48
Vamos começar tirando as dúvidas de vocês.
1: O Shawn está bem
2: Lauren não está namorando o Aaron.
3: Lauren não está grávida do Aaron 😂😂😂
*
Assim que deixamos o hospital, Shawn e eu passamos a maior parte do tempo calados. Embora o momento não fosse ideal para conversas paralelas, todo aquele silêncio me incomodava de várias formas. Chegamos em casa rápido e eu fui direto para o banho.
— Tudo bem aí dentro? - Shawn perguntou enquanto batia na porta do banheiro.
Sua preocupação comigo tinha aumentado em cem depois de descobrir minha gravidez. Chegava a ser estranho vê-lo tão sensível, ver como ele zelava pelo bem da nossa família e já se esforçava para começar sendo um pai melhor que o dele um dia tinha sido era o que me mantinha de pé durante o período difícil que passamos.
Agradeci a todas as divindades possíveis por ainda tê-lo em minha vida, por Karen ter tido um pingo de compaixão e ter atirado no ombro de Shawn, por não ser louca o suficiente para matar o próprio filho.
A recuperação do Shawn aconteceu no decorrer dos primeiros meses, ele teve uma lesão na costela quando caiu e desacelerou o processo de cura do corpo. Além do cansaço físico e do trauma psicológico que Karen nos ofereceu naqueles dias, ainda tinha o problema Aaron, que estava em coma por sabe-se lá quantos dias. Complementando com a preocupação de Shawn com Brian e Stacy, eu simplesmente não sabia como estávamos aguentando esses últimos meses.
— Estou bem! - Gritei de volta.
— Você precisa sair, o advogado está chegando.
Eu tinha esquecido completamente, era o dia que o advogado leria o testamento com a decisão oficial das autoridades depois de todas as contestações de Ashley e Karen. Shawn estava completamente desinteressado e com razão, já que ele sabia que Manuel não tinha deixado absolutamente nada para ele, mas o que incomodava e nos deixava preocupados era parte da família de Manuel. Shawn disse que esses tios, tias, primos e afilhados de Manuel que normalmente nunca apareceriam em Los Angeles a não ser que tivessem um bom motivo, que esse motivo costumava ser pedir dinheiro para o Manuel. E agora brigariam comigo e Shawn já tinha me alertado e pedido a eles que não viessem, pois era perda de tempo, mas estavam lá embaixo, com certeza foram movidos de Portugal à Los Angeles pela força da ganância.
Ignorei meus pensamentos e tratei de me arrumar para receber o advogado.
Eu não estava ansiosa e nem queria criar muitas expectativas, pois as chances de não receber absolutamente nada eram maiores do que qualquer uma já que tudo na minha vida costumava a dar certo por um tempo para depois despencar e dar tudo errado. Todo nós conhecíamos Manuel, ele era capaz de coisas horríveis quando se tratava de proteger seus patrimônios. Então, eu preferi ficar calma e já esperar ouvir um "Desculpe, não encontramos o nome 'Lauren Portman' em nenhuma parte deste testamento."
Após me arrumar, desci as escadas e infelizmente a sala estava cheia, o que era péssimo, já que eu sequer estava com humor para receber qualquer tipo de visita. Agradeci aos céus por Shawn ter se dado o trabalho de me recomendar e ajudar a escolher bons representantes algumas semanas antes daquela reunião.
— Lauren, esses são os representantes da minha mãe — disse Shawn, me apresentando para duas mulheres e um homem, que fizeram total cara de desdém no momento em que me viram chegar.
Dali em diante, tudo foi ficando cada vez mais entediante, eu não tinha prestado atenção em uma palavra dita, até ouvir uma proposta interessante vinda dos representantes de Karen.
— A nossa cliente que não pôde estar aqui hoje, já havia nos adiantado os seguintes papéis — uma das mulheres disse, também chamando a atenção de Shawn e dos representantes de Aaliyah — Karen quer vender a porcentagem que possui das outras empresas secretas que Manuel e ela juntos faziam uma sociedade.
– Empresas secretas? — Shawn pareceu surpreso, o que eu não conseguia compreender, já que Manuel nunca tinha sido um idiota que escancarava seus planos de negócios para qualquer um da família.
Manuel sabia que Shawn e Aaliyah o roubaram por um bom tempo, será que ele esperava mesmo que o pai contasse todos os planos para que pudesse perder mais alguns milhões?
Ou eu estava totalmente sem paciência, ou Shawn era realmente muito burro.
— Sim, e não são poucas as empresas que seu pai era dono. Isso inclui várias redes famosas que vocês e todo o resto do mundo conhecem — respondeu o homem.
Bem, por essa nem eu esperava. E o que veio após aquilo era mais inesperado ainda.
— Na verdade, nosso maior objetivo aqui hoje, seria conseguir negociar com a senhorita Portman, já que 80% de cada empresa e cada franquia foi deixado para ela. Não precisa tomar nenhuma decisão precipitada, ainda nem lemos todo o testamento, só queremos te preparar para o que vai vir, pois as mudanças serão bem bruscas... a senhorita é uma mulher de muita sorte - respondeu a mulher, um tanto quanto insinuada, já que ela não falava dos bens de Manuel e sim do fato de eu estar com Shawn.
— Não vou negociar nada com essa mulher. Até porquê, se você envenenar o marido aos poucos para ficar com o dinheiro dele, você perde o direito de qualquer coisa. E eu não vou negociar com um fantasma. Eu não devia nem estar ouvindo essa proposta se quem me propôs nem está aqui.
— Minha mãe conhece muito bem o procedimento e sabe que não é assim que fechamos um negócio. Temos muito o que rever ainda. Talvez eu mesmo fique com a parte dela quando estiver apodrecendo na cadeia — Shawn disse.
Me perguntei de onde Shawn tiraria todo esse dinheiro.
— Espero que sim, pois eu adoraria negociar com você.
— E eu não tenho interesse nenhum em negociar com quem trabalha para a minha mãe.
Com certeza Karen tinha mandado a mulher se insinuar daquele jeito, então preferi nem responder diretamente à ela.
— O senhor poderia ler o resto desse testamento logo? Se continuar desse jeito eu vou acabar virando companheira de cela da cliente de vocês, pois pode ser que eu cometa um crime ainda hoje — falei, olhando para a mulher que antes se insinuava e agora tentava o máximo não olhar diretamente para o Shawn.
— Como quiser — respondeu o homem antes de continuar a ler.
Não fiquei muito surpresa, pois a maioria das coisas que foram ditas ali, Manuel já havia me alertado antes, e além das "novas" empresas que tinham aparecido no testamento, tinha alguns outros nomes e patrimônios não conhecidos por mim e que também não eram do nosso interesse. Pelo menos não naquele momento.
Eu tinha uma riqueza que não sabia administrar e várias empresas novas para falir, foi tudo o que eu tirei dessa leitura de testamento.
Algum tempo depois, o grupo de pessoas que estava na reunião começou a se desfazer aos poucos. Eles vinham agradecer pela boa recepção que tiveram quando chegaram e aproveitavam apara me ignorar completamente pela minha grosseria de minutos antes. Os parentes de Manuel diziam coisas absurdas sobre mim em português, eu não sabia exatamente o quê, mas não era nada amigável já que um dos homens jogou o meu vaso de plantas na parede e Shawn teve que tirar o homem da casa à força enquanto ele me chamava de vagabunda, interesseira e prostituta, dessa vez no meu idioma.
Aquilo era perfeito para me fazer entender o motivo de Manuel querer deixar o dinheiro dele para os netos. Fiz minha melhor cara de amargurada. Eu não queria falar com ninguém.
— Obrigada por nos receber. Espero que nos encontremos mais vezes - disse a mulher totalmente sem noção.
E em seguida, veio a resposta de Shawn:
— De nada. E eu realmente espero não te encontrar nunca mais — quase soltei uma gargalhada, mas me contive para poder ouvir o restante da conversa - Ah, e me faça um favor... avise para a dona Karen que, se jogar mulheres para cima de mim nunca funcionou antes, não é agora que vai funcionar, pois como você mesma pode ver, eu estou muito bem comprometido.
A mulher saiu sem um pingo de vergonha na cara. Eu até conseguia entender o seu lado, ela com certeza tinha sido paga para dar em cima dele.
— Minha mãe não para... nem mesmo na cadeia — Shawn veio andando em minha direção — eu não poderia pedir por uma família mais problemática.
Eu que o diga. Aaliyah era totalmente maluca, Karen e Manuel eram dois assassinos, sem falar de Ashley, que era quase uma psicopata.
— Pelo menos a gente vai ter a chance de construir nossa própria família, longe de toda essa bagunça — falei.
— Não vamos nos precipitar, ok? Temos que esperar Aaron acordar e assim podemos decidir o que fazer, não podemos deixá-lo aqui, como você mesma me disse.
— E falando sobre sua mãe e a cadeia... Ela está presa pelos crimes contra nós, mas precisa pagar pelo que fez com o seu pai.
— Vamos cuidar disso depois.
— Depois que você não tiver mais como provar o que ela fez? Shawn, isso é sério.
— Sei que é, mas pior do que isso é ter que ver você sofrendo todos os dias no hospital, chorando e se sentindo culpada por uma coisa que não fez. Meu pai morreu, Lauren, mas Aaron está vivo e quando acordar, vai precisar da gente do lado dele.
Eu estava supresa em ver como a relação entre Shawn e Aaron havia melhorado nos últimos anos. Antigamente, eles sequer se olhavam e mal podiam ficar cinco minutos na presença um do outro, agora, Shawn tinha amadurecido o suficiente para me deixar confortável em me abrir sobre qualquer assunto com ele.
– Eu sei que você não está querendo sair muito, mas nós bem que poderíamos jantar fora, só hoje. O que você acha? —Shawn perguntou, interrompendo meus pensamentos.
Na verdade, eu não queria sair de casa, mas achei que fosse legal da minha parte fazer um pequeno esforço, já que Shawn estava fazendo muito mais por mim desde o ocorrido, o mínimo que eu poderia fazer era tentar retribuir de alguma forma.
— Ok, para onde vamos? - perguntei, tentando fazer com que meu sorriso parecesse tão sincero quanto o dele.
— Só vou te dar uma dica, coloque roupas confortáveis. Não vamos apenas jantar.
Fiquei com um pouco de medo do que aquilo poderia significar, mas ao mesmo tempo curiosa, por isso, subi e fiz a troca de roupa rapidamente.
************
— Boliche? - perguntei, sem conter uma risada.
— Posso saber o motivo da risada?
— Isso foi uma péssima ideia... você vai acabar passando vergonha - continuei rindo — Posso ser boa em poucas coisas e para o seu azar, boliche é uma delas.
Nós não demoramos muito para adentrar o local. Tive que confessar, estava ansiosa por um pouco de diversão.
— Pobre Lauren, eu vou usar essa pista pra acabar com você.
Bom, acho que nem ele mesmo acreditou no que tinha acabado de dizer. Principalmente depois da minha primeira bola, Strike. E depois do quarto Strike seguido, ele começou a achar que era uma péssima ideia tentar competir comigo.
— Vamos comer alguma coisa? - ele pergunta.
— Shawn Mendes tentando fugir de um jogo que está perdendo? Eu quase não te reconheço mais.
— Não estou tentando fugir, só estou com um pouco de fome e acho que a gente tem que comer algo diferente de pizza.
Convenci Shawn de que a gente deveria ficar por mais algum tempo, experimentar jogos diferentes do local, até deixei que ele ganhasse uma vez, para que ele quisesse ficar mais um pouco, assim, poderíamos fugir daquela realidade por mais algum tempo.
Fora dali tudo me assustava. As condições de Aaron, o fato de Kayla não estar se importando tanto com ele, minha gravidez, ser herdeira de algo tão grande que até mesmo o governo acha que tem direito... às vezes me perguntava como Shawn lidava tão bem com aquilo tudo. Queria saber como ele escondia as emoções, talvez pudesse me ensinar esse truque, claro, contra a vontade da minha terapeuta que ainda insistia em me fazer escrever sobre os meus sentimentos.
Depois de muitos jogos e muita conversa jogada fora, eu percebi que meu estômago estava vazio e que era hora de dar um tempo e seguir o conselho de Shawn.
— Eu sabia que você estava com fome, mas te conheço o suficiente para saber que você prefere ficar aqui me dando uma surra no boliche — ele riu.
— Sim, você me conhece muito bem. Mas te ver como uma criança mimada quase chorando por ter perdido já não tem mais graça, você não sabe perder.
— Você é uma péssima vencedora, posso garantir.
— Tem razão, já está na hora de eu aprender a não esfregar minhas vitórias na cara dos outros.
— Então, vamos?
*****
Estávamos todos na mesa de café da manhã, as crianças estavam cada dia mais entusiasmados por estarem morando com Shawn, na maioria das vezes eu pedia para passar o dia com eles e enquanto isso, Shawn resolvia seus assuntos pendentes com as empresas.
Cuidar das crianças mesmo estando grávida poderia ser uma ótima distração e também uma grande responsabilidade, mas apesar de não ser minha responsabilidade, eu não conseguia me afastar de Brian e Stacy do mesmo jeito que não gostaria de me afastar de Nash.
— Acho que você devia trocar a visita ao hospital hoje e ir ao terapeuta - Shawn disse.
— Terapia não é só para gente louca? - Brian pergunta.
— É claro que não, seu idiota. A pessoa faz terapia para se sentir melhor — Stacy responde — Ou você acha que a Srta. White é só uma mulher legal que gosta de sentar e ouvir a gente reclamar de tudo?
— Não chame seu irmão de idiota. Ele só demora um pouquinho pra perceber as coisas, tenha calma, Stacy.
Sempre ficava orgulhosa dela. Embora fosse uma menininha tão nova e inocente, Stacy estava anos à frente de Brian.
— E aquela mulher que conversou comigo quando a mamãe desapareceu é uma terapeuta?
Aquilo doía profundamente em meu coração, já fazia muito tempo que eles não sabiam exatamente o que era ter uma mãe presente. Eles tiveram Karen por um tempo, agora tem eu e Shawn, mas isso não chegava nem perto do que eles realmente precisavam.
— A gente pode por favor não falar sobre coisas negativas no café? — perguntei, antes que fosse tarde demais para mudar de assunto — Shawn me deixou levar vocês na nova escola hoje.
Na verdade, ele não queria que eu andasse sozinha por muito tempo.
— Deixei, mas vocês precisam prometer que não vão sair correndo igual loucos, Lauren não pode passar nem um pouco de raiva por causa do bebê e... - antes que ele pudesse continuar, pisei em seu pé por baixo da mesa.
O combinado era de esperar que eles se acostumassem a viver com Shawn, só depois falaríamos sobre minha gravidez. Os dois já tinham passado por muitas situações de "abandono" e Shawn já tinha me dito que Brian estava chorando por medo de ser abandonado outra vez.
– Já terminei de comer, posso subir para pegar meus materiais? — Stacy perguntou, mas antes de esperar a reposta, saiu da mesa e subiu as escadas correndo.
— Eu posso pegar o bolinho dela? - Brian pergunta, feliz por Stacy não ter tocado em nada além de frutas.
— Não, você tem o seu - Shawn responde.
Me levantei da cadeira e sussurro no ouvido de Shawn, pedindo que ele fosse um pouco menos grosseiro com Brian. Em seguida, fui para o quarto onde Stacy havia se trancado.
— Stacy, sou eu... abre a porta — pedi, dando algumas batidinhas de leve, mas ela se recusou. — Você sabe que eu tenho chave reserva de todas as portas.
Eu não tinha, mas aquilo bastou para Stacy se dar por vencida e abrir a porta.
— Não precisa falar nada, agora que você ficou rica e vai ter outro filho, sei que vai quebrar a promessa de dedinho que a gente fez naquele dia.
— Eu pareço tão falsa assim? — Perguntei.
Sabia que não devia me sentir ofendida pelos comentários de uma criança, mas depois de passar dias ouvindo xingamentos e olhares horríveis da família do Shawn, aquilo começou a me incomodar.
— Não parece, mas todo mundo que tem dinheiro desaparece, foi assim com a tia Karen, foi assim com a minha mãe também.
— Bom, era exatamente por esse motivo que eu não ia contar nada, sabia que você ia ficar triste e pensar coisas como essa.
— Eu estou com medo. Karen me disse que vocês são os únicos que podem cuidar de nós agora que a tia Aaliyah se mudou para longe. E eu fico triste, me lembro das outras namoradas do Shawn e nenhuma conseguiu gostar da gente, nenhuma conseguiu ficar com ele.
Eu entendia, ela estava insegura. E nem que Shawn e eu nos separássemos seria possível deixar de querer ver Stacy bem, mas aquilo ainda me deixava de coração partido, porque eu não fazia ideia de como era ter sido abandonada tantas vezes.
— Eu achei que a gente finalmente tinha conseguido entrar em uma... deixa pra lá, vocês agora tem uma nova, mas por favor, não me coloquem no orfanato, eu já fiquei lá e é horrível. Foram três dias, Lauren, e eu chorei todo esse tempo.
Stacy começou a chorar, incontrolavelmente.
— Ei... você precisa entender uma coisa, se vocês consideram eu e Shawn uma família, isso não vai mudar com a chegada de um bebê... a família só vai aumentar - falei abraçando-a. — E eu nunca vou deixar ninguém colocar vocês no orfanato outra vez.
— Nem quando vocês se separarem?
— Quem disse que nós vamos nos separar? - perguntei confusa — Tem coisas que você ainda não entende, mas quando duas pessoas feitas para estarem juntas, elas sempre encontram um caminho, e esse caminho parece gostar de me levar até o Shawn, mesmo quando a gente não quer.
— E se passarem dez anos separados? Elas conseguem se encontrar?
— Com certeza.
— Você vai ficar todo esse tempo longe do Shawn? — ela pergunta, me fazendo rir de sua confusão.
— Bem que eu queria — brinquei fazendo ela rir — Mas ficar longe de Shawn Mendes é mais difícil do que você pode imaginar.
— Promete pra mim que não vai contar pro Brian que eu estava chorando de ciúmes?
— Só se você prometer que não vai mais chorar por isso. E que não vai se atrasar para a escola.
— Fechado.
Ela pegou seus materiais e desceu as escadas. Eu estava muito feliz de finalmente ter conseguido fazer alguém se sentir especial. Até me animei com a ideia de levar as crianças para a escola. Estava feliz por elas estudarem tão perto agora que Shawn tinha voltado para a antiga casa.
— Lauren, não vai descer? - Ela gritou.
— Preciso pegar algo antes.
O tempo estava começando a fechar, então resolvi pegar um dos meus casacos que ficava no guarda-roupa do quarto do Shawn.
— Não consegue ficar longe de mim, é?
— Que susto! – Gritei — Achei que você soubesse que não pode me assustar.
— Desculpa, Chefe. Tenho que admitir, você se dá muito bem com ela.
— Na verdade, eu me dou bem com todo mundo - brinquei.
Karen e Ashley que o diga.
— Que pena, achei que fosse só comigo — ele respondeu, e em seguida me puxou para mais perto de si. - Mas só para constar, também acho difícil ficar longe de você, principalmente naquela sala entediante.
Quase deixei escapar um riso enquanto lembrava dos bons momentos que passamos naquela sala.
— Tenho algumas coisas para fazer hoje, depois de fazer umas compras pode até ser que sobre um tempo para te fazer uma visita lá.
— Cuidado com o que vai comprar - ele sorriu - Não queremos que as crianças descubram outra "armadilha de coelho" por aí.
— Não seja tão sujo, tenho outros planos para nós dois esta noite.
— E esse plano envolve que tipo de coisas? - ele perguntou — Porque acabamos de fazer um bebê e...
— Não é isso.
Odiei ter que cortar o barato dele, mas a regra da casa era permanente: nada de sexo enquanto as crianças estiverem em casa.
— Envolve sair com as crianças.
— Pensei que tinha algo a ver com as suas compras.
Ele pareceu um pouco desapontado. As coisas estavam à um fio de desabar, eu estava grávida, não que isso impedisse algo, os médicos até disseram que em alguns casos o sexo durante a gravidez era até benéfico, mas fazia um tempo que estávamos sem e até então eu não pensava nisso, e Shawn me respeitava. Mas até que não era tão ruim pensar nisso hoje.
— Se as crianças não estiverem aqui e você não estiver ocupado quando chegar, acho que a gente pode tentar.
Shawn arregalou os olhos.
— O que é? — Perguntei — Sou uma grávida curiosa.
— Lauren, anda logo, eu não quero me atrasar!
— Melhor eu descer antes que eles me matem — Falei, e logo recebi um beijo.
— A gente se vê mais tarde.
******
Minha rotina tinha sido cansativa, deixei as crianças na escola, resolvi algumas coisas da empresa por e-mails encaminhados por Kayla, fui ao hospital visitar Aaron, e no momento estava saindo da sala de terapia. Aquilo era cansativo, mas eu entendia qual a necessidade.
Não conseguia ver a hora de me distrair fazendo algumas compras. Às vezes, era bom ter momentos como aquele, onde ninguém ia perder a paciência com a minha demora para escolher roupas, passar um tempo comigo mesma estava me fazendo bem, mas não pude deixar de pensar que seria mais divertido se a antiga Ashley estivesse comigo.
— Com licença, você deixou isso cair - uma moça educada me entregou um dos cartões a terapeuta havia me entregado.
— Obrigada.
Ela sorriu e seguiu o caminho, entrando em uma loja de vestidos de noiva.
Ashley e eu conhecíamos bem aquele lugar. Quando éramos mais novas, sempre gastávamos o tempo das vendedoras experimentando os vestidos apenas para tirar fotos. Eram coisas idiotas, mas que tipo de adolescente nunca tinha tirado foto com algo que sabia que nunca iria comprar?
O meu instinto foi seguir a mulher e entrar na loja.
Estava bem diferente, mais requintada e com vestidos muito mais caros.
— Olá, senhorita. O que você procura no vestido perfeito?
Na verdade, nem eu sabia o que estava fazendo ali.
Mas não pude deixar de admitir para mim mesma o quanto eu ficaria bem em qualquer um daqueles modelos. Antes que eu pudesse cair em tentação, deixei a loja. E também deixei a vendedora com um enorme ponto de interrogação estampado em sua testa.
Aquilo tinha sido estranho, eu nunca tive vontade de usar um daqueles a não ser que fosse para fotos com Ashley.
— São só pensamentos impulsivos de gravidez - repeti para mim mesma, duas vezes. Se eu repetisse mais algumas vezes, talvez aquilo se tornaria realidade.
Eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Sabia que se Shawn me pedisse em casamento eu diria sim, sem pensar duas vezes. Ou talvez eu não precisaria esperar ele pedir. Eu estava confusa, precisava decidir o que realmente queria da minha vida.
*
Depois de algumas compras e de passar em casa para descansar um pouco, resolvi pedir para um dos motoristas da empresa me buscar em casa. Eu tinha alguns documentos para assinar e algumas coisas mais sérias para resolver, após a morte de Manuel nada tinha ficado fácil.
— Vamos? - o motorista me olhou como quem pedia permissão.
— Vamos.
O caminho era curto, o motorista e eu não tínhamos muito o que falar, então passei o tempo todo calada e logo já era hora de descer.
— O Sr. Mendes está te esperando na sala de vocês, tenha uma boa tarde.
Nossa sala. Ainda era esquisito ouvir aquilo.
Agradeci ao homem e subi direto para a sala. Não preciso dizer que Shawn estava me esperando quase afogado naquele mar de papéis brancos. Quase não notou minha presença, se não fosse pelo barulho dos meus saltos eu poderia ter passado despercebida.
— Oh, até que enfim. Achei que viria mais cedo — Ele sorriu.
— É bom ver você também.
Ele levanta e começa tirar os papéis de cima da mesa, separando alguns por nomes de filiais, provavelmente os mandaria para cada uma delas.
— Já estou quase terminando... enquanto isso, quer me contar sobre os planos que você tem para hoje? - ele pergunta, ainda arrumando os papéis.
— Na verdade, acho melhor cancelar, estou me sentindo um pouco exausta.
Ele arrumou os últimos papéis e conseguiu deixar um espaço livre na mesa.
— Quer sentar? - ele perguntou.
Olhei para a cadeira onde eu ficava, estava cheia de papéis. Eu não faria o trabalho de tirar a pilha de papéis só para passar alguns minutos sentada.
Dei a volta na mesa e me sentei no colo de Shawn.
— Como foi o seu dia aqui? - perguntei.
— Chato, cansativo e irritante. E pra ser sincero, cada dia sinto mais vontade de ficar em casa com você, mas infelizmente eu não posso nos dar esse luxo.
Se eu tivesse prestado atenção em seu rosto, não precisaria ter perguntado.
- Eu sei que as coisas ficaram todas nas suas costas, é difícil, mas você precisa relaxar um pouco, ou vai enlouquecer.
- É difícil pensar em ficar numa boa enquanto olho para pilha de problemas que eu devo resolver.
- Nós, devemos. É dever meu também, e eu prometo que vou voltar à ativa. Mas tem coisas que precisam ser resolvidas antes.
- Com coisas você quer dizer Aaron? - ele pergunta - Vai por mim, eu estou muito preocupado com ele também. A ideia de chamá-lo foi minha. Não foi justo com nenhum deles.
Eu conseguia entender a culpa que ele sentia. E embora eu soubesse que a culpa também não era minha, não conseguia deixar de senti-la.
- Você sabe que eu te entendo, muito mais do que qualquer pessoa no mundo. E também estou preocupada com ele, e o fato de Kayla não estar se importando o suficiente com a situação me deixa ainda mais irritada.
Ele desviou o olhar e em seguida soltou o ar que prendia.
- O que foi?
- Lauren... só você ainda acredita que ele pode acordar.
Enquanto eu tivesse razões ainda iria acreditar.
- Me desculpa, não pensei nas palavras antes de falar - ele disse - Mas não quero te ver decepcionada demais caso ele não acorde.
- Ele vai acordar! - falei com a voz firme.
— Não precisa se estressar com isso. Se você que o visita quase todos os dias está dizendo isso, eu acredito.
— Você já mentiu melhor. Pelo visto só eu acredito na melhora dele.
— Não é bem assim, mas...
— Eu posso te fazer uma pergunta? - ele assentiu, então continuei — Você por acaso desconfia que eu sinta algo por Aaron?
Shawn se mexeu um pouco, a pergunta claramente o incomodou. Ele não quis parecer intimidado, mas sua expressão corporal dizia totalmente o contrário.
- Até um tempo atrás sim, mas eu decidi que tinha que confiar em você se eu quisesse fazer o que estava planejando.
- E o que exatamente você estava planejando?
Ele destrancou uma das gavetas que estava atrás de nós dois.
- Eu ia te pedir em casamento, só não sabia como, quando e onde de fazer isso.
Olhei para a gaveta e contei quatro caixas de alianças.
Quatro.
- Desculpa o exagero, cada vez que eu passava perto da loja achava uma aliança que eu tinha certeza que cairia perfeitamente bem em seu dedo, e bom, esse foi o resultado.
Ele estava corando. Eu não tinha dúvidas que diria sim. Tanto naquela sala quanto em qualquer altar. Ele só precisava ter certeza do que queria. Acho que eu não precisava esperar o pedido dele.
- Sabe, já passamos tantas coisas aqui nessa sala. Muitas coisas mesmo. Mas o mais importante de tudo é que nós nos conhecemos aqui... minha vida virou do avesso quando entrei nessa sala para fazer aquela entrevista.
— Você foi a pior de todas e a pessoa com menos experiência que pisou nessa empresa - ele riu ao lembrar — Sua falta de interesse em mim e sua sinceridade me chamou atenção.
— Mas o importante é que estamos aqui e juntos. E esse é o lugar perfeito para darmos o próximo passo — Falei com segurança.
— Espera... você já quer ter outro filho?
Eu ri do seu nervosismo, quatro crianças correndo pela casa tiraria meu juízo.
— Estou perguntando se você quer se casar comigo.
••••••••••••••••••
Se o Shawn não teve coragem de pedir, ela teve ❤️
Obrigada por esperarem tanto.
Obrigada pelas mensagens de apoio. 💜
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