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No capítulo anterior...
" — Finalmente chegaram! Tem uma pessoa que mal pode esperar para ver vocês. Essa pessoa não gosta de enrolações, então venham logo.
O homem disse, nos jogando para um quarto escuro.
Eu quase não acreditei no que vi. Belisquei meus braços várias vezes para ter a certeza que não era mais um daqueles sonhos malucos.
— Lauren, querida, isso aqui é bem mais do que real.
— O que você está fazendo? — perguntei, ainda sem conseguir citar seu nome.
— Uma troca justa. Vocês escolhem. Aaron e Kayla ou a herança que Manuel deixou para vocês!"
••••••
2 MESES DEPOIS
As coisas não foram muito fáceis durante esses dois meses. Para alguns dos envolvidos no dia do maldito incidente esse tempo passou tão rápido quanto um feriado prolongado. Mas para outros, infelizmente parecia durar muito mais que a eternidade. Estar na cadeia, como Karen e Ashley estavam, parecia o paraíso perto do que tinha acontecido com o resto de nós.
A minha vida nesses últimos meses, era baseada em visitas hospitalares e consultas médicas agendadas.
O maior motivo disso tudo era a minha gravidez. Sim, eu estava grávida, exatos dois meses de gestação. Infelizmente acabei descobrindo da pior maneira possível. Mas de qualquer forma , eu e todos os que conviviam comigo estavam muito felizes por mim.
Bem... quase todos.
E no momento, a gravidez e a curiosidade para saber o sexo da criança eram os únicos motivos que faziam com que eu me distraísse um pouco.
— Bom dia, srta. Outro crachá de visitante para a ala C? — a recepcionista me perguntou.
— Pelo número de vezes que nós já nos falamos, já te considero íntima, prefiro que me chame apenas de Lauren.
— Certo, Lauren.
Ela digitou algumas coisas no seu computador e retirou da impressora uma etiqueta com algumas de minhas informações.
—Aqui está. Espero que ele acorde logo. Gosto de conversar com você, mas sempre torço para que os pacientes do coma acordem.
COMA. Essa palavra ainda me causava um certo desconforto e muitas vezes um arrepio.
— Sim, eu também espero. Todos nós esperamos.
Colei a etiqueta em minha blusa e corri em direção ao elevador, por sorte uma moça que estava dentro segurou para que eu entrasse.
— Obrigada.
A ala C ficava no último andar, era o lugar mais sossegado de todo o prédio, e também um dos mais espaçosos. Nos andares de baixo ficavam os pacientes em observação, enquanto no prédio ao lado estavam os pacientes de emergências e cirurgias. Nos últimos meses eu tive a infeliz experiência de passar por cada andar desses dois prédios.
A pior parte de entrar em um elevador era a de lembrar do dia do incidente. Lembrar de uma conversa e todas as decisões erradas que eu tinha tomado naquele dia, e sentir um aperto no peito em saber que se aquela conversa tivesse sido diferente, se eu tivesse agido diferente, talvez não precisaria passar longos meses visitando-o em uma cama de hospital, sem saber se tinha possibilidade de vê-lo acordado ou se não tinha mais esperanças.
*FLASHBACK ON*
Pisquei algumas vezes e tentei olhar de outro ângulo, queria ter certeza de que não estava ficando louca e que realmente estava vendo Amanda e Karen juntas, e que elas eram as sequestradoras que estavam com meus amigos.
— Só pode ser brincadeira! Você, deveria estar longe daqui — falei.
— Cuidado com o que deseja.
— Vai ter que me matar se quiser algo que venha de mim!
— Ótimo! Então você morre em 24 horas. Esse é o tempo que estamos dando para você assinar toda a papelada — Karen disse.
Fiquei me perguntando como ela conseguia fazer o próprio filho passar por aquela situação. Ela não faria algo ruim acontecer com ele, óbvio. Mas nada era a garantia que eu poderia sair dali viva.
Shawn estava calado. Não fazia nada além de trocar olhares com Aaron e Kayla, e analizar o local. Parecia incrédulo com toda aquela situação.
— Manuel me disse uma vez que você era louca e eu duvidei. Agora te vejo passar por cima do amor pelo próprio filho, só por causa de uma herança, algo que você disse que não queria.
A herança que Manuel tinha me deixado vinha acompanhada com a sensação de "Isso não é seu, devolva" e eu realmente sentia que nada daquilo era meu. Mas também não era de Karen, a coisa certa a se fazer era dar para Aaliyah e Shawn, os verdadeiros herdeiros.
— Não questione o meu amor pelo meu filho. Amo os três e é por isso que estou aqui. Mas também amo dinheiro, não pense que estou nessa sozinha, sua prima também tem muita culpa e eu não vou abandoná-la outra vez — Karen cuspiu as palavras na minha cara.
O fato de não ver Ashley ali, me deixava mais aliviada. Talvez ainda houvesse esperanças para ela. Quem sabe virasse uma pessoa melhor quando fosse para a cadeia ou fizesse um tratamento.
— Ninguém é totalmente inocente, Lauren. A essa altura do campeonato, achei que já soubesse disso.
— Onde Ashley está?
— Eu não vou te dizer, ela aparecerá quando for a hora de exercer seu papel. E você deve se lembrar que também tem que exercer o seu. Se os pombinhos quiserem um tempo para conversar, fiquem à vontade, o quarto é de vocês — a voz de Karen pela primeira vez me incomodou. — Eu sei que é uma decisão difícil de se tomar, mas é o certo a se fazer.
— Sua velha desmiolada, quem você pensa que é para me dizer o que é certo ou errado?
Shawn me segurou antes que eu falasse qualquer outra coisa para ofender Karen.
— Estou sendo simpática, não abusem.
Sequer tivemos chances de escolher entre ir ou não para o quarto e fomos empurrados por um dos homens que estava armado.
— Se tentar gritar pela janela, eu meto bala nos dois — ele tentou me amedrontar, mas não tinha nada que pudesse me deixar mais desesperada do que eu já estava.
Bom, naquele momento isso era o que eu achava.
Me matar não era uma decisão muito inteligente para Karen e Ashley, afinal, Manuel não era obrigado por lei a deixar dinheiro para a família, então, se me matassem não teriam chances de ficar com nada. Pelo contrário, morrer seria a solução mais fácil para me livrar de todo esse dinheiro sujo, no fim das contas, minha herança ficaria para o governo e a família Mendes não teria pelo que brigar. Mas isso era uma solução fácil demais e eu não estava a fim de morrer antes de ver Ashley pagar por tudo o que fez.
— Eu tenho quase certeza de que você tem ordens para não atirar em mim — Shawn disse.
— Não estou falando de vocês dois, babaca. -— homem armado retrucou — Mas se quiser tentar a sorte, eu vou adorar disparar meu brinquedinho novo.
— Se você encostar em um daqueles dois eu juro que vou...
— Vai o quê? - ele deu um passo para frente e engrossou a voz — Estou impedido de encostar em você agora, mas nada me impede de ir atrás de você quando isso acabar. Eu sei tudo sobre sua família, pense bem antes de me fazer ameaças.
— Se soubesse tudo sobre minha família nunca teria me ameaçado.
Shawn e ele ficaram se estranhando com olhares por mais alguns segundos, quando percebi que começava a se irritar pedi para que Shawn se controlasse.
— Vou ficar de guarda na porta enquanto as mocinhas decidem.
Assim que o homem saiu, Shawn me abraçou forte.
— Consigo ver na sua cara o desespero. Vai dar tudo certo, não vamos precisar dar nada à eles.
Eu não me importava com o dinheiro. Não tinha como sentir falta de uma coisa que nunca tinha feito parte da minha vida antes. Caso tivesse que dar aquilo pela vida de qualquer um dos três eu não pensaria duas vezes.
— Eu não ligo de entregar. Vou fazer essa porcaria de papel e mandar Aaron e Kayla para bem longe daqui.
Shawn ficou em silêncio. De todas as coisas que ele poderia ter dito ali, o silêncio era o que me deixava mais nervosa.
— Por favor, fala alguma coisa.
— Eu só... não estou com um bom pressentimento. Precisamos agir com cautela, se algo acontecer aqui eu não quero ser o culpado.
— E o que eu devo fazer? Não sei se você percebeu, mas a vida de vocês três está nas minhas mãos e isso não é nada divertido.
Ele esperou um momento antes de dizer:
— Não faça nada ainda. Vou conversar com a minha mãe primeiro.
*FLASHBACK OFF*
Andei pelo corredor até chegar no quarto onde eu deveria entrar.
No começo eu até hesitava e tinha esperanças de chegar no quarto e ser recebida por uma notícia boa, esperava algum progresso. Mas toda esperança era inútil e só servia para me deixar ainda mais frustrada.
— Lauren, você por aqui — brincou o médico, tentando me animar de alguma forma.
Sorri para não parecer antipática. Durante todos os dias em que eu fazia minhas visitas, o médico tentava me animar, às vezes quando seu plantão não permitia com que nós nos encontrássemos, ele deixava alguns papéis post it colados na parede com mensagens motivacionais, para que eu não deixasse de ter esperanças, independente da situação.
Odiava aquele ligar, mas de alguma forma, a presença do médico era a única coisa que me ajudava. Ele era o único que torcia tanto quanto eu.
— Algum progresso? — perguntei, mesmo sabendo que a resposta seria a mesma.
— Nada além do que ele fez o mês inteiro, continua apenas mexendo os dedos, isso é uma coisa boa. Mas continue conversando com ele, isso o ajudará de muitas maneiras. E eu tenho a certeza de que ele vai acordar quando você estiver aqui.
Como ele poderia ter a certeza disso?
— Você disse que ele não teve nenhum progresso, como pode ter a certeza disso?
Ele apontou para o quadro que mostrava a frequência cardíaca.
— Eu sou o médico aqui.
— Desculpa, eu não quis te ofender.
— Sei que não. Olhe isso aqui, sempre aumenta quando ele escuta a sua voz, bem mais do que quando qualquer outra pessoa vem aqui. Eu já vi isso antes, muitas vezes, você é a pessoa que causa uma reação maior entre as outras. Eu vi muitas pessoas passarem aqui para visitá-lo e a frequência não alterou tanto. Ele deve se importar bastante com você, talvez até mais que com os outros.
Caminhei até a cama e me sentei na poltrona ao lado. Segurei em sua mão e como de costume, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
— Vou deixar vocês à sós. Qualquer problema ou qualquer novidade você pode gritar que eu venho correndo. Boa sorte, Lauren.
Enquanto o médico se retirava, eu tentava me recompor. Ele precisava de mim, e se eu era a melhor chance de fazê-lo reagir, eu tinha que estar com a cabeça no lugar.
— Desculpa, toda vez eu choro, não é? — fiz uma pausa para arrumar seus cachos desarrumados — Eu te prometo que amanhã vou dar o meu melhor para não chegar aqui parecendo uma louca.
Como sempre, arrumei os lençóis da cama e o cobri, a sala estava ficando gelada e eu havia recebido orientações para que o cobrisse quando percebesse uma mudança de clima.
— Eu venho te atualizando desde o primeiro dia de visita, hoje não pode ser diferente, então, vamos começar as atualizações antes que eu comece a chorar novamente, mas antes, queria de pedir desculpas pela milésima vez, não devia ter te envolvido nisso, você devia ter ficado onde estava.
Voltei para a minha poltrona.
— Estou passando tanto tempo aqui que já estou chamando os móveis de meus — Ri de minha idiotice — E nem pense em ficar bravo comigo quando acordar, eu estou aqui porque quero e não deveria estar em nenhum outro lugar. Também não é para deixar ninguém sentar na minha poltrona.
Se eu estivesse no lugar dele com certeza ficaria brava com todos os que me visitaram todos os dias durante esses meses. Mas eu só conseguiria seguir minha vida quando tivesse a certeza de que ele ficaria bem.
— Fiquei imaginando como você vai reagir quando souber que eu estou grávida.
Talvez ele nem esteja acordado quando a criança nascer. Talvez odeie, talvez fique feliz por mim. Era o que mais me doía, só saberia quando ele acordasse.
— Não vou fingir que não estou assustada. Quero dizer, tem uma criança dentro de mim, isso é algo que eu nunca vou me acostumar. Tenho certeza que você vai rir da minha cara de espanto quando o bebê se mexer pela primeira vez.
Eu realmente gostaria que ele ainda estivesse acordado quando eu descobri minha gravidez. Devido ao ocorrido, estávamos em alas totalmente diferentes. Meu corpo se arrepiava, só de lembrar de como tudo aconteceu tão rápido.
*FLASHBACK ON*
Shawn e sua mãe conversavam em outro quarto, mas os gritos podiam ser ouvidos de qualquer cômodo e talvez até de qualquer outro apartamento.
— Anda, Shawn. Tentar convencer essa louca é inútil — falei sozinha.
Quanto mais ele argumentava, mais nervosa ela ficava e seus gritos eram ouvidos com mais clareza. Eu sabia que Shawn estava tentando ganhar tempo, mas aquilo poderia deixá-la ainda mais nervosa e levá-la a cometer loucuras. Quem pagaria por isso não seria nenhum de nós dois.
— Você tem que entender, dinheiro não é tudo. O que adianta tirar tudo de nós se daqui você vai direto para a cadeia? Lauren foi impedida de passar para qualquer pessoa que não seja os filhos dela — Shawn falava enquanto se aproximava do quarto em que eu estava.
— Não é questão de dinheiro, isso envolve outras coisas, problemas que eu venho lidando antes mesmo de você nascer. Você não entende o tamanho da minha dívida, eu já contava com isso. As pessoas que eu estou devendo também contam com isso.
Eu não queria saber no que ela estava envolvida., queria apenas sair dali rápido e de preferência viva. Mas era impossível espantar a curiosidade.
— Contam com um dinheiro que nem é seu? — Shawn perguntou — Mãe, eu não estou te reconhecendo, o que você fez?
Ela começou a falar mais baixo, então, me aproximei para ouvir, porque se ela estava prestes a me matar, eu merecia saber o motivo.
— Quando descobri que aquele verme sumiu com a nossa filha, coloquei todos os detetives que pude atrás dela. Fiz uma dívida enorme que não pude pagar e quando eles a acharam, não me contaram o paradeiro dela, nem o nome, só me disseram que agora ela morava em Los Angeles e exigiram uma quantia absurda para revelar quem ela era, afinal, eu tinha pago antecipado para descobrirem quem ela era, e como não disse claramente que eles precisavam me contar, acabei caindo no golpe e perdendo metade do dinheiro que seu pai deixou de segurança na minha conta.
Shawn falou algo muito baixo, não consegui ouvir nada antes da resposta de Karen.
— Não. Eu não sabia quem era e estava disposta a descobrir, por um tempo pensei que era Lauren, já que seu pai fazia um esforço enorme para manter vocês separados. Voltando para o passado, nós nos separamos e eu fiquei sem nada, não tinha dinheiro para pagar aquela gente e da pior forma acabei descobrindo que eram perigosos, isso foi quando você estava saindo da empresa há uns quatro anos atrás e foi drogado, depois de apanhar eles te jogariam amarrado em um rio.
— Então foi você?
— Não, foram eles! Não tive escolha a não ser pagar o resto do dinheiro que eu tinha. E as coisas ficaram piores, eles me entregaram apenas o nome do meio, que é um nome composto e não me ajudou em nada. Então, não tive escolhas a não ser fazer o que pediram, queriam seu pai morto, sabiam que vocês herdariam o dinheiro e me dariam quanto eu precisasse para me tirar dessa situação. Eu não tive escolha, mas não podia ser presa se estava prestes a conhecer minha filha, então, segui o plano e comecei a...
— Começou o quê? Mãe...
— Eu comecei a envenenar o seu pai aos poucos, de um modo que ele desenvolvesse uma doença que não fosse fácil achar a cura e como ele quase não ia no médico, só descobriu quando já estava morrendo.
Eu sabia de todos os defeitos de Manuel, mas não acreditava que ele merecia ter morrido. Pelo contrário, os dois tinham que sobreviver para pagar pelos crimes que cometeram e outras vidas que arruinaram.
Bem, Manuel estava morto e eu não podia fazer mais nada sobre isso. Mas Karen ainda estava viva e eu faria tudo dentro do meu alcance para que ela e Ashley conhecerem o macacão laranja. Ficaria bem nelas, essa era a única certeza que eu tinha.
Já tinha escutado o suficiente, achei que era hora de fazer alguma coisa, então, comecei a revirar discretamente o local em que estava e achei algo interessante.
— Essa última gaveta está pesada e grossa demais — falei baixinho. Ainda procurando por ao menos um prego solto para que eu pudesse ter a mínima chance de defesa.
Voltei a mexer nas gavetas e não fiquei surpresa ao descobrir que as duas ultimas possuíam fundos falsos. Estava começando a achar que realmente não existia crime perfeito e torcer para que esse fosse um deles, cheio de furos e provas mal escondidas.
Rapidamente tirei a madeira do fundo da gaveta, tentando não fazer barulho e aproveitando que não parecia ter ninguém de guarda na porta. Aquilo estava mais fácil do que eu esperava. Eu passaria facilmente por Amanda ou Karen, mas o problema realmente era o homem armado.
— Ecstasy? — Falei baixinho ao abrir a gaveta — Por essa eu não esperava.
Nem mexi para não gastar tempo com aquilo, à menos que eu drogasse todo mundo ali, aquelas drogas não serviam de nada para mim. Era uma boa ideia, mas eu não teria essa chance e após ouvir o relato de Karen eu não tinha o mínimo interesse.
Após colocar a gaveta no lugar, abri a próxima. E para ser sincera, aquilo estava fácil demais de ser descoberto para algo que eles queriam esconder. Mas ali já eram coisas diferentes.
Havia uma arma, isqueiros, fósforos, luvas e um estilete. Pensei em pegar a arma, mas eu nunca tinha usado uma e sequer sabia se estava carregada. Sem contar que as chances de eu balear a pessoa errada eram enormes. Preferi nem tocar naquilo. E além de tudo, eu não teria como esconder uma arma, minhas roupas não facilitariam e ser pega armada poderia dificultar a situação para ambos os lados e eu não estava disposta a deixar digitais de graça para eles me incriminarem por qualquer coisa.
Peguei o estilete e escondi em meu sutiã, era o melhor que eu podia fazer naquele momento e as chances de ser pega com ele seriam menores. Depois disso, guardei tudo de volta e tentei ficar calma.
— Não deu certo, Lauren. Ela diminuiu o nosso tempo, temos apenas dez minutos para assinar os papéis.
E a partir dali, tudo começou a dar errado.
*FLASBACK OFF*
Não conseguia imaginar como era estar deitada nessa cama no lugar dele. Qual seria a sensação de estar ouvindo uma pessoa enquanto ela conversa com você, querer responder e seu corpo não responder aos seus estímulos? O quão agonizante era essa situação? Como ele ficaria se acordasse agora?
— Droga. Você sabe que era para eu estar aí! Eu sei que é chato ficar te dizendo isso todas as vezes que venho aqui, e até mesmo Kayla já me disse que eu poderia me desculpar à vontade quando você acordar.
Respira fundo, Lauren. Mude o assunto. Não comece a chorar de novo.
— Esquece isso. Vamos voltar às novidades — Falei tentando fazer com que minha voz soasse um pouco mais animada — Eu tomei uma decisão muito difícil essa semana... como eu ainda sou dona das empresas de Manuel e a filial que tem um faturamento menor e precisa de mais atenção está em Londres, vou me mudar para lá. Ou pelo menos passar a maior parte do tempo lá. Imagina o quão confuso será para o bebê, ter o pai canadense, a mãe americana e ser britânico, além do avô português, é claro— Ri fraco — Sei que você ama aquele lugar também, já passamos por cada situação esquisita e engraçada naquele lugar. A maioria foram coisas boas, e é por isso que eu quero ficar lá.
Eu não tava dizendo que ao me mudar para Londres tudo viraria um mar de rosas. Mas ficar em Los Angeles não era mais uma opção.
— É claro que eu não vou te abandonar aqui. Obviamente, só saio daqui quando você estiver acordado, mas cá entre nós, tenho certeza que você sente mais falta de Londres do que eu.
Ouvi batidas de leve na porta, era a enfermeira.
— Odeio ter que fazer isso, mas já acabou o seu horário de visita.
— Posso ficar mais cinco minutos? — Perguntei, torcendo para que ele tivesse um pingo de comoção e me deixasse ficar mais um pouco.
— Lamento, meu plantão acaba em cinco minutos e você já está aqui vinte minutos a mais do que deveria. O doutor precisa examiná-lo novamente e o paciente precisa descansar.
Vinte minutos a mais? Com certeza eu tinha gastado todo esse tempo chorando.
— Eu entendo. Vou me despedir dele e prometo que vou embora.
— Te darei três minutos — após dizer isso, a enfermeira saiu, nos deixando a sós novamente.
Segurei a mão dele novamente e com minha outra mão voltei a arrumar seus cabelos.
— Infelizmente eu tenho que ir, a enfermeira já veio aqui chamar a minha atenção porque passei vinte minutos a mais, dá para acreditar? Mas não se preocupe, amanhã estarei aqui de novo, e com certeza vou trazer uma escova para pentear esse seu cabelo enorme.
Se ele tivesse acordado jamais permitiria que eu penteasse seu cabelo.
Eu odiava ter que deixá-lo ali, mas não tinha muitas escolhas.
— Acho que a enfermeira já está voltando... quando acordar você pode brigar com ela por sempre vir acabar com a minha visita — falei rindo.
— Ei, eu consigo te ouvir — ela disse do lado de fora.
Antes que a enfermeira entrasse no quarto outra vez para tentar me expulsar, dei um beijo na bochecha dele como forma de despedida, assim como fazia todos os dias.
— Nos vemos amanhã, Aaron.
*FLASHBACK ON*
— Escuta rápido. Minha mãe está vindo com os papéis. Não faça a sua assinatura original, não passe tudo para... — antes de terminar de falar, Shawn foi interrompido por sua mãe que, como ele havia me informado, estava com os papéis na mão.
Dessa vez, ela não veio apenas com um de seus capangas, trouxe com ela também Kayla e Aaron.
— Não importa o quanto ela te ameaçar, não assine aquilo com a sua assinatura — Shawn sussurrou.
Eu só conseguia prestar atenção em Kayla e Aaron. Eles estavam apavorados. Aaron parecia machucado, com certeza tinha tentado lutar antes de ser pego.
— Vocês dois, me desculpem. Eu não devia ter trazido vocês para cá — falei.
Eles pareciam sem esperanças de que poderiam realmente sair dali. Bom, até eu estava sem esperanças. Quem me garantia que depois que assinasse, alguém além de Shawn poderia sair dali vivo? Não tinha como confiar e aquilo estava me deixando sem saída.
— Seu tempo se esgotou, assine essa porcaria logo! — Karen disse, estava visivelmente nervosa.
— E se eu não assinar, o que vai acontecer?
— É para isso que seus amigos estão aqui — Ela disse, fazendo um sinal para que um de seus homens apontasse a arma, que agora possuía um silenciador, para Kayla — Acho que nossa querida Lauren está precisando de um incentivo.
— Abaixe a arma ou eu não assinarei nada!
Karen riu.
— Achei que você fosse um pouco mais difícil de convencer — ela disse, logo em seguida me entregou os papéis — Assine-os. Agora!
À partir daquele minuto, as coisas começaram a acontecer muito rápido. Assinei cada um dos papéis usando a dica de Shawn. E talvez aquele tenha sido o maior erro que eu já tinha cometido em toda a minha vida.
Entreguei os papéis nas mãos de Karen que logo abriu um sorriso.
— Preciso conferir algumas coisas. Desamarre Kayla e Aaron, estarei de volta em alguns minutos.
Assim que eles deixaram o local, Shawn e eu corremos em direção aos dois e desprendemos suas mãos. Estavam avermelhadas e foram levemente cortadas pelo material das cordas que os prendiam.
— Quando a gente sair daqui, eu vou embora desse lugar o mais rápido possível — Aaron disse — não precisa se sentir culpada, Lauren. Essa mulher é maluca e a culpa não é sua.
Assim que Shawn terminou de soltar Kayla, ela correu para os braços de Aaron e não conseguiu controlar o choro.
— Vai ficar tudo bem, a gente vai sair daqui. Não precisa se preocupar - ele tentou confortá-la. Mas algo me dizia que nem ele conseguia acreditar no que estava falando.
— Shh... tem alguém vindo — Shawn nos alertou.
E em questão de segundos, Karen aparece com mais ódio do que nunca.
— Vagabunda! Você acha que consegue me enganar? Achou que conseguiria passar a perna em alguém como eu? - ela me puxou pelo braço e me apertou com força — você acaba de cometer o maior erro da sua vida.
— Mãe, solte ela, por favor. Sou eu quem está te pedindo — Shawn tentou fazê-la mudar de ideia.
— Certo.
Ela me soltou bruscamente.
— Jordan... mate a outra garota!
No mesmo instante, Aaron se posicionou em frente à Kayla, tentando protegê-la de ser baleada.
— Saia da minha frente e me dê a garota! — Jordan disse, chegando cada vez mais perto de Aaron.
— Fale o que quiser, eu não vou sair.
O homem não hesitou. Empurrou Aaron com uma força brutal, fazendo com que ele batesse a cabeça na quina da cômoda, antes de se chocar contra o chão.
Ele estava desacordado e sua cabeça sangrava, mas isso não impediu Jordan de atirar nele mesmo depois que já estava caído.
Meu primeiro instinto foi correr até ele para socorrer. Mas antes que eu pudesse me mexer, Jordan e o outro homem apontaram suas armas para Kayla.
— Eu te avisei que precisava dele vivo. Inútil — Karen disse. Limpe essa bagunça, agora.
— Como? O que eu faço?
Karen tinha perdido a paciência e sem hesitar, deu um tiro certeiro em Jordan.
— Temos que recuar, sua arma não estava com o silenciador. Karen, se não sairmos agora seremos pegos — O homem que nos prendeu no quarto sugeriu.
— Shawn, eu sinto muito.
Após dizer isso, Karen ficou pensativa por um segundo, e logo depois, sua arma se chocou contra a cabeça de Shawn, fazendo com que ele desmaiasse.
Enquanto Kayla e eu entrávamos em situação de total desespero e o homem fugia, Karen nos olhava com desprezo. Não parecia se divertir com a situação, mas também não parecia querer que acabasse. E ela realmente não queria.
— Você poderia ter feito a coisa certa mas não fez. Agora conviva com a culpa, ela vai te assombrar até o fim da sua vida.
Essas foram as últimas palavras de Karen antes de disparar contra Shawn.
*FLASHBACK OFF*
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