39

Eu estava chorando antes mesmo de dizer o nome. Shawn estava ansioso pela minha resposta, mas o nome simplesmente não conseguia sair da minha boca. Não parecia real.

— Como é que não liguei os pontos antes? Londres, o nome do meu irmão, a ligação com Cameron, problemas pessoais, as coisas ruins que aconteciam comigo toda vez que eu pensava em seguir sozinha... É ela. A anônima das cartas é Ashley.

Shawn pareceu não acreditar no início, mas algo esquisito fez com que ele repensasse no assunto. A partir dali, tudo começou a ficar nítido para nós dois.

— Estava na nossa cara o tempo inteiro... temos que fazer alguma coisa, não é? Usar a vantagem que temos, ela não sabe que descobrimos. Você está bem? — Shawn perguntou.

Fiz que não com a cabeça. Eu não estava nada bem e não tinha previsão para quando isso ia entrar na minha cabeça.

— Eu entendo se você não quiser fazer nada à respeito.

— Óbvio que eu quero, ela é da minha família mas está roubando, isso não significa nada, ela tem que pagar pelo que fez — Falei — Mas você tem que tomar um certo cuidado, Ashley sabe de muita coisa e eu conheço minha prima, ela não vai se afundar sozinha, vai arrumar um jeito de te levar junto com ela, e como eu jamais ficaria do lado dela, vai procurar um jeito de me levar também.

Eu sempre dizia ao Shawn que ele realmente merecia uma punição pelo que estava fazendo, assim como Cameron e Sierra tiveram a deles. E do mesmo jeito, eu até poderia ter uma parcela de culpa, pois omitir informações da polícia também é considerado crime, e eu sabia demais, bem mais do que gostaria.

— Você tem razão, vou tentar um acordo pacífico com ela, antes que Aaliyah descubra que ela é quem está tentando acabar com o que é nosso. Vou tentar te deixar fora disso, ela é da sua família e eu vou respeitar isso, mas que fique bem claro que é por você que eu vou fazer isso.

— Antes eu quero ter uma conversa com ela, não vou falar nada sobre o que sei, só quero analisar um pouco a situação. Agora tudo faz sentido, ela nunca me falou de seu trabalho, aparecia quando queria e nunca era demitida... A obsessão para me ver longe de você...

— Ele nunca te falou do trabalho dela?

— Abertamente não. Às vezes, eu ia buscá-la na frente de um prédio enorme, mas ela sempre me esperava na recepção, assim eu não precisava entrar.

— Você é tão esperta, me admira ela ter conseguido te enganar o tempo todo, quer dizer, se realmente é ela.

— Como você disse, não vou me envolver nessa parte, até porque eu não tenho absolutamente nada a ver com a empresa do seu pai e acho que isso é assunto de família... mas por favor, ele é seu pai, pensa se realmente vale a pena roubá-lo se tudo que está ali já é seu por direito.

Shawn ficou pensativo por pelo menos dez minutos, e quando voltou a falar, trocou rapidamente o assunto. Aquilo só me fez perceber que eu tinha um pouco de razão. Quer dizer, eu jamais entenderia o que Manuel havia causado naquela família, mas realmente não fazia sentido, já que aquelas empresas eram parte da herança que só ele receberia, pois Aaliyah havia pedido para sair do testamento.

— Nenhum membro da família vai herdar o que ele tem. Já vimos tudo, nosso tio de Portugal é quem vai ficar com tudo. Isso não é justo, sei que agora tenho tanto quanto ele, mas nós ajudamos ele quando as coisas ficaram difíceis e é por isso que merecemos a nossa parte, ele querendo dar ou não.

— Certo, não vou entrar mais nesse assunto, é coisa de família.

— Você disse que meu pai veio aqui, mas não disse o que ele queria — Shawn tentou começar outro assunto.

— Ele queria cobrar o que eu devo... você sabe, aquela coisa da dança que ele me pagou.

— Você sabe que eu não posso te deixar fazer uma coisa dessas, não é? Meu pai não é confiável — Shawn começou.

Eu sabia exatamente quais seriam as consequências de fazer tudo pelas suas costas, mas queria ver Cameron bem longe de mim, se isso significava ter que dançar para o Manuel só para poder pegar as gravações, eu faria.

— Eu não vou fazer nada disso hoje — Menti.

Shawn me conhecia muito bem, então eu teria que ser convincente.

— É o melhor, para a sua segurança.

— Eu disse que não vou fazer nada disso hoje, mas se eu desistisse disso para sempre, Cameron e as gravações, como ficam?

— Nós damos um jeito nisso depois.

— Shawn... não tem "nós". Você não vai poder entrar lá e ele deixou bem claro.

— Então eu dou um jeito nisso, não precisa se preocupar.

Não queria que Shawn fosse a pessoa que resolveria todos os meus problemas, eu tinha entrado naquilo sozinha, então ia sair sozinha também. Cameron seria apenas a garantia de que eu sairia de lá, já que não dava para contar com sair ilesa.

— Preciso fazer algumas coisas ainda hoje, amanhã tenho que organizar uma reunião, Aaron estará de folga e Amanda ainda está desaparecida, vou precisar de todos os reforços possíveis e tudo tem que estar organizado.

— Pode ir para casa, tenho certeza de que seu pai não está rondando o meu bairro até agora, senão já teria tentando entrar aqui — A minha mentira soava ridícula, eu sabia exatamente onde Manuel estava.

— Como pode ter certeza disso? — Ele perguntou, provavelmente desconfiado.

— Terça-feira foi o dia que ele escolheu. Com certeza não vai ficar me esperando lá fora até terça-feira, seria ridículo e desesperador — Estava assustando à mim mesma com a minha facilidade de mentir e inventar desculpas.

— Tudo bem então, não quer que eu durma aqui?

— Não — Respondi rápido demais, fazendo com que ele se assustasse - Quer dizer, não precisa. Estou um pouco abalada com essa história de Ashley ser X. Quero ficar sozinha e pensar um pouco.

— Ok, então, até amanhã — Ele disse, e logo depois me beijou como despedida — Se ele voltar a aparecer, me liga ou vá até minha casa.

Apenas assenti, para não começar a falar demais e deixar estampado na minha cara que eu estava mentindo. Me sentia totalmente ridícula por estar fazendo tudo pelas suas costas, mas era necessário, só assim para me livrar de Manuel e Cameron de uma só vez.

Ashley teria que esperar a vez dela.

Esperei Nash chegar em casa para começar a arrumar minhas coisas, e fiquei surpresa quando vi que ele não entrou em casa sozinho.

— Lauren... eu meio que achei que você não estava aqui — Ele disse, um pouco atrapalhado, seu rosto começou a corar.

— Achou errado — Falei sorrindo.

— Essa é a Destiny — Ele disse apresentando uma garota que aparentava ter a mesma idade que ele — E essa é Lauren, minha irmã.

— É um prazer te conhecer, ele fala muito bem de você — Ela disse sorrindo, e logo em seguida apertou minha mão.

Era uma garota muito bonita e parecia simpática.

—O prazer é todo meu — Respondi — Nash, estou saindo, não sei como te explicar isso mas estou indo na casa do Manuel, e se o Shawn aparecer aqui você não pode contar onde eu estou.

Estava me preparando para passar pela porta quando Nash se colocou em minha frente.

— Espera só um segundo — Ele disse à Destiny e me puxou para a cozinha — O que você vai fazer lá? Perdeu a noção?

— Resolver uns assuntos sobre a empresa.

— E isso não era para ser resolvido dentro da empresa? — Algumas vezes Nash parecia bem mais inteligente do que Shawn.

— Tem que ser resolvido à hora que eu quiser, e isso é algo urgente que não pode esperar até amanhã.

Nash fez cara de paisagem enquanto eu falava, ele sabia que eu estava mentindo.

— O que foi? — Perguntei.

— Eu não vou procurá-lo para contar que você vai encontrar com o pai dele por vontade própria, mas se por acaso ele me perguntar eu não vou mentir, e acho que você não deveria estar mentindo também, já que sabe que o cara não gosta de você.

— Não precisa mentir, é só não contar, isso vai dar problema e você sabe disso. Se você ficar quietinho vai dar tudo certo.

— Lauren, isso não fez sentido. Melhor você ir embora logo, quanto mais cedo sair, mais cedo volta.

— Ok, vê se toma juízo.

— O que?

— A garota... você sabe do que eu estou falando e eu não quero ter aquela conversa com você.

— Olha só quem está me mandando tomar juízo. Namorando o filho e indo escondida para a casa do pai. Lauren, que nojo. Mas já entendi, agora vai — Ele respondeu, abrindo a porta dos fundos e praticamente me expulsando.

Mandei mensagem para o Cameron, ele devia saber que eu já estava saindo de casa e tinha que me seguir até o condomínio onde Manuel morava, em poucos minutos, pude ver que seu carro já estava me seguindo, assim continuei o caminho até o bairro de Manuel, onde Cameron ficaria me esperando no quarteirão.

Estacionei próximo ao condomínio e logo me identifiquei na portaria, e como o porteiro estava ciente, autorizou minha entrada.

Assim que parei na porta de Manuel, ela já estava aberta, não entendia o motivo, já que ele não sabia que eu estaria ali naquele exato momento.

— Sabia que viria — Ele disse sorrindo.

— Claro que sabia, você me obrigou, lembra?

— É como você diz, quanto mais rápido começar, mais rápido vai terminar.

— Onde é que eu posso me trocar? —Perguntei, mesmo sabendo que ele me ofereceria o quarto de hóspedes.

— Ali — Ele disse, apontando para o quarto escuro, oposto ao que eu deveria entrar.

— Eu não vou entrar ali... não confio em você.

Precisava de uma desculpa para entrar no quarto dele novamente.

— Entre onde você quiser, só vamos logo com isso — Ele disse me observando entrar em seu quarto — Não tranque a porta.

No mesmo instante eu tranquei. Não estava ali para me trocar, e não confiava em Manuel de forma alguma.

Fui exatamente no baú que ainda estava em baixo da cama.

Não conseguia imaginar o que se passava na cabeça de Manuel, aquele vai tinha valor para ele e deveria estar em outro lugar para o seu próprio bem. Acho que ele seguiu a linha de pensamento que a melhor forma de esconder uma coisa é deixando-a na vista de todos.

Assim que abri, retirei as quatro gravações e coloquei imediatamente dentro da minha bolsa, tentei misturá-las com os meus pertences para não deixar muito à mostra, caso eu precisasse abrir a bolsa na frente dele.

— Lauren, abra a porta. Quero falar com você agora! – Ele bateu com força, fazendo com que eu me assustasse.

Escondi o baú rapidamente, porém, sem fazer barulho.

— Ainda não estou pronta — Respondi.

— Não precisa se trocar, não quero mais que você dance — Ele disse.

Estava muito estranho, de fato. Por um minuto pensei que ele tivesse descoberto meu roubo de alguma forma. Procurei novamente por câmeras no local, mas não haviam sinais. Ele sabia o que eu tinha feito. Não queria que eu dançasse porque sabia que eu estava enganando-o.

Abri a porta enquanto fingia estar colocando minha roupa de volta e dei de cara com ele.

— Que tipo de brincadeira é essa? — Perguntei desconfiada.

— Pegue sua bolsa e sente-se — Ele disse sério, num tom que eu jamais tinha escutado.

Eu me sentei, mesmo que estivesse estranhando tudo, e mesmo que a vontade de sair correndo daquele lugar  fosse maior do que eu. Seria aquela a hora em que ele sacava uma arma e me mataria?

Foi uma idiotice não contar a verdade para o Shawn. Caso algo acontecesse comigo, Cameron provavelmente entraria ali para pegar as gravações e daria um jeito de sumir comigo para sempre, ou com o que restaria de mim.

— Nem sei por onde começar.

— Como você havia dito, se começar mais rápido, termina mais rápido.

Ele respirou fundo algumas vezes, e demorou muito tempo para falar, eu poderia dizer que aquilo estava esgotando a paciência que eu havia resgatado de dentro de mim para lidar com ele.

— Então... está ficando tarde e eu ainda tenho o que fazer, e ficaria grata se você começasse a falar agora mesmo.

— Tenha paciência... os últimos dias vem sido bem complicados para mim, e não está sendo fácil lidar com isso sozinho — Ele começou, realmente, parecia abalado.

— Por isso vive tão afastado da empresa? — Perguntei.

Não era como se eu me importasse, mas não fazia sentido algum quando Manuel simplesmente sumia por meses e deixava a empresa sob a direção de Shawn e logo depois aparecia e afastava Shawn, aquilo era como um ciclo vicioso.

— Antes eu realmente não tinha motivos para deixar a empresa nas mãos de Shawn, e só deixava porque ele tinha que aprender as coisas para quando eu não estiver mais aqui. Agora eu tenho um motivo, mas mesmo assim ainda não gosto de vê-lo dirigindo a minha empresa, o garoto mal sabe se vestir sem a sua ajuda.

— Eu não vou ficar aqui para te ouvir falar coisas ruins sobre uma pessoa que dirige a empresa melhor do que o próprio dono. Se você me chamou aqui para falar do Shawn, então acho que não escolheu a pessoa certa — Falei enquanto me levantava para sair, mas Manuel segurou em minha mão, de uma forma gentil.

— Eu não te chamei aqui para falar dele. Te chamei para falar sobre nós dois.

— Me explique, o que quer dizer com isso? — Perguntei.

— Assunto de trabalho, mas você precisa se acalmar para eu te contar desde o início.

Hesitei um pouco, mas ele não pareceu estar brincando, e eu jamais habia visto Manuel com aquela expressão.

— Certo. Mas que fique bem claro, não vai passar de uma conversa!

Me sentei e esperei alguns minutos para que ele começasse a falar.

— Nem sei como posso começar... não é fácil sair por aí confessando que descobri que estou com uma doença grave e é possível que eu não sobreviva aos tratamentos.

Fiquei sem saber o que falar e continuava não confiando nele.

— Por que você não contou para os seus filhos primeiro?

— Eles não gostam de mim... aliás, você também não gosta, mas eu já fiz muito mal para eles, com certeza desejam a minha morte e eu sei que você não é assim — Ele disse.

Não sabia exatamente onde ele queria chegar.

— Eu tive a impressão errada de você, desde o início, mas só agora descobri o quanto você realmente se importa com sua família e com o meu filho, você mantém a cabeça dele no lugar e por favor, continue assim, ele precisa de você. Esses últimos dias venho te estudando e cheguei à conclusão de que quero uma pessoa como você para gerenciar minhas empresas e para ajudar Shawn a liderar tudo quando eu não estiver mais aqui.

Cheguei a me engasgar com minha própria saliva quando ele disse aquilo.
Eu nem sequer havia estudado, estava tendo sorte de ser algo além de secretária.

— Não precisa se assustar, é como se estivesse subindo de cargo novamente, mas dessa vez, vai ser tão importante quanto Shawn. Ou até mais, não sei o que pretendo fazer com ele.

— Eu... Eu nem estudei para isso e também não quero acender a fúria da sua filha.

— Seria tudo mais fácil se vocês resolvessem se casar logo, mas acho que isso vai levar um tempo. Não é nada demais, quero que você pense no assunto.

— Casar? — Perguntei, estava realmente confusa com tudo o que estava acontecendo, mas casamento? Não. Não estava nos meus planos por enquanto.

Assim que Manuel terminou de falar, me deu um tempo para pensar e pegou alguns papéis, colocando-os na minha frente.

— Leia, se por acaso te interessar, só assinar nas duas vias — Ele disse.

No mesmo instante que recebi os papéis, ouvi meu celular notificar mensagens.

Retirei da bolsa com cuidado e li a mensagem de Shawn.

S: Onde você está?

Respondi rápido, enquanto Manuel explicava sobre o contrato, e o que eu teria que fazer se o assinasse.

— É ele, não é?

Fiz que sim com a cabeça.

L: Em casa.

Mais uma mentira no meu currículo.

S: Não sabia que tinha se mudado para a casa do meu pai.

Desmascarada com sucesso.

Deixei o celular de lado, pois poderia me resolver com Shawn depois. Logo voltei a ler o contrato, linha por linha, não sabia se Manuel estava tramando alguma coisa, o melhor a fazer era prestar atenção no que estava acontecendo naquele momento, e pelos meus conhecimentos, o contrato era real, não estava rasurado ou modificado.

— Espero que valha a pena, você me fez mentir para o seu filho e eu odeio fazer isso.

— Já sabe, assine as três vias, uma fica com você e outra comigo, a outra vai ficar na empresa. E eu acho melhor você ir embora logo, antes que o Shawn apareça aqui querendo me matar e eu não estou em condições físicas de brigar com ele agora — Ele disse. Como se já tivesse se preocupado com aquilo alguma vez.

Assinei o contrato sem pensar duas vezes, era uma oportunidade ótima para mim, eu teria que estudar sobre o assunto futuramente, mas não tinha como perder aquilo apenas pelo fato de não gostar de Manuel.

— Sei que não sou o melhor sogro do mundo, mas sei que vocês estão juntos. Não sei quanto tempo ainda tenho, mas não vou ficar aqui por muito tempo, então acho melhor dizer logo, ele gosta muito de você, Lauren, mais do que imagina. Espero que isso não acabe.

— Mais alguma coisa? — Perguntei.

— Ah, sim. Eu sei o que você pegou naquela noite e sei o que pegou hoje. Ele é traiçoeiro, não entregue tudo de uma vez.

Assinei as três vias e guardei uma comigo, logo em seguida, Manuel praticamente me jogou para fora de sua casa.

— Mais alguma coisa? — Perguntei outra vez.

— Sim, você esqueceu de assinar essas duas vias aqui.

— Você disse três!

— Eu disse cinco, deve ter entendido errado. Preciso levar uma para Portugal comigo.

Assinei rápido e devolvi os papéis para ele.

— Esse fica com você também — Ele me entregou o papel — E antes que me pergunte, não, não preciso de mais nada, agora vá embora.

— É isso, vai me deixar sair sabendo que eu te roubei duas vezes?

— Vou. Eles merecem saber a verdade, mesmo que eu não esteja mais aqui para pagar por ela. E sei que você não está fazendo isso para se aproveitar de ninguém. Agora, se não se importa, vou descansar. Não sei quando vamos nos ver de novo, então, tchau.

— Há alguns dias atrás eu não estaria dizendo isso, mas... espero que você se cure do que quer que seja isso.

— Certo, agora vá logo antes que ele venha atrás de você e me mate de uma vez.

Antes de encontrar Cameron, segui o conselho de Manuel e escondi duas das gravações comigo, ele não teria tudo tão fácil assim. Me preparei psicologicamente para me encontrar com ele, daquela vez Shawn não estava comigo e eu teria que continuar firme e sem entrar em pânico.

Desci com o elevador, passei pela portaria e fui até o carro de Cameron, respirando fundo a cada passo que dava.

Tentei não encará-lo por muito tempo, e pelo que havia percebido ao olhá-lo pelo vídeo do carro, ele parecia impaciente.

— Demorou bastante — Ele resmungou com as mãos estendidas para que eu o entregasse as gravações.

— Estou te fazendo um favor — Falei, enquanto retirava-as da bolsa. Minha voz saiu trêmula, não tão confiante quanto eu imaginava.

— E eu vou te fazer outro.

Não queria muita conversa, nem reaproximação, só queria voltar para casa em paz.

— Está faltando uma — Ele disse.

— Na verdade duas, e eu não peguei. Só vai chegar nas suas mãos quando você estiver bem longe daqui — Falei.

— Lauren, esse não era o nosso trato.

— Você fez um trato com Shawn, não comigo. E além do mais, escondi as outras duas na casa de Manuel e só vou voltar lá quando souber que você está longe.

Ver Cameron bem longe de mim não parecia exatamente um trato, era segurança básica.

— Continua bancando a espertinha, não é? Mas lembre onde isso te levou da última vez — Foi a última coisa que ele disse, antes de sair com cantando pneus.

Pelo menos ele estava longe agora.

[...]

— Ele estava nervoso e preocupado... com toda razão, eu avisei que era loucura fazer isso — Nash disse.

Shawn ignorou minhas mensagens pelo resto da noite.

— Mas ignorar mensagens é coisa de criança, ele sabe disso.

— Você mereceu.

— Nash, eu fiz isso para tirar Cameron de perto de nós dois. Não interessa o que ele pensa, ninguém nunca vai saber  a sensação de ver o rosto de Cameron se não passar pelo que eu passei naquele inferno. É exatamente o que eu não quero para vocês dois.

— Então vai lá, explica isso para ele, eu realmente não estou nem aí para o romance de vocês dois — Nash disse.

— Sinceridade é tudo. Vou atrás dele e espero que você fique bem, pode ser que eu não volte hoje. Ou pode ser que eu volte rápido demais.

Como já havia tomado banho e me trocado, apenas peguei as chaves e fui para o carro, não queria que Shawn ficasse mais irritado do que já estava, e eu tinha o direito de me explicar, ele querendo ouvir ou não.

Não tinham muitas pessoas ou carros na rua, então não demorei muito para chegar até lá. As luzes estavam acesas, indicando que ele ainda estava acordado, provavelmente ocupado com coisas do trabalho.

Toquei a campainha e ele demorou um pouco até atender. O que foi burrice, já que eu tinha a chave do apartamento.

— Já é tarde, não devia estar aqui.

— Devia sim — Falei empurrando a porta para entrar.

Ele não queria que eu entrasse, mas fiz mesmo assim e ele praticamente me ignorou, apenas voltou para o escritório e sentou em sua cadeira, sem dar a menor atenção.

— Eu não dancei para ele, se é o que te incomoda. Mas se fosse preciso fazer isso para colocar as mãos naquelas gravações e manter Cameron longe, eu faria.

— É, eu sei - ele disse, olhando na tela de seu notebook. Estava começando a ficar irritada, então, fechei o computador e virei sua cadeira, para que ele me olhasse enquanto eu falava.

— Shawn, toda essa sua insegurança está começando a me irritar...

— Não é insegurança — Ele disse, me interrompendo — Eu não achei certo você fazer tudo pelas minhas costas, sabe que eu teria te ajudado. E além disso, é nele que eu não confio.

— Acontece que você não tem que resolver todos os meu problemas, eu entrei nessa sozinha e tinha que sair sozinha, as coisas ficam mais complicadas quando envolvem você!

— E você acha que eu não me sentiria culpado se acontecesse algo com você? Acha que meu pai é confiável? As pessoas não são do jeito que você as imagina, elas não são boas como você. E não adianta ficar irritada com a minha preocupação, você não tem idéia das coisas que o meu pai já fez na vida. Deixar ele sozinho com qualquer pessoa me preocupa, não é só você, ele não tem limites, mas você não entende.

Eu realmente não sabia como Manuel era de verdade, mas considerando o que eu já havia presenciado, dava para ter uma mínima noção.

— Você acha mesmo que eu seria idiota à ponto de ir sozinha? — Perguntei.

— Acho.

Me surpreendi com sua resposta, e ele logo se arrependeu dela.

— Não estou te chamando de idiota... às vezes você se comporta feito criança e tenta bancar a justiceira, mas acho que tem idade suficiente para saber que a vida real não é assim. Eu estou surpreso de ele não ter encostado um dedo em você... se é que isso é verdade. Meu pai não se importa com as pessoas, não seria diferente com você. Ele tem um interesse a mais e não se importa se você está comigo ou não, respeito é uma palavra que fugiu do vocabulário dele, e é por esse e mais milhares de motivos que eu acho que você devia ter me contado tudo.

— Eu menti para evitar esse teatrinho, acha que eu gosto de te ter mais como meu segurança do que como meu namorado? Eu entendo a preocupação comigo, mas francamente, você tem que parar de me tratar como a coitadinha que foi sequestrada.

— Se você parar de me fazer de idiota e fazer coisas malucas que podem te prejudicar, talvez eu possa pensar à respeito.

— Eu faço o que eu tenho que fazer, e normalmente eu sempre estou certa, você nem sequer sabe o que está falando.

— Coloca uma coisa na sua cabeça: não é teatrinho, tudo o que eu faço é pensando em você.

— Então comece a pensar menos, isso me sufoca!

— Onde você vai? — Ele perguntou enquanto se levantava.

— Para casa, você nem queria que eu estivesse aqui.

— Percebe as coisas que você faz? — Ele perguntou enquanto entrava na minha frente para impedir minha passagem — Começa uma discussão mesmo estando fora da razão, e depois simplesmente acha que está certa e quer sair por aí as duas da manhã como se fosse algo normal quando se tem uma prima doente e o cara que te sequestrou está livre feito pássaro.

— Vou sair as duas da manhã como se fosse algo normal porque não quero brigar com você, saia da minha frente — Pedi.

Shawn estava nervoso e me deixando com raiva, jamais entenderia os meus motivos para ter feito aquilo.

— Não — Ele respondeu, firme.

— Eu realmente não quero ficar aqui discutindo com você, me deixa passar, por bem ou por mal — Falei, um pouco nervosa.

Pensei que ele me daria passagem, mas foi firme e permaneceu parado atrás da porta.

— Vou ter que te bater para você sair? —Perguntei.

— Sim - ele respondeu rindo.

Ele sabia que isso nunca ia acontecer.

— Você só pode ser idiota — Falei nervosa — Em um minuto está soltando fumaça pelas orelhas, e agora está rindo como se essa situação fosse a coisa mais natural do mundo e... — Antes que eu terminasse de falar, Shawn me puxou e me beijou.

Demorei um pouco para responder o ato, mas não resisti por tanto tempo. Logo minha língua explorava cada canto de sua boca com ferocidade.

— Isso não muda nada, eu ainda estou muito irritada com você — Falei ofegante.

— Dane-se.

Tirei o casaco e voltei a beijá-lo novamente enquanto o guiava de volta para a cadeira em que ele estava sentado antes e logo me sentei em seu colo.

— Qualquer dia desses eu vou parar no hospício por sua causa — Falei enquanto Shawn beijava o meu pescoço.

Eu não tinha intenção de terminar minha noite daquele jeito, ainda estava brava com Shawn. Mas também não queria parar.

Shawn Mendes ainda me deixaria louca.

Estava tudo maravilhoso demais, o que era estranho para alguém que levava a vida no estilo da minha, até que alguém bateu na porta, nos atrapalhando e obrigando Shawn a parar tudo o que estava fazendo.

— A gente não pode tipo, ignorar? — Perguntei, dando selinhos em seus lábios.

— Eu ignoraria, mas não é normal pessoas baterem na sua porta às duas da manhã, ainda mais desse jeito — Ele disse, referindo-se à força na qual a pessoa batia na porta.

— Será que é o Manuel?

— Por que ele viria aqui? — Shawn perguntou.

— Ele tem muito mais para falar do que você pode imaginar — Falei deixando Shawn com uma certa dúvida.

Se Manuel queria mesmo que Shawn soubesse da sua doença, ele mesmo teria que contar, e talvez poderia se desculpar por todas as coisas que já tinha feito com os filhos.

— Fica aqui, eu vou ver quem é — ele disse.

— Nada disso, quero saber quem é.

Segui Shawn pelas escadas e esperei até que ele olhasse pelo olho mágico.

— Era só o que me faltava — Ele disse um pouco antes de abrir a porta.

Quando abriu por completo, pude ver Amanda.

Estava chorando, tanto que até soluçava, suas roupas estavam totalmente sujas e tinha alguns hematomas nas pernas.

— Eu preciso de ajuda!!

••••••••••••••••

Será que eles vão ajudar?? 🤔

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