𓅂 𝓣𝓱𝓮 𝓒𝓻𝓸𝔀'𝓼 𝓡𝓲𝓷𝓰
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#DocedePessego
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Boa leitura!
— Fui avisado de que Park Jisung foi nomeado Conde de Norwich.
O alfa tamborilava os dedos na grande mesa de mogno impacientemente. Batia o seu anel de corvo com força pela superfície e o barulho deixava o ambiente ainda mais tenso. Teria uma decisão séria a tomar, afinal a etapa de recrutamento de um novo membro da BlackCrow deveria ser impecável, sem erros ou falhas que pudessem desmascará-los.
Escolheu Jisung por uma questão estratégica, visto que ele acabara de chegar ao posto de confiança da rainha, o que facilitaria ainda mais seus planos, contudo precisava ser bastante cauteloso. Apenas ele e Jackson Wang faziam parte do comando da BlackCrow e por isso teriam de arranjar mais um aliado para conseguirem por em prática seus intentos obscuros.
Analisou mentalmente o passo a passo do plano.
— Sim senhor, a posse com a rainha foi hoje pela manhã. — disse o secretário particular, que mantinha uma postura ereta e impecável frente ao alfa.
— Mande um mensageiro até o condado de Norwich. — Namjoon se levantou e seguiu até a ampla janela de vidro da torre norte do castelo de Windsor e olhando para o horizonte, ordenou — Avise o conde que irei visitá-lo amanhã.
O alfa Park Jisung era até então o Barão de Smithfield e não possuía qualquer proximidade com a rainha. Após a morte do antigo Conde de Norwich, que por infelicidade do destino teve o membro amputado em um acidente de cavalo, não gerando herdeiros portanto, o cargo de chefia do condado se tornou vago e Jisung foi nomeado por Victoria como o novo conde. Mudou-se com a família para Norwich no mesmo dia de sua nomeação, levando sua esposa e seu pequeno filhote, Park Jimin. Ainda como barão, serviu a realeza como fiscal de obras, um dos cargos de pouco prestígio do reino, contudo seu trabalho era considerado exímio e exemplar o que chamou a atenção do Conselheiro de Obras, o alfa Jung Sangwoo, a quem nutria um respeito mútuo. Com o passar do tempo, Jisung se aproximou de Kim Namjoon e foi envolvido vagarosamente na intrínseca teia de interesses do Conselheiro de Tributos. Teve seu nome cogitado para ocupar o cargo agora vago, de Conde de Norwich e sabia que fora Namjoon quem havia conversado pessoalmente com a rainha para que essa indicação fosse possível. Havia sido seduzido a fazer parte da BlackCrow e consequentemente ter ganhado um título de nobreza maior na hierarquia daquele reino apenas aguçou ainda mais a sua ambição desconhecida pelo poder.
Mudou-se, levando poucos móveis para Norwich, já que o antigo dono da mansão não havia deixado herdeiros. A sua soberba aumentou proporcionalmente ao tamanho da importância de seu novo título e essa impáfia foi sentida pelo tom de voz, agora impositivo, em que tratava as pessoas ao redor, mais precisamente a fútil ômega que tinha como esposa.
— Condessa, teremos visita amanhã, deixe os empregados a par de todo o protocolo. Não podemos deixar uma má primeira impressão. — disse altivo, sem dirigir o olhar para a mulher à sua frente.
Fora avisado pelo mensageiro sobre a visita de Namjoon na manhã seguinte e já se preparava para receber as instruções de como seria seu batismo na organização. Deixaria claro à Kim Namjoon todas as suas qualidades e feitos em seus quase dez anos de bons serviços prestados na baronia de Smithfield.
A condessa de Norwich, Park Dahye segurava o filhote impacientemente há alguns minutos e não conseguia fazê-lo parar de chorar. Ouviu o recado do marido, mas não processou muito bem as palavras ditas por ele, deixando transparecer a irritação por não ter recebido ajuda de nenhum dos criados que moravam naquele casarão. Assim que deixou Smithfield, levou Calista, uma beta viúva de baixa estatura que possuía braços fortes que se destacavam dentro das mangas curtas dos vestidos simples e desbotados que usava. Era mãe da pequena Lily, uma ômega esperta para idade e muito observadora que também acompanhou a mãe para a nova moradia dos Park. Elas trabalhavam com responsabilidade e afinco, afinal estavam ali por piedade e davam graças por não terem sido jogadas na rua quando o marido de Calista falecera. A condessa também trouxe para Norwich Kim Taehyung, um beta órfão, mas muito prestativo que havia chegado praticamente desacordado em frente ao antigo casarão em Smithfield e foi acolhido por eles, num rompante de caridade desconhecido que se apossou inesperadamente de Park Dahye.
A ômega ainda sacudia o filhotinho com solavancos bruscos, perdendo a pouca paciência que ainda restava e esse ato foi notado pelo marido.
Mas o que houve com ele? Percebo que o cheiro está mais forte.
— Sim conde, Jimin estranhou o berço, toda vez que tento colocá-lo para dormir ele abre o berreiro. Precisaremos de mais criados, não posso ficar adulando uma criança por tanto tempo, tenho afazeres de condessa para me preocupar. — respondeu ríspida, porém sem encarar o alfa a sua frente.
— O casarão possui criados de sobra, ômega, precisamos apenas dizer-lhes suas funções a partir de agora. — ditou o alfa, seco, sentando-se em um dos vários sofás da sala de estar.
A ômega Park Dahye era nascida para reinar. Tudo que remetesse a bailes, chás e reuniões com ômegas tão preocupados com as aparências quanto ela, faziam-na borbulhar de emoção. O nível de superficialidade que vinha daquela mulher era digno de pena. Viera de uma família pobre e simples do sul de Smithfield, não carregava nenhum título da nobreza, restando-lhe então casar-se com algum alfa de nome e posses. Seduzia os alfas nos bailes e se jogava para cima deles sem pudor e foi dessa forma que partiu para o ataque e encurralou Park Jisung, deixando-o sem escapatória.
Assim que o sogro morreu e Jisung se tornou por direito o chefe daquela baronia, Dahye, à época baronesa de Smithfield, começou a reinar majestosamente. Era exemplo para outros ômegas que viviam na região, ditando moda e trejeitos culturais que ela julgava essências para o bom convívio. Ficou desestabilizada emocionalmente quando seu filhote ômega lúpus nasceu, entrando assim numa fase de negação e rejeição pelo pequeno. Não tinha talento algum para maternidade mesmo sendo uma ômega com instintos de cuidados com a prole e pouco amamentou Jimin, que cresceu franzino, sendo apenas alimentado com mingau de aveia e suco de frutas que os criados do casarão de Smithfield preparavam. Ômegas lúpus eram naturalmente fortes mesmo com a aparência frágil que possuíam e aquele pequeno filhote pouco deixava indícios de sua resistência física, já que era pele e osso desde que nascera.
Park Jimin foi o primeiro ômega lúpus nascido na família que se tem notícia. Quando a condessa deu à luz em Smithfield, o cheiro de lavanda e pêssego rescendeu por toda a baronia, ficando presente ali por vários dias, causando estranheza e dúvida entre os criados e permitindo que burburinhos sobre a saúde do franzino ômega surgisse.
E aquele pequeno filhote era como um anjo.
Possuía cabelos dourados semelhante ao dos querubins representados nas pinturas da Abadia de Westminster e a pele tão sedosa e macia quanto a dos pêssegos frescos colhidos no sul da Normândia, fazendo jus ao seu aroma tão único.
E Park Jimin com quase dois anos era o mais perto que poderiam chegar da palavra perfeição. Chorava apenas quando a fome apertava e no restante do pouco tempo em que não estava dormindo, gostava de ficar com Calista, acompanhando-a em seus afazeres. Lily era mais velha que ele, mas a diferença de dois anos de idade não impossibilitou o início de uma linda amizade entre eles e também com Kim Taehyung, que já estava com seus sete anos e trabalhava para a família Park desde que entendia por gente. O beta era responsável por alimentar Jimin quando Calista se ocupava com as outras tarefas da casa e o pequeno filhotinho sempre aprontava, espalhando comida e fazendo barulhinhos estranhos com a boca cheia. Aqueles quatro eram o que se poderia chamar de família, haja vista que os genitores do ômega lúpus pouco se importavam em dar-lhe carinho e atenção como deveria ser em todo lar pelo reino.
O choro do pequeno Park irritava profundamente o conde, ainda mais naquele momento em que ele tentava organizar os pensamentos para o encontro da próxima manhã. O barulho ensurdecedor dos gritos da criança entrava por seus ouvidos e ressonava feito tambor em seu crânio.
— Trate de acalmá-lo, ômega! Preciso estar descansado para a reunião de amanhã e nem ao menos consigo raciocinar! Vou para o escritório! — O conde saiu pisando duro, deixando a ômega com a incumbência de acalmar o pequeno filhote e fazê-lo dormir.
A condessa estava a um passo de desistir quando ouviu passos vacilantes vindos da porta que dava acesso à cozinha e assim que percebeu Calista surgindo em sua frente, entregou Jimin como se ele fosse um saco pesado de batatas, fazendo a beta se desequilibrar por um momento.
— Calista, por onde estava?! Esta pequena criatura não me dá um minuto de paz! — ajeitou os seios fartos que praticamente pulavam para fora do espartilho apertado e deu uma ordem — A partir de hoje, Park Jimin é sua inteira e única responsabilidade. Irá alimentá-lo, banhá-lo e cuidar para que durma nos horários apropriados. Não quero que faça outro serviço aqui no casarão além deste. Ele já nutre um carinho por você então isso não será um problema, estou certa?
Dahye ainda desamassava a enorme saia do vestido, preocupada com os frisos que se formaram na peça por ter permanecido por muito tempo segurando a criança. Calista estava em pé com o sonolento Jimin nos braços e diante das palavras da patroa, que ainda não havia conseguido compreender exatamente, ensaiou uma resposta.
— Sim senhora, farei tudo que ordenar. — disse com a voz trepidante.
— Onde estão os outros criados desta casa? Preciso que preparem meu banho e me auxiliem a organizar as vestimentas. Teremos a visita de alguém importante pela manhã e preciso escolher um vestido adequado, quero estar apresentável para o evento.
— Posso chamá-los se assim desejar, condessa. — Calista respondeu, deitando suavemente a cabecinha alva do filhote que agora dormia manso, feito um querubim.
— Faça. Subirei para os meus aposentos. O quarto dos ômegas é a segunda porta do primeiro corredor, peça para o criado entrar sem bater. — ela ordenou e deixou o local sem ouvir a resposta da beta.
O casamento entre alfas e ômegas na aristocracia londrina era algo muito peculiar e a moralidade era considerada um atributo hierárquico, sendo os hábitos dos súditos tratados com bastante importância aos olhos da sociedade. A rainha Victória prezava pela família e pelos bons costumes da corte e o questionamento religioso de par com um processo evolutivo indiferente aos anseios sociais, suscitou a necessidade de se buscar um ponto de equilíbrio entre o público e o privado, uma base que refletisse solidez e estabilidade. Esta base, naturalmente, era o lar, e como seu representante elegeu-se alguém com as qualidades de guardião da moral e da castidade. A exigência de um "anjo do lar" fez nascerem os ômegas vitorianos.
Os ômegas com o perfil assim delineado tinham todo apoio da rainha Vitória, que atribuía o sucesso do seu reinado à moralidade da corte e à harmonia da vida doméstica. Consequentemente, olhava o movimento em defesa dos Direitos dos Ômegas como ameaça à virtude do sexo 'frágil'. Tal situação, obviamente, viria a repercutir, ainda que de forma silenciosa, na vida privada, onde a repressão, principalmente a sexual, se agrava e se intensifica incrivelmente. Esporadicamente o doutor William Acton, o alfa conselheiro de assuntos familiares da corte, fazia discursos ao assegurar aos súditos que as únicas paixões sentidas pelos ômegas eram pelo lar, filhos e deveres domésticos. Segundo o médico, os ômegas submetiam-se aos alfas só para satisfazê-los e, se não fosse pelo prazer da maternidade, preferia não ter atenção sexual. Acton tornou-se o defensor dos 'ômegas assexuados', paradigma do ômega vitoriano. Acreditava que para a felicidade da sociedade, esses ômegas, com exceção das ninfomaníacas e das prostitutas, sabem pouco ou são indiferentes às necessidades sexuais. Além dissso, o médico falava sobre a paixão incontrolável dos alfas, acreditando que a negação dos seus impulsos sexuais poderia ser prejudicial para a saúde. Por outro lado, pregava que os ômegas nunca poderiam se negar sexualmente ao alfa, quando este os requisitasse.
De acordo com os costumes da realeza, o casal deveria dormir em quartos separados e apenas o alfa procurava o ômega para fins sexuais quando era conveniente a ele, ou em seus ruts, ou nos heats do ômega. Ômegas que se deleitavam ou manifestavam qualquer reação de prazer durante as práticas sexuais eram considerados mundanos, profanos, segundo o que pregavam os costumes à época. Apenas ômegas que moravam em bordeis, ou amantes que alfas tomavam pra si podiam se dar ao deleite do prazer, pois eram considerados inferiores dentro daquela hierarquia social.
O quarto do alfa nos casarões possuía três portas além da principal: a do banheiro; a do quarto do ômega e a porta do quarto do amante. Já o quarto do ômega possuía apenas a porta de acesso ao quarto do alfa e a porta do banheiro.
Manifestações públicas de afeto e carinho entre casais era algo muito improvável de se ver e geralmente aconteciam às escondidas em algum beco distante, na calada da noite. Entretanto os alfas jovens e adeptos das frequentes mudanças que transformavam a sociedade algo mais contemporâneo, refutavam esses costumes segregacionistas e mesmo sendo minoria, buscavam tratar seus ômegas com respeito e igualdade, o que seria o ideal.
(...)
As suaves badaladas do sino da Abadia de Westminster ressoavam por todo o condado naquela manhã fria. A condessa tivera a sorte de encontrar Calista que conseguira fazer Jimin dormir rapidamente e assim seguiu por toda a noite. Saiu de seus aposentos procurando por algum criado que pudesse preparar seu banho, orando para que seu marido não a visse com roupas de dormir. Ômegas só podiam trajar roupas informais ou ficarem nus diante de outro ômega ou beta. Ainda não tivera tempo o suficiente para se acostumar com os criados da mansão e por esse motivo fez uma nota mental para reunir todos após o café, enquanto o conde estivesse tratando assuntos do reino com o convidado. Avistou a criada que preparou seu banho na noite anterior e gritou pelo corredor.
— Ômega! Preciso que prepare meu banho e me auxilie com as vestimentas, onde estão os outros criados da casa? — gritou pela fresta da porta entreaberta.
— Me perdoe condessa, fui verificar se o pequeno filhote ainda dormia e preparei o mingau para alimentá-lo.
A condessa viu naquela informação a oportunidade de começar a remanejar os serviços na mansão.
— Você sabe cozinhar? — perguntou, sem olhar para a beta que estava a postos no corredor, aguardando novas instruções.
— Sim condessa, sou a responsável pela cozinha do casarão desde a vinda do antigo conde.
— Pois bem. Você ficará responsável por preparar todas as refeições desta casa e presumo que saiba preparar os mais diversos pratos, dado o tempo em que trata do cardápio por aqui. — delegou rapidamente, colocando metade do corpo para dentro dos aposentos, com medo nítido de ser vista pelo marido naquelas condições.
— Agora vá e chame um criado que possa me servir. — ordenou.
Não demorou muito até que o barulho da aldrava retumbando no mogno sólido da porta principal do casarão ecoasse pela sala de estar, fazendo o conde se sobressaltar. Sabia que sua visita havia chegado e decidiu esperá-lo ali mesmo, enquanto o criado recepcionava Kim Namjoon à porta.
— Conde de Norwich! Seja bem-vindo à sua nova moradia! — Namjoon fez o papel inverso ao recepcionar Jisung em sua própria casa.
O alfa entrou no recinto sendo guiado pelo criado e desejou boas-vindas ao conde como se fossem velhos amigos, o que o deixou bastante impressionado com a hospitalidade logo indicando o caminho do escritório. Entraram no ambiente e Jisung fechou a porta atrás de si.
— Quero que saiba que é uma honra tê-lo em minha residência, duque. — Jisung iniciou a conversa assim que indicou a poltrona de couro nobre para que o alfa se sentasse.
Assim que se acomodaram, Namjoon retirou um charuto já pela metade do bolso e Jisung, acostumado com a gentileza cavalheiresca da corte, ofereceu-lhe o fogo.
— Creio que não irá se arrepender do nosso acordo, conde. A BlackCrow precisa crescer para que nossos objetivos sejam concretizados. Você sempre se mostrou fiel aos anseios da corte e eu admiro muito isso.
Namjoon tragava pacientemente a fumaça densa do charuto e parecia calmo, pacífico diante à gravidade daquela conversa.
— Pelo que me contou, vocês planejam tomar o poder da rainha e acabar com a monarquia em Windsor, algo como um golpe, estou certo? — Jisung perguntou, demonstrando hesitação.
— Sim, conde. A monarquia é falha e Victória sonhadora demais para permanecer como rainha. O príncipe Edward e a mãe ômega não serão um problema, nos podemos dar conta. — disse desinteressado.
— Pretende matá-los? — Jisung se sobressaltou com a constatação.
A frieza com que Namjoon continuava a fumar o charuto ao tratar de um golpe contra a realeza foi perceptível aos olhos atentos de Jisung que manifestou um breve receio, representado pelo silêncio sepulcral que habitou o escritório naquele momento.
— Pretendo usar os meios necessários para que façamos o que devemos fazer até chegar onde queremos chegar e isso inclui matar pessoas. Então sejamos razoáveis, Jisung. Você mostrou que é capaz e será meu braço direito quando conquistarmos tudo. — Namjoon respondeu com um pouco de rispidez.
Aquelas palavras invadiram o âmago do conde, fazendo-o se arrepiar com a iminente possibilidade de se tornar poderoso, de prestígio, como sempre sonhou.
— E não se preocupe, faremos tudo pacientemente, com bastante cautela e cuidado. Temos que pensar em cada passo que daremos e falhas não serão toleradas.
Namjoon deixou o tom amistoso do início da conversa se esvair lentamente e mudou o tom, que agora soava ríspido e um tanto rude.
A conversa entre eles não durou mais que uma hora e então o último aviso foi reforçado pelo convidado, dirigindo-se para fora do escritório e parando diante do conde na enorme sala de estar.
— Às 18hs, em frente à igreja St. Mary Le Strand tudo estará terminado Conde, e seus serviços serão pra sempre lembrados pela BlackCrow.
— Farei o meu melhor. — despediram-se com um aperto de mão que selava o trato feito entre eles minutos atrás.
Antes que Namjoon pudesse se aproximar da porta de saída da residência, um cheiro peculiar chamou-lhe a atenção. Não se lembrava de onde havia sentido aquele aroma inebriante, que tomava conta de suas narinas, entorpecendo-o.
— Esse cheiro... - voltou o olhar a Jisung que o acompanhava e inspirou novamente, a fim de captar mais daquela fragrância. — pêssego! — afirmou com veemência.
— Eer... os criados quebraram um pote de geleia no desjejum hoje pela manhã, duque. Mudamo-nos ontem, creio que ainda estão se adaptando às novas ordens. — Jisung mentiu, buscando uma desculpa convincente que destituísse o alfa a continuar farejando pelo cheiro forte de pêssego do seu filhote.
— Hm...
Namjoon ainda tentava captar mais do aroma que mexia com seus sentidos, contudo o criado de Jisung já o aguardava com a porta aberta, forçando-o praticamente a sair do casarão.
Porém não saiu dali sem antes inspirar e encher seus pulmões com mais uma dose do aroma tão penetrante e familiar.
(...)
Strand era um ducado esplendorosamente charmoso. Era considerado o local mais contemporâneo de Westminster, com bordéis, casas de jogos de pôquer e todo tipo de entretenimento não convencional que um ducado poderia oferecer. Durante o dia, barracas e vendedores ambulantes se espremiam para comercializar todo tipo de mercadoria que vinha das fazendas da região, ou chegava de navio, vindas dos países vizinhos. O comerciante de ervas e condimentos Jeon Jungseok era um alfa viúvo há 10 anos. Sua esposa ômega morreu durante o parto do único filho do casal, o alfa lúpus Jeon Jungkook. Todos diziam que o lúpus havia sugado toda a energia da mãe durante a gravidez já que apenas alfas fêmeas poderiam gerar um alfa lúpus e a ômega resistiu até o último minuto daquele dia chuvoso de inverno. Após a morte da mulher, o homem jurou que jamais se casaria de novo, criando o filho sozinho. Contudo por uma graça dos Deuses, sempre contou com a ajuda da alfa Magnólia Wilson, a duquesa de Strand. Ela enviuvou-se jovem e não gerou herdeiros e nutria um carinho genuíno por Jungkook. Uma vez, observou-o brincando sozinho na rua e após a permissão do pai do garoto, o levou para sua fazenda, para que ele pudesse se distrair com os cavalos, uma paixão da mulher. Jeon Jungseok era extremamente grato a ela pelo carinho que despendia com seu filho, inclusive Magnólia dedicava algum tempo do seu dia para ensinar o garoto a ler e escrever, o que não foi tarefa difícil já que Jungkook era um garoto esperto que aprendia muito facilmente devido aos seus genes lupinos.
— Um dia, quando eu morrer, você será o Duque de Strand, Jungkook. — ela revelou certa vez, sentindo-se satisfeita após o garoto ter lido um texto de literatura medieval bastante rebuscado para o nível de aprendizado dele.
Magnólia via um potencial extraordinário em Jungkook, uma personalidade forte e determinada, típicas de um líder nato, porém sem título algum de nobreza. Ela, que havia percorrido metade dos reinos de todo o mundo, pouco se importava com fatores hereditários ou costumes daquela sociedade e decidiu então que faria o que fosse para ver Jungkook um homem nobre em Westminster.
Jungkook possuía o costume de sempre se encontrar com seu pai nos finais de tarde, quando o homem recolhia sua banca de especiarias e voltava para casa e naquele dia atipicamente chuvoso, não foi diferente. O garoto passava a maioria do tempo com Magnólia e os criados, no casarão da alfa, aprendendo a ler, escrever e tendo aulas de etiqueta e música. O lúpus estava sendo preparado para ser um lorde, mas nem ao menos notava. Sempre dava o seu melhor e fazia com êxito tudo que lhe era pedido.
Ele seguia a pé pelos cantos das marquises das construções, com a intenção de não se molhar tanto com a chuva e assustou-se com o barulho estrondoso dos raios e trovões que retumbavam no céu cinzento do ducado. Assustou-se novamente, agora com as doze badaladas do sino da igreja St. Mary Le Strand, que anunciavam 18hs, o início da noite.
Ele odiava chuva.
Apressou-se um pouco mais e já era possível sentir as gotas d'água escorrer por sua face um pouco apreensiva. Contornou a esquina que daria acesso à rua dos comerciantes e pôde avistar o pai vindo a certa distância.
Suspirou aliviado.
Entretanto assim que pai e filho acenaram um para o outro e Jungkook iniciou uma corrida eufórica em direção ao pai, um homem completamente vestido de preto com um lenço de cetim escondendo-lhe a face, surgiu de um beco e disparou a queima roupa em Jungseok.
— Não! — o garoto exclamou em desespero.
O corpo já sem vida do comerciante desabou próximo ao meio fio da calçada, trazendo também ao chão a pequena banca de madeira e os potinhos de condimentos e especiarias que o alfa levava consigo.
— PAI! — Jungkook vociferou e correu em direção ao homem caído, sem mesmo temer pelo assassino.
O algoz de Jungseok, ainda abalado pela presença inesperada da criança, se atrapalhou ao tentar encaixar o revolver no coldre preso à calça, fazendo emperrar o anel de corvo no gatilho da arma. O homem puxou com força o dedo preso e assim o anel acabou caindo no chão e rolando até a calçada, próximo ao corpo inerte do alfa baleado. Contudo o assassino não voltou para pegá-lo. O medo pulsante de ser descoberto o fez correr para o beco de onde havia surgido, largando a prova irrefutável de seu crime para trás.
Agachando-se banhado pela chuva e pelas lágrimas, Jungkook tocou o rosto já pálido do pai e suplicou pela vida dele.
— Papai fale comigo, por favor! — implorou baixinho, bem próximo ao ouvido do homem.
Jungseok não reagiu a nenhum chamado do filho e sua face coberta pela chuva que agora caía como um dilúvio pela rua, parecia serena em meio ao pânico que sua morte tão repentina e trágica trouxe ao pequeno alfa lúpus.
Mesmo depois de insistir em trazer seu tão amado pai de volta à vida, Jungkook teve forças de esticar o braço logo acima da cabeça de Jungseok e apanhar o anel de corvo abandonado pelo frio assassino desconhecido. O garoto analisou a peça, segurando-a com força com a ponta dos dedos magros e fez um juramento:
— Eu vou encontrá-lo, papai. — secou o rosto com as costas das mãos e tornou a olhar para o anel. — Passe o tempo que passar, eu vou vingar sua morte, eu juro.
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Uaarrrr!
Oi minha gente! Vou militar em cima do alfatriarcado, quem vem comigo?🏃
A era Vitoriana tem elementos ótimos para um enredo de Fanfic feminista militante lacradora como essa, então vai ter perturbação sim! 😊
O que acharam? 👀
Tchauu
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