Assim que Caspian se levantou, com a coroa em sua cabeça, virou-se para seus súditos.

– Apresento-lhes Caspian X, rei de Nárnia – com a voz de Aslan todos se curvaram – Que vossa sabedoria abençoe essa terra até que as estrelas caiam dos céus.

– Vida longa ao rei – falou Áurea iniciando um coro seguido por narnianos e telmarinos presentes no salão, que foi finalizado com uma salva de palmas.

O local começou a esvaziar e todos foram para o pátio do castelo, onde se iniciaria a cerimônia de comemoração do reinado de Caspian e o marco do primeiro dia de uma Nárnia livre.

– Você tinha mesmo que fazer isso? – Caspian perguntou a loira que riu.

– É a tradição majestade, não ouse ser um estraga prazeres.

– Tá bom, só porque é você – ele disse bagunçando os cabelos dela, que estavam totalmente soltos com algumas ondulações a mais.

– Caspian! Levei um bom tempo para arrumar – resmungou dando um tapa na mão do rapaz.

– Está do mesmo jeito pra mim.

– Não está não, você não entende nada de moda e nem de mulheres.

– Perdão senhorita – ele revirou os olhos – Mas tenho uma proposta para lhe fazer.

– Proposta?

– Fica comigo aqui no castelo?

– Morar aqui? Mas Caspian eu…

– Quero você como meu braço direito no Conselho dos Lordes, na verdade queria te nomear oficialmente como Lady Dellavita.

– Caspian, eu não posso. Não iriam me aceitar lá de várias maneiras. Primeiro porque sou mulher, só isso já é um motivo forte para os lordes não me levarem a sério. Segundo, sou muito nova enquanto os outros já possuem uma certa idade ou conhecimento político.

– Áurea, conhece os narnianos melhor do que eu porque conviveu com eles quando ninguém mais achava que eles existiam, e eles confiam em você, além de te respeitarem.

– Vão te respeitar também, apenas é questão de tempo. E, sabe que não sou boa com política.

– É só questão de tempo – rebateu com as mesmas palavras que tinha ouvido – Posso fazer a diferença Áurea, mas não sozinho. O que me diz?

Fazer a diferença, aquela frase pesou na cabeça da garota e despertou uma sensação boa dentro de si. Ela também poderia fazer a diferença, ser um símbolo que mulheres eram muito mais do que a sociedade taxava, mostrar que era mais que um rostinho bonito para se casar ou ficar a sombra de seu marido.

– Certo, eu aceito.

– Áurea! Está na hora e… – Mila parou de falar quando viu que os dois conversavam – Perdão majestade, não tinha reparado que estavam conversando.

– Tudo bem Mila.

– Certo – ela disfarçou com um pigarro e virou para a loira – Vamos logo.

– Até depois.

Todos começaram a se arrumar para o pequeno desfile de comemoração que se iniciaria, o trajeto era curto e simbolizava os novos tempos de paz entre dois povos que brigavam alguns anos.

– Tem certeza que não vai com a gente? – Lúcia perguntou para a Dellavita. Caspian junto com os irmãos Pevensie iam em cavalos  ao lado de Aslan, enquanto alguns narnianos iam atrás no meio do corredor de telmarinos.

A função de Áurea e de Mila era junto com algumas crianças, narnianas e telmarinas, jogar pétalas de flores pelo caminho antes deles passarem.

– Não, quero ajudar as crianças com isso – falou apontando para o cesto – Esse é o momento de vocês majestades.

– Tudo pronto – disse um centauro.

– Vamos lá então – a loira disse indo até sua posição.

⟅⛥⟆

– Aí! Isso dói! – reclamou Mila quando teve seus cabelos puxados por Susana – Não preciso de tudo isso.

– Precisa sim – disse a rainha gentil – É um baile, todas temos que estar bonitas.

– Eu não, nem sei porque estou aqui pra falar a verdade.

– Pare de reclamar Mila, você é uma de nós agora – falou Lúcia ajeitando a trança – É nossa amiga.

– É muita bondade o tratamento que estou recebendo de vocês não sei nem como retribuir, obrigada.

– Então melhor se acostumar – Áurea saiu do biombo ajeitando a saia – Porque você vai ficar comigo aqui no castelo.

– Ficar com você?

– Sim, quero que você seja minha dama de companhia.

Durante todo o dia Áurea tinha pensado nisso, se iria fazer a diferença de alguma maneira precisaria de ajuda e mais alguma força feminina ao seu lado, e ninguém era melhor para desempenhar tal papel do que Mila Bianchi.

– Mas apenas nobres ou pessoas de famílias influentes podem ter esse cargo, não me encaixo em nenhum dos dois.

– Bobagem, sabe que eu não ligo para regras. Então, aceita?

– Tudo bem – concordou a morena e a loira não resistiu, chegou a correr para lhe dar um abraço.

Mila não entendia a afeição que Áurea tinha por si, ainda era consideravelmente uma estranha se fosse levar as coisas ao pé da letra, e tinha sido uma inimiga no campo de batalha. Porém, a loira não parecia ligar para isso desde o momento que lhe ajudou no Beruna e Mila sentia que, de alguma forma, ambas poderiam ser melhores amigas num futuro próximo.

– Vamos? O baile começou porque já estou ouvindo a música – falou Susana.

– Vamos, depois de tantos problemas, quero muito dançar – Áurea se olhou no espelho mais uma vez e com um sorriso nos lábios, saiu do quarto para uma noite de comemorações.

⟅⛥⟆

Era de madrugada e a festa ainda estava a todo vapor, alguns dançando como Caspian e Susana que conversavam algo interessante para ambos porque não paravam de sorrir, outros estavam conversando com o povo como Aslan, Pedro e Lúcia.

E havia Áurea, que observava todos encostada em uma pilastra, seu sonho havia se tornado real mais uma vez.

– O que está achando da festa?

A voz de Edmundo atrás de si fez dar um pequeno pulo de susto.

– Assim você vai me matar – falou com a mão no peito sentindo seu coração bater rápido, ela só não sabia distinguir se era pelo susto ou pelo moreno.

– Desculpe. E então?

– Ah, está divertida até. Acho que nunca vi esse castelo tão animado.

Os dois ficaram em silêncio. Edmundo aproveitou o momento para observar Áurea de soslaio, desde os cabelos soltos que estavam ondulado até o vestido azul claro que combinava com seus olhos.

– Se me olhar mais um pouco, terei que tomar uma jarra inteira de água.

– E-eu não sei o que estava falando – disse o Pevensie tentando disfarçar.

– Edmundo, você não foi nenhum pouco discreto. Vamos?

– Pra onde?

– Para a pista de dança, está me devendo uma.

– Precisamos mesmo fazer isso? Pensei que estava brincando ou blefando.

– Precisamos sim, você prometeu e deve cumprir. Onde está sua palavra de honra rei justo?

– Muito bem senhorita, então espero que dance muito bem se faz tanta questão.

Os dois se posicionaram no salão e uma música começou a ser tocada por alguma pequena orquestra, de telmarinos e narnianos, num canto.

I know you
I walked with you once upon a dream
I know you
That look in your eyes is so familiar, a gleam

And I know it's true
That visions are seldom all they seem
But if I know you, I know what you'll do
You'll love me at once
The way you did once upon a dream

– Você dança muito bem lady Áurea – falou Edmundo.

– Obrigado majestade.

But if I know you, I know what you'll do
You'll love me at once
The way you did once upon a dream

I know you, I walked with you once upon a dream
I know you
The gleam in your eyes is so familiar, a gleam
And I know it's true
That visions are seldom all they seem
But if I know you, I know what you'll do
You'll love me at once
The way you did once upon a dream

Os dois valsaram por um tempo girando pelo salão até a música acabar. 

– Vem – Edmundo pegou a mão da garota e levou até um canto mais discreto da festa, um pequeno corredor que dava para ver a lua perfeitamente – Áurea, eu preciso lhe dizer algo.

– Pois diga.

– Eu gosto de você. Eu gosto muito de você e...você disse que sonhou conosco, mas a realidade é que você é meu sonho. Eu te amo.

A loira sorriu e não disse nada, apenas o beijou sob a luz da lua como havia visto em seu sonho. O Pevensie se assustou de primeira, ele imaginava que ela iria falar alguma coisa antes ou até mesmo negar seus sentimentos, mas ele deveria saber que Áurea era mais de agir do que falar.

– Não sei como será ou o que será, mas eu também te amo Edmundo Pevensie – declarou a loira assim que seus lábios se afastaram dos dele – E você é muito melhor do que qualquer sonho ou ilusão.

O rei justo sorriu e beijou ela de novo.

E de novo.

E de novo.

⟅⛥⟆