31
Tentei me recompor o máximo, por algum motivo eu estava muito envergonhada, embora não devesse, já que não precisava mais me esconder.
— Mãe? — Shawn perguntou sorrindo, enquanto ia em sua direção. Logo em seguida eles se abraçaram e eu senti que estava atrapalhando o momento família.
— Oi querida, eu sou a Karen e você deve ser a famosa Lauren — ela disse sorrindo e logo veio me cumprimentar com um abraço.
— Famosa? — Perguntei sem graça, ainda estava bem envergonhada.
— Se eu sei o seu nome, então você pode imaginar o quanto ele fala de você. Toda mãe fala isso, mas eu juro que dessa vez não é mentira.
Imaginar Shawn falando de mim para sua família era uma coisa muito estranha. Aquilo era uma evolução, já que nos meses anteriores ele foi obrigado a me esconder de todos.
— Não precisa se prestar à esse papel, a Aaliyah já fez isso quando veio aqui — Shawn disse.
— Parece que as coisas mudaram, então — Ela disse — Mas vamos deixar Aaliyah para lá. Você me disse que ela era bonita mas eu achei que estivesse exagerando.
Se não fosse paranóia da minha cabeça, eu diria que Shawn estava nervoso. Talvez o assunto Lauren fosse íntimo demais e ele com certeza não queria que ela compartilhasse as conversas em família comigo.
— Ele então, o que te trouxe aqui? — ele perguntou tentando desviar o assunto.
Aquela era a pior situação, ficar no meio de assunto de família e não saber como me comportar, estava na dúvida entre permanecer com eles ou sair. Mas também estava com vergonha de sair e ela me achar mal educada. Eu não precisava de mais um membro da família Mendes me odiando, aquilo seria demais para mim.
— Amanhã seria nosso dia de ação de graças lá no Canadá, mas soubemos que você não poderia ir, então viemos visitar você — Ela parecia bem mais simpática do que qualquer um dos outros Mendes que eu já havia conhecido.
— Viemos?
— Sim, Brian e Stacy estão aqui. Aaliyah está com eles.
— Aaliyah? Ela me disse que tinha ido embora.
— Você sabe como sua irmã é, mentirosa igual o pai.
Shawn percebeu meu desconforto no meio da conversa e tomou liberdade para me deixar sair da sala. Bastou um olhar e ele entendeu perfeitamente o que eu quis dizer.
— Tenho muito trabalho à fazer, preciso ir para a minha sala agora, mas foi um prazer conhecê-la Sra. Men... — Ela me interrompeu.
— Mendes não, por favor. Meu nome é Karen Rayment, mas por favor, me chame só de Karen. Só vou manter o sobrenome daquele infeliz por causa dos meus filhos. A gente pode fingir que ele não existe, sei que não gosta dele também e...
— Mãe! Ela já entendeu, Karen Rayment.
— Por via das dúvidas, vou chamá-la de Karen. Foi um prazer conhecê-la.
— Espera - a mulher disse antes que eu pudesse sair — Jantar amanhã às oito na casa do Shawn, vou ficar muito decepcionada se você não for.
— Estarei lá — Responder com o meu melhor sorriso antes de sair da sala.
Mal pude acreditar no quanto fiquei nervosa por essa breve conversa que tive com ela, a única coisa que eu poderia fazer a partir dali, era me esforçar para não estragar o jantar com o meu nervosismo e me lembrar que o nome de usar Karen Rayment, nome de solteira.
Quando o elevador chegou, dei de cara com Aaron.
— A gente tem que parar de se encontrar assim — ele disse sorrindo — Estava indo te pedir pra tirar o carro da entrada.
Eu estaria surpresa com esse encontro, mas na madrugada Shawn mencionou por acidente que Aaron já tinha ido para a empresa no dia anterior. Fiquei triste por não ter me encontrado com ele. Mas pelo visto, ele não queria ser encontrado, já que não respondeu duas mensagens que eu sabia que ele tinha lido.
— Ok, vou ser direta... você está me evitando?
Era óbvio, mas queria saber o motivo.
— Não — ele respondeu.
Pelo menos eu tinha a certeza de uma pessoa que não conseguia mentir para mim.
— Por que não me falou que estava de volta e que trabalhou ontem?
— Você não precisa saber de tudo sobre a minha vida.
— Eu precisava de você para me ajudar com a novata. Mas vou dar um jeito, não se incomode.
Foi uma resposta inesperada, mas ele estava certo, não me devia satisfações sobre nada.
— Desculpa, não queria ser grosso.
— Não se desculpe, você tem toda razão!
Assim que sai do elevador, fiquei observando a dificuldade que Amanda enfrentava ao tentar estacionar seu carro. A única pergunta que martelava em minha cabeça era: como ela conseguiu colocar o carro daquele jeito e como deram carta de motorista para uma pessoa que mal sabia estacionar?
O estacionamento estava começando a encher e ela se enrolava cada vez mais.
— Acho que ela precisa de ajuda — Aaron disse, mais para ele mesmo do que para mim.
— É exatamente o que ela precisa.
Ele nem sequer deu atenção ao que eu disse e logo saiu em direção ao carro dela. Aaron pareceu ter feito milagres, pois em questão de segundos o carro estava em um lugar aceitável e minha vaga finalmente estava vazia, o que me fez pensar que Amanda realmente estava forçando as coisas para chamar atenção.
Coloquei meu carro na vaga e em seguida peguei os documentos que seriam entregues à ela e entrei no elevador de volta.
— Segura pra mim! — Amanda gritou.
Não fiz esforço algum, não queria ficar perto dela. Meu sexto sentido estava me alertando e eu não confiava em gente que se faz de boazinha o tempo inteiro.
Infelizmente ela chegou à tempo e conseguiu entrar.
— Quem foi aquele que me ajudou?
Como se não bastasse se jogar para o Shawn, tinha que se interessar por Aaron também?
— Aaron Carpenter — respondi seca.
— Parece ser um cara legal — ela disse, como se eu já não soubesse — Vi que vocês são próximos...
— Somos próximo, sim. Apenas amigos, ele namora a minha prima. Nada além disso.
Não sabia qual rumo ela tomaria naquele assunto, mas nunca descobriria qual era a dela se não a deixasse falar.
— Calma, eu sei. Você é bem próxima do chefe, imaginei que Aaron fosse apenas amigo.
Olhei em seu rosto com uma falsa expressão de dúvida. Eu não imaginei que tivesse deixado a impressão de ciúmes tão nítido que até alguém como ela percebia.
— Qual é, Lauren, vocês têm que ser mais cuidadosos se não quiserem que ninguém os veja. Não escutei a conversa, mas fechar a porta antes de trocar saliva é uma boa dica — Ela deu uma piscadela enquanto sorria — Não esquenta a cabeça, os segredos de vocês estão guardados.
— Segredos? Você acha que eu guardo segredos? — perguntei confusa.
Até então ela só tinha visto o beijo. Não. Eu tinha certeza que não. Eu tinha visto o elevador fechar com ela dentro. A desgraçada estava jogando verde.
Assim que a porta do elevador abriu, ela praticamente pulou fora, fugindo da minha pergunta, e ainda sem tirar o maldito sorrisinho do rosto.
— Tenha um bom dia, Lauren!
Depois que Manuel descobriu sobre Shawn e eu, por um tempo não nos preocupamos em esconder mais nada, porém, nós entramos em um acordo de tentar não sermos vistos em momentos "íntimos" pela imprensa que ainda não tinha desistido de mim. Ele temia que a polícia me interrogasse, caso ele fosse pego. Tecnicamente, Amanda não seria um problema.
O maior problema à ser enfrentado por mim, se baseava nas antigas tarefas de Diana. Eu não fazia ideia de por onde começar, já que no dia anterior a única coisa que eu tinha feito o dia inteiro era ajudar Amanda, o que não adiantou muito. Manuel simplesmente jogou tudo em cima de mim e saiu sem me falar nada ou garantir que eu teria um treinamento. Na verdade, eu nem sabia que Diana fazia algo além de correr atrás de Shawn.
Minha única saída era o Shawn, e isso se ele tivesse tempo.
— Eu preciso da sua ajuda — falei ao entrar na sala. Percebi que a mãe dele não estava mais lá, o que era ótimo, já que eu não queria ter que tentar impressioná-la até o dia seguinte.
— Srta Collins, me dá um segundo? — Amanda assentiu sorrindo — Na verdade, preciso que você pegue os documentos originais da demissão com Aaron Carpenter.
— Aaron pediu demissão? — Perguntei, estava muito assustada.
— Vocês acabou de entrar no elevador com ele, é claro que não pediu demissão.
Resolvi fingir que não tinha nada de errado com o tom da resposta que ele me deu e me dirigi à Amanda.
— Isso aqui é seu, e como já sabe, todos os dias isso tem que estar pronto antes das dez da manhã, quando terminado, tem que colocar na mesa do Sr. Mendes ou na minha caso ele não esteja aqui. Srta. Collins, espero não ter que te explicar isso amanhã de novo.
Shawn me acompanhou até a minha sala e fechou a porta quando entramos.
— Algum problema ela saber sobre a gente?
— O problema é que você está sendo dura demais com ela.
— Eu estou sendo dura demais? É a terceira vez que alguém avisa isso para ela. Prometo que não vou falar mais nada, espero que você tenha a manhã inteira para explicar isso de novo para ela amanhã.
— Já te avisei que não vou dar bola para nada disso, não precisa ficar assim.
— Você não respondeu a minha pergunta — Falei — Antes que pense besteira, não contei por vontade própria, ela viu a gente na sala.
— Não tenho problemas com isso.
— Eu sei que é cedo demais para julgar, mas tem algo nela que não me convence - Shawn riu um pouco das minhas palavras.
— Sério? Me chamou aqui para falar do seu ciúme?
Decidi parar de falar sobre o assunto. Quanto mais eu tentasse alertar, mais pareceria ciúmes e eu odiava fazer ceninha.
— Não exatamente. Te chamei para pedir ajuda, eu estou totalmente perdida, seu pai não me ajudou nas minhas novas tarefas e eu nunca tive acesso às coisas que Sierra fazia, Manuel simplesmente me fez assinar um novo contrato e sumiu segundos depois.
— Fica calma, eu te ajudo.
Era impossível manter a calma, pelo menos no meu ponto de vista.
— Por enquanto, eu quero que você fique com as partes internacionais — Shawn começou falando.
— Como?
— Você é quem vai se comunicar com as filiais dos outros países. Vai precisar mandar algumas informações e pedir as estatísticas para fazer comparações e etc... Aaron vai te ajudar na parte das viagens, mas sem pressão.
— Sem pressão?
Como não me sentiria pressionada em meio à situação?
— Aaron entende muito bem disso, ele pode te ajudar, e eu vou estar aqui do lado, qualquer dúvida é só me chamar - ele disse tentando me acalmar, mas na verdade só estava me apavorando mais.
— Ele poderia ficar aqui comigo, já que você vai estar ocupado.
— Não viaja! Vou arrumar um jeito simples, assim você não vai precisar dele tantas vezes. E além disso, Sierra deixou um planner com toda as obrigações dela ali atrás — Ele apontou para um painel enorme que eu achava que fazia parte da decoração — Vou te enviar tudo direitinho. Para ser sincero, é mais simples do que lidar comigo.
— É o que eu espero!
[...]
O resto do dia foi tranquilo, exceto pelo fato de Amanda ter entrado na minha sala me dando trocentas ordens. Segundo ela, "O Sr. Mendes mandou".
Estava prestes a deixar minha sala, quando Shawn apareceu novamente.
— Você ficou com a cara fechada o dia inteiro, aconteceu alguma coisa? Ou é só a presença da secretária que te incomoda?
— Ela não me incomoda — menti na cara dura — Você tem o telefone da minha sala, pode falar o que precisa sem ter que mandar ela vir aqui me atrapalhar.
Se Kayla estivesse na sala naquele exato momento, estaria rindo da minha cara, pois nosso almoço se resumiu em falar sobre como Amanda tinha conseguido irritar à mim e a todos com o ocorrido no estacionamento.
— A Srta. Collins já percebeu que te incomoda e disse que vai ficar longe, para não arrumar problemas — Pelo menos era sensata — Eu vim aqui para falar outra coisa, você deve ter escutado minha mãe falar sobre Brian e Stacy.
Apenas assenti enquanto torcia para que não fossem mais pessoas loucas da família, já bastava Manuel e Aaliyah tentando destruir a minha vida.
— Eles são os meus primos... já faz um tempo que não nos encontramos e eu queria fazer alguma coisa especial com eles.
Ainda estava tentando entender onde eu me encaixava, já que aquilo era coisa de família.
— Ok...
— Bom, eles vão ficar chateados se eu não os der atenção, mas eu não sei mais como lidar com crianças, então, eu quero que você vá com a gente.
Ainda bem que eram crianças. Mas ainda assim, a última criança que tive que lidar era Nash, mas já faziam anos.
— De onde você tirou a conclusão que eu me dou bem com crianças? — Perguntei.
— Olha só como você cuida do Nash.
Aquela não era bem uma justificativa, Nash tinha dezesseis anos, não era bem o que aparentava, mas ele se virava sozinho e na maioria das vezes era ele quem me tratava como criança.
— Vamos, vai ser legal.
— Não sei se devo...
— Minha mãe não pode ir comigo, Aaliyah não quer olhar na minha cara e eu não dou conta de duas crianças de seis anos.
— Meu Deus, gêmeos?
Ele fez um "sim" com a cabeça.
— Vou pensar um pouco e além disso, tenho uma sessão com a psicóloga amanhã — falei enquanto pegava as minhas coisas para deixar a sala.
— São duas criancinhas de seis anos, você diria não para duas criancinhas inocentes de seis anos?
Ele fugiria de mim se eu contasse que diria não? Porque eu definitivamente diria se precisasse.
— E por acaso você perguntou para as criancinhas de seis anos se elas gostariam que eu me intrometesse no dia em família de vocês?
— Lauren, você foi convidada para se intrometer no dia em família. E bom, não sei se esqueci de mencionar que não vai interferir na sua sessão com a psicóloga, o "dia em família" é hoje.
Eu seria um monstro terrível se deixasse Shawn lidar sozinho com duas criancinhas de seis anos. Ele mal sabia lidar comigo... pelo bem das crianças, eu aceitaria.
— Você não sabe fazer chantagem, mas eu vou pensar no seu caso.
— Isso é um sim?
— É, eu acho.
Ele me beijou e me agradeceu umas trinta vezes, antes de avisar que precisava sair dali logo.
Fui para casa o mais rápido que pude e conversei com Nash, ele pareceu entender e até preferiu que eu estivesse com Shawn naquela noite. Ashley, como sempre não estava em casa.
Shawn apareceria para me pegar duas horas depois e nós iríamos para um parque de diversões. Eu queria matá-lo, tinha zero experiência com crianças pequenas e ele escolheu justamente um dos lugares mais movimentados da cidade.
Ouvi a buzina do carro três vezes e saí rápido.
— Esses são Stacy e Brian - Shawn disse apontando para o banco de trás — Essa é a Lauren.
— Oi — Eles disseram em uníssono e eu respondi tentando ser mais simpática o possível.
— Se comportem aí atrás — Shawn disse antes de dar a partida.
O caminho até o parque foi mais longo do que eu poderia imaginar, e considerando que eu nunca tinha passado por aquele caminho, tive certeza de que eu também não conhecia o parque. As crianças brigaram o caminho todo, fazendo eu me arrepender de ter saído de casa.
Bastou avistarmos uma roda gigante enorme para Brian e Stacy começarem a comemorar.
— Eu falei que eles iam gostar.
— É claro, fui eu que escolhi — Brian respondeu, me fazendo rir.
Saímos do carro enquanto Brian e Stacy brigavam para decidir em qual dos brinquedos iriam primeiro, era uma briga boba, a metade dos brinquedos não eram indicados para o tamanho deles.
— Vocês tem que entrar em um acordo ou vamos ficar aqui parados até o parque fechar — minha voz saiu passando uma falsa calma, queria gritar com os dois, mas não queria que eles me odiassem, então me segurei o máximo.
— Ela está certa, vamos nas argolas primeiro, e depois vamos onde você quiser, tudo bem? — Shawn perguntou ao Brian, ele apenas assentiu e nos acompanhou.
Ver Shawn com crianças era um tanto quanto engraçado, mas não deixava de ser uma das coisas mais fofas do universo ver toda aquela postura de chefe sumindo.
Eu observava enquanto eles jogavam, via Stacy ficar brava por não conseguir acertar nem uma argola de cinco pontos, e sua raiva só piorou quando Brian acertou a maior pontuação. Enquanto o garotinho escolhia seu prêmio, eu tentava jogar as argolas e fingia ser pior do que Stacy, já que Shawn e Brian estavam mandando ver. Não queria que ela começasse a chorar, então, fingir que era péssima era a melhor saída.
— Não fica chateada, no próximo jogo nós duas podemos apostar e ganhar deles — falei tentando fazer a menina melhorar a cara.
— Você sabe atirar? — ela perguntou.
— Eu aprendo rápido.
— Vamos desafiar os dois?
– Vamos! - respondi, um pouco mais tranquila.
Estava tentando montar uma estratégia para ganhar dos meninos quando Brian começou a me cutucar.
— Ele quer falar uma coisa — O garoto disse apontando para Shawn, que estava com um urso enorme nas mãos. Provavelmente aquele era o prêmio que Brian tinha escolhido.
— O Brian insistiu muito e mandou eu te dar isto — Shawn disse rindo.
No mesmo instante Brian o repreendeu e eu entendi o que ele estava tentando fazer.
— Não foi assim que a gente combinou — o garoto começou a falar algo no ouvido de Shawn.
— Certo! — ele respondeu rindo — Lauren, isso é pra você.
A situação era bem engraçada. Mas aceitei e agradeci.
— Você tem que fazer do jeito que eu te falei — O garoto tentou sussurrar mas acabou falando alto demais.
— Sem chances — Shawn respondeu.
— Você sabe o que está acontecendo aqui? — perguntei para Stacy.
— Brian e eu temos um plano. Quer dizer, ele inventou o plano. A gente quer ter a certeza de que Shawn não vai voltar pra Bella nunca mais. Da última vez, ela puxou a orelha dele com força, por isso ele está assim — Ela respondeu.
Se dependesse de mim, Shawn não voltaria para Bella nunca.
— Então ele a odeia? — perguntei, e enquanto isso Brian tentava convencer Shawn a fazer algo.
— Todo mundo odeia ela.
— Nisso eu vou ter que concordar.
— A bruxa puxou o meu cabelo quando foi visitar o Shawn no Canadá.
— Realmente, todo mundo odeia ela.
— Brian, eu não vou beijar ninguém na frente de vocês, esquece isso e vamos para o próximo — Shawn respondeu.
Crianças conseguiam ser fofas e inconvenientes ao mesmo tempo, pelo que eu havia entendido, Brian só queria ter a certeza de que Shawn não voltaria para Bella. Era um jeito estranho de demonstrar, porém fofo.
— Vamos naquele! — Brian apontou para os carrinhos de bate-bate.
— Brian, podemos ir naquele primeiro, o que você acha? — Shawn perguntou, apontando exatamente para a tenda que Stacy e eu tínhamos em mente.
— LEGAL! — Brian gritou e saiu correndo na frente.
Como Stacy ficou do meu lado, cheguei perto de Shawn o suficiente para sussurrar em seu ouvido:
— Por favor, ela vai te desafiar então se esforce para perder.
O resto da noite foi tranquila e maravilhosa, as crianças eram uns amores e nós dois conseguimos controlá-las, tirando o fato de Shawn conseguir lidar melhor com crianças do que eu, dava para classificar a noite como perfeita.
Sim, ele era muito bom com crianças. Embora insistisse que eu era melhor, eu ainda daria os créditos para ele.
[...]
Levantei um pouco mais cedo no dia seguinte, não por vontade própria, apenas por não conseguir mais dormir. Aproveitei e resolvi chegar primeiro do que Shawn e Amanda, para evitar encontros desnecessários e perturbadores.
Assim que cheguei, arrumei minhas coisas na sala nova e chequei os e-mails. Haviam vários de Manuel e alguns da filial de Portugal, que precisavam ser encaminhadas para o próprio, já que ele mesmo faria a tradução dos documentos.
Meia hora depois, percebi uma movimentação na minha antiga sala e me levantei indo até ela para ver se era o Shawn, mas infelizmente não era.
— Bom dia Lauren, querida, como vai? — Amanda disse sorrindo.
— Bom dia. Não vamos pular a etapa da formalidade, ainda não somos melhores amigas ou algo parecido — falei de primeira.
Aquilo era algo extremamente irritante, eu a conhecia há pelo menos três dias e ela agia como se fossemos íntimas.
— Já sei, está chateada porque não encontrou ele aqui? — a voz dela tinha um tom totalmente diferente de quando Shawn estava na nossa frente, mais um motivo para eu não confiar nela — Não se preocupe, essa era minha intenção.
Me lembrei da nossa conversa do elevador no dia anterior, aquilo me fez refletir por um bom tempo e eu torcia para que ela não fosse a substituta de Sierra e para que não ficasse no meu pé.
— Sobre o que você estava falando ontem?
— Já ia chegar nesse assunto, mas agora que perguntou, vamos acelerar o processo antes que o chefe apareça.
— Espera... como sabia que eu estaria aqui mais cedo hoje? — perguntei confusa, afinal, nem eu tinha a certeza que chegaria mais cedo ali.
— Eu não sabia, querida. Foi um encontro inesperado, mas vai me ajudar bastante. Quero que você se sente, isso pode demorar.
Não me sentei. O que quer que ela dissesse não faria diferença se eu estivesse sentada ou não.
A não ser que fosse tentar me derrubar, o quê seria pura ignorância da parte dela.
— Tudo bem! Não quero demorar muito e também não te quero nessa sala por muito tempo — Ela disse enquanto se sentava, estava agindo como se fosse a chefe — Eu sei do seu segredinho sujo com o chefe.
Aquilo não me assustou. Ela já tinha dito o mesmo no dia anterior, e não era apenas ela que sabia.
— E...?
— Você sabe exatamente do que eu estou falando!
Naquele momento meu coração descompassou as batidas, e eu me concentrava em não fazer cara de surpresa para não deixar tão óbvio.
— Você viu a gente se beijando, e daí? Todo mundo sabe, não vai ser novidade para ninguém que você está pensando em contar.
Não custava nada tentar me fingir de idiota. Tive que tentar. Porque se ela realmente estivesse falando do segredo de Shawn...
— Tenho que admitir, você daria uma bela atriz, mas é uma pena que eu tenho as provas de que Shawn Mendes e sua irmã estão roubando as empresas.
Da minha boca não saiu uma palavra sequer, e eu tinha certeza de que se dissesse algo, ia estragar tudo e acabar condenando Shawn e Aaliyah mais rápido. Embora eu não me importasse muito com Aaliyah, não queria vê-la na cadeia.
— Não faça essa carinha, sei que você odeia o pai dele e sei também que você está envolvida com isso tudo... avisa pra ele tomar cuidado e prestar atenção onde deixa o laptop com provas que podem levá-lo para a cadeia.
Ao longo do tempo, Shawn estava sendo tão cuidadoso com essas provas que eu mal pude acreditar que ele havia deixado uma sequer no laptop.
— Já que você não vai falar nada, então eu falo. Você já deve imaginar que eu sou linda demais para ser apenas uma secretária. Nada disso. Fui contratada para me infiltrar aqui e tirar informações valiosas e vender para a imprensa pelo preço mais alto que pudesse. Tem alguém tentando acabar com seu namorado e o pai dele, mas já adianto uma coisa: isso não tem nada a ver com aqueles dois amadores que estão na cadeia. Ah, Lauren. Essa pessoa te odeia ainda mais do que qualquer um na vida, e acima de tudo, odeia Shawn e Manuel Mendes.
Por um minuto, fiquei calada, apenas engolindo seco. O que eu diria? Que estava chocada por ela ter me enganado? Não. Ela nunca me enganou. Mas também não é nada do que eu achei que fosse.
— Se você pudesse ver a sua cara agora... Enfim, continuando: essa pessoa, a que me contratou, resolveu abusar demais da sorte. Já estamos trabalhando nisso há pelo menos dez meses, mas a pessoa que me contratou está pensando nisso há anos. A pessoa não me disse o quanto eu precisava te contar, mas me pediu que eu te deixasse ciente de tudo o que pode acontecer com você, caso não se afaste de Shawn Mendes nas próximas horas.
— Você está blefando.
— A cartinha que você recebeu em Londres... Eu não saberia se não tivesse envolvida nisso.
— Todo mundo sabe que Shawn e Manuel recebem essas merdas o tempo todo, passou no jornal, você não me engana, Amanda.
— Vai mesmo arriscar a segurança do seu irmãozinho por causa de um relacionamento? — Ela perguntou, enquanto jogava os cabelos para trás.
— O quê você quer?
— Estava com planos de conquistar o chefe, apenas pelo dinheiro, mas fica um pouco difícil quando ele está cego de amores por você. Então eu pensei: o que será que ela tem de tão especial? E nada veio à cabeça, já que você não aparenta ter conteúdo algum, mas não é só para mim que você apresenta um perigo. Isso vai muito além do seu relacionamento, posso garantir — ela gesticulava as mãos enquanto falava, parecia que estava palestrando com um discurso pronto, e aquilo realmente estava me dando nos nervos.
— Você realmente não me conhece!
— Não conhecia, antes — Ela me corrigiu — mas, foi então que tive a oportunidade quando conheci está pessoa. Vamos chamá-la de X. Bom, X me contou tudo sobre você, não achei nada interessante, mas o seu lado super-heróico me fascina. Você faria de tudo para salvar o seu irmão, não faria? — Ela perguntou, sem esperar uma resposta — X não se importa muito com você, assim como eu. Mas algo está prestes a acontecer e X não quer que isso aconteça.
— Está sendo ridícula! Nada do que você diz faz sentido para mim.
— Ainda não faz sentido para você. Mas nós queremos te avisar que você tem algumas horas. Não precisa pedir demissão, não, Lauren. X tem um problema pessoal com você e quer que você sofra por algo que não vai poder ter.
— Vai me dizer que eu conheço X?
— Você sabe sobre X o que X quer você saiba. Mas, você tem que saber que essa pessoa está ficando impaciente e já reuniu todas as provas possíveis para incriminar Shawn Mendes, até por crimes que ele nunca cometeu. Se algum dia ele entrar na cadeia, não há fiança que consiga tirá-lo de lá. Então, eu sugiro que você comece a se apressar, afinal, Hamilton Nash Grier-Portman não vai gostar nada de passar pela mesma situação que você. Você sabe quanto tempo seu irmão aguentaria ficar sem comer?
Meus olhos encheram d'água só de imaginar meu irmão passando por qualquer coisa parecida com aquele sequestro.
— Deixe meu irmão fora disso — Falei, tentei soar ameaçadora, mas tudo que consegui foi uma voz falhando e entregando o medo que eu sentia.
— Ah sim, nós vamos deixar. Mas antes, você tem que dar o primeiro passo.
Shawn e eu tínhamos passado por muitas coisas, altos e baixos infinitos, mas uma ameaça não seria o suficiente para me fazer desistir de tudo tão fácil. Era o que meu coração sentia.
Meu cérebro me alertava repetidamente: você sabe que ela não está mentindo. Você sabe que ela não está mentindo.
Eu não podia colocar numa balança.
Por hora, faria o que ela estava pedindo. Mas arrumaria um jeito de reverter a situação.
Eu tinha Kayla à meu favor e esperava que ela pudesse me ajudar.
— Estou tentando ser boazinha com você, é só dizer que não vai vê-lo mais e pronto. Ou, você pode negar e vê-lo atras das grades. De qualquer jeito, X vai ter o que quer.
— Você está brincando com a minha cara? — perguntei sem parecer nervosa.
— Não estou, querida.
— O quê te impede de vazar o que tem para a imprensa?
— A pessoa mudou de ideia sobre isso. Mudou de ideia ontem à noite.
A resposta era vaga demais. Tinha algo ali que não estava se encaixando.
— Mentiras.
— Vou te mostrar que não estou aqui para brincadeiras.
— Você me disse que foi contratada para vazar informações. O que isso tem a ver comigo e meu irmão?
— Na hora certa você vai saber. Lauren, querida, nós estamos tentando impedir que algo relacionado à você aconteça. É algo grandioso, você não merece.
Eu realmente não sabia o que fazer, a não ser ganhar tempo.
— Me dê mais um dia — pedi.
— Um dia? — Ela riu — Você tem dez minutos.
— Posso fingir estar desistindo dele, mas ele não vai desistir de mim.
Depois de dizer isso, torci para estar certa.
— Então você vai ter que fazê-lo desistir. Ou vai preferir desistir de Nash?
Eu precisava de mais tempo, não queria que ele ficasse chateado e precisava fazer algo, magoar Shawn talvez doesse mais em mim do que nele. Mas a questão era essa: eu ainda não podia fazer nada.
Uma prova de que eu sabia que ela estava falando a verdade? Hamilton Nash Grier-Portman.
Quando meus pais o adotaram, minha mãe queria ter a certeza de que ele faria parte da família por igual, e que os outros membros da família Portman o tratariam como um membro legítimo. Então, assim que ele pisou em nossa casa, minha mãe deu a notícia para toda a família que tinha conseguido tirar o antigo sobrenome da certidão dele, mas ainda assim, não citou qual era e Nash, por sua vez, quando decidiu que gostaria de colocar o nome da família, disse que preferia ser apenas Nash Portman e que de preferencia escondêssemos o primeiro nome dele, já que ele também odiava.
A questão era simples, nem as pessoas da minha família nunca souberam que Nash na verdade também era Grier. Mas tinha algo sobre a adoção que não era muito falado lá em casa. A justiça disse que Nash tinha o direito de voltar a ser um Grier caso quisesse, teria que pagar uma taxa alta e recorrer ao advogado, mas que ainda poderia.
Nash conversou com nossos pais e quando fez seus catorze anos, decidiu que queria seu sobrenome de volta. Ele se justificou e disse que não queria parecer ingratidão, mas todos nós percebemos que tirar o sobrenome dele era como tentar apagar parte da sua história e que aquilo tinha sido um erro. Minha mãe acabou ganhando a causa, e desde então, Nash é Hamilton Nash Grier-Portman.
Mas ninguém além de mim e meus pais sabiam disso. Nem mesmo Ashley e os pais dela.
Nash continua assinando seus documentos como Hamilton Portman, na escola ele é Nash Portman. Nunca foi diferente.
Não teria como Amanda saber disso.
— Ele chegou, você tem dez minutos - ela disse olhando enquanto Shawn saía do elevador — Vou deixar os dois sozinhos, vocês têm muito para conversar e pouco tempo.
Amanda saiu sorrindo. Como se nada tivesse acontecido.
— Ei — Shawn disse sorrindo e veio me beijar.
Eu queria me esquivar para não fazer aquilo tudo ficar mais dramático, mas infelizmente eu não consegui.
— Que cara é essa? Tudo certo pra hoje à noite? — ele estava se referindo ao jantar.
Karen foi a primeira pessoa da família dele que gostou de mim sem eu ter que me esforçar, e lá estava eu, prestes a decepcioná-la.
— Não!
Ele me olhou confuso, sem entender minha mudança de humor repentina.
— O que foi? Não gostou de conhecer minha mãe?
Eu não poderia enrolar e dar mais explicações.
— Não gostei de conhecer você. Por favor, não me liga nunca mais!
Deixei-o na sala e tentei ignorar todas as vezes que ele chamava meu nome.
Amanda esperava no corredor com a expressão mais alegre do mundo.
— Foi mais rápido do que eu imaginei!
Eu queria matá-la naquele momento, e eu realmente ia, se Aaron não tivesse aparecido é percebido o clima pesado entre nós.
Cheguei mais perto dela e a joguei contra a parede enquanto apertava seu braço com toda a força que restava em mim.
— Me dá um motivo para eu não te arrebentar agora mesmo!
Eu ainda não sabia o que ia fazer, mas não ia deixar barato.
— O que está acontecendo aqui? Lauren, solta ela, está machucando! — Aaron disse.
— Isso é pouco para o que eu vou fazer com ela!
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