceu sua mão ao alfa e então recebeu o olhar fuzilante do pai recaindo sobre o seu, fazendo-o repensar seus atos e cumprimentar o barão adequadamente.

Recebeu um beijo exageradamente molhado no dorso das mãos e sentiu-se enojado por um instante.

— Seu filho é adorável, conde. Gostaria de ter a oportunidade de conhecê-lo melhor.

Jimin pensou imediatamente na rota de fuga e para tanto, piscou brevemente para Taehyung e desfaleceu como um ator com anos de experiência nos braços do pai. Em meio ao susto pela síncope forjada do ômega que coincidiu com o final da partida, jimin olhou pelo canto de olho a explosão de fogos de artifício no céu e a movimentação intensa das pessoas ao redor e fechou os olhos novamente.

Jungkook era carregado pelos companheiros de time que bradavam cânticos de vitória e seguiam até as tribunas, na intenção de serem parabenizados pela rainha.

Contudo ao se aproximar das tribunas, Jungkook foi colocado no chão bruscamente e esbarrou em alguém.

Viu o garoto de olhos azuis que havia demonstrado desinteresse a pouco, sendo carregado pelos braços de um homem que se desvencilhou rapidamente e seguiu pela multidão.

Um homem que o fez relembrar de sua pior dor.

A mão que segurava o garoto por trás dos joelhos ostentava em seu dedo anelar um anel de corvo.

A única prova que possuía para encontrar o homem que tornou seus dias mais frios.

O anel que replicava aquele que Jungkook mantinha guardado há anos, em segredo.

O anel do homem que assassinou seu pai.

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Tess of the D'Urbervilles (Thomas Hardy) é um livro lançado em 1891 durante a era vitoriana, então achei pertinente citá-lo apesar de ter sido escrito após os fatos temporais da fic. O livro é muito bom , por sinal. Leiam!

Kama Sutra dispensa apresentações.

Polo equestre. 

Regras básicas: O polo tradicional, realizado em campos de grama, é disputado entre duas equipes formadas por quatro jogadores cada. Um jogo de polo dura pouco menos de uma hora, e é dividido por períodos chamados chukkas. Conforme o nível de jogo, podem variar de 4 a 6 chukkas por partida. Cada chukka tem duração de 7,5 minutos e é feito um intervalo de 3 minutos entre os chukkas. Na metade da partida é feita uma pausa de 5 minutos. Vence a equipe que fizer mais gols.

Corset underbust, ou abaixo do busto, era usado por ômegas machos da aristocracia, com o intuito de afinar a cintura. Foi uma peça muito utilizada pelos homens em séculos passados. Sem fetiches, apenas por modismo e alinhamento da postura.

Vestidos para ômegas machos eram compridos, sem decote algum e com saia sem crinolina. Ômegas não eram fetichizados ou tratados como fêmeas por usarem vestidos. Era um costume da época.

Vestidos para ômegas fêmeas possuíam decote e as saias eram armadas por crinolina em ocasiões especiais.

O fato de Jimin usar vestidos não significa que ele será alvo de fetiche, ou tratado como fêmea. Vestido não é uma roupa exclusivamente feminina e vocês podem pesquisar ao longo dos séculos que homens também usavam essa peça em várias culturas, então, por favor, sem estereótipos!

Me contem o que estão achando, perguntem algo, lamentem sobre a vida, sou toda ouvidos!

Até mais!

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