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A manhã do dia seguinte passou rápido, recebi o comunicado avisando que o Sr Mendes teve uma emergência e precisou ir para a filial de Portugal, e que passaria o resto da semana lá. Para a minha sorte ele precisava de um funcionário com ele e obviamente Diana foi a única que se ofereceu para acompanhá-lo.

Eu estava almoçando com Cameron em um restaurante próximo ao prédio da empresa.

- Achei legal da parte do Sr Mendes deixar eu te ajudar.

- E eu fico grata por Diana ter se oferecido para ir com ele, ela me causou muitos problemas ontem.

- Isso acontece muito e provavelmente quem irá nas próximas viagens com ele será você, se aguentar mais de um mês aqui, claro.

Ouvir tantos se aguentar mais de um mês aqui estava me dando nos nervos.

Era o gás que eu precisava para me esforçar ainda mais.

- Não importa o que aconteça, eu tenho que ficar.

- Eu espero que você fique. Até agora foi a melhor que apareceu, e olha que eu ajudei o Sr Mendes na adaptação de todas, mas nenhuma aguentou mais de três dias.

Ainda era meu segundo, mas já era uma vitória a ser comemorada.

- Fica difícil se adaptar quando se tem uma desequilibrada tentando fazer de tudo para destruir minhas chances de adaptação. Eu cheguei a mencionar que ontem ela bateu no meu carro?

- Sério?

- Sim, o meu retrovisor lateral foi parar longe, por isso eu agradeço aos céus por ela passar essa semana longe de mim.

"Ou eu seria capaz de pular no pescoço dela" Era o que eu gostaria de acrescentar, mas não valia a pena assustar Cameron com minhas declarações. Ainda não.

- Ela foi longe demais nessa história do carro, você tem que contar pro Sr Mendes quando ele voltar, ou melhor, já deveria ter contado.

- Por acaso isso ia adiantar? Ele já sabe como ela é, e como você disse, nada acontece com funcionários que não foram contratados por ele. Não tem nada que ele possa fazer, principalmente se estiver fora do país.

Eu duvidava muito que o chefe fosse tomar o lado de uma funcionária de tinha acabado de chegar. Ou que fosse se envolver em qualquer problema de funcionários que acontecesse fora do expediente.

Ou seja, nada estava favorável para mim e não contar era a melhor opção até aquele momento.

- É, mas ela foi longe demais, arranhar um carro não é o mesmo que jogar café quente na sua cara.

Se fosse apenas um arranhão eu não teria reclamado tanto.

- Ela fez isso com você? - Perguntei fingindo estar chocada. De Diana eu esperava qualquer coisa.

- Duas vezes.

- E não aconteceu nada, claro. Por que acha que seria diferente comigo?

- Eu não acho, mas seria interessante se o chefe ficasse do seu lado.

- Cameron, ela está aqui faz mais de cinco anos e eu cheguei ontem, eu não contaria com isso se fosse você.

- Tem razão. Mas eu ainda acho que ele deveria ficar sabendo.

- Esquece essa história e vamos voltar para a empresa - Falei pegando minha bolsa.

O fim daquela tarde tinha sido tranquilo, assim como o resto da semana, com Cameron me ajudando eu peguei as coisas rápido, ele tinha me explicado coisas que o Sr Mendes gostava e coisas que ele odiava, para eu não ter o risco de ser demitida por erros idiotas.

Shawn Mendes me mandou alguns e-mails pedindo para que eu cancelasse algumas reuniões, sempre muito educado e formal, diferente de Diana, que passou a semana me pedindo para remarcar a consulta com o dentista dela, algo que eu não faria nem se ganhasse um extra. Por mim, que os dentes dela apodrecessem.

Um pouco atrasado, Cameron me alertou sobre os pedidos de Diana e me pediu para não fazer nada do que ela mandasse, apenas seguir as ordens do Sr Mendes, e por fim, me ajudou com a organização do escritório.

[...]

- O que vai fazer hoje à noite? - Ashley perguntou.

- Nós vamos ao karaokê, hoje é domingo e acho que eu tenho o que comemorar.

- Espera, você está me chamando para sair em um domingo à noite?

Fiquei sem entender o motivo da surpresa. Era algo tão comum quanto ela me chamar. Imaginei que, no período que eu estava sem emprego, Ashley plantou uma ideia de que eu era super careta, o que passava bem longe da verdade. É claro que eu amava me divertir e sair com ela, mas as coisas ficavam diferentes quando não se tinha dinheiro extra ou um emprego, como no passado.

- Não, estou te obrigando. Vai me deixar ir sozinha?

- Se você está me chamando é porque alguém te chamou e você não quer ir sozinha.

- É que o Cameron me convidou, mas é aquela coisa entre amigos, só para comemorar minha primeira semana com sucesso na empresa. Não tem nada a ver com medo de ir sozinha. Não desta vez.

- Bom, se é assim, comemorar é comigo mesmo. Mas antes disso, queria saber uma coisa, onde você pensa que vai com essa roupa? - Ela perguntou.

- Eu vou correr um pouco, quer vir comigo?

- Eu tô fora dessa vida, prefiro ficar aqui quieta assistindo meu seriado.

- Você é muito sedentária, sabia?

Para falar a verdade, Ashley era quem me incentivava a fazer exercícios. Costumávamos correr juntas quando eu estava no ensino médio. O hábito foi perdido quando eu perdi meu antigo emprego. Correr me dava tempo para pensar, e como as coisas estavam ruins, eu não queria correr para não ter que pensar em nada.

- Vá embora logo, vai começar e eu não quero ninguém fazendo barulho - Ela disse praticamente me expulsando da minha própria casa.

Eu optei por correr na rua que ficava atrás da minha. Era mais calma e não tinha tanto carro quanto nas outras.

Enquanto corria, recebi uma ligação do meu pai.

"Por que não nos falou que conseguiu o emprego?"

Ele parecia um pouco desapontado. Mas eu tinha esquecido completamente, tudo estava acontecendo tão rápido que eu nem tive tempo de pensar em contar. Entendi o motivo da sua frustração, já que meu pai se preocupava e queria saber se eu estava bem. Aquela era a primeira vez que eu não incluía ele nas minhas conquistas e me senti péssima. Era a pessoa que mais torcia por mim.

- Mil desculpas pai, é que aconteceu tudo muito rápido e eu não tive tempo pra quase nada. Tudo bem por aí?

"Mais ou menos"

- Aconteceu alguma coisa com a mamãe?

Minha mãe às vezes dava um pouco mais de trabalho à ele do que eu e meu irmão. As coisas fugiam de controle. Ela era uma ótima mãe, mas não entendia que não tinha mais seus 15 anos e precisava ter pulso firme. Ela teve sorte por eu nunca ter sido tão rebelde, mas as coisas com o meu irmão nunca foram tão fáceis como era comigo.

"Não, é que... o Ben apareceu aqui ontem à tarde e o Nash saiu com ele, mas até agora não voltaram. Eu queria saber se por acaso eles não apareceram por aí."

Ben, meu ex-namorado, aquele tipo famoso que não aceitava fim de relacionamentos e achava que ainda fazia parte da familia. Ben também era um dos motivos para eu ter me mudado para Los Angeles. Nash Grier era meu irmão mais novo, meus pais o adotaram quando ele tinha apenas três anos. E agora por mais que ele fosse um adolescente de 16 anos, se comportava como se ainda tivesse três. Meus pais viviam preocupados com ele, e principalmente quando Ben estava na cidade.

- Não pai, ele não apareceu em aqui. Isso levaria algumas horas, mas eu vou ligar no celular do Nash e saber onde eles estão.

Eu realmente não conseguia entender uma razão coerente para Nash ser tão irresponsável. Nossos pais sempre foram os melhores do mundo, nunca nos faltou nada, principalmente amor e carinho e ele estava retribuindo daquele jeito, se juntando com o ser humano mais desprezível que já tinha entrado em nossas vidas.

Ben era aquele tipo de cara que na frente de todos parecia um anjo, e só mostrou quem ele era de verdade depois de quase um ano. O lado bom foi eu ter percebido como ele era antes que fosse tarde demais, eu nunca havia deixado homem algum mandar em mim e ele achou que com ele fosse ser diferente. Percebi suas intenções e antes que eu pudesse dar um basta na situação, ele inventou uma história sem pé nem cabeça. Saiu espalhando para os amigos que tinha me deixado porque eu não prestava e que eu tinha o traído mais de uma vez, o que era mentira.

A situação só doeu em mim pelo fato de ser muito mal vista por todo mundo, meus vizinhos cochichavam quando me viam passar na rua e com certeza eu fui a última a saber o motivo. É até justificável ser julgada por ser quem você é, mas a história saiu do meu controle quando descobri que o motivo do meu carro estar sujo de ovos e farinha quase todas as manhãs nem mesmo era um motivo real.

Ben era o tipo "amigo da vizinhança" e eu nunca fui muito boa em fazer amizade com pessoas mais velhas que eu. Alem de disso, não me interessava em ser amiga de vizinhos, em sua maioria adolescentes. Ben conseguiu contar a sua versão da história bem antes que eu pudesse imaginar que teria que tentar provar a minha e isso é motivo para qualquer uma surtar.

Decidi deixar Ben para trás, mesmo com sua versão idiota da história, não o procurei e nem senti falta. Mas como nada acontece como planejado, Ben começou a frequentar minha casa e me ameaçar. Perdi meu emprego em Miami por causa dele e meus pais acharam melhor eu me mudar para um lugar que ele não me achasse. Foi então que eu e Ashley conversamos e achamos melhor que ela viesse morar comigo e aquela tinha sido a melhor decisão que eu havia tomado na vida, embora meu pai não aprovasse tanto assim.

Eu só não imaginava que depois de tudo isso, Nash ainda causaria problemas saindo com Ben.

Liguei para o Cameron cancelando a nossa comemoração. Que tipo de pessoa eu seria se ficasse comemorando enquanto meu irmão estava solto por aí com um desequilibrado?

Depois de descontar toda minha raiva em exercícios físicos, voltei pra casa e tomei um banho demorado.

- Que cara é essa?

- Adivinha? Nash fugiu com Ben e ninguém consegue falar com ele.

- Aquele pirralho se comporta como se fosse criança. O tio Jason devia dar uns tapas na cabeça dele, pra ver se o cérebro começa a funcionar.

- Meu Deus, Ashley. Você só pensa em bater.

Por mais que eu tentasse, era em vão tentar convencer Ashley de que violência não era a reposta para tudo. Ainda mais quando os envolvidos não estavam presentes.

- Ele merece! Sou contra essa ideia de que bater não é a solução. Aquela surra que você levou por destruir minha Baby Alive foi tão inesquecível que você nunca mais chegou perto das minhas coisas.

Aquele assunto era um ponto sensível. Me lembro bem de como Ashley parecia feliz por me ver sendo punida por um acidente. E alguns anos depois, descobri que a boneca que quebrei na verdade era a minha, e que ela tinha trocado as roupas e me dado a dela, porque queria a mais nova. E eu que nunca fui muito interessada em brincar de casinha, não me toquei até tentar encaixar um brinco e ver que a orelha da minha boneca "não estava mais furada" e perceber que um furo tinha aparecido na boneca dela.

- Primeiro ele tem que ser encontrado, depois a gente pensa no que fazer - Falei.

- A gente?

- É, meu pai acha que eles estão vindo pra cá.

- Se aquele maldito aparecer aqui, eu vou acabar com ele.

- Eu sei que ele é um pirralho sem noção, mas ainda é meu irmão e você não vai falar dele desse jeito. Aliás, você não vai falar com ele caso apareça aqui - Repreendi.

- Estou falando do Ben. E você bem que podia arrumar um namorado pra te defender desse inútil.

- Eu não preciso de homem pra me defender de nada porque não estou correndo perigo nenhum. E também não quero saber de namorado.

- Sexo sem compromisso?

- Pelo amor de Deus, meu irmão está perdido, você acha que eu tô pensando em sexo agora? Não quero saber, entendeu? Não quero!

- Não tem hora pra pensar. Ainda mais quando se tem um chefe daqueles e um amigo super gostoso.

- O Cameron?

- Esse mesmo e se você não quiser me avisa, porque eu quero - Ela disse sorrindo.

- Me poupe dessas suas fantasias. Vou tentar falar com meu irmão - Falei entrando no meu quarto enquanto buscava o número de Nash nos contatos.

Tentei pelo menos umas dez vezes mas não obtive resultado algum, o que já estava começando a me assustar e pelo que eu me lembrava, Nash nunca gostou de Ben. Era muito estranho o fato de eles virarem "amigos" depois de eu ter me mudado. Eu não podia ligar para o Ben, senão teria que trocar de linha pela décima vez.

Eu não sabia exatamente o que fazer e passei a noite inteira preocupada com o irresponsável do meu irmão. Quando acordei no dia seguinte tive que esconder minha expressão de cansaço com maquiagem e ao chegar na empresa percebi que não tinha adiantado nada.

- Passou a noite em claro também? - O Sr Mendes perguntou.

- Está tão óbvio assim?

- Está. Problemas de família?

- Sim, como o Sr sabe?

- É muito comum. Se precisar de alguma coisa não tenha vergonha de falar - Ele disse. Pareceu ser sinceramente compreensivo.

- Tudo bem. Obrigada - Dei meu melhor sorriso.

- Sem problemas. Foi uma semana difícil para a empresa também, acabei de chegar da reunião e já estou aqui - Ele disse.

Dei uma rápida olhada para a sua roupa, ele estava todo de social, o que me fazia achar que ele realmente tinha saído de uma reunião mais cedo. Comecei a sentir desconforto só de olhar para aquela roupa, estava calor. Eu estava com uma blusa branca aberta e só de vê-lo de social senti meu corpo esquentar. Peguei o controle do ar-condicionado e abaixei a temperatura sem que ele percebesse.

Mas nada disso mudava o fato de ele estar muito bonito, social caia super bem pra ele.

- Estou tão ruim assim? - Ele perguntou sem tirar os olhos da tela do computador.

- Não... o Sr está ótimo - Falei sem graça.

- Obrigado. Você também está, valeu à pena tirar a regra dos uniformes para esse setor, acho que estamos todos mais à vontade com nossas próprias roupas - Ele disse.

É claro que aquilo não era um flerte e não havia maldade alguma em sua fala. Ele com certeza retribuiu o elogio por pura educação.

E como nem tudo era um mar de rosas, Diana apareceu, mas dessa vez ela me ignorou completamente.

- Com licença Sr Mendes. Vim devolver isso, o Sr deixou no meu quarto do hotel - Ela disse mostrando uma gravata preta, que por sinal parecia valer bem mais que a minha casa inteira.

Percebi que seu pescoço estava com marcas roxas. Com certeza viagem a trabalho tinha sido bem divertida para os dois. E a minha dúvida sobre o que havia entre os dois tinha sido cessada. Tudo se explicava, o bom humor após voltar de viagem, a educação ao responder meus e-mails. Achei um pouco exagerado. Nada saiu natural.

- Diana... - Ele começou a falar mas ela interrompeu.

- Não se preocupe, eu coloco pra você - Ela disse enquanto dava a volta pela mesa e em seguida sentou no colo dele.

- Diana, o que você está fazendo? - Ele perguntou. Seu rosto estava ficando vermelho.

Eu não sabia se saia de lá e deixava os dois curtirem sozinhos ou se continuava fazendo o meu trabalho.

- Saia de cima de mim, Diana - Ele disse afastando-a.

- É claro, não estamos sozinhos. Tinha me esquecido.

- Estou no trabalho e exijo respeito. Você não vai poder ultrapassar os limites para sempre. - Ele falou, e eu nunca o vi tão sério.

- Limites... ontem você não disse isso quando foi me procurar no meu quarto do hotel - Ela só disse aquilo para eu ter certeza do que havia acontecido entre eles. Mas para o azar dela, eu já sabia e não me importava.

- Já chega Diana. Fora da minha sala! - Ele vociferou.

Diana não pensou duas vezes e seguiu suas ordens.

- Me desculpa por isso e...

- Eu não vi nada. Aconteceu alguma coisa? - Perguntei fingindo.

Apesar de gostar de uma boa fofoca, eu não queria ser linguaruda, ainda mais quando o assunto era sobre Diana. Tudo perdia a graça quando era sobre ela.

- Se a imprensa ficar sabendo disso eu vou sujar o nome da empresa e acabar com tudo que meu pai construiu - Ele disse preocupado - Eu devia saber que tudo o que ela quer é subir de cargo. Não deve ter conseguido arrancar do meu pai e agora está tentando comigo.

- Eu não vou contar nada pra imprensa.

Em primeiro lugar, eu não tinha a coragem necessária. E em segundo lugar, imprensa correndo atrás do chefe significaria imprensa me dando mais trabalho, algumas reuniões para marcar, outras para cancelar. Shawn Mendes estava ficando cada vez mais popular, mas não pelo trabalho. Pela beleza. As pessoas queriam ele para entrevistas exclusivas e eu era a responsável por organizar horários que ele já não tinha disponível. E se alguma noticia daquele tipo vazasse, Diana teria toda a atenção que estava querendo chamar, e eu faria de tudo para evitar que ela conseguisse esse destaque não merecido.

- Muito obrigado. Se eu puder te recompensar por isso...

- Na verdade pode... eu não queria pedir, mas é que isso está quase me matando. Preciso ligar para o meu irmão e saber se ele está bem. Problemas familiares que eu prometo que nunca mais vão interferir no meu trabalho. Eu juro que vou tentar não demorar.

- Te dou trinta minutos. Boa sorte - Foi a última coisa que ele disse antes de eu sair praticamente correndo pela porta.

E como eu imaginava, ela estava nos ouvindo atras da porta.

- Escuta aqui, eu acho bom você ficar longe do meu caminho. Você sabe que acabou de nos atrapalhar. Eu estava quase conseguindo o que eu queria e você apareceu com essa cara de mocinha. Mas eu preciso dele, entendeu? Você começou tomando a minha mesa na sala dele e o que mais vai tirar de mim? Ele é meu, você entende?

Aquilo não era o suficiente para me assustar. Não quando eu estava passando por uma situação familiar tão complicada.

Meu irmão estava desaparecido por quase vinte e quatro horas, Diana achava mesmo que eu estava me importando com uma história qualquer que ela havia criado sem nenhuma fundamento?

- Eu já disse uma vez e não quero ter que repetir; eu estou aqui pelo trabalho. Pouco me importa se vocês são um casal. Contanto que o salário esteja caindo na minha conta, vocês podem fazer o que quiserem, eu não me importo - Falei tentando sair. Mas ela entrou na minha frente e segurou meu braço.

O olhar dela era completamente vazio. Parecia que não fazia ideia de que aquilo estava sendo filmado e que apertar o braço de alguém com tanta força era agressão. Manuel Mendes estando lá ou não, teria que demiti-la caso eu fizesse uma denúncia.

- Você está me machucando - Falei.

Aquilo pareceu um impulso para ela apertar meu braço com mais força. Senti unhas enormes cravando em meu braço, mas não fiz nenhuma expressão de dor, embora estivesse me cortando.

- São dez da manhã. Você tem até às quatro para pedir demissão, ou eu vou ter que tomar medidas drásticas, assim como fiz com as outras.

Se tudo o que ela tinha feito até agora não fazia parte das medidas drásticas, qual seria o limite?

Ela com certeza não estava falando sério. Só estava tentando me assustar e escolheu uma péssima hora. Naquele momento, eu só tinha um medo e não tinha nada a ver com as ameaças dela.

Decidi que era hora de um contra-ataque inofensivo. Minhas palavras eram vazias e desastradas.

- Você só me conhece a uma semana, Diana. Não sabe do que eu sou capaz. Quer jogar sujo? Então se prepare, porque eu nunca saio perdendo - Falei me soltando de suas mãos e seguindo meu caminho para o elevador. Mas ela me seguiu.

- Isso não é sobre você e muito menos sobre mim. Não quero ter que fazer nada com você, garota. Isso é maior do que nós duas e sua vaga de secretária. Entenda o que eu te disse antes e faça o que eu mandei.

Como poderia não ser sobre mim?

Era fácil dizer que não era sobre mim depois de arrancar meu espelho retrovisor, alterar um e-mail importante, apertar o meu braço e me ameaçar. Aquilo tinha ficado extremamente pessoal.

- Guarde a porra da sua ameaça para outra pessoa. Eu não tenho medo de você.

Deixei o elevador fechar e respirei fundo. Estava um pouco assustada, mas não queria que ninguém me visse daquele jeito. Também não queria que Diana ou nenhum outro funcionário escutasse minha conversa, então eu fui para o estacionamento.

Liguei pro Nash com o ID bloqueado e ele atendeu no primeiro toque.

- Seu irresponsável, onde é que você está?

"Eu acabei de chegar em casa, eu estava com a polícia, Ben se descontrolou e disse que estava indo atrás de você, ele me obrigou a ir junto mas eu o levei para o endereço errado. Mamãe acabou de ir na delegacia prestar queixa"

- Nash, se você estiver mentindo eu juro que vou arrancar seu pescoço.

"Por que eu sairia com ele? Eu não gosto dele. Não queria que ele chegasse até vocês. Ele estava muito drogado e... espera, você devia estar no novo trabalho agora, não é?"

- Eu estou. Só parei para tentar te ligar porque estou assustada e preocupada com você.

"Está tudo bem, Laur. Volte pro trabalho. Eu preço pra mamãe te ligar hoje à noite"

- Certo. Vê se cria juízo, porra. Eu amo você.

"Para de ser melosa, também te amo."

Depois de falar com Nash, liguei para Ashley para avisar que estava tudo bem com ele e contei o que havia acontecido.

"Eu já te falei, o cara é tudo que ela quer, seduz ele"

- Eu estou com tanta raiva que é capaz de eu fazer isso mesmo. Só não é isso que ela quer. Ela deixou subentendido, precisa dele para alguma coisa e secretárias atrapalham o que quer que ela esteja tentando fazer, que obviamente não é o que a gente estava pensando.

"Pouco me importa o que ela quer, só não deixe ela conseguir. Vai com tudo pra cima dele e acaba com isso. Agora eu tenho que voltar ao trabalho, a gente se fala depois"

Antes de entrar na sala, percebi que o Sr Mendes conversava com Diana, a porta estava entreaberta e dava para escutar ela tentando se desculpar por alguma coisa que tinha feito.

Entrei sem ao menos bater, afinal, aquela era minha sala também.

Diana estava com uma bandeja e nela haviam dois copos de café, com certeza comprados na cafeteria do outro lado da rua já que eu reconheci o logo.

- Diana, eu não posso aceitar, foi uma falta de respeito e meu pai vai ficar sabendo - Sr Mendes disse. Eu ainda não sabia exatamente sobre o que eles estavam falando, tinha chegado tarde demais.

- É tudo culpa dela, não é? - Ela perguntou apontando para mim quando me viu na porta.

Me assustei com o tamanho das unhas. Todas devidamente pintadas e bem pontudas. Eu não tinha reparado antes o quão afiadas eram, ela poderia rasgar qualquer coisa.

- Ela não fez nada. Foi você quem faltou com respeito comigo.

Diana pensou por alguns segundos.

- Claro, você tem razão. Foi completamente desonesto da minha parte.

Claro que eu não acreditei. Ela era falsa e meticulosa. Dava para ver no rosto de Shawn que ele não acreditava em nada do que ela estava dizendo.

- Trouxe um café para a srta Portman, como meu pedido de desculpas.

Ergui uma sobrancelha. Quase não acreditava que ela teria a coragem de fazer a linha arrependida na frente dele.

E antes que eu pudesse falar alguma coisa ela abriu os dois copos de café quente e veio caminhando em minha direção. Em seguida, fingiu um tropeço.

Não deu tempo de fazer muita coisa, me atrapalhei quando tentei desviar e acabei indo em direção ao copos.

- Eu te avisei - Ela disse sem deixar sair um único som.

Senti minha pele queimar por causa do líquido e meu primeiro impulso foi tentar descolar a blusa do corpo. Agora já não adiantava mais nada. Minha blusa estava transparente.

- Meu Deus. Me desculpe, srta Portman, eu sou tao desastrada. Deve estar quente demais pra você - Ela perguntou sarcástica - Eu te ajudo.

Em seguida, pegou o jarro de água gelada e ameaçou jogar em mim. Tentei segurar o braço dela mas foi em vão. Recebi quase um litro de água gelada na cabeça e o líquido se espalhou pelo meu corpo e molhou o restante.

Para Diana, aquilo não tinha sido humilhação o suficiente. Enquanto ela fingia que tentava me ajudar, a unha dela acabou enganchada em uma parte da minha blusa. Mas ela ainda não estava satisfeita com todo o show que tinha dado e simplesmente usou as duas mãos para puxar a gola da minha blusa, rasgando no meio.

Enquanto eu me mexia para tentar cobrir o que precisava, o fecho frontal do meu sutiã abriu.

O circo de Diana estava armado.

Naquele momento eu estava suja de café, encharcada de água gelada e com os seios totalmente à mostra na frente do meu chefe, que estava de boca aberta.

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