32


— Duas semanas, Lauren. E você ainda não fez nada à respeito — Ashley me cobrou.

Eu estava de cabeça cheia, não queria mesmo ter que aguentar Ashley bancando a conselheira amorosa.

— Nós terminamos, ou seja lá o que isso quer dizer, só isso. Não tem muito o que fazer.

Eu tinha várias coisas em mente, mas ainda estava pensando nas consequências.

Além de mim, apenas Kayla e Aaron sabiam exatamente o que havia acontecido. Ele se ofereceu para ajudar, mas eu não queria envolvê-lo a não ser que eu precisasse muito. Mas a ajuda de Kayla era indispensável. Ela estava trabalhando duro para achar um jeito de descobrir coisas sobre Amanda e talvez até descobri quem era a pessoa X. Não tínhamos avançado muito, mas era bom saber que não estava sozinha.

— Quanto mais tempo você demorar, mais rápido ele vai achar que você desistiu e que não vale a pena correr atrás.

— Ashley, eu desisti e não vale a pena correr atrás.

A situação estava muito difícil, ainda mais quando eu tinha que mentir tanto. Eu realmente não precisava de pessoas colocando pressão.

— Quer saber? Deixe ele para lá, ok?

— É o que estou fazendo.

— Não queria me gabar, mas eu não sei quantas vezes te avisei que isso ia acontecer, até me sinto mal por não ter tentado te impedir lá no início. Esqueça ele, acho que assim é melhor.

— Eu sei o que fazer, não precisa ficar me lembrando. Agora destrava a porta, preciso sair.

Ashley estava me deixando no trabalho durante algumas semanas, Nash estava usando meu carro para ir até a nova escola que não ficava tão perto da nossa casa, então achei melhor deixar com ele até que conseguisse comprar um usado com o dinheiro que meu pai estava depositando para ele.

Entrei na empresa com a mesma expressão de sempre. As duas semanas tinham sido muito difíceis para mim, e creio que para ele também. Aguentar todos falando sobre a nova secretária do Shawn e que sabiam as intenções dela não foi tarefa fácil. Eu nem sequer conseguia olhar na cara dele sem sentir culpa, ele devia me odiar, pois já era a terceira semana que ele tentava contato comigo e nada acontecia. Aquilo só aumentava meu ódio por Amanda, até Bella era um ser humano melhor do que a nova secretária infeliz.

Na maioria das vezes, eu sorria para Amanda e parecia simpática quando estava na frente dele. Mas ter que ver a cara dele todos os dias, me deixava mal. Incontáveis vezes tinha me trancado no banheiro do escritório e chorado, com medo de que ele percebesse o quanto eu sentia falta e eu cedesse estragando tudo. E como se não fosse piorar, na semana passada, Amanda apareceu com mais uma prova de que ela era tão perigosa quanto dizia ser.

Tratei de subir um pouco mais tarde, normalmente eu encontrava Aaron ou Shawn no elevador, mas dessa vez queria evitar encontros e me poupar de ter que dar explicações para qualquer um, então, fui direto para a minha sala.

Ao tentar destrancar a porta, percebi que já estava aberta e empurrei para entrar. Aaron estava sentado na minha cadeira organizando alguns papéis. Tinha deixado uma chave extra com ele, para caso eu esquecesse a minha em casa. Algo que, com todas as preocupações que rondavam minha cabeça no momentos, não era impossível de acontecer. Eu andava tão distraída à ponto de Shawn ter que brigar comigo por eu estar fazendo meu trabalho do jeito errado.

— Bom dia, Lauren. — Ele parecia animado.

— O que você está fazendo aqui? — Não era um bom dia, das duas semanas que se passaram, não houve nenhum dia bom, então eu não teria razões para pensar que aquele dia seria diferente.

— Muda essa cara, estou tentando te animar!

Dei o sorriso mais forçado que pude.

— Ok, não faça isso — Ele colocou a mão na minha cara.

— Enquanto essa desgraçada estiver aqui, nada vai me animar.

— Eu sei, mas vou continuar tentando.

Aaron estava sendo um ótimo amigo, me entendendo muito melhor do que qualquer outra pessoa. Eu sinceramente não sabia o que seria de mim caso não tivesse ele para me ajudar naquele momento. E claro, a psicóloga que me aconselhou a colocar meus sentimentos para fora num diário. Às vezes funcionava, mas eu gostaria, do fundo do meu coração, que ninguém colocasse as mãos nele.

— Me explica, onde estão as minhas coisas? — perguntei enquanto olhava em volta e não via nada do que era meu.

— Então... essa é a parte que você vai odiar. Agora Shawn e Amanda dividem a sala com você.

Aaron não precisou falar duas vezes e eu já estava convencida de que aquela ideia era de Amanda. Não queria ficar lá e assistir ela se jogar pra cima dele enquanto sabia exatamente como eu me sentia à respeito.

— Estou dando o meu melhor para não matar essa mulher — Falei com raiva.

— Eu sei e você vai precisar aguentar mais um pouco, até essa situação passar, você tem que se segurar, não sabemos do que ela é capaz e não queremos descobrir isso do pior motivo. Você está fazendo isso pelo seu irmão, não se esqueça disso, é por ele — Aaron me abraçou — Vai lá ver como as suas coisas estão.

Segui o conselho de Aaron e fui para a sala.

Tentei não fazer contato visual direto com Shawn e tentei também não focar no fato de minhas coisas estarem do lado do Shawn em uma mesa maior.

— Gostou da mudança? Foi ideia minha — ela disse com um falso sorriso.

— Imaginei... mas eu não posso ficar aqui.

— Não seja modesta, Lauren. Shawn e eu entramos em acordo quando conversamos sobre ser mais prático você trabalhar com a gente.

— E a minha sala vai ficar vazia?

Se Amanda tivesse o mínimo de inteligência em relação à Shawn e eu, saberia que me colocar para sentar do lado dele não era uma boa opção. Com certeza estava me testando, e eu teria que passar nesse teste, se quisesse a segurança do meu irmão.

— Não gostou? — Amanda perguntou, fingindo estar chateada.

— Quer que eu diga a verdade ou prefere que eu finja?

Passar no teste significava apenas passar. Eu não era obrigada a gostar do teste... ou era?

— Por um minuto, achei que você ia gostar da ideia.

— Ela vai ter que aprender a gostar, porque eu não vou mais fazer mudança alguma — Shawn disse, sem ao menos esperar uma resposta de minha parte — Vou sair enquanto você adapta as suas coisas, quando voltar quero que esteja tudo no lugar, fui claro?

Não respondi. Parecia tão injusto vê-lo falar comigo daquela maneira.

Mas eu entendia, ele achava que eu merecia. E se eu estivesse no lugar dele, pensaria o mesmo, ou talvez pior.

— Srta Portman, eu estou falando com você.

Ele só me chamava desse jeito quando tinha que me esconder ou quando não estava dando a mínima para a minha existência.

— Me chame de Lauren — Pedi, o que foi uma péssima ideia.

— Não temos essa intimidade.

Após dizer isso, Shawn saiu da sala sem olhar para qualquer uma de nós. E eu também não precisava olhar para Amanda para ter a certeza de que ela estava sorrindo e se divertindo com a situação. E as coisas só ficaram melhores para ela, já que meus olhos estavam marejados.

— Faz muito tempo que não ficamos à sós, você anda me evitando... gostou dessa mudança?

Ela teve a cara de pau de me perguntar aquilo com a maior naturalidade possível.

— Eu diria que não, mas eu ficava na minha sala sozinha e para ser sincera, tinha muito medo. Mas tenho que agradecer à você por ter me dado a chance de passar dias inteiros ao lado dele. Você se acha esperta demais, mas está longe disso.

— Com certeza a pessoa mais esperta aqui não é você, já que até agora não tentou mover uma palha para consegui-lo de volta e apenas aceitou o fato de ele estar desistindo de você.

— Ele não está desistindo de mim, isso é coisa da sua cabeça.

— Bom, não era com você que ele estava ontem à noite — ela disse tentando me provocar.

— E também não era com você.

Shawn tinha passado a noite na empresa junto com o Aaron. Kayla também estava com ele. No dia anterior, tivemos uma queda de energia que queimou cerca de setenta porcento dos computadores antigos. Tiveram que ficar até muito tarde juntos resolvendo quantas máquinas precisavam trocar e qual seria a marca. Eu poderia passar o dia inteiro sendo provocada por ela, mas se quisesse me fazer ciúmes teria que se esforçar um pouco mais.

Amanda ficou calada, mas ainda assim estava inquieta e eu começava a pensar que ela havia se arrependido de ter dado aquela ideia falsa pro Shawn.

— Manuel ligou e pediu para você entrar em contato, ele já está aqui mas vai tirar a semana de folga e quer que você desmarque alguns compromissos dele.

— E quando ele voltar, vai ficar na minha sala, acertei?

Amanda não respondeu.

— Seu Q.I é mais baixo que o de uma lesma, com certeza foi Manuel que pediu a troca. X pode até ser um perigo, mas você... Você chega a ser patética.

Fui para a sala de Aaron e liguei para o Manuel usando o telefone da empresa. Estava me sentindo muito melhor, até ouvir a voz dele.

— Ora, se não é a minha funcionária favorita — ele disse ao ouvir minha voz.

A vontade de vomitar na cara dele era maior do que eu, mas estava muito cedo para perder a cabeça com o velho que nem ia ficar.

— Sr. Mendes... Se puder me falar logo o que é para eu desmarcar, tenho muita coisa para fazer e não dá pra perder tempo falando no telefone.

— Soube que o meu filho te largou...

É claro que o boato ia rolar dessa forma. Tinha certeza absoluta que eu mesma tinha dito que não queria que Shawn me ligasse mais. Mas obviamente, o boato trocava os papéis.

— Você soube errado, e de qualquer forma, isso não é da sua conta.

— Claro que é, minha oferta continua firme para você e agora eu tenho uma casa, sendo assim, posso te receber melhor.

— Era só isso? — Perguntei irritada — A resposta sempre vai ser não. Já posso desligar, não?

— Não! Cancela todos os compromissos que eram para a semana que vem, e se quiser passar a sua semana comigo, é só cancelar os seus compromissos também.

Desliguei o telefone na cara dele e acabei batendo com força demais e devo ter quebrado algo, já que uma peça preta voou para o outro lado da sala.

— Tudo bem? — Aaron perguntou.

— Eu não aguento mais esse velho, quero vê-lo na cadeia o mais rápido possível.

Não era justo, Manuel era um maldito assassino e um péssimo chefe, não devia estar solto por aí e ainda por cima fazendo ofertas por sexo, já estava me dando nos nervos.

— Mais ofertas?

— Sim. Às vezes, eu só queria saber como alguém que está perdendo tanto dinheiro consegue dar um jeito para gastar com mulheres? Ele já chegou a me oferecer quinze mil apenas por striptease.

Aaron achou engraçado.

— Está valendo bem — ele respondeu ainda rindo.

— Isso não é engraçado, esse cara devia estar apodrecendo na cadeia.

— Eu já estava prestes a falar sobre isso com você... a gente tinha dúvidas sobre ele estar sonegando imposto, Kayla já sabia de tudo, só estava esperando Shawn fazer a pergunta.

— Shawn tem que saber disso!

— A gente tem que encontrar mais provas antes de sair acusando o velho, ele é esperto, por isso se finge de burro. A empresa está caindo e levantando muito rápido, e quando ele é questionado, sempre acusa a primeira pessoa que vem na cabeça. Talvez ele até já saiba que Shawn e a irmã estão roubando.

Aaron tinha razão.

— Eu preciso chegar mais perto dele. Quero ele na cadeia, primeiramente pelo assassinato dos pais de Cameron e o resto a polícia vai descobrir sozinha.

— Chegar mais perto dele?

— Sim, do tipo entrar na casa dele e vasculhar procurando o que Cameron estava tentando achar.

— Ele não entregou para a polícia no dia do seu sequestro?

— Entregou algo totalmente diferente, e aquilo não era o mesmo que eu vi na foto que eles me mostraram. Eu só preciso saber o que tem dentro daquele baú.

Aaron balançou a cabeça em negação.

— Eu jamais vou deixar você entrar na casa desse maluco sozinha. Sei que Shawn não está mais com você, mas ele me mataria se soubesse que tivemos essa conversa e eu concordei.

Era perigoso, mas eu tinha uma outra ideia.

— Aaron, eu tive uma ideia.

— Se essa ideia envolver você tirando a roupa pro velho, eu não vou conseguir guardar esse segredo, Lauren. Por favor, não me peça isso.

— Mas eu estaria fazendo isso pelo meu irmão. Só preciso achar o maldito baú e entregar para a polícia e pronto, a pessoa X não vai ter como fazer ele pagar por isso se eu fizer ele pagar primeiro.

Aaron ficou pensativo.

— Até aí, tudo certo. Manuel vai para a cadeia. Depois disso, a pessoa X passa toda a atenção dela para você e Shawn, desconta a raiva dela no seu irmão. Lauren, não tem um jeito disso acabar bem, a não ser que você deixe essa pessoa fazer o que ela quer.

Agora eu estava desesperada. Mas não custava tentar.

— Além disso, você acha mesmo que ele vai guardar essa merda de baú dentro de casa sabendo que Cameron sabe da existência dele?

Como eu disse, não custava tentar.

— Aaron, eu estou desesperada. Vou sair atirando para todos os lados até acertar alguma coisa.

— E essa coisa pode ser você mesma, ou seu irmão.

— Mas se eu conseguisse provar que Manuel está roubando a própria empresa, conseguiria livrar Shawn das acusações de Amanda e acabaria com aquela maldita chantagem, além de me livrar de Manuel de uma vez por todas.

— Você mesma disse, ela tem coisas para incriminar Shawn de crimes que ele nunca cometeu. Acha que é seguro mexer com essas pessoas agora?

— Não. Mas preciso tentar alguma coisa, ou vou enlouquecer.

— Faça o que quiser, mas não me peça para esconder isso de Shawn. E caso ele pergunte, serei obrigado a dizer a verdade.

Fiquei com raiva. Ele não podia simplesmente fingir que não sabia de nada. Não seria mentira.

— Se você contar alguma coisa à ele, eu juro que...

— Jura o quê? Vai pisar com salto agulha em mim? — Ele riu — Você tem que parar de ficar se arriscando e agindo como se as pessoas à sua volta não se importassem com você. Pergunte à Kayla o que ela acha disso e você vai perceber que não estou exagerando.

Eu não teria como argumentar. Ele estava certo. Mas ainda assim, eu precisava fazer isso, só para convencer a mim mesma que ele eu estava fazendo alguma coisa.

Liguei para o Manuel novamente e pedi para que ele deixasse seu endereço e uma cópia da chave de sua casa, eu estaria lá no dia seguinte no período da manhã.

Voltei para a minha sala e Shawn já estava lá, sua cara não parecia muito boa e só piorou quando me viu.

— Onde é que você estava?

— Na sala de Aaron — respondi.

— Eu não quero que você fique na sala do Aaron, sua sala agora é aqui e você tem muita coisa para fazer, quero que esteja tudo pronto até às três da tarde!

— Impossível, não tem chances de isso acontecer.

— Devia ter pensado nisso antes de ficar batendo papo na sala dos outros — Shawn olhou diretamente em meus olhos por cerca de meio segundo.

Amanda estava sorrindo, a situação era como uma novela mexicana para ela. Agradeci à Deus quando o telefone tocou para distraí-la.

— Shawn, visita para você — Ela avisou, depois de colocar o telefone no mudo.

— Diga que não estou. Não posso atender ninguém agora!

— Formalidade mandou lembranças — falei, usando sarcasmo.

— Por favor, não comecem — Shawn respondeu — O telefone, Amanda.

— Já pulamos essa etapa há algumas noites atrás, pode-se dizer que somos quase íntimos — Amanda era bem corajosa, eu até admirava toda aquela coragem de dizer aquilo tudo na frente dele.

Ela falou ao telefone e colocou no mudo de novo.

— Na verdade, não é visita, entendi errado.

— Quem é?

— Airbnb. O dono da casa que a empresa alugou para você e Aaron Carpenter em Londres, ele disse que precisa falar com você.

Ela transferiu a ligação, enquanto eu tentava entender o motivo dessa viagem que Aaron não tinha mencionado. Deve ser algo relacionado ao assunto que Shawn não queria que eu me envolvesse.

Eu não estava envolvida, mas estava bem curiosa.

Shawn desligou o telefone e voltamos todos à trabalhar.

Tentei ignorar o fato de Shawn não ter dito nada à respeito do que Amanda tinha insinuado. Ele não negou. Isso me deixou chateada, mas eu não tinha muita escolha a não ser fingir que não me importava.

A única coisa que eu podia fazer era tentar tirar Amanda dali e reconquista-lo, não seria fácil mas nada era impossível.

O telefone tocou outra vez e Amanda atendeu com um sorriso.

— Sim, ele está aqui — Ela disse, o sorriso tinha desaparecido.

— Quem é? — Shawn perguntou.

— Ala Cirúrgica de Emergência do Hospital de Toronto. Sua tia Alice...

Shawn pegou o telefone da mão dela e atendeu completamente preocupado e por consequência, me deixou preocupado também.

— É claro, daqui a três dias. Sim, estarei aí. Obrigado, até mais.

Assim que ele desligou o telefone, desviei o olhar para que ele não me achasse uma bisbilhoteira.

— Srta.Portman, preciso que você me substitua em Londres. Aaron vai estar com você e vai te mandar por e-mail sua agenda.

Eu queria perguntar se ele estava bem. Queria mesmo saber o que tinha acontecido com a tia dele. Mas ele estava apressado.

— Amanda, preciso que você entre no site da companhia aérea e veja se tem algum voo para Toronto para depois de amanhã. Caso tenha algum horário, me ligue para avisar. Preciso sair para resolver algumas coisas, mas estarei de volta amanhã.  Seu visto ainda está na validade, não está? — Ele me perguntou.

Fiz que sim com a cabeça.

— Ótimo, tentem não se matar quando eu sair daqui, fui claro?

Não respondemos.

— Isso serve especialmente para você, Srta.Potman, espero não ter que lidar com problemas seus.

Eu devia ter me defendido, mas fiquei quieta, já que as acusações dele tinham fundamento, se não fosse Aaron me tirando de cima de Amanda, as coisas estariam bem diferentes agora.

Assim que ele saiu, falei baixo.

— Eu e Aaron em Londres... parece uma ótima ideia!

••••••••••••••••

No dia seguinte, avisei ao Shawn não apareceria na empresa de manhã, pois não estava passando muito bem, o que era uma péssima mentira, eu era forte e minha saúde era quase de ferro. Não era algo comum da minha parte.

Usei a parte da manhã para ir até a casa de Manuel, já que ele tinha dito que não importava a hora e era apenas para eu aparecer. E deixou escapar que eu era bem vinda se quisesse passar o dia inteiro também.

Nojento.

Eu já não acreditava que tinha aceitado dançar sensualmente para Manuel, apenas para vasculhar a casa dele mesmo sabendo de tudo o que ele era capaz. Tive que tomar algumas precauções e deixar o endereço junto com uma cópia da chave com Aaron, caso eu demorasse mais de uma hora para entrar em contato ele já saberia onde e com quem eu estava.

Manuel tinha comprado um apartamento, o que era bem estranho para alguém que estava indo à falência. Enquanto o elevador luxuoso subia em direção à cobertura, meu coração acelerava e eu pensava em desistir. Mas infelizmente quando o elevador abriu, ele estava me esperando na porta. Fiquei parada no lugar enquanto ele sorria ao me ver.

— Não vai entrar? — ele perguntou.

Pensei em responder que não e quase virei as costas para dar meia-volta. Mas eu estava ali por outros motivos e esses motivos eram os meus princípios. Eu estava bem preparada e não deixaria Manuel encostar um dedo em mim. Se ele queria uma dança, então ele teria, mas seria apenas aquilo. E seria a pior dança que ele veria na vida.

— Você não sabe o quanto eu estava ansioso pela sua visita — ele disse empolgado.

— Posso imaginar. Um velho como o senhor não deve receber muitas visitas.

— Sempre engraçada,

— Que fique bem claro, é só uma dança e se você encostar em mim, vai se arrepender de ter me chamado para cá, entendeu?

— Não vou fazer nada, a não ser que você queira — ele soava exatamente como Shawn — Mas antes, eu preciso saber, o que te fez mudar de ideia tão rápido?

Eu não estava preparada para essa pergunta, e tinha que ser bem cuidadosa, ou minha resposta arruinaria tudo.

— Seu filho me deu um pé na bunda, acha que tem vingança maior do que isso?

Ele riu.

— Meu filho é um idiota!

Acabei dizendo a primeira coisa que veio na minha cabeça.

— Bom, você criou ele, não tinha como esperar muita coisa.

— Daqui a pouco é a hora do almoço, vamos começar logo com isso? Não quero que você desista.

— Se começar mais rápido, termina mais rápido — falei, sem acreditar no que estava dizendo.

— Ótimo. Tenho uma coisa que eu quero que você use — ele disse. No mesmo instante, me lembrei da minha última noite com o Shawn e comecei a me arrepender amargamente de estar na casa do pai dele — Vamos usar o meu quarto. Você pode se trocar nele e me chama quando terminar.

Tinha uma lingerie vermelha em cima da cama, de cara eu sabia que aquilo nunca entraria no meu corpo. E de longe sabia que aquilo tinha custado muito caro.

Manuel encostou a porta e me deixou sozinha.

— Não tranque a porta e não mexa em nada! — Ele gritou do outro lado.

— Já tranquei, não confio em você! — respondi, usando o mesmo tom.

No mesmo instante comecei a procurar qualquer coisa em seu guarda roupa, tentando não fazer barulho. Vasculhei todas as gavetas e não achei nada, em cima do guarda roupa havia apenas uma arma. Não sabia se ele tinha licença para ter aquela arma em casa, mas também não queria descobrir sendo pega de surpresa.

Eu estava quase desistindo, quando avistei um cofre na parte de trás do guarda roupa. Ele estava aberto!

— Parece que hoje é meu dia de sorte — falei enquanto retirava uma pasta azul escura de dentro do local.

Eu não tinha tempo para ler as páginas e também não poderia levar a pasta inteira comigo, seria óbvio demais, então peguei algumas folhas aleatórias, coisa que ele não sentiria falta e joguei dentro da minha bolsa. Depois disso, só restava torcer para que tivesse algo de importante nos papéis, porque não havia nem sinal daquele baú. E agora que eu sabia que não tinha baú algum, tinha que arrumar um jeito de sair correndo dali.

— Já está pronta? — ele chegou perto da porta.

Parei qualquer barulho que estivesse fazendo e o respondi.

— Estou tentando fazer essa roupa entrar em mim!

— Eu posso te ajudar, se esse for o caso.

— Jamais!!

Quando percebi que ele não estava mais na porta, coloquei cada coisa em seu devido lugar e voltei a procurar por outros lugares, também me certifiquei de que não haviam câmeras no local.

Me abaixei para olhar debaixo da cama e avistei algo parecido com o baú que Cameron e Sierra procuravam, mas antes que eu pudesse pensar em pegar para ver de perto, ouvi a porta de entrada bater com força, fazendo o barulho ecoar por todo o apartamento.

— Onde ela está?

Pensei estar ficando maluca, ultimamente eu pensava demais em Shawn e aquilo só poderia ser coisa da minha cabeça.

— Lauren, abra essa porta! — Naquel momento, tive a certeza de que não estava delirando, Shawn estava ali e estava prestes a quebrar a porta do quarto se eu não a abrisse.

Eu não sabia qual seria a reação dele se eu abrisse a porta, e dessa vez eu estava com medo de que ele começasse a me odiar para sempre. Só queria matar Aaron por ter contado à ele.

Ou talvez agradecê-lo.

Caminhei devagar até a porta e abri.

— O que é que você está fazendo aqui? Perdeu o juízo? — ele perguntou, mas não teve resposta — Vou te tirar daqui agora mesmo!

Saí do quarto antes que ele visse as roupas íntimas em cima da cama e achasse que algo entre eu e o pai dele estava prestes a acontecer.

— Ela não pode ir embora, me deve uma dança! — Manuel disse com raiva.

— Então foi isso que você veio fazer aqui? Dançar para o meu pai? Mais um motivo pra eu te tirar de perto dele — Shawn estava com muita raiva, mas não estava direcionada à mim. Ele não parava de olhar o pai.

Eu queria dizer alguma coisa, mas não dava para explicar o que eu realmente estava fazendo ali, não na frente do pai dele.

— Quero que você me escute bem... — Shawn apontou seu indicador praticamente na cara de seu pai — Você nunca vai encostar um dedo nela, entendeu? Enquanto eu estiver vivo, vou garantir que isso nunca aconteça.

— Foi você quem chutou ela, e agora quer bancar o namoradinho ciumento? Conta outra, eu paguei pra ela e quero meu serviço.

— Você pagou para ela? Está maluco? — Shawn tentava fingir que não estava nervoso na minha frente, percebi que ele não queria me assustar. E percebi também que tinha algo a mais rolando ali, algo que eu nunca entenderia — Eu não chutei ninguém, você mal sabe o que está falando!!

Achei que aquela fosse a hora perfeita para tentar tirar Shawn do apartamento, ou as coisas começariam a se complicar para o meu lado.

— Vamos — falei tentando transparecer uma falsa calma, por dentro eu estava apavorada e com receio do que estava por vir. Claro que não estava com medo dele, não tinha motivos para isso. O meu maior medo era o que seria dali para frente em relação à nós dois.

Peguei no braço de Shawn e o levei até a saída, e quando finalmente entramos no elevador, ele soltou minhas mão de seu braço em um movimento brusco.

— É melhor você ter um bom motivo para estar aqui — ele respirou fundo.

— Não é óbvio? Você sabe que eu jamais chegaria perto do seu pai se não tivesse motivos.

— Então me diz, o que eu fiz pra merecer tudo isso? Você nem sequer me explicou o que aconteceu aquele dia, apenas disse que não gostou de me conhecer e isso não poderia ser mais mentira.

A minha maior vontade era abrir o jogo para ele. Mas Amanda não tinha nada à perder e eu tinha certeza de que naquele momento ela estava desconfiando, afinal, nenhum dos dois estava na empresa. Não tinha como dar corda para aquela situação e deixar que Amanda saísse como vencedora apenas por eu não conseguir controlar meus sentimentos. Eu precisava aguentar mais um pouco e só assim poderia tê-lo de volta para mim.

— Não é mentira — falei.

— Como você chegou até aqui?

— Uber.

— Vamos embora.

Ele praticamente me obrigou a entrar no carro e começou a dirigir sem falar uma palavra sequer.

— Eu fui na casa do seu pai porque precisava de provas de que é ele mesmo quem está roubando a empresa — Menti, mas vi que falava praticamente sozinha enquanto tirava os papéis da bolsa — Isso foi o que eu consegui. Não sei do que se trata mas você com certeza vai lidar com isso melhor do que eu.

O caminho até a minha casa era rápido, mas pareceu durar uma eternidade. O silêncio dele estava me matando e eu não sabia o que falar para melhorar a situação.

— Você tem que usar o cinto de segurança — falei ao perceber que ele não estava usando. Na maioria das vezes era eu quem o lembrava de usá-lo.

— Dane-se — ele respondeu sem ao menos se importar com o que eu havia dito — Já chegamos.

— Não seja tão rude, pode não parecer mas eu só quero o seu bem.

— É, eu percebi. Principalmente quando você disse que queria distância, isso é se importar?

Não respondi. Apenas puxei o cinto dele e conectei na trava.

— Olha pra mim — ele pediu — Você realmente quer ficar longe de mim? Quer que eu suma da sua vida?

Novamente ele não teve resposta, achei melhor ficar calada, para não piorar as coisas.

Ele se aproximou de mim devagar e eu estava torcendo muito para que naquele instante ele me beijasse. Mas infelizmente eu estava enganada, ele apenas abriu a porta do carro para mim.

— Tchau, Lauren.

Ótimo, praticamente expulsa.

Mesmo contra minha vontade, me livrei do cinto de segurança do meu corpo e deixei o carro. Como de costume, Shawn esperou até que eu entrasse na casa para sair.

— Nash? O que você está fazendo aqui? — perguntei ao vê-lo jogado no sofá.

— Eu adoraria ter ido pra escola, mas tem uma mulher louca lá em cima querendo falar com você, achei melhor não deixar ela aqui sozinha, nunca se sabe do que alguém é capaz, não é?

— Mulher louca? Como é que você deixa uma mulher louca entrar aqui e ficar com você?

— Ela disse que era irmã do Shawn e que não sairia daqui antes de falar com você.

O que Aaliyah fazia lá?

— Onde é que ela está?

— No seu quarto.

— Meu Deus, Nash. Eu te mato.

Eu jamais entenderia a cabeça do meu irmão. Uma pessoa normal jamais faria algo parecido, principalmente depois de alguém da família ter sido sequestrada, ninguém abriria a porta ou cederia o quarto para estranhos.

— Precisamos colocar umas regras aqui.

— Vai deixar a mulher esperando lá em cima? — Ele estava achando a história divertida.

Aaliyah era maluca e para mim não estava nada divertido.

Subi rápido e com medo do que encontraria no andar de cima, até mesmo Aaliyah me assustava.

— Você demorou bem mais do que eu esperava!

Eu engoli seco. Da última vez que nos vimos, ela havia me ameaçado e dessa vez eu não sabia o que esperar, já que Shawn e eu estávamos completamente longe um do outro e tecnicamente eu não estava mais atrapalhando os planos dos dois. Não era exatamente o que ela queria?

— O que você quer? — perguntei sendo direta. Ela não tinha motivos para rodeios, assim como não tinha razões para estar ali.

— Só queria saber, o que você está fazendo com o Shawn?

— Nada, só me afastei — Aquela foi a pior coisa que alguém poderia dizer para uma irmã superprotetora.

— Essa é a explicação que você tem para me dar?

Eu não devia explicações à ela. Se eu tivesse que explicar algo, seria para o Shawn.

— Não tenho muito o que dizer sobre isso. E aliás, não era o que você queria?

— É claro que tem! Pode não parecer, mas ele está arrasado e você sabe que eu não quero vê-lo assim. E eu meio que gosto de você, foi a melhor que apareceu na vida dele até agora.

— Você gosta de mim? — ri — Você ameaçou me sequestrar, maluca.

— Se Shawn não levou a sério, você também não deveria ter levado. E além disso, eu estava de cabeça quente, nunca sequestrei ninguém.

Aaliyah me fez rir. Não parecia a mesma que queria acabar comigo dias antes.

— Isso é mais complicado do que você imagina, eu não posso simplesmente consertar tudo agora. Shawn e eu temos que ficar separados por enquanto. Nós somos incompatíveis — Minhas respostas começaram a soar desesperadas.

— Do que você está falando? — perguntou, desconfiada.

— Nada. Ele desistiu de mim, só isso. Agora, você tem que ir embora — falei abrindo a porta do quarto — Na verdade, você estava me ameaçando nas últimas semanas, nem deveria estar aqui... não sei como meu irmão teve a coragem de te deixar entrar.

Aaliyah levantou e fechou a porta com cuidado.

— Eu não estava falando sério, só queria assustar meu irmão para ele terminar o que começou. Pode não parecer, mas eu não tenho nada contra você e não te machucaria, sei o quanto você significa pro Shawn — Passei a acreditar em Aaliyah, ela parecia sincera e se quisesse me machucar, já teria feito — Mas eu não saio daqui sem saber a verdadeira história, acho melhor você começar a contar.

— Escuta bem, só vou contar porque nós duas gostamos do Shawn e queremos o bem dele.

Mentir descaradamente para Aaliyah. Tive que fazer parecer um problema pequeno e mencionar o anônimo das cartas.

— Já dissemos que vamos dar um jeito no anônimo das cartas, não precisa se preocupar. Você não precisa se preocupar com outra coisa, mesmo que Shawn te ame muito, ele está sofrendo e é só questão de tempo até ele te superar e nunca mais querer olhar na sua cara. Esquece esse anônimo das cartas começa a focar em não deixar ele desistir de você.

— Certo, prometo que vou tentar — Eu já estava ficando tão boa em mentir, que acabou passando despercebido por Aaliyah.

— Shawn e eu estamos indo para Toronto, então, tire esse tempo para pensar no que fazer e deixa que desse anônimo cuido eu.

Assenti e observei ela ir embora.

— Quer me explicar o que aconteceu aqui? — Perguntei ao Nash.

— Não estava me sentindo muito bem, então, resolvi ficar. Mas quando mudei de ideia ela apareceu.

— Você parece ótimo. E acho que está na hora de ir, nem que seja para assistir à uma aula só.

— Bom, até eu chegar lá...

— Até você chegar lá, você vai pensando em como prometeu que ia à escola direito, Nash, não quero problemas.

Pelo visto, ele realmente estava planejando ir à escola, já que tudo estava arrumado e ele precisou apenas pegar a mochila e sair.

Me sentei no sofá por alguns minutos e fiquei pensando em como eu tinha sido idiota. O quê eu achava que ia encontrar ali?

— Perdeu um dia inteiro de trabalho por nada. Parabéns Lauren — Falei sozinha — Bom, pelo menos tenho quinze mil dólares a mais.

A campainha tocou duas vezes. Abri a porta e dei de cara com um entregador, ele segurava uma caixa enorme.

— Srta. Lauren Portman? — Ele perguntou, olhando no papel.

— Sou eu.

— Pode assinar aqui, por favor?

Enquanto assinava os papéis, vi que a encomenda era de Londres.

— Obrigado. Posso colocar aí dentro?

— Se não for uma bomba, claro.

Ele não achou graça da minha piada, provavelmente já tinha escutado milhões de vezes antes.

— Pronto.

Esperei que ele saísse e fechei a porta.
Eu não tinha comprado nada em Londres e Ashley muito menos. Bom, exceto que ela me prometeu um presente e até hoje eu não tinha visto nem a cor desse presente, provavelmente, não existia.

Peguei uma faca e comecei a cortar a embalagem do presente. A caixa era grande e tinha muita, mas muita proteção. O que quer que aquilo fosse, era frágil.

Tirei todas as bolinhas de isopor e os plásticos bolha, quando finalmente comecei a ver o que era.

O quadro italiano que eu tanto tinha admirado no restaurante em Londres. Por isso ele estava faltando quando fomos no dia seguinte. Tirei o quadro por completo de dentro da caixa e no fundo dela, tinha um livro junto com alguns panfletos e uma carta.

Coloquei o quadro de lado e abri a carta. Reconheci a caligrafia no mesmo instante.

"Não sei quando você vai receber essa quadro, mas eu estava falando sério quando disse que tinha algo para o seu aniversário. Você pode não se achar tão importante, mas não tem ideia de como é. Eu nunca fui bom em ficar escrevendo cartas, muito menos se eu fosse obrigado a demonstrar meus sentimentos nelas. Mas esta carta está sendo estranhamente fácil de escrever, porque eu não preciso pensar muito em relação à como me sinto com você. Você é incrível, Lauren. Seu dia merece ser comemorado da melhor forma possível. Sei que você não gosta de ser mimada por ninguém, mas espero que aceite esse presente, do fundo do meu coração (ou do fundo do restaurante italiano, você decide). Essa carta está ficando muito longa, eu sei, mas queria muito te dizer que não importa o que te digam sobre mim, quero que saiba que eu te amo e agora estou começando a misturar palavras sem sentido, porque é exatamente assim que me sinto. Para mim, nada mais faz sentido se eu não estiver perto de você.
Acho que já falei que te amo, então, espero que goste do quadro.

Com amor, Shawn Mendes."

Olhei para o verso da carta e tinha uma observação em letra minúscula.

P.S: Você é perfeita.

Eu me encontrava no chão, chorando, pensando em como fazer para agradecê-lo sem me envergonhar do que fiz e sem que Amanda soubesse.

É claro, tinha que pensar em Amanda. Sempre. Mas ela poderia esperar, já que eu estava ocupada demais olhando para o meu quadro e minha carta, pensando no que eu tinha feito exatamente para merecer perder tudo aquilo por causa de uma problema que não era meu.

Eu daria um jeito de agradecê-lo pelo celular de Nash, mais tarde. Mas não podia arriscar nada além de um obrigado formal. Primeiramente, ele não queria falar comigo, e o resto era o de sempre, tinha apenas que agradecer e não puxar mais assunto.

[...]

Os dias passaram e eu quase não ouvia falar de Shawn ou Aaliyah. Quer dizer, Aaliyah me mandou uma mensagem dias antes, mas eu não tinha ouvido falar no irmão dela desde o dia em que ele havia me tirado da casa de Manuel e me expulsado do seu carro. Segundo Amanda e suas provocações, ele já estava em Toronto com a família. E a tia Alice não estava nada bem, o que significava que Shawn não tinha previsão de volta.

Aaron e eu já estávamos em Londres. Viajamos durante a madrugada e passamos a tarde direto para a empresa. Era extremamente cansativo.

— Shawn quer que você envie algumas estatísticas direto para o e-mail dele — Aaron pediu.

— E por que ele mesmo não me pediu isso? — A pergunta tinha uma resposta um pouco óbvia, mas Shawn ainda era meu chefe e não podia simplesmente me ignorar profissionalmente.

— Ele não quer mais saber de você, simples assim.

— Estou fazendo de tudo para mudar isso, mas está ficando cada vez mais difícil.

— Até entendo, mas esquece isso por enquanto, só envia todos os documentos para ele e apenas os selecionados para Manuel. Depois, vamos tentar seguir a nossa agenda, estamos um pouco atrasados.

— Tudo bem.

Demorei pelo menos quarenta minutos para fazer tudo e revisar os documentos e estatísticas, não queria que as informações mais aprofundadas chegassem às mãos de Manuel por um descuido, Shawn e Kayla precisavam saber tudo em primeira mão. Apesar de estar morrendo de sono e sem conseguir me concentrar em nada, consegui fazer tudo certo, mas pedi para que Aaron desse uma olhada antes, não queria que nenhum detalhe passasse despercebido.

— Está tudo ok. Acho que podemos ir — ele disse.

Normalmente, Shawn e eu ficávamos em sua casa e Aaron ficava na casa de sua mãe, porem, daquela vez eu ficaria sozinha em uma casa alugada pelo Airbnb. Aaron me disse que a casa não era distante e que eu não sentiria medo de ficar sozinha, e caso sentisse, podia ligar para ele.

Ainda estava com a mala e a roupa da viagem, mal via a hora de chegar naquela casa e descansar durante o resto do dia. Trabalhar, afastar Amanda, reconquistar Shawn e tentar achar as provas concretas para mandar Manuel para a cadeia não estava sendo fácil, aquilo consumia minha semana inteira, ainda sem incluir as tarefas de casa e as preocupações com Nash. Eu realmente precisava de um bom descanso, ficar sozinha em uma casa poderia ser uma boa ideia.

— Eu pedi um Uber para você, daqui a pouco ele está lá embaixo.

Poderíamos ter evitado aquilo se Aaron  tivesse me deixado alugar um carro, mas ele insistiu que estava tudo sob controle e que passaria na casa e me levaria de carro para a empresa e para onde mais eu quisesse. Minha cabeça já estava cheia demais durante esses últimos dias, então achei melhor deixá-lo arcar com as responsabilidades da viagem, incluindo a minha estadia e agenda em Londres.

Descemos até a entrada da empresa e esperamos até que um carro preto aparecesse e parasse em nossa frente.

— É esse — Aaron falou.

— Mas ele nem saiu do carro, como você sabe? — Falei enquanto observava o porta malas abrir automaticamente.

— A placa, Lauren, está mostrando aqui. Vou pedir dar uma olhada no motorista antes de você entrar, preciso saber se você está segura —ele respondeu enquanto colocava minha mala no porta malas.

O motorista abaixou o vidro por segundos e logo em seguida subiu de novo.

— Te vejo amanhã?

— Olha, você nem me falou o endereço da casa em que eu vou ficar.

— Está no e-mail. E além disso, o motorista sabe pra onde ir. Depois podemos ver se conseguimos uma casa um pouco mais perto para você ficar.

Naquele momento eu estava arrependida de ter deixado que ele cuidasse de tudo sozinho.

— Anda logo, ele não pode ficar parado aí por muito tempo — Aaron chamou minha atenção, e logo em seguida o motorista usou a buzina para fazer o mesmo. O cara nem sequer abaixou as janelas para ter a certeza de que iria levar o passageiro certo.

— Se eu for sequestrada outra vez a culpa é sua — falei pro Aaron um pouco antes de abrir a porta traseira do carro.

Eu nem sequer olhei direito para o motorista no momento em que entrei no carro. Apenas depois de colocar o cinto e me ajustar, eu percebi que aquilo não era muito bem um Uber comum. Shawn Mendes era quem estava ali me esperando e eu precisei ouvir a voz dele para ter a certeza de que não estava delirando.

— Achou que ia se livrar de mim com tanta facilidade?

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