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Sorrisos eram coisas muito raras na Corte Primaveril.

Cibele sabia bem disso.

Ela poderia contar em seus dedos os momentos felizes que ela havia tido em sua Corte.

E todos esses momentos eram com sua adorável mãe, Lucien e às vezes com Tamlin.

A vida na Corte Primaveril era difícil, e o preconceito e loucura do pai dela cresciam a cada dia mais e mais.

Por isso, além de tantos outros motivos, ela não estava feliz em voltar para aquele lugar.

Em voltar a ter que fingir ser algo que não era. Uma lady perfeita. Uma inútil cujo a única utilidade para seu pai e irmãos era parecer bonita e ficar quieta. Uma moeda de troca para ter alianças pelo casamento.

Depois de visitar um lugar como Velaris, tudo parecia meio sem graça e triste, principalmente sua casa e Corte.

Não deveria ser assim, A Corte Primaveril deveria ser o epítome da vida, da felicidade e transformação.

A magia de sua Corte era forte, mas o ódio do pai dela estava envenenando aquelas terras. Envenenando a casa dela.

Cibele caminhava calmamente, querendo adiar ao máximo a chegada até sua casa.

O papel no bolso de seu vestido, um papel mágico que permitiria que Cibele conversasse com Rhysand parecia pesar no bolso dela. A lembrando daquele belo macho, daquele dia que pareceu tanto um sonho.

Um dia onde ela não teve que fingir. Um dia onde ela pôde ser ela mesma. Se divertir e fazer um novo amigo.

Um amigo que a cada palavra trocada naquele pequeno papel mágico, adentrava cada vez mais no coração dela.

Rhysand, com seus olhos que pareciam tanto com o céu noturno de Velaris, a cidade que aqueceu Cibele de uma forma que ela imaginou que sua casa deveria fazer.

Casa.

Era ingenuidade demais pensar que Velaris poderia se tornar a casa dela algum dia?

Com certeza era, o pai dela nunca permitiria, ou qualquer um dos irmãos mais velhos que herdasse o título de Grão Senhor.

Cibele deveria se acostumar com o que o futuro reservava para ela: um casamento sem amor para cumprir seu papel como filha de seu pai.

Um futuro sombrio demais para alguém como Cibele, alguém que sonhava com mais. Sonhava com liberdade e felicidade.

Braços fortes a puxaram, uma mão quente cobrindo a boca dela.

Cibele estava pronta para usar sua magia, quando olhos conhecidos encontraram os dela.

Olhos castanhos avermelhados.

Lucien.

Seu Lucien.

Alí, depois de tantos meses.

Os olhos de Lucien brilharam com alívio e outra coisa que Cibele não conseguiu identificar.

Ele a soltou por um instante, mas logo estava a envolvendo com seus braços fortes e a tirando do chão, a rodando enquanto ela não se aguentava e ria, a risada dela, como se um chamado para a felicidade, fez o próprio Lucien rir.

ㅡ Eu estava tão preocupado. Tamlin me contou sobre sua mais nova ideia tola. ㅡ Lucien explicou e Cibele revirou os olhos, é claro que Tamlin havia contado para Lucien. ㅡ Você está bem? Se machucou? ㅡ o macho perguntou enquanto a soltava e a examinava em busca de ferimentos.

Suas mãos seguraram as mãos dele, que estavam no rosto dela, um sorriso bonito enfeitando os lábios dela, mas seus olhos brilhavam com preocupação.

Ele não deveria estar alí.

As Cortes deles ainda eram inimigas.

A Guerra ainda estava acontecendo.

ㅡ Estou bem Lucien, eu sei me cuidar. ㅡ Cibele garantiu, deixando de lado o fato dela ter entrado na frente de uma lança para salvar um desconhecido, o herdeiro da Corte Noturna. ㅡ Mas o que você está fazendo aqui? Ficou louco? Se te pegarem aqui-

ㅡ Eu não consegui ter paz de espírito depois que descobri por Tamlin que você tinha ido para a guerra e estava prestes a retornar. ㅡ Lucien explicou. ㅡ Eu precisava ver você. Saber que você estava bem.

Cibele sorriu, sua mão acariciando o rosto dele, sua pele quente.

Lucien sempre esteve quente ao toque.

Não como o fogo, cujo tudo destrói, e sim como o sol, que dava vida.

Cibele sempre sentiu que Lucien era o sol particular dela. Que ela era uma florzinha murcha e triste, mas que ele, brilhante e quente, a trazia de volta à vida.

ㅡ Estou bem, raposinha. ㅡ ela sorriu e Lucien segurou a mão dela que o tocava no rosto, depositando um beijo na mesma. ㅡ E eu lutei pelos humanos, não por Hybern. Eu não poderia lutar ao lado da minha Corte. ㅡ ela confessou. Ela sempre confessava tudo para Lucien.

Ele sabia todos os segredos dela.

Exceto um.

Um que ela não havia tido coragem de confessar até mesmo para a mãe.

O que aconteceu naquele dia tantos anos atrás, a barganha que ela fez.

Lucien riu levemente enquanto negava com a cabeça, como se não pudesse acreditar na coragem dela, de lutar contra a própria Corte.

ㅡ Da próxima vez que você for fazer algo estúpido dessa forma, por favor,  me avise antes. ㅡ ele pediu.

ㅡ Para quê? Pra você me trancar em algum lugar e me impedir? ㅡ Cibele zombou.

Lucien a encarou por um longo segundo, algo brilhando em seus olhos bonitos.

ㅡ Não, Bele. Para que eu possa acompanhar você.

A resposta dele a pegou de surpresa e o sorriso que ela abriu em resposta era brilhante.

Lucien a observou, observou o sorriso dela, seus olhos, ele se aproximou novamente a beijando na testa e a puxou para um outro abraço, como se quisesse se certificar que ela era mesmo real, de que ela estava alí, a salvo.

ㅡ Nunca mais faça isso, não se coloque em perigo por vontade própria. ㅡ ele pediu, um sussurro enquanto ainda a mantinha em seus braços. ㅡ Se algo acontecesse com você...

Ele a apertou mais fortemente antes de se separar dela. Mas ele ainda se manteve próximo, seus olhos não deixando os dela.

ㅡ Não posso perder você, lobinha.
ㅡ ele sussurrou, seus olhos brilhando com tanto carinho que Cibele se sentiu tonta.

ㅡ Você não vai, raposinha. ㅡ ela sorriu, suas mãos unidas com as dele.

Cibele não imaginava como estava errada.

ㅡ O que você está fazendo irmão?
ㅡ Cibele perguntou se levantando do assento de frente para o piano e caminhando até Tamlin que lia algo no canto da sala de música.

ㅡ Rhysand me mandou uma carta.
ㅡ o mais velho respondeu, Cibele olhou para o irmão curiosa.

Se lembrando do pequeno papel guardado na segurança do quarto dela, onde ela se comunicava com Rhysand com certa frequência.

Cibele adorava ouvir as histórias de Rhysand, principalmente as sobre os amigos dele, Azriel e Cassian.

ㅡ Houve algo? ㅡ ela perguntou tentando não demonstrar muito interesse. Ela não havia contado para Tamlin sobre conhecer Rhysand. Ou como ela lutou contra a Corte Primaveril na Guerra que havia chegava ao fim.

As portas da sala de música se abriram impedindo Tamlin de responder Cibele.

Os dois irmãos mais velhos deles passaram pelas portas.

Cibele sentiu um frio na espinha, ela não havia sentido a falta dos irmãos. E tantas vezes ela esperou que eles tivessem morrido na Guerra.

ㅡ Olhe só Thyrion, o fracote do Tamlin está fofocando com a irmãzinha. Que fofos. Aprendendo a tocar piano Tamlin? ㅡ Toren zombou.

ㅡ O fracote deve ter se cansado do violino, Toren. ㅡ Thyrion disse enquanto se aproximava de Tamlin.

Cibele, quase como se seu corpo fizesse isso de maneira automática, se afastou de Tamlin.

ㅡ O que vocês fazem aqui? ㅡ Cibele teve coragem o suficiente de perguntar, ela não gostava muito do que vinha a seguir das zombarias da dupla mais velha.

A dupla mais velha a olhou surpresa, antes daquele dia, Cibele nunca havia dito nada quando eles se aproximavam para atormentar Tamlin.

ㅡ Não estamos falando com você. Cale-se.ㅡ Thyrion disse friamente olhando para a irmã mais nova, Cibele se encolheu.

Enquanto isso, Tamlin tentou esconder a carta de Rhysand em meio aos outros papéis, mas sua movimentação chamou a atenção de Toren.

ㅡ O que você está escondendo aí?
ㅡ Toren empurrou Tamlin para longe da mesa e segurou à carta nas mãos.
ㅡ Olha Thyrion, Tamlin está trocando cartas com a aberração ilyriana.
ㅡ Torne balançou a carta em zombaria.

ㅡ Tão amiguinhos. Diga-me Tamlin, você e seu amante ilyriano trocam cartas com muita frequência?
ㅡ Thyrion debochou depois de ler a carta.

ㅡ Devolva. ㅡ Tamlin rosnou.

ㅡ Ou o quê? ㅡ Thyrion debochou rasgando a carta em frente aos olhos de Tamlin.

Tamlin rosnou e avançou no irmão mais velho, mas Torne o segurou por trás o impedindo.

ㅡ O gatinho está mostrando as garras em defesa às correspondências de seu amante. ㅡ Torne zombou e Tamlin se debateu tentando se soltar.

Entretanto, como o mais jovem, Tamlin era o mais fraco em comparação aos dois mais velhos.

O mais fraco, aquele que sofria com as humilhações e agressões dos irmãos por anos.

Cibele nunca entenderia a necessidade de seus irmãos em diminuírem aos outros, de maltratar Tamlin, que era considerado o mais fraco deles, eles nem mesmo consideravam ela.

ㅡ Você tem que entender irmãozinho, ou você começa a virar um macho de verdade, e ser mais como o pai, ou você trará ainda mais vergonha e desgraça para essa Corte. ㅡ Thyrion disse e socou Tamlin bem no rosto.

Sangue escorreu pelo nariz de Tamlin.

Aquilo atingiu Cibele em cheio.

Ela estava prestes a presenciar mais uma sessão de agressões contra Tamlin.

Mas Cibele não poderia.

Não poderia fazer isso de novo. Assistir isso novamente.

Não mais. Não mais.

ㅡ Parem com isso! ㅡ Cibele gritou correndo na direção dos irmãos.

ㅡ Não se meta. ㅡ Torne disse segurando Tamlin no lugar, mas o mais velho parecia surpreso que Cibele estivesse dizendo alguma coisa.

Ela também estava.

Normalmente, Cibele observaria em silêncio, sem fazer nada. Mas não mais.

ㅡ Solte meu irmão, agora. ㅡ Cibele ordenou, a besta adormecida dentro dela, e aquele outro ser, acordando junto à raiva da garota.

Uma raiva que ela não conheceu antes daquele dia.

ㅡ Quem você pensa que é para nos dar ordens? ㅡ Thyrion se virou para ela.

ㅡ Eu não sou ninguém para vocês, e eu não me importo com isso, mas se você tocar em Tamlin mais uma vez, eu juro que será a última. ㅡ Cibele ameaçou e os irmãos mais velhos a olharam com surpresa.

Cibele nunca havia se metido em meio às discussões dos irmãos por medo do que poderia acontecer com ela.

Mas talvez ir para a guerra, lutar e sangrar por algo que ela acreditava,  tenha a deixado mais confiante, as palavras que ela disse para Rhysand martelavam em sua cabeça, ela não queria ver uma injustiça ser cometida e ficar parada, principalmente quando a injustiça era cometida contra o irmão mais próximo dela, e o único entre os irmãos que ela amava de verdade.

ㅡ Você tem a ousadia de ameaçar aos seus irmãos mais velhos? Talvez devêssemos ensinar uma lição para você, assim que terminarmos com Tamlin. ㅡ Torne ameaçou.

Tamlin arregalou os olhos e negou com a cabeça, ele não queria que sua irmã se machucasse por culpa dele.

ㅡ Cibele, vá embora. ㅡ Tamlin pediu, o nariz ainda sangrava.

ㅡ É piralha, vá embora antes que sobre pra você. ㅡ Thyrion zombou e se virou para Tamlin novamente fechando a mão para desferir outro soco no mais novo.

De repente, uma luz verde envolveu o pulso de Thyrion, uma vinha saía do chão da sala de música e agora envolvia ambas às mãos do primogênito do Grão Senhor da Corte Primaveril.

ㅡ Acho que eu não fui clara o suficiente, eu mandei soltar Tamlin.
ㅡ Cibele disse e outra vinha envolveu o pescoço de Torne, o fazendo soltar Tamlin e tentar inutilmente se livrar do aperto que o impedia de respirar.

ㅡ Sua vadia maldita. O que você pensa que está fazendo? ㅡ Thyrion gritou tentando se soltar do aperto em suas mãos.

Entretanto, apesar de serem cópias de seu pai na loucura e crueldade, os mais velhos não eram tão talentosos com a magia, sua força era bruta, eles não eram capazes de comandar a magia da Corte Primaveril, não como Cibele.

ㅡ Eu disse que seria a última vez que você tocaria em Tamlin, e eu levo minha palavra a sério. ㅡ Cibele disse e afroxou o aperto da vinha no pescoço de Torne que caiu de joelhos ofegante, buscando por ar. ㅡ Eu vou soltá-los, mas se eu perceber que vocês planejam algo, vou enforca-los antes que consigam chegar até mim. ㅡ ela prometeu.

ㅡ Você precisa de uma fêmea para salvar você? ㅡ Thyrion gritou para Tamlin, o mais jovem apenas abaixou a cabeça.

ㅡ Vão embora, agora. ㅡ Cibele ordenou, desaparecendo com as vinhas.

A luz verde ainda rastejando pela sala.

ㅡ O pai vai ficar sabendo sobre essa insolência. ㅡ Torne garantiu.

ㅡ E nós iremos contar sobre sua cartinha de amor Tamlin, tenho certeza que o pai vai adorar saber como você é amiguinho da aberração.
ㅡ Thyrion completou, e a dupla logo se retirou da sala.

ㅡ Você está bem? ㅡ Cibele se aproximou de Tamlin, passando a mão pelo rosto do irmão, curando-o.

ㅡ Você não precisava ter feito isso.
ㅡ ele murmurou.

ㅡ Eu deveria ter deixado eles te baterem enquanto eu assistia? ㅡ ela retrucou.

ㅡ É. Isso nunca foi um problema pra você antes! ㅡ Tamlin elevou o tom de voz e Cibele se encolheu envergonhada.

ㅡ Eu cansei Tamlin! Cansei de apenas assistir enquanto eles machucam você. Não podia mais ficar em silêncio, assistindo. Sendo cúmplice disso. ㅡ Cibele disse e Tamlin suspirou.

ㅡ Você não vê o que fez? ㅡ ele perguntou em um tom mais gentil dessa vez. ㅡ O pai vai nos punir. Ele vai te punir. Vai trancafiar você se descobrir seu segredinho.

Algo dentro dela rosnou ao pensar em ser mantido preso e Cibele se encolheu.

Apenas sua mãe, Lucien e Tamlin sabiam sobre um de seus segredos mais obscuros, sobre a besta que se escondia sob a pele da lady da Corte da Primavera.

Se o pai dela descobrisse seria o fim de Cibele, ela seria trancafiada para sempre.

ㅡ Mas eu não fiz nada demais.
ㅡ Cibele murmurou.

ㅡ Eu sei. Mas você não vai conseguir se controlar Cibele, quando o pai vir até nós, gritando, ameaçando e me punindo, você vai mostrar às garras para ele. ㅡ Tamlin disse se sentindo culpado.

Um arrepio subiu pela espinha de Cibele e ela abriu a boca para dizer algo, porém, um servo passou pela porta aberta parecendo afobado.

ㅡ O que houve? ㅡ Tamlin perguntou surpreso.

ㅡ Meu senhor, o Grão Senhor e seus irmãos saíram armados. Eles disseram algo sobre matar alguém. ㅡ o servo contou e Tamlin ficou pálido.

ㅡ Quem? Tamlin, quem? ㅡ Cibele perguntou apreensiva.

ㅡ Preciso avisar à Rhysand. ㅡ Tamlin murmurou em um sussurro.

ㅡ Avisar o que? ㅡ Cibele perguntou preocupada.

ㅡ A carta. Na carta Rhysand me disse que iria encontrar a irmã e a mãe em um acampamento.ㅡ Tamlin disse e Cibele arregalou os olhos ao perceber o que seu pai e irmãos poderiam planejar.

Ela não esperou para ver se Tamlin iria ou não tentar avisar Rhysand, ela se virou e correu o mais rápido que pôde até seu quarto, abrindo seu armário e revirando suas coisas até encontrar o papel que Rhysand havia a entregado.

Cibele escreveu de forma apressada:

Você precisa ir até sua mãe e irmã rapidamente Rhys, meu pai planeja algo muito ruim. Vá até elas agora!

Cibele esperou por uma resposta mas ela não veio.

Entretanto, quando o pai de Cibele chegou em casa com dois pares de asas ilyrianas, as carregando como troféus, a jovem soube que sua mensagem não havia tido nenhuma eficácia.

E ela soube que aquilo não ficaria assim, a Corte Noturna iria retalhar.

Cibele estava tocando piano quando o massacre aconteceu.

O pai de Rhysand havia ido até lá com um propósito claro em mente. Algo que ele repetia uma e outra vez.

Uma filha por outra.

Ele mataria Cibele na frente de todos os irmãos e pai, e depois os mataria também, e Rhysand não poderia permitir que ela morresse.

Cibele era inocente.

Ela tentou o avisar, diferente de Tamlin, que ao que tudo indicava, era o motivo para a morte de sua mãe e irmã, já que só ele sabia onde Rhys iria as encontrar, Tamlin, aquele que uma vez ele considerou um amigo.

Por isso, pelo que ela havia feito por ele, por ela ser quem era, Rhysand usou seu poder para esconder Cibele onde ela estava, na sala de música, seu poder impedindo que ela pudesse escutar ou saber o que estava acontecendo do outro lado daquela sala, impedindo que seu pai pudesse a encontrar.

Os irmãos mais velhos da garota foram mortos depois do pai, mortos por Rhysand, que também desejava muito a vingança pelo que perdeu.

Um grito feminino soou e o pai de Rhysand se virou para a figura trêmula que adentrou o hall da mansão, observando seus filhos e marido mortos de maneiras horríveis.

Rhysand não foi rápido o suficiente para salvar a mãe de Cibele, mesmo que tenha tentado.

O pai de Rhysand, o Grão Senhor da Corte Noturna havia a assassinado também, como assassinou o marido dela.

ㅡ Uma esposa por outra. ㅡ o pai de Rhysand sussurrou.

Tamlin chegou no exato momento em quê o pai de Rhysand matava sua mãe, e Tamlin, agora, o novo Grão Senhor da Corte Primaveril, se vingou matando o pai de Rhysand com seu novo poder.

Rhysand se ajoelhou ofegante enquanto o peso de ser o novo Grão Senhor recaía sobre ele, e seus olhos foram de encontro com a linda garota que adentrava o hall horrorizada, tal qual a mãe dela minutos atrás.

~○~

Cibele estava tocando sua música favorita, uma que sua mãe havia a ensinado, quando ela percebeu que havia algo absurdamente errado.

Ela não escutava nada. Os pássaros estavam quietos e parecia não haver ninguém em casa. O que era muito estranho, já que todos estavam na mansão naquele dia.

Então, de repente, como uma brisa de verão, algo a atingiu, um poder que não era de Cibele, mas que a jovem conhecia bem.

O poder de sua mãe, aquele que sua mãe sempre dizia que iria para Cibele após a morte dela.

ㅡ Não. ㅡ Cibele sussurrou horrorizada e se levantou abruptamente andando até a porta da sala de música.

Estava trancada.

O coração de Cibele bateu enlouquecido enquanto ela reunia sua magia e destruía a proteção que a prendia na sala.

O cheiro de sangue a envolveu assim que a proteção foi desfeita.

Cibele ofegou enquanto corria escadas abaixo.

Ela nunca se esqueceria da cena que viu ao chegar ao hall de sua casa.

A cena que assombraria os pesadelos dela para sempre.

Havia sangue para todos os lados.

Os corpos de seus irmãos estavam espalhados pelo chão ao lado do corpo do pai dela.

Tamlin estava de pé ao lado do corpo do Grão Senhor da Corte Noturna.

Mas o que mais a deixou horrorizada, o que partiu o coração dela, o que a matou de certa forma, foi ver Rhysand, aquele em que ela confiou, aquele em que ela viu a oportunidade de ter um amigo, alguém que ela poderia amar, ajoelhado ao lado do corpo de quem ela mais amava naquele mundo quebrado e injusto, a mãe dela.

O horror e a traição coloriram a face de Cibele. Os joelhos dela cederam, e ela caiu no chão em um baque.

Ela sabia que a Corte Noturna iria retalhar, ela sabia que os culpados seriam punidos, mas não sua mãe, não sua adorável e amada mãe.

O ser mais doce e gentil que ela conheceu.

As lágrimas vieram até ela, e algo dentro de Cibele se quebrou ao ver tudo aquilo. Algo se quebrou dentro dela e não havia mais volta. Não havia concerto.

A mãe dela estava morta.

Morta injustamente por um crime que ela não havia cometido. Um crime que ela ficou enojada ao saber que ocorreu.

A mãe dela, a luz da vida de Cibele, estava morta.

Cibele nunca mais iria ouvir a mãe tocar piano, ou cantarolar músicas que ela mesma havia escrito. Cibele nunca mais caminharia pelos jardins com a mãe, ouvindo a natureza as dizer olá.

Cibele nunca mais iria ver o sorriso da mãe. Ou ver seus belos olhos brilhando com amor quando ela olhava para Cibele.

Cibele se arrastou até o corpo da mãe, o sangue dos irmãos dela, do pai dela, manchando seu vestido amarelo, a cor preferida da mãe dela.

Cibele tocou a face delicada da mãe, um rosto tão parecido com o dela, a pele da mãe dela estava ficando gelada, mas ela parecia estar apenas dormindo.

ㅡ Ela era inocente. ㅡ Cibele sussurrou olhando para Rhysand com tanta tristeza no olhos, com um olhar tão traído, que Rhysand se sentiu desmoronar completamente.

Cibele. ㅡ Rhysand sussurrou o nome dela, mas não sabia o que diria.

O que ele poderia dizer para ela?

O que ele poderia dizer para a garota que havia salvado a vida dele sem nem o conhecer, e que ele havia retribuído deixando que o pai dele tirasse dela aquilo que ela mais amava?

ㅡ Ela era inocente. Ela não fez nada de errado. ㅡ Cibele sussurrou abraçando o corpo ensanguentado da mãe. ㅡ Ela era boa. Ela era boa.

ㅡ Cibele. ㅡ Rhysand tocou o ombro dela.

ㅡ Eu salvei a sua vida. ㅡ Cibele disse enquanto chorava de soluçar. ㅡ Eu confiei em você, Rhysand.

Rhysand se sentiu quebrar ainda mais. Se quebrar em um milhão de pedaços.

ㅡ Vá embora. ㅡ ela ordenou, e Rhysand olhou para a cena uma última vez, para a garota que ele gostava, que abraçava o corpo sem vida da mãe dela. Então ele finalmente se foi.

Tamlin correu até a irmã assim que Rhysand se foi, a envolvendo em um abraço enquanto ela chorava agarrada ao corpo da mãe.

ㅡ Ela se foi, Tam. ㅡ Cibele sussurrou quebrada. As lágrimas por todo o seu rosto.

ㅡ Vai ficar tudo bem, irmã. ㅡ as lágrimas de Tamlin eram um reflexo das de Cibele. Ambos sempre foram os mais próximos da mãe, aqueles que mais a amavam.

Cibele chorou e chorou, e a dor nunca foi embora.

Depois daquele dia, Cibele nunca tocou piano novamente.

I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?

II. Sob a montanha será descrito nessa história, então fiquem avisados de que haverá muita coisa que poderá ser gatilho para algumas pessoas.

III. Próximos capítulos ainda serão no passado, antes de sob a montanha, quero demostrar como tudo mudou, principalmente a relação da Cibele com o Tamlin antes de escrever Sob a Montanha e começar a adaptar o primeiro livro de acotar.

IV. Por hoje é só mas nós nos vemos em breve.
Byee ♡.

15.09.2023
Duda.

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