𓅂 𝓣𝓱𝓮 𝓒𝓱𝓮𝓮𝓴𝔂 𝓞𝓶𝓮𝓰𝓪
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#DocedePessego
🍑
Deixem o voto e comentem!
Boa leitura!
— Humm...
A carícia suave arrepiou completamente os pelos do corpo do duque, que permaneceu inerte na cama, ainda sonolento com os olhos fechados. Ele gemeu outra vez e conforme o gesto se repetia, seu corpo relaxava mais e mais, multiplicando a sensação aprazível.
Sentiu uma pressão um tanto forte na coluna, como se estivesse sendo massageado por um profissional que sabia identificar seus pontos de tensão.
— Ah, Jimi... — ele ousou a dizer o nome do ômega, mas obviamente suas palavras não fizeram sentido algum.
Recobrou a consciência imediatamente.
Então num movimento rápido, retirou os lençóis e girou o corpo para poder ver quem o apalpava com tanto afinco.
E por incrível que pudesse parecer não se surpreendeu com a presença inusitada.
— O que faz aqui?? — ele mirou os olhos intimidantes em direção à Missy que não se espantou com a indagação, simplesmente sentou-se na cama e manteve os grandes olhos felinos nele.
— Vou ordenar para que construam uma gaiola para você! Bichanos atrevidos devem ficar presos! — certo de que a gatinha compreendia cada palavra, o duque levantou-se da cama, seguindo até a janela — Por onde entrou? Certifiquei de ter fechado a janela ontem antes de dormir! — ralhou por fim.
A irritação de Jungkook era proveniente exclusivamente da falta de tato com a gata. Nunca tivera animais de estimação de tamanho tão diminuto e não gostava de contato físico com eles.
Entretanto Missy o amava. Ela sabia que era questão de tempo até o que grande alfa cedesse aos seus encantos.
Ela amava Heólico também, afinal ele sempre a protegeu desde o primeiro dia em que ela apareceu na fazenda, completamente sozinha e faminta.
Amava todos os empregados da fazenda, ganhava leite fresco todos os dias sem exceção.
Contudo o coração do alfa era difícil de adentrar, porém ela não iria desistir tão fácil.
Ainda mais agora que havia um novo morador ali.
Trataria de conquistá-lo também, seria mais um para servir-lhe leite, matutou.
Ainda sentada, lambeu a pata esquerda, sinalizando para o alfa que não sairia dali fácil.
Parou o movimento assim que o viu ir até a porta e abri-la.
— Vá até Heólico, ele está chamando você. Vamos! Vamos, saia! — ele ordenou, gesticulando com o braço, impaciente.
E após uma longa espreguiçada, Missy desistiu de insistir e desceu da cama rumo à porta, mas não sem antes passar por entre as pernas de seu amado e esfregar seu corpo ali, numa clara demonstração de afeto e demarcação de território inerente aos felinos.
Deixaria na pele dele seus feromônios.
O alfa também era seu, como todos os moradores da fazenda.
E então saiu, levantando o rabo felpudo e tomando o rumo da escada.
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No andar debaixo, na mesa do desjejum, Jimin esperava seu esposo com certa aflição. Dormiu pouco na noite passada, seus pensamentos ainda permaneciam acelerados, dada a quantidade de informação que recebera em tão pouco tempo.
Ele era um ômega casado agora.
Um casamento não convencional.
A mesa abastada com frutas, pães e bolos fazia seu estômago roncar embora ele não tivesse tanta certeza se poderia empanturrar-se com os quitutes.
Seu alfa gostava de ômegas magros?
Seu alfa gostava de ômegas?
Havia tantas e tantas perguntas...
Após um longo suspiro resignado, Jimin viu um vulto se aproximar da grande mesa posta.
Olhou de um lado e de outro e finalmente colocou os olhos na criatura peluda e gorducha.
— Um gatinho! — ele exclamou alegre, colocando um sorriso fácil no rosto.
E Missy se aproximou devagar, esbanjando graça, tentada a conquistar o novo morador.
Jimin se abaixou ao perceber a gatinha já próxima a ele, e dando o que ela queria, afagou-lhe a cabeça peluda. Em resposta, Missy se esfregou de volta, vitoriosa.
— Que gracinha, tão manhosa! — ele cochichou e a bichana fechou os olhos, aproveitando-se da boa sensação do cafuné.
Em meio à cena, outra presença se fez na sala como num passe de mágica.
— Jimin, ajeite-se, seu marido está vindo! — Calista disse aflita próximo à mesa, anunciando a presença do alfa.
Sem protestar, Jimin aprumou-se na cadeira e manteve a cabeça baixa, expectante.
E o cheiro fresco de pinus e hortelã dominou os sentidos do ômega, assim como o barulho das botas de montaria que ressonou pelo piso de madeira maciça, acarretando uma situação de conforto e aconchego na mesma proporção em que causava medo.
— Bom dia. — Jungkook cumprimentou assim que entrou no recinto.
O duque usava uma camisa branca desabotoada no pescoço com as mangas arregaçadas que expunham seus antebraços fortes e a calça de montaria demarcava suas coxas atléticas de modo em que era possível ver seus músculos se contraindo ao caminhar.
Jimin engoliu seco, respondeu o bom dia num chiado e manteve a cabeça abaixada.
Por que aquele alfa o deixava tão desconcertado e com as bochechas queimando?
Tão logo o duque sentou-se à mesa, os criados da casa se aproximaram. Ficaram dois ao lado de Jungkook, provavelmente esperando por ordens, fato esse que causou estranheza no alfa.
— Estão precisando de algo? — ele perguntou, olhando os empregados com curiosidade.
— Não, senhor. Estamos apenas seguindo ordens de Lorde Archer para servi-lo e também servir ao ômega.
Jungkook odiava ser bajulado ou tratado como um inválido que não conseguisse servir o próprio chá. Falaria com Lorde Archer em particular posteriormente.
— Hm. — ele relaxou os ombros, recostou-se na cadeira e olhou diretamente para Jimin — Pois eu não necessito de ajuda para comer e creio que meu esposo também não tenha dificuldades, estou certo, ômega?
Jimin arregalou os olhos, não sabia se deveria responder sim ou não.
O alfa estava o testando?
E na ausência de respostas, Jungkook decidiu ser mais objetivo. Colocaria um fim nas regras desnecessárias de etiqueta londrina de Lorde Archer.
— Gostaria de fazer o desjejum a sós com meu esposo, por favor. — pediu num tom sério, direcionando aos criados. — Eu me refiro a hoje e aos próximos dias
Queria manter sua rotina como sempre fora, sem frescuras e suntuosidades.
A sala de jantar foi rapidamente esvaziada e Jimin desejou poder correr dali também.
Estava a sós novamente com seu marido.
Engoliu em seco e percebeu o alfa se aproximar.
— Café ou chá? — Jungkook se inclinou levemente ao perguntar, porém não obteve resposta mais uma vez.
Suspirou fundo, sua intenção não era assustar o ômega, porém precisava acertar alguns pontos.
— Jimin, olhe para mim. — pediu. — Você é livre para fazer suas escolhas e isso inclui decidir sobre o que deseja comer no desjejum. Não quero que haja como se necessitasse da minha aprovação. — falou baixo, mas manteve certa firmeza nas palavras.
Compreendendo certamente o que o duque havia dito e relembrando a conversa da noite passada, Jimin fechou brevemente os olhos como se pudesse retirar de si mesmo a confiança que precisava para enfim aceitar que era um ômega livre em suas escolhas.
— Eu gostaria de um pouco de chá, alfa. — ele respondeu trêmulo, o coração pulando no peito, o ar faltando-lhe nos pulmões.
Então Jungkook o serviu devagar, mantendo o fluxo do líquido cítrico até que enchesse a xícara de porcelana centenária quase até a borda.
Jimin notou cada gesto dele, a leveza com a qual cortava o pão e o besuntava com geleia, as mãos fortes e grandes com veias sobressalentes que hora ou outra ele limpava com um fino guardanapo de algodão. Seus dedos eram compridos, as unhas estavam limpas e bem cortadas, não fazendo jus a maioria dos alfas que viviam no campo. Havia completa destreza ao segurar a faca de mesa para descascar a maçã e o som da mordida que ele deu na fruta fez cócegas nos ouvidos do atencioso ômega.
Acompanhou curioso o fato do alfa não usar os talheres para comer, apenas os usava para retirar fatias do pão ou partir o bolo.
O duque apesar de ter muitas posses era um homem simples.
Ele não chafurdava em cima do prato como Jisung fazia, era cuidadoso em não espalhar migalhas e gostava de café preto, sem açúcar, Jimin ia tomando nota.
Poderia ficar ali vendo o alfa comer pelo resto do dia, tão aprazível era a cena.
— O chá irá esfriar. — Jungkook falou, percebendo que estava sendo observado — Creio que dentre alguns instantes seus pais devem chegar para confirmarem o casamento.
Jimin murchou os ombros, não queria a presença dos pais ali, seu dia estava perfeito demais para ser verdade.
— Sua mordida dói? — o duque se estendeu, tentando continuar a conversa.
— Arde um pouco, mas consigo suportar. — o ômega bebericou o chá após responder.
Jungkook até pensou em pedir para lamber a ferida e acelerar o processo de cicatrização, mas hesitou, não deveria ter tanto contato físico assim com o ômega.
Eles não eram um casal de verdade.
— Hm.
Jimin manteve os olhos nele por alguns instantes enquanto tomava outro gole do chá, desejando acompanhar-lhe os movimentos novamente.
Entretanto o plano não durou muito.
— Duque, o conde e a condessa de Norwich já estão na sala de estar. — um dos empregados avisou.
Limpando sem pressa os lábios no guardanapo, Jungkook olhou para o marido e ergueu uma sobrancelha.
— Sim, peça-os para aguardar. Meu esposo ainda não terminou o desjejum. — respondeu formalmente.
Assim que ficaram novamente sozinhos na sala de jantar e olhando ao redor para certificar-se de que ninguém os ouvia, Jungkook levantou-se da cadeira e se aproximou de Jimin.
— Apenas mostre-os a marca. Creio que não haverá mais o que ser dito. — disse num tom amistoso.
— A condessa irá contestar seus métodos. — Jimin respondeu baixo, hesitante — O acusará de ser um alfa profano.
Diante do comentário, Jungkook se abaixou, ficando um pouco abaixo da altura do ômega que ainda permanecia sentado. E então, manifestando um sorriso jocoso, quis dar combustível para acender a fagulha entre mãe e filho.
— Pois então dê a resposta que acha que ela mereça ouvir. Você agora é um Jeon, não está mais sob as regras infames de sua antiga casa e eu sei, Jimin, eu sei que você consegue ser rebelde quando preciso. — piscou para ele ao final da frase, deixando nas entrelinhas que o conhecia, que sabia de suas artimanhas.
Aquelas palavras arrepiaram Jimin por inteiro mais uma vez.
Era seguro confiar?
Poderia ser mal criado com sua mãe caso fosse ofendido por ela sem se preocupar com retaliações?
Mordeu o lábio e sorriu de volta, ansioso pela cena.
— Vou dizer a ela que fui eu quem pediu pela mordida no punho. — colocou as mãos na boca, o riso vindo com entusiasmo.
— Ah, Jimin... você dirá que deu ordens ao seu alfa? Isso é muito desrespeitoso! — Jungkook fez bico, fingindo indignação — Então está decretado! Faça-me rir da cara de sua mãe hoje, terei um dia cheio, preciso de uma carga de ânimo matinal.
Ao passo em que o alfa seguia novamente para seu assento, Jisung e Dahye adentraram no ambiente.
A condessa, obviamente entrou na frente, olhando cada detalhe do teto ao chão com petulância estampada na face.
NewBrook's Farm não tinha o requinte dos grandes casarões londrinos, mas não deixava a desejar, era bem decorada, embora mostrasse um certo minimalismo na quantidade de móveis e nas cores dos tecidos.
— Bom dia, condessa. — Jungkook não se preocupou em manter-se de pé para receber a condessa como as regras de etiqueta ditavam. Queria deixar evidente sua pouca afeição por ela.
Jimin, seguindo os passos do marido, continuou sentado e assim que a mãe partiu em sua direção, abocanhou um enorme pedaço de bolo de nozes a ponto de quase não conseguir fechar a boca.
A condessa o olhou com cara de nojo e repreensão, entretanto não disse nada e na ponta da mesa, Jungkook ofereceu o assento ao lado para o sogro e acendeu um charuto em seguida.
Precisaria de um pouco de tabaco para suportar a visita intragável dos pais de seu esposo.
— Esse cubano é dos melhores, estou ficando sem reservas inclusive, preciso encomendar mais. — ele falou olhando para o charuto, enquanto exala a fumaça da primeira tragada, com certa indiferença pelos presentes.
Jisung apenas acenou ao genro e Dahye, sentada ao lado de Jimin, parecia estar a ponto de perder a paciência.
— Acho que a hora do desjejum já acabou, Jimin. Seu marido já terminou. — ela falou com a voz estridente, em meio a um sorriso forçado.
— O desjejum só acaba depois que meu marido termina de comer, condessa, e como pode ver ele ainda não terminou. — Jungkook respondeu olhando para Jimin, montando a cena do marido apaixonado.
Sem deixar o silêncio prevalecer e encarnando o bom ator que era, Jungkook puxou assunto com o conde.
— Como está os negócios, meu sogro? Quero conversar sobre uma futura parceria entre nós. — ele iniciou a conversa, tendo total atenção de Jisung para si.
Logo ao lado, Dahye sentia-se incomodada com a forma a qual Jimin comia. Na verdade ver a interação entre o casal e notar o conforto ao qual seu filho viveria dali em diante lhe causava um incômodo insuportável.
— Está faminto assim porque foi privado de se alimentar pelo seu alfa, não é? Ele parece querer te proteger, mas tenho certeza que está lhe colocando rédeas. — ela salivava, o sorriso com alto teor de psicopatia predominando.
No entanto Jimin entendeu completamente as palavras da mãe e entrou no jogo.
— Sim, estou faminto. Só pude me alimentar agora, porque meu alfa é muito exigente, quase não tive tempo de frequentar meus aposentos, apenas consegui me livrar dele agora pela manhã. — ele disse num muxoxo e Dahye exalou felicidade.
— Fico feliz em ouvir que está aprendendo sua lição.
E passando o dedo indicador devagar em cima do bolo coberto por creme de chantilly, num gesto absolutamente provocativo, notado de relance por Jungkook, Jimin trouxe a mistura devagar e abriu os lábios enfiando o dedo quase todo na boca, chupando-o em seguida. Fechou os olhos e engoliu devagar o creme espesso, soltando um gemido quase inaudível assim que retirou o dedo da boca.
As aulas de Hyejin sobre intimidade com alfas foram úteis para algo, absolutamente.
— Sim, mamãe. Meu alfa está me dando uma bela lição. — provocou passando a língua entre os lábios, se deliciando com o resquício do creme.
Sentado na cabeceira da mesa, Jungkook observou o gesto com curiosidade.
O pequeno ômega não era tão puritano como ele pensava?
Torceu o lábio e logo voltou sua atenção ao conde que falava sobre algo completamente ignorado pelo anfitrião.
Por outro lado Dahye se enfureceu com a provocação de Jimin.
— Não pense que tudo será como flores num jardim, você terá que passar pelo crivo de toda uma sociedade e garanto que eu não irei carregar a culpa pela sua má educação! — o tom dela foi alto suficiente para que todos na mesa pudessem ouvir.
Temendo a tragédia, Jisung se prontificou a colocar um fim na animosidade.
— Pois bem! — ele se levantou — Não posso me atrasar para a reunião extraordinária do conselho do castelo e por esse motivo a nossa visita será breve. Jimin mostre-nos a marca.
Antes que o ômega pudesse se levantar, Jungkook arrastou a cadeira com suavidade e se aproximou dele, tentando passar confiança.
— Eu fiz um pedido ao meu alfa para que nossa marca fosse feita no meu punho e aqui está. — ele disse de uma vez, arregaçando a manga do longo vestido e mostrando a ferida aos presentes.
— Você o quê? —Dahye quase gritou.
— Sim, condessa. — Jungkook começou a falar — Jimin me pediu e aqui está nossa marca. Satisfeitos?
Embora estivesse tomada pela raiva, a condessa repensou seus atos. Não seria muito inteligente da parte dela medir forças com Jimin em frente ao duque, pois havia notado certa proteção dele em relação ao ômega. Precisava ser mais inteligente e a dissimulação era seu cartão de visitas. Agiria racionalmente até colocar Jimin novamente embaixo de suas asas.
Era ela quem deveria ser o centro das atenções.
Sendo assim, forçou outro sorriso e olhou para o filho.
— Não é nada usual, porém consuma o casamento. — ela tocou os ombros do filho — Ah, peça aos seus criados que avisem Calista para organizar seus pertences. Ela irá embora comigo, necessito dos serviços dela e como pude ver, você tem criados de sobra por aqui.
Jungkook girou os olhos.
E Jimin prendeu a respiração. Sabia que aquela ordem era uma retaliação. Ele fez menção de dizer algo, mas seu marido o conteve com o breve toque em sua mão.
— Bem-vindo a nossa família, duque! — Jisung cumprimentou o genro com exagerada empolgação— Quero que sejamos como pai e filho!
— Claro, conde. — Jungkook quis dizer o que pensava, mas se limitou a concordar com o sogro. Ergueu as sobrancelhas e suspirou demonstrando inquietação, tentando afastar as lembranças de sua infância que vieram imediatamente à sua mente.
Não via a hora de fazer Jisung pagar por cada segundo de tristeza e melancolia que sua vida se tornou após a morte de seu pai, decretou, apertando por fim a mão do conde.
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Ainda deslocado e sem saber como agir devidamente diante a ausência de Calista, Jimin se manteve sentado no sofá assim que seus pais foram embora. Não se permitiu chorar na despedida, não daria essa vitória a Dahye.
— Você ficará bem, meu raio de sol! Seu marido não é mau, você será bem tratado aqui! — Calista afirmou enquanto estreitava Jimin em seu abraço quente e fofinho.
Ela não recebeu resposta, apenas um aceno de cabeça. Percebeu que seu pequeno ômega segurava o choro dentro dos pequenos e marejados olhos cor de céu.
E voltando a realidade, em cada movimento dos empregados, sua ansiedade aumentava, tinha medo de estar fazendo algo errado.
Batia os pés no chão e cutucava as cutículas acompanhando o ponteiro do grande relógio de parede, desejando que os segundo passassem como horas.
Viu o duque descer as escadas e levantou-se rapidamente, como se aguardasse por ordens.
— Quer me dizer algo? — Jungkook percebeu a tensão dele — A propósito, você se saiu muito bem com seus pais, presumo que eles não voltarão aqui tão cedo. Quanto à ausência de sua aia não se preocupe, convencerei seu pai para que ela volte.
— Eu... eu não sei o que fazer, Calista era quem me orientava. — ele contou seus medos.
— Bom... Lorde Archer precisará voltar a Strand comigo, temos de contabilizar os danos do ataque a rainha... — Jungkook pensava em algo enquanto falava — Vou pedir para um dos empregados chamarem Yoongi para mostrar-lhe a fazenda, sim?
Jimin concordou com a cabeça, mas sua notória face emburrada se formou. Fez um bico que evidenciou seus lábios grossos e rosados, o que chamou a atenção do duque imediatamente.
Voltou suas lembranças à mesa do café e recordou a cena em que Jimin enfiava o dedo coberto por chantilly por entre os lábios, na tentativa atrevida de provocar a mãe.
Perdeu-se em seus pensamentos por um instante enquanto olhava para o ômega, mantendo um leve sorriso inconscientemente perverso nos lábios.
Ao notar os grandes olhos negros sobre si, Jimin sentiu-se levemente acuado e sem perceber, exalou seu cheiro de pêssego pelo ambiente, fazendo o duque recobrar a realidade imediatamente.
— Desculpe, eu não quis assustá-lo.— ele disse constrangido — Há uma biblioteca nos fundos da habitação e há também um piano, creio que não ficará entediado.
— O que o senhor irá querer para o almoço?
— Não me chame de senhor, por favor. Não sou tão velho assim. — Jungkook ainda tentava contornar a cena anterior com bom humor. — Peça aos empregados para preparem as refeições de rotina, ou algo que você goste, eu não me importo.
A última frase acertou Jimin com força.
O alfa não se importava com o cardápio? Ou não se importava com ele?
— Sim, alfa. — respondeu sucintamente e Jungkook apenas acenou, partindo em seguida.
Jimin vagou pela casa o dia todo, entrou em todos os cômodos, visitou a cozinha algumas vezes. Teve tempo suficiente para contar quantas cadeiras havia na sala de jantar e até mesmo a quantidade de copos da cristaleira havia sido contabilizada. Analisou os porta-retratos na sala de visitas e estranhou não haver fotos de Jungkook na infância.
Subiu as escadas e pensou em descansar um pouco até que Yoongi chegasse e então notou que a porta do quarto do alfa estava aberta.
Olhou ao redor e percebeu que estava sozinho naquele andar da habitação e mesmo sabendo que a atitude era perigosa, decidiu seguir com o plano.
Quem sabe fosse possível matar a curiosidade instigada por Hyejin?
Hesitou parado em frente a porta, mas decidiu entrar. O quarto do alfa era um pouco frio, o enxoval era cinza com tons pretos e tudo era muito organizado, além do aroma fresco de hortelã que estava impregnado no ambiente. Decidido a seguir com o plano, Jimin abriu a primeira gaveta da cômoda, bastante focado no que estava procurando. Havia alguns papeis e uma caixa comprida no fundo da gaveta a qual Jimin retirou com cuidado e abriu devagar.
— O que é isso? — Jimin segurou a tripa pela ponta de modo que a abertura ficou para baixo — Não parece ser uma meia... nem mesmo uma luva, não há espaço para os dedos... — ele ainda analisava com minúcia o objeto.
Ouviu ao longe os passos rápidos em sua direção e guardou o desconhecido item de volta na caixa e a guardou rapidamente na gaveta.
— Olá, Jimin! — Yoongi disse amistosamente parando na porta.
Jimin girou o corpo em direção ao rapaz e tentou esconder a gaveta aberta atrás de si.
— Olá, eu estava esperando por você! — falou alto, evidenciando o susto.
Fechou a gaveta com as costas e se aproximou de Yoongi, que parecia desconfiado.
— Vamos? O alfa disse que você iria me apresentar a fazenda, estou curioso.
— Sim, vamos. — Yoongi respondeu, olhando pela última vez a gaveta entreaberta antes de fechar a porta do quarto.
Precisava avisar Jungkook que seu adorável marido o bisbilhotava.
Ainda desconcertado pelo susto, Jimin desceu as escadas acompanhado pelo ômega e ao saírem pela porta principal, viu Missy deitada na varanda.
— Eu vi essa gatinha hoje no café da manha, é tão fofa!
— O nome dela é Missy, Jungkook não gosta muito que ela fique por aqui. Ela ama aparecer do nada na cama dele. — Yoongi riu do próprio comentário.
Jimin ficou em silêncio, lamentando não poder ter Missy dentro de casa.
Não confiava em quem não gostava de animais.
Seu marido não poderia ser tão rabugento assim.
Eles desceram até os estábulos, enquanto Yoongi falava sobre as plantações de girassol e apontava para os extensos campos floridos de lavanda. Jimin olhava tudo com grande admiração, criando cenários em sua mente, como se pudesse escrever uma história sobre aquele lugar.
Entraram nas baias e o garanhão mais famoso de Londres não fez questão alguma de os cumprimentar.
— Esse é Heólico! A pessoa preferida de Jungkook no mundo. Creio que a única que ele ame de verdade. — Yoongi falou, mas percebeu a indelicadeza. — Ah... eu quis dizer a segunda...
— Não se explique, eu e Jungkook nos conhecemos há dois meses, é natural não existir amor entre nós. — Jimin respondeu genuinamente.
Heólico se manteve de costas para os visitantes, comendo tranquilamente sua alfafa fresca. Sabia que Jimin seria o novo morador da fazenda, mas não queria parecer muito amistoso de antemão, preferiria esperar para ver se o ômega era realmente confiável.
— Heólico, venha conhecer Jimin, seu novo dono! — Yoongi provocou o animal que apenas mexeu o rabo e estrebuchou, mexendo a anca com desdém.
— Acho que ele não gostou muito de mim.
— Isso é questão de tempo, Heólico é muito espirituoso, creio até que consiga falar. — Yoongi comentou divertido.
O resto da visita se deu pelos arredores da fazenda e já sentindo o por do sol, Yoongi decidiu encerrar o passeio.
— Amanhã pretendo visitar Taehyung, quer que eu leve algum recado? — o treinador de cavalos perguntou.
— Ah, diga que estou com saudades e o avise para me esperar. Vou pedir a Jungkook para que me leve para visitá-lo. Diga a Lily e a Calista que sinto falta delas também!
— Sim, eu direi. Em breve trarei Taehyung para morar comigo, Seremos uma família.
Jimin apenas sorriu. Não acreditava que seria tão fácil, mas deixaria Yoongi manter as expectativas.
A noite foi monótona, Jungkook apenas jantou e se retirou para o escritório, enquanto Jimin pegou um livro qualquer na biblioteca. Passar tantos anos sendo comandado tirou-lhe até mesmo a liberdade de poder escolher como aproveitar seu tempo. Precisava de conselhos, precisava encontrar-se com Hyejin.
No dia seguinte, Jimin não teve a companhia do marido no café da manhã. Fora avisado de que ele havia saído bem cedo para se encontrar com o príncipe e não sabia que horas retornaria para NewBrook's Farm.
Seria mais um dia monótono na nova vida de Park Jimin.
Por outro lado, o dia de Jungkook estava cheio. Encontrou-se com Edward no castelo e foi informado pelo príncipe de que a rainha estava gravemente ferida.
Edward foi designado o príncipe regente, mas não sabia nem mesmo cuidar de si próprio.
— Jungkook eu estou desesperado! — ele disse com as mãos na cabeça assim que viu o amigo entrar no salão de reuniões.
— Como está a condição de saúde da rainha?
— Péssima. Ela foi ferida por uma flecha envenenada, está definhando. Minha mãe ômega está definhando junto ao lado da rainha, estou desolado.
— Você precisa se manter calmo, por mais que pareça difícil esse reino é seu, você é o príncipe regente.
— Tenho uma reunião com os conselheiros agora e não faço ideia de quantos são. Não sei os cargos que ocupam e na verdade, vou designar um deles para se reinar em meu lugar. Eu definitivamente não sou capaz.
— Não diga besteiras.
— Então me diga você o que devo fazer! — Edward gritou, o desespero se tornando latente.
— Edward, ouça. Eu me casei ontem, meu marido está em casa e eu nem ao menos sei onde levá-lo para uma lua de mel apropriada. Também tenho meus problemas.
Jungkook não queria parecer insensível diante à situação tão delicada, mas o fato era que Edward precisava tomar o controle para si, mesmo sendo tão imaturo.
— Leve-o para os Alpes Franceses. Tenho uma cabana de passeio lá. Será um bom lugar para levar um ômega sem ser incomodados. — esqueceu-se do tema central da conversa e começou a zombar — Seu ômega deve estar exausto! Diga-me, pediu para que ele gemesse seu nome? Não o manteve apenas de quatro como esses alfas bobões fazem, não é? Ômegas quando estão por cima, conseguem acabar com o jogo em alguns segundos, é difícil resistir por muito tempo.
— Como consegue fazer piada em meio ao caos que está vivendo? Você precisa de uma bela lição Edward! — Jungkook interrompeu com rispidez— Agora foque nos seus problemas que aparentemente são muitos, e haja com responsabilidade, meu caro. — ele ajeitou o chapéu na cabeça e se dirigiu até a porta.
— Jungkook, por favor! Mê dê apenas um conselho, eu imploro! — percebendo que estaria só novamente, o príncipe suplicou.
— Comece ouvindo a causa desse problema. Ouça o que os súditos têm a dizer. — o alfa abriu a porta e se retirou, deixando Edward ainda mais derrotado dentro do recinto.
O fato era que os súditos londrinos já não aceitavam mais viver apenas com as migalhas ofertadas pela realeza. Não havia condições de trabalho dignas, não havia escolas suficientes para todas as crianças e o saneamento em localidades mais afastadas de Westminster era tão precário que às vezes o esgoto jorrava pelas torneiras das habitações.
Victória preocupou-se demais com a estética social e com a burguesia, porém seu reino era formado por quase um terço de pessoas sem nenhuma herança aristocrata que necessitava de atenção e principalmente comida no prato, o que estava cada dia mais difícil de conseguir.
E desse modo, fez a revolta.
A fagulha, o estopim para dar início ao fim do legado da Rainha Victória.
No entanto o agora príncipe regente Edward não era sinônimo de bravura ou liderança.
O castelo estava vulnerável.
E olhando para a torre, parada em frente aos portões fechados e escoltados por guardas reais, a mulher de cabelos vermelhos como fogo, planejava pacientemente seu ataque final.
O plano era regatar Namjoon das masmorras do castelo e embebedá-lo novamente com sua magia desconhecida e finalmente fazê-lo rei, assim como dizia a profecia.
— Meu Deus Lugus, todo poderoso e indestrutível, farei conforme sua vontade. — ela orou, recobrindo um pouco mais o rosto com a capa preta.
Assim que girou o corpo para sair dali, porém, acertou em cheio o alfa que vinha na outra direção.
— Perdoe-me, senhora! — Jungkook a segurou pelos ombros, evitando que ela tropeçasse.
Contudo um cheiro extremamente familiar lhe preencheu as narinas, entorpecendo-o.
— Não se preocupe, alfa. Estou bem. — ela o mirou intensamente nos olhos, certificando que se tratava de um alfa lúpus, assim como ela havia pressentido apenas pelo toque dele em seus ombros.
Jungkook piscou os olhos algumas vezes para então se desfazer do transe. Não conseguiu distinguir a classe genética da mulher, porém o cheiro intenso de pêssego o intrigou.
Havia sentido aquele cheiro em Jimin, constatou.
E cheiros eram como impressões digitais, eram únicos para cada um.
Ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos confusos e tomou rumo para Strand, enfim.
Havia mais problemas pela frente.
Antes de ir para a sua mansão e contabilizar possíveis danos, Jungkook parou em frente a Maison de Mme. Davaux. O local parecia abandonado, as portas estavam vandalizadas com tinta e os muros rabiscados com frases ofensivas e de baixo calão.
— Senhor, me ajude com algumas moedas, estou com fome. — ele foi abordado por um transeunte maltrapilho, que parecia morar nas ruas há algum tempo.
Consternado, enfiou a mão no bolso do paletó e retirou uma nota de um valor ignorado e entregou para o beta, que sorriu amplamente e agradeceu.
— Que Deus o abençoe, senhor!
— Se Deus realmente existisse, você não estaria passando fome agora. — o alfa blasfemou, saindo de perto do beta, o coração apertando pela situação miserável a qual o desconhecido se encontrava.
Havia visto inúmeros miseráveis iguais a ele pelas ruas. O caos já havia se instalado.
Adentrou rapidamente pela porta dos fundos, onde um segurança de sua confiança estava fazendo a guarda desde os últimos acontecimentos em Londres.
— O que houve aqui? — ele perguntou
— As ruas estão inseguras, senhor. Há vândalos por todos os lados.
— Alguém ferido?
— Não, estão todos bem.
Ele seguiu para dentro sem nem ao menos ouvir a resposta. Passou pelo bar completamente vazio e seguiu pelas escadas, a fim de encontrar Mme. Davaux.
Já no corredor, próximo aos aposentos da mulher, a viu abrir a porta e dispensar um alfa, não muito satisfeito, de seu quarto.
— Não contrate essa, está velha demais para você. Será um dinheiro desperdiçado.
O duque teve o ímpeto de reagir a ofensa, mas foi rapidamente contido pela cortesã.
— Deixe-o. — ela disse indiferente.
— Está atendendo também? O que houve com esse lugar? Estive por apenas quinze dias fora e sinto que parecem anos!
A alfa ajeitou o robe de seda vermelha de modo que lhe cobrisse melhor os seios desnudos e amarrou o cordão da peça devagar, procurando as palavras que pudessem explicar a atual condição da Maison.
— Oui. — ela sentou-se na beirada da cama desfeita e ofereceu a cadeira para que Jungkook sentasse. — As coisas pioraram muito, alfa. Estamos atendendo a portas fechadas e na semana passada Rupert pegou uma gripe forte que se disseminou entre os ômegas. Tive que voltar a atender, ou passaríamos fome.
— Por que não me avisaram?
— Porque você estava se casando, não seria justo lhe ocupar com nossos problemas. — a alfa usava um tom formal desconhecido por Jungkook.
— São meus problemas também. Vocês estão sob a minha tutela aqui em Strand. Esse ducado me pertence!
Falando algo incompreensível em frânces e em meio a um sorriso entristecido, Mme. Davaux retirou um cigarro de papel da mesinha de canto e procurou pelo isqueiro. Rapidamente, Jungkook se levantou e retirou o objeto de seu bolso, liberando uma pequena labareda a qual a mulher acendeu o fino papel que envolvia um punhado de tabaco.
Ele a observou detalhadamente. Notou os olhos manchados pela maquiagem forte que provavelmente havia escorrido da noite passada. Ela havia emagrecido e possuía uma marca roxa no braço esquerdo, embora ela tivesse tentado escondê-la com pó de arroz.
— Aquele alfa que saiu daqui... foi ele? — Jungkook segurou-lhe gentilmente o braço ferido.
— Não.
— Então quem foi?
— Já não importa mais. — ela suspirou — Na verdade eu gostaria de lhe dizer que pretendo ir embora.
Jungkook se sobressaltou.
— Para onde? Londres não é seguro, além do mais, você será presa!
— Voltarei para minha casa na França. Se é que ainda exista algo que eu possa chamar de casa.
— E os ômegas? Eles precisam de você! — Jungkook estava exaltado.
— Eu não estou conseguindo ao menos cuidar de mim mesma, como acha que serei capaz de cuidar de quase dez ômegas? Estamos todos estigmatizados, somos chamadas de vadias, escória da sociedade... não há futuro sem o mínimo de dignidade. — ela falou em meio as lágrimas — E você agora é um alfa casado, logo terá filhotes, não é prudente que ainda continue administrando um bordel com uma prostituta velha como eu que não vale cinquenta libras. Sua boa reputação vale bem mais.
— O meu casamento não mudará em nada quem eu sempre fui. Saí a pouco do castelo, a rainha está morrendo e o príncipe passou seus quase vinte e cinco anos como um bon vivant. As coisas ficarão incontroláveis, mas eu posso dar um jeito, continuarei abrigando vocês e...
— Estou abrigando uma ômega e seus dois filhotes. Eles vieram pedir um prato de comida, o marido morreu na fábrica de tecidos a qual trabalhava incessantemente por dezesseis horas diárias. E isso ocorre diariamente, já perdi as contas de quantos pratos de comida eu tive de dividir na última semana, Londres se tornou um purgatório e estamos sucumbindo.
O duque ficou sem palavras, tudo estava muito pior do que ele um dia previu. Precisava tomar atitudes urgentes diante daquele impasse.
— Pois abra as portas e abrigue os necessitados. Direi para os guardas que barrem os alfas, vocês não precisarão atendê-los, ao menos que queiram fazê-lo por vontade própria, mas não por um prato de comida. Posso realocar alguns empregados de NewBrook's Farm para que ajudem na limpeza e para cozinharem. — ele segurou a mão dela e pediu: — vamos tentar fazer algo para que as pessoas tenham o mínimo de dignidade e eu me refiro a você também. Mas eu preciso da sua ajuda, preciso das suas mãos hábeis e cuidadosas para colocar esse plano em prática.
Era o mínimo que ele poderia fazer diante as injustiças reforçadas por anos naquele reino.
— Minhas mãos estavam sendo bem hábeis minutos antes de você chegar, não as tomem com tanto carinho assim, alfa. — ela foi bem humorada e Jungkook, num ímpeto de asco, puxou suas mãos, provocando um riso solto na mulher.
— Essa espirituosidade significa que aceita meu pedido?
E como se abraçasse aquela causa, esperançosa pela generosidade do alfa que ela tinha como um filho amado, Mme. Davaux se levantou e seguiu até a vitrola e após colocar a música, cantarolou alguns versos:
— Quand il me prend dans ses bras...Qu'il me parle tout bas...Je vois la vie en rose — venha alfa, dance comigo!
E sem poder negar, satisfeito por ter contornado a situação tão preocupante, Jungkook se rendeu à dança, um tanto desastrado, temendo pisar nos pés da mulher.
Porém ele sabia que sua solução era paliativa e não havia como abrigar todos os necessitados, mas sua iniciativa poderia ser o começo.
𓅂
Após passar o dia todo em Londres, Jungkook retornou quase ao final da noite para NewBrook's Farm e seguiu até a casa do retiro para conversar com Yoongi sobre os acontecimentos preocupantes do dia.
— Não acredito que Edward tenha capacidade plena para reinar. Temo que as coisas fiquem insustentáveis. Creio que o torneio será cancelado. — Yoongi constatou com preocupação.
— Eu tive uma conversa com Mme. Davaux, vamos ajudar algumas pessoas que estão passando por dificuldades e levarei essa demanda até o príncipe. É obrigação do reino em amparar os necessitados. — Jungkook falou aliviando o aperto da gravata.
— Você tem grande influencia sobre ele, creio que será ouvido.
— Sim... agora me conte como foi com o ômega, apresentou a fazenda a ele? Cheguei tarde por esses dias, mal tive tempo de perguntá-lo.
— Sim, Jimin ficou bastante impressionado com tudo, ele adora animais. Disse que nunca pode se aproximar de nenhum bicho durante toda a vida, a mãe sempre dizia que animais passavam algum tipo de moléstia para as crianças.
— Aquela mulher é uma megera! Ela maltratava Jimin, pude presenciar uma cena. — Jungkook falou com raiva.
— E você realmente disse a ele que era um sodomita?
— Sim. Não terei obrigações maritais com ele e isso ficou bem acertado entre nós. Não há o que temer.
— Sexo nunca foi uma obrigação para você, alfa. — Yoongi riu.
— E nunca será, sempre fiz quando tive vontade, porém estou focado em outras coisas ultimamente. — ele respondeu com indiferença.
— Jimin é um ômega bonito, por certo que toda aquela roupa parece esconder-lhe a formosura, mas é fato que mesmo assim ele se mostra atraente...
— Ele não gosta dos vestidos. — Jungkook achou graça, relembrando o fato sobre seu marido.
— ... e bastante perspicaz também. A carinha de ômega indefeso não lhe serve bem. — Yoongi continuou a frase e Jungkook franziu a testa.
— O que quer dizer?
— Vi o ômega em seu quarto, mexendo na gaveta da cômoda.
— Em meu quarto? Nem os empregados costumam mexer em minhas gavetas!
— Pois bem. Ele não parece ter retirado nada de lá, mas estava curioso de alguma forma.
—Hm. — Jungkook ralhou intrigado.
— Tenha cuidado com seus segredos, alfa. — o ômega deu o aviso — Preciso ir, vou a Londres me encontrar com Taehyung pela manhã. Observe seu pequeno marido com cautela, ou sentirá falta de algumas libras em sua carteira. — ele brincou por fim, deixando uma pulga incômoda atrás da orelha de Jungkook.
Ainda pensando sobre as palavras de Yoongi, o duque seguiu até a sede da fazenda, disposto a saber o motivo real da visita de Jimin em seus aposentos.
Entrou pisando duro no casarão e encontrou o marido sentado à mesa, já posta, do jantar.
— Boa noite! — Jimin disse entusiasmado.
— Boa noite, ômega. — o alfa respondeu-lhe com frieza. — Pode comer se quiser, preciso me lavar antes de sentar à mesa.
— Eu espero.
O alfa então seguiu pelas escadas sem responder.
Esfregando os braços com as mãos, Jimin notou que sentia um pouco de frio. Resolveu então ir até seu quarto para pegar um casaco quente antes que o alfa pudesse voltar à mesa. Subiu as escadas com cuidado e ao chegar no corredor, notou que a porta do quarto alfa estava entreaberta e a curiosidade o dominou novamente. Parou ao lado do batente, e inclinou o corpo sorrateiramente pela fresta, a fim de ver o que alfa fazia. E tão logo pôs os olhos para dentro do quarto, viu o corpo completamente desnudo de seu marido. A estrutura forte de um tom levemente dourado insinuava nádegas bem delimitadas, amparadas por dois pares de pernas tão fortes quanto, que se assemelhavam as estátuas de mármore das igrejas góticas de Londres, retirando por completo o ar dos pulmões de Jimin.
E tentando não se afogar, o ômega puxou o ar com tanta força que o barulho fez Jungkook se sobressaltar e cobrir o corpo com a toalha que segurava nas mãos.
— Quem está aí? — ele inquiriu, indo de encontro à porta semiaberta.
A essa altura Jimin já havia conseguido voltar para o próprio quarto e recobrava devagar os sentidos.
— Era exatamente como Hyejin disse. Mas eu não pude ver o que tem na frente! Droga! — Ele praguejou, dividido entre o susto e a curiosidade mórbida, relembrando novamente das conversas quentes que havia tido com sua preceptora.
Vestindo-se devidamente para o jantar e com a porta seguramente fechada, Jungkook já desconfiava quem era seu observador.
Tratou de descer rapidamente e entou-se à mesa, aguardando até que Jimin voltasse.
— Teve algum imprevisto? — ele perguntou ao ômega.
— Ah, sim, eu senti um pouco de frio, desculpe por não ter voltado a tempo. — Jimin respondeu com uma voz leve e um pouco agitado.
Ômega atrevido! Jungkook constatou para si mesmo, sem respondê-lo com palavras.
Jantaram em meio a poucas palavras o que deixou Jimin mais confortável, já que ainda se recuperava do susto de ter visto o alfa nu. Embora a imagem que ficara em sua lembrança lhe causasse arrepios intensos pelo corpo, o fato era que ele não conseguia encarar o alfa, tamanha era vergonha que sentia.
Disposto a desmascarar o meliante que havia tomado como marido, Jungkook terminou de comer e pedindo licença ao ômega, levantou-se e seguiu até a adega. Puxou a garrafa com o hidromel mais antigo que havia ali, certificando-se de que a taxa de destilação e o teor alcoólico estivessem mais fortes devido ao tempo de repouso do fermentado.
— Me acompanha até a varanda? Esse hidromel é de fabricação própria da fazenda, Mag sabe a quantidade exata de mel que há em cada uma dessas garrafas. — ele fez o convite fatal.
— Eu nunca provei hidromel, acho que não suportarei nada além de uma dose. — Jimin comentou, interessado em experimentar a bebida exclusiva dos alfas.
— Não se preocupe, se por acaso não se aguentar sobre suas pernas eu o colocarei em sua cama em segurança.
Seguiram até a ampla varanda de madeira tendo apenas a luz forte da lua cheia como iluminação. O ambiente pareceu romântico num primeiro momento, porém o alfa tinha outras intenções.
Olhando para Jimin sorrateiramente, o duque serviu-lhe primeiro com uma generosa dose da bebida.
— Abra bem a boca e engula de uma vez. — ele disse segurando uma dose para si — A primeira vez precisa ser assim, é como um batismo, as próximas doses podem ser apreciadas com mais tranquilidade. — mentiu.
Queria embebedar Jimin o quanto antes, desmascarar o ômega que se passava por um ser tão frágil e indefeso, mas que na verdade o estava espionando.
Possivelmente era um plano de Jisung, disse a si mesmo.
Jimin então obedeceu ao marido e levou o copo de uma vez até a boca, jogando o liquido âmbar pela garganta num único gole.
A bebida desceu como uma chama flamejante pela sua garganta, tirando-lhe o oxigênio pela segunda vez naquele dia.
Entretanto, disposto a não parecer tão amador em frente ao marido, ele respirou fundo, engolindo a saliva que formava em sua boca para tentar aliviar o efeito corrosivo da bebida.
— Como se sente? — Jungkook observou a cena com malícia.
— Não acenda seu charuto perto de mim ou irei explodir! Meus órgãos foram tomados pelo álcool, mas me sinto bem. Obrigado, alfa. — ele disse um pouco zonzo, caçoando de si mesmo.
Satisfeito com a resposta, Jungkook serviu-lhe outra dose.
— Não se preocupe, logo sentirá relaxado. — avisou, tomando devagar seu primeiro gole.
Deveria se controlar, precisava estar sóbrio para acabar com a farsa do ômega puro e angelical.
— Gostou da fazenda? Yoongi me disse que você nunca havia visto tantos animais.
— Sim, eu amei! Mamãe nunca me permitiu entrar em contato tão próximo com os bichos, na verdade eu era até mesmo proibido de colocar os pés descalços no chão.
— Hm. — Jungkook resmungou e Jimin mordeu os lábios querendo rir daquele trejeito engraçado do alfa. — Sua mãe é uma megera, creio que eu já disse isso outras vezes, mas preciso reforçar. Nunca a deixe maltratá-lo novamente.
— Não deixarei. — ele respondeu e bebeu mais uma quantidade generosa do hidromel.
Sentia-se leve, o sinal clássico de relaxamento que precedia a embriaguez. Recostou a cabeça na cadeira de balanço e abriu levemente as pernas completamente cobertas pelo vestido.
Jungkook analisava cada reação, cada suspiro que seu mimoso marido dava.
Estava quase, constatou.
Assim que o trombadinha assumisse, trataria de trancá-lo no quarto e chamaria a polícia.
— Por que você não gosta da Missy? — Jimin perguntou, a voz soando melosa.
— Porque ela é atrevida. Estou rodeado de pessoas atrevidas ultimamente, ômega. Tem algum conselho a me dar? — o duque penetrou seus olhos negros em Jimin e o provocou,esperando por resposta.
O atiçaria com comentários ácidos e largaria a isca para que ele mordesse.
— Só porque ela deita em sua cama e pede por carinho, não significa que ela seja atrevida. Ela só quer sua atenção.
— Pois então eu preciso trancar bem a porta do meu quarto, já que ando sendo importunado mais do que gostaria, até mesmo em minha ausência, recebo visitas, não acha curioso? — ele manteve um sorriso ladino, zombeteiro, ansioso pela reação do ômega.
— Alfa mau. — Jimin fez bico e espreguiçou-se, deixando entornar umas gotas de hidromel. — Oh, não caia, liquido precioso! — tentou amparar as gotas com a outra mão, inutilmente.
Sem perceber, Jungkook riu da cena.
Jimin era divertido alcoolizado.
O grande momento estava próximo.
Apenas mais uma dose, decretou.
— Não se preocupe, temos muito mais na adega. — ele o serviu novamente, enchendo-lhe o copo, o semblante vitorioso formando em sua face.
— Você manterá meu copo sempre cheio, alfa? — Jimin divagou, olhando o líquido através do vidro.
As formas refletidas no copo eram como um caleidoscópio que causaram uma leve vertigem em Jimin, e o fizeram fechar os olhos por um instante. Sentia-se estranhamente bem, com os pensamentos leves e o corpo magicamente relaxado.
— O que disse?
— São como os votos de casamento de um livro que eu li: "Sua taça jamais ficará vazia, pois eu serei o seu vinho."
— Isso é bobagem, apenas ficção. — Jungkook deu de ombros — Em apenas três dias visitando a biblioteca já conseguiu ler tantas histórias assim?
— Nosso casamento é uma ficção, podemos fingir ser um casal apaixonado. E não, ainda não li nenhum livro da sua biblioteca. Não gosto de histórias de terror.
— Não há apenas histórias de terror, também há romances! — Jungkook se defendeu.
— Pois eu duvido!
— Ora, você gosta tanto de bisbilhotar e ainda não listou todos os livros da biblioteca? Presumo que não está aproveitando bem seu tempo, ou seus interesses estão concentrados em outro local? — o alfa chegou no ápice da noite.
— Sim, eu sou curioso, mas sei guardar segredos. Guardei o seu segredo! — Jimin gritou, o teor alcoólico no sangue dando o sinal de que seus sentidos estavam deturpados.
Levantou-se rapidamente da cadeira na intenção de se defender e acabou se desequilibrando.
— Shiii! Não fale alto! — o duque o conteve, amparando-o em seus braços.
E Jimin aconchegou a face no peito rígido de seu marido ranzinza.
— Você é tão forte, alfa. Se fosse o bode velho, eu estaria ao chão com alguns dentes quebrados. — ele segurou os músculos do braço de Jungkook com força, apertando em suas palmas — é tão duro!
Temendo a aproximação, o alfa afastou o outro de seus braços.
Deveria focar em concluir seu plano.
— Vamos, vou levá-lo para seu quarto, caminhe devagar. — estendeu sua mão que foi rejeitada.
— Me leve no colo... — Jimin falou manhoso, levantando os braços.
— Não, conheço essa tática e você não está em condições de me pedir nada. Aliás, quero saber o que andou fazendo no meu quarto esses dias, sei que andou mexendo em minha gaveta.
Jimin parou no meio da sala e colocou as mãos na boca, assustado com a pergunta.
— Você me viu? — ele perguntou, a cabeça começando a girar.
— Sim, eu vi! Agora conte-me, o que procurava?
Jimin murchou os ombros, já que havia sido pego, deveria contar o real motivo.
— Na verdade eu não achei o que eu estava pro.... curando — ele soltou um arroto baixinho em meio as palavras — procurando, eu dizia. Desculpe.
Jungkook quis apertar-lhe as bochechas rosadas.
Mas retomou o plano.
Não deveria cair nos feitiços do pequeno trapaceiro.
— Então diga — ele cruzou os braços, mantendo-se parado em frente ao ômega. — Diga o que estava procurando, você foi pego, Jimin.
Tentando equilibrar-se, fixou os olhos no corpo do alfa, analisando cada parte dele.
— Você é tão forte, seus braços são grandes e pesados... — ele fez menção de acariciar Jungkook novamente, mas teve as mãos agarradas pelo maior.
— Não brinque comigo! — o alfa aproximou seu rosto quase encostando seu nariz no do ômega e o inquiriu. — Me diga o que estava procurando em meu quarto ou eu o devolverei para sua família amanhã, no nascer do sol!
Num rompante de raiva e sentindo-se injustiçado, Jimin se defendeu.
— Pois se me devolver eu não conto! — ele ralhou, malcriado, a língua pesando dentro da boca.
— Ômega atrevido! — Jungkook usou a voz de alfa inconscientemente, fato este que fez o ômega colocar as mãos nos ouvidos e entregar seu segredo.
— Eu queria ver suas ceroulas! — Jimin disse de supetão, fazendo bico mais uma vez, triste por não ter encontrado a peça. — Encontrei uma meia transparente, mas sei que não lhe serve nos pés, muito menos nas mãos, mas guardei de volta! — ele contou os detalhes da visita de uma só vez.
— Minhas ceroulas? Por qual motivo você gostaria de vê-las?
— Não vou contar! — então ele mirou os olhos na escada, rezando para que suas pernas o obedecessem e ele pudesse escapar do alfa.
Mas antes que fosse capaz de dar o primeiro passo, sua sapatilha prendeu-se na barra do vestido e ele quase veio ao chão, salvo pelos grandes braços de seu marido, mais uma vez.
— Temo que serei preso até o próximo mês, você poderia tentar se manter vivo, ou eu serei acusado de não conseguir te proteger! — aprumou Jimin sobre os pés mais uma vez, tentando encontrar sentido naquela história mirabolante.
— Eu odeio vestidos! Eles são culpados! — o ômega ajeitou a barra da saia com raiva e praguejando — E você é culpado por descobrir que eu bisbilhotei sua gaveta! Por que não havia nenhuma ceroula lá? Eu apenas queria ver, certificar que são grandes!
— Certificar que são grandes? Mas por certo são grandes, tenho um metro e oitenta de altura! Não me diga que queria vesti-las?
— Obvio que eu sei que são grandes! — ele debochou do alfa e mostrou a língua — Eu queria ver se tinham espaço suficiente na frente! — Jimin falou sem pudor algum, apontando para o membro do alfa, que rapidamente entendeu do que se tratava.
Seu ômega era realmente muito atrevido!
— Pelo Deuses, Jimin! Venha, vou levá-lo até seus aposentos, está embriagado e fora de seu juízo. — Jungkook o segurou novamente e o outro não ofereceu resistência dessa vez.
O amparou até o quarto e notou que ele já não falava mais. Parecia sonolento e indefeso, causando uma sensação de arrependimento no alfa.
Jimin era apenas curioso.
Um ômega atrevido, inofensivo e curioso.
— Tome, beba água. — ofereceu um grande copo com água ao seu sonolento marido, negando com a cabeça.
Jamais contaria essa história para quem quer que fosse, ninguém acreditaria nele, por certo.
Jimin deitou na cama e se aconchegou de uma forma que fez o alfa lembrar-se de Missy. Viu o ômega resmungar e se enrolar como a gatinha de Heólico fazia.
— Promete que deixará uma ceroula na gaveta? Apenas se acaso eu quiser bisbilhotar de novo? — Jimin cochichou quase inconsciente enquanto seu marido o cobria.
E olhando o ômega atrevido fechar lentamente os olhos, o alfa falou baixinho, concluindo os acontecimentos hilários daquela noite:
— Continue me observando pela fresta da porta, quem sabe dará a sorte de me ver nu e se certificar do motivo pelo qual minhas ceroulas são espaçosas na frente. — disse certo de que Jimin já não o ouvia mais.
Saiu do quarto e fechou a porta devagar. De fato aquela noite fora a noite mais divertida que já passara ao lado de alguém.
Poderia ser amigo de Jimin quando realmente se vingasse de Jisung?
Sacudiu a cabeça, afastando os pensamentos.
Não nutriria sentimentos pelo ômega, decretou para si mesmo, mas dessa vez o sorriso não saiu de seus lábios.
✧══════•❁ 𓅂 ❁•══════✧
Porrann que demora, hein autorann?
Não vou mais me desculpar pelas demoras, porém pode ser que aconteça novamente, então peço desculpas novamente pela próxima demora.
O Jimin é atrevido e o Jungkook é um alfa gostosão neah... e tem bunda durinha por sinal.
Daqui pra frente é só alegria e bora de #HOBIPALOOZA! Só leiam a att após o show histórico do Hobi, tô de olho em vocês, armys!
Grata pela atenção, amo vocês viu, de verdade! ^^
Fui e volto em breve, ou não!
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