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Os meses passaram, e Cibele se viu cada vez mais afundada em sua própria escuridão.

A tristeza a envolveu como um manto pesado, e o brilho que uma vez definira seus olhos, desapareceu completamente.

Ela se recolheu em seu próprio mundo, evitando o contato com todos ao seu redor.

Demorou cinco meses para que Cibele se alimentasse por vontade própria. Ela passava os dias no quarto escuro, apenas olhando para o nada.

As refeições eram uma tarefa árdua, mas Tamlin insistia que ela precisava se manter forte.

Lucien também.

E Cibele comia, mas sem qualquer entusiasmo.

Mais três meses se passaram antes que ela finalmente saísse do quarto.

Ela vagueava pelos corredores da mansão como um espectro, ignorando as tentativas de conversa de qualquer um que tentasse se aproximar.

Principalmente Lucien, que passava mais tempo na Corte Primaveril, do que em sua própria Corte.

A presença dela era quase imperceptível, como se ela estivesse se tornando parte das sombras.

Mais dois meses depois, e ela ainda não pronunciara mais do que duas palavras em qualquer conversa.

Quando forçada a falar, sua voz era um sussurro fraco e desprovido de emoção.

Ela evitava o olhar de todos, seus olhos agora vazios de qualquer vivacidade.

Depois que outro mês se passou, Cibele finalmente começou a fingir que estava melhor.

Fingir apenas, porque ela não estava melhor. Talvez nunca estaria.

Cibele sorria quando necessário, ria quando esperado, mas aquele sorriso era vazio, e o riso não alcançava seus olhos.

Ela havia aprendido a esconder sua dor por trás de uma máscara de normalidade, mas era uma fachada frágil.

Uma que apenas Lucien conseguia ver através.

Nem mesmo Tamlin, apenas Lucien.

ㅡ Cibele?

Cibele saiu de seus pensamentos para olhar para o Vanserra.

O rosto do macho estava pouco iluminado, era noite, e a única luz na biblioteca, era a vela ao lado de Lucien.

Ele estava lendo para ela, ja que ela sempre preferiu ouvir ele lendo, à ler ela mesma.

Simplesmente havia algo na voz de Lucien. Algo que tinha o poder de a acalmar, de fazer a maioria dos medos dela irem embora. De fazer ela se esquecer dos problemas.

ㅡ Sim?

ㅡ Você está prestando atenção, Bele?

Cibele suspirou. Ela não estava. Mas não queria dizer isso para Lucien, como se ela não se importasse com o que ele estava fazendo por ela.

Ela se importava. Se importava muito. Ela só não conseguia prestar atenção por muito tempo. Seus pensamentos sempre se tornavam sombrios.

ㅡ Estou, Lucien.

Lucien a encarou por um instante, ele fechou o livro que descansava em seu colo e o colocou na mesa de frente para ele.

Ele se aproximou de Cibele então, seus olhos pareciam mais brilhantes, brilhando com uma luz tão diferente do fogo da Corte Outonal.

Ele continuou a encarando, sua mão direita colocando os cabelos loiros dela atrás de suas orelhas pontudas.

A mão dele permaneceu na bochecha dela por mais um momento.

O coração de Cibele acelerou sem que ela ao menos percebesse.

ㅡ Você não precisa mentir pra mim, Bele. ㅡ ele disse docemente. ㅡ Além disso, sempre sei quando você está mentindo. Você é péssima nisso.

Ele riu levemente.

Cibele se pegou sorrindo. Um sorriso genuíno, o mais verdadeiro que ela deu em meses.

Tudo havia mudado.

Depois da morte da mãe dela, Tamlin se transformara em uma pessoa completamente diferente.

O que antes era um irmão amoroso e protetor, agora era um estranho irritado e explosivo.

Cibele podia ver a sombra de seu pai nele, seu autoritarismo e raiva.

O luto, se tornar Grão Senhor, havia transformado Tamlin em uma versão distorcida de si mesmo.

Ao que parece, o pai deles havia conseguido colocar suas garras em Tamlin mesmo depois da morte.

A relação entre os irmãos nunca mais foi a mesma.

Tamlin, em seu âmago, a culpava por não ter feito nada no dia que a mãe deles morreu, ele também não aceitou bem o fato de que ele escutou ela dizendo que havia salvado Rhysand, e a culpa consumia Cibele por dentro.

Tamlin a via como uma ameaça, uma bomba-relógio prestes a explodir.

Ele tinha medo de que seus súditos descobrissem o quanto ela era poderosa e instável, e sua obsessão em protegê-la tornou-se sufocante.

Cibele sentia-se aprisionada na mansão.

Tamlin a impedia de sair, alegando que era perigoso demais para ela e para os outros.

Ele a mantinha sob vigilância constante, como se ela fosse uma prisioneira em sua própria casa.

Ela desejava escapar, desejava a liberdade, mas a escuridão em seu interior a mantinha cativa.

Ela não tinha forças para lutar, não tinha esperança de um futuro melhor, principalmente agora, com Tamlin começando a pensar em escolher um marido adequado para ela.

Enquanto Cibele se afundava cada vez mais nessa depressão, Tamlin, apesar de seus esforços para protegê-la, não conseguia ver o quão profundamente ela estava sofrendo.

Sofrendo por culpa dele.

E assim, os dias e meses passavam, sombrios e intermináveis, e a mansão se tornava uma prisão silenciosa para a alma atormentada de Cibele.

Ainda assim, apesar de tudo, de se sentir uma prisioneira, de se sentir sufocada, ela tinha Lucien.

Lucien, que convenceria Tamlin á  deixar Cibele caminhar pelo lado de fora da mansão, até mesmo ir para um lago próximo.

Lucien, que não a abandonou, mesmo quando ela pensou que ele o faria, quando a escuridão dentro dela pareceu afastar até mesmo o próprio Tamlin, o irmão dela, a única família que a restava.

Lucien esteve lá. Trazendo consigo um resquício de liberdade. De vida. De luz.

Cibele não soube quando ou como, mas, seu coração começava a bater por Lucien.

Talvez tenha sido anos antes, quando eles se conheceram ainda crianças, e ele a chamou para dançar para evitar que Eris o fizesse.

Talvez tenha sido depois, quando ele descobriu que ela era doente e frágil, mas isso não o impediu de se tornar amigo dela, ou ler histórias de heróis e monstros ao lado da cama dela, usando os bichinhos de pelúcia dela para encenar as cenas.

Poderia ter sido quando ela o contou um de seus maiores segredos, quando ela mostrou para ele o que se escondia sob a pele da filha do Grão Senhor da Primavera. Quando ela o mostrou àquela forma primitiva e aterrorizante, e ele apenas sorriu e riu, ignorando as garras, ignorando as presas.

Poderia ter sido naquele dia no lago, quando ela finalmente o convenceu a deixar ela o chamar de raposinha, e ele pareceu brilhar como o próprio sol.

Ou talvez tenha sido naquele instante, naquela biblioteca, ao anoitecer, onde ele deixou de descansar para ler para ela, enquanto ele olhava para ela como se ainda houvesse algo além de uma garota triste e presa.

ㅡ Obrigada. ㅡ ela sussurrou, seus olhos ficando marejados enquanto ela colocava as mãos frágeis no rosto de Lucien.

Como sempre, ele estava quente ao toque.

ㅡ Pelo quê? ㅡ o macho ruivo perguntou confuso sem entender por que ela o estava agradecendo.

ㅡ Por não ter me abandonado. ㅡ ela sussurrou, como se temesse dizer as palavras alto.

Lucien olhou para ela com tanta intensidade, que Cibele se viu prendendo a respiração.

ㅡ Nunca. Você me ouviu, Bele? ㅡ ele aproximou o rosto do dela. ㅡ Nunca vou te abandonar. É uma promessa.

Cibele não disse nada, ela não sabia o que dizer, então ela simplesmente se inclinou e o beijou.

Cibele precisava desesperadamente sentir algo, algo além da tristeza e o sentimento de ser uma prisioneira, e Lucien a fazia sentir a liberdade.

Ela não poderia imaginar que ele quebraria sua promessa.

Rhysand não sabia o que esperar, não sabia mesmo.

Ela estava parada de costas para ele, uma enorme caixa ao lado dela.

Seu vestido primaveril era verde escuro, simples.

ㅡ Cibele. ㅡ ele chamou.

Cibele se virou para encarar os belos olhos de Rhysand, que olhava curioso para ela.

Rhysand parecia o mesmo, alto e bonito, Cibele, por outro lado, estava mais magra e com uma aparência doente.

Todo o seu brilho, aquela coisa fascinante sobre ela, que fez Rhysand gostar dela imediatamente, havia se apagado.

Cibele havia se apagado. Como uma flor que estava murchando lentamente, até finalmente perecer.

ㅡ Rhysand. ㅡ ela saudou educadamente.

ㅡ Você queria me ver? Por que?
ㅡ Rhysand perguntou curioso, depois de quase um ano inteiro sem contado, ela havia escrito no papel que ele havia a dado, o pedindo para se encontrar com ela alí, na parte mais afastada da Corte Primaveril.

ㅡ Elas merecem descansar apropriadamente. ㅡ Cibele murmurou sem rodeios, apontando para a caixa enorme ao seu lado.

Rhysand se ajoelhou lentamente e abriu a caixa, suas mãos tremiam levemente, o Grão Senhor ofegou ao se deparar com as asas de sua irmã e as de sua mãe.

Lágrimas encheram seus olhos azuis violeta.

Ele ficou sem palavras por um instante, enquanto algumas das lágrimas rolavam por sua face.

ㅡ Muito obrigado, Cibele. De verdade. ㅡ Rhysand agradeceu tocado.

Cibele não tinha obrigação nenhuma de fazer nada. O pai dele havia matado a mãe dela, e aquela jovem, àquela fêmea maravilhosa, ainda tinha bondade em seu coração para entregar as asas para ele. Para o amigo que não impediu o próprio pai de assassinar a inocente e boa mãe dela.

ㅡ Era o que minha mãe me diria para fazer. ㅡ Cibele murmurou e Rhysand se levantou, se aproximando da loira.

ㅡ Eu sinto muito Cibele, eu sinto muito mesmo. Eu tentei impedir meu pai. Eu juro que tentei. ㅡ Rhysand disse com sinceridade, olhando no fundo dos olhos esverdeados da garota.

ㅡ Uma parte de mim quer culpar você, quer poder voltar no tempo apenas para deixar aquela lança atravessar seu coração. ㅡ ela confessou encarando os olhos de Rhysand de volta. ㅡ Mas isso não é quem eu sou, quem eu quero ser, muito menos quem minha mãe me criou para ser. ㅡ ela disse em um fio de voz.

ㅡ Cibele-

ㅡ Eu não odeio você Rhysand. Eu realmente queria odiar, mas não posso. ㅡ ela confessou.

Ela havia tentado odiar aquele macho. Havia mesmo. Mas a liberdade que ele a mostrou, e simplesmente algo nele, a impedia de o odiar. De desejar a morte dele ou vingança.

ㅡ Mas isso não significa nada, eu não quero sua amizade. Eu não quero ver você novamente, nunca mais. Porque tudo que eu consigo ver ao olhar pra você, é você ajoelhado ao lado do corpo da minha mãe. ㅡ as lágrimas desceram sem a permissão da garota.

E Rhysand, lentamente a puxou para um abraço, um que ele pensava ser o último contato que ele teria com ela.

ㅡ Eu sinto muito Cibele. Realmente sinto. ㅡ ele sussurrou e ela se agarrou na camisa dele enquanto chorava.

Eles ficaram assim por alguns minutos, desfrutando do que eles pensavam ser o último abraço deles.

Eles poderiam ter tido tudo.

Poderiam ter se amado e talvez até mesmo se casado algum dia.

Porém, o destino foi cruel com os dois.

Porque o destino tinha planos para ambos. Planos que não envolviam o amor romântico entre eles.

ㅡ Ao que parece eu nunca irei ver aquele piano. ㅡ Cibele sussurrou se separando de Rhysand.

ㅡ Velaris continua de portas abertas para você, Cibele. ㅡ Rhysand disse com convicção. ㅡ Sempre estará.

ㅡ Não, Velaris é um lugar para sonhadores e espíritos livres. Eu não sou nenhum dos dois, não mais. ㅡ ela sussurrou tristemente.

Ela olhou para Rhysand por um instante, guardando seu rosto bonito em sua memória. O primeiro amigo que ela fez sozinha, sem a influência de ninguém. E o primeiro amigo que a magoou também.

ㅡ Adeus Rhysand. ㅡ ela disse e o beijou na bochecha, sumindo antes que Rhysand pudesse dizer algo, antes que ele pudesse dizer adeus.

E muitos anos se passariam até que os dois se vissem novamente. E não seria em uma boa situação.

Ambos seriam presos por Amarantha.

Ambos seriam feitos de bichos de estimação.

E Sob a Montanha, um seria tudo que o outro teria.

E a amizade entre eles floresceria novamente, assim como as flores na primavera.

I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?

II. Lucien é o primeiro amor da Cibele, e a Cibele foi o primeiro amor do Rhysand :( .

III. E sim, eu sei que a fanfic é do Cassian, mas eu simplesmente precisava escrever um pequeno romance com o Lucien, amo demais ele.

IV. Próximo capítulo teremos mais tristeza, porque essa fanfic só tem tristeza e umas migalhas de felicidade, já deixo avisado kkkk.

V. Por hoje é só, mas nós nos vemos em breve.
Byee♡.

23.09.2023
Duda.

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