25
No dia seguinte falamos pouco sobre a carta deixada e também não comentamos nada com Ashley ou Aaron. Shawn preferiu acreditar que aquilo era algum tipo de trote feito por alguém que queria me assustar, mas algo dentro de mim não me deixava acreditar que tinha sido apenas uma brincadeira e tinha a certeza absoluta de que esse anônimo não era o terceiro homem envolvido no sequestro.
Shawn e eu estávamos em um momento delicado, passamos bastante tempo tentando entender um ao outro, mas nada era tão fácil quanto parecia, aquilo levaria tempo mas estávamos dispostos a fazer alguns esforços para tentar acabar com os desentendimentos.
— Começou a chover muito forte, vamos ter problemas para sair daqui — falei.
Estávamos no supermercado fazendo as compras, não planejamos comprar muitas coisas pois Shawn não tinha certeza de quanto tempo ainda ficaríamos na casa.
— Ou podemos esperar a chuva passar.
— E vamos passar o dia inteiro aqui?
— É claro que não, isso não vai durar o dia inteiro — Decidi não perguntar mais nada e deixa-lo com seu bom humor.
Pegamos o necessário e voltamos correndo para o carro. Ficaria difícil para dirigir naquele temporal, então esperaríamos no estacionamento.
— Por que você não me falou que seu aniversário é amanhã? — Shawn me perguntou. Ele passou a manhã inteira inquieto, e com certeza estava querendo me perguntar isso há bastante tempo.
Não achei que fosse necessário, nós tínhamos outros problemas maiores para resolver, não dava para esquecer de tudo e simplesmente dar uma festa.
— Com toda essa correria eu acabei esquecendo — em partes eu estava falando a verdade, mas eu não estava com paciência para o péssimo humor daquele homem, então resolvi não dar muitas explicações — Não acho que isso seja tão importante.
— Lauren, é o seu aniversário, claro que é importante.
— Ficar velha não é bem um motivo para comemoração.
— É o seu dia... é importante para mim — ele disse parecendo mais calmo do que antes.
— Nem pense em fazer festa. É por isso que eu odeio contar às pessoas, não sou muito fã de surpresas.
— Eu sei disso, e só pra constar, já sabia há muito tempo, só estava esperando você abrir o jogo, só agora vi que não ia acontecer é que se dependesse de você ele passaria em branco. Ainda bem que eu planejo tudo antes.
Eu estava torcendo para que ele não realizasse uma festa, o clima entre nós dois estava muito bom e passar meu aniversário só com ele já seria uma ótima ideia.
— Me diz que você não planejou uma festa...
— É claro que não. Pouca gente sabe que estamos em Londres, não quero chamar atenção.
— Ótimo, podemos ir?
Shawn dirigiu tão devagar que se apostasse corrida com um patinete, ele com certeza perderia.
— Como é que eu vou entrar na casa sem me molhar?
— Shawn Mendes tem medo de água, isso é novidade para mim — Falei abrindo a porta e saindo do carro enfrentando a tempestade.
Pegamos o máximo de sacolas que pudemos e saímos correndo até a entrada. Tocamos a campainha e não fez barulho algum.
– Queda de energia, acontece quando chove tanto assim — Shawn disse.
— Droga! Não acredito.
— Você tem medo do escuro, isso é novidade para mim.
— Eu não sou a maior fã... não depois do que aconteceu.
— Me desculpe, eu não queria...
— Está tudo bem, Shawn. De verdade.
Entramos na casa, Ashley estava no quarto e logo desceu.
— Vocês estão horríveis!
— Obrigado por comentar o óbvio... aliás, você bem que podia trazer toalhas, senão nós vamos molhar a casa toda — Shawn respondeu enquanto tirava a camiseta ensopada.
— Não quer tirar a parte de baixo também? — ela perguntou — Vai ficar interessante.
— Interessante para quem?
— Para quem quiser ver — Ashley respondeu.
— Ele não quer, e é melhor você subir —falei.
— Eu já ia subir e não precisa sentir ciúmes disso aí perto de mim.
— Não é ciúme.
— Ah, então tá — Ela ironizou — Antes que eu me esqueça, chegou uma carta para vocês dois.
Ela entregou a carta ao Shawn, provavelmente por que ele é o dono da casa, e o mesmo abriu e leu a carta sozinho.
— De quem é? — Perguntei
Tinha o direito de saber, já que tinha meu nome envolvido nela.
— De ninguém importante — Ele respondeu enquanto deixava a carta em pedacinhos.
— Ei, eu queria ler.
— Não é nada importante, esquece isso. É melhor se trocar, vai acabar pegando um um resfriado — Shawn subiu as escadas sem se importar com o fato de estar molhando a casa inteira.
— Eu tenho o direito de saber, é da mesma pessoa de ontem?
— Já te falei, esquece isso.
Subi as atrás dele, a porta do quarto estava fechada.
— O que tem de errado com vocês dois? Não conseguem ficar um minuto em paz? — Ashley perguntou.
— Claro que não conseguimos, Ashley. E você não vê que só está piorando as coisas?
— Eu não estou vendo e nem quero ver, só espero que vocês se resolvam de uma vez por que isso está chato demais, até para quem presencia por fora desse drama.
— Seria bom se ele me escutasse, para variar.
Bati na porta algumas vezes.
— Estou me trocando — Ele disse do outro lado.
— Ah, é sério isso?
Parecia ter se esquecido de quantas vezes já tínhamos ficado sem roupa um na frente do outro.
O andar de cima parecia três vezes mais escuro do que o andar de baixo e aquilo estava começando a me dar alguns arrepios.
Ele abriu a porta e logo tentou se explicar.
— Eu não quero que você se preocupe com isso, está bem?
— O que estava escrito?
— Mais ameaças... eu quero deixar você fora disso, vou arrumar um jeito.
— Para quem era a carta de ontem?
— Para nós dois.
— Não estava no plural. Foi endereçada para nós dois, mas estavam falando com uma pessoa só. Era comigo, não era?
— Eu não sei, aquela carta não faz sentido. Só pode ser uma brincadeira de mau gosto e eu juro que se for Ashley eu vou... Esquece, melhor trocar de roupa, enquanto isso eu acendo as velas.
Ficar argumentando não adiantaria em nada, Shawn era decidido e se sua decisão foi não me contar, então ele realmente não contaria, independente de quantas vezes eu perguntasse. Apenas troquei minha roupa e fiquei desejando que ele voltasse logo.
Estar sozinha no escuro me trazia péssimas lembranças, Cameron e Sierra pegaram pesado. Eu sabia que os dois preferiam me torturar psicologicamente, e eu podia sentir que eles conseguiram.
Corri para o quarto de Ashley.
— Você anda muito quieta esses dias... Por favor, me diz que não tem nada a ver com o meu aniversário.
— É óbvio que não, eu sei que você não gosta dessas coisas, por que eu faria?
— Porque você é Ashley Portman e não está nem aí para os meus gostos.
— Isso é verdade, mas dessa vez você está enganada...
— É o que eu espero.
Barulhos de trovão faziam com que eu me assustasse constantemente, fiquei feliz por Ashley não ter percebido, seria péssimo ter que lidar com ela rindo da minha cara naquele momento.
— Vocês se acertaram?
Durante os cinco minutos sim, mas logo quando Shawn voltasse começaria tudo outra vez.
— Lidar com ele é bem mais complicado do que você imagina, mas acho que estamos nos entendendo.
Ashley respirou fundo, como quem segurava para não falar besteira.
— O que foi?
— Lauren, não é nada complicado, ok? Vocês estão dificultando as coisas um para o outro, pronto, é isso que eu percebo.
Talvez ela estivesse certa. Bom, acho que pela primeira vez, ela estava certa.
— Você está ficando trouxa, nunca pensei que um homem seria capaz de mexer tanto com a sua cabeça. Independente de ser Shawn Mendes ou não.
— Obrigada por essa — Ironizei.
— Odeio ter que me intrometer na sua vida, mas você está pedindo.
— Já entendi, obrigada.
Ashley resolveu tirar os últimos dias para acabar comigo, literalmente. Parecia maldade, mas no final ela estava sempre certa.
— Ah, e aquela brincadeira com o Shawn lá embaixo, não leve à sério. Ele é bem gostoso, mas não faz o meu tipo.
— E o Aaron faz?
— Aaron foi uma exceção, eu gosto mais do tipo criminoso — ela disse, fazendo piadas sobre seu caso com Cameron.
— Nem me lembre disso, só de imaginar que eu te apresentei uma pessoa não nojenta me dá vontade de me jogar de um prédio.
— Estou brincando, ainda vou descobrir qual é a do Aaron.
Ouvimos batidas na porta e logo Shawn apareceu com duas velas.
— Eu trouxe para você também, caso tenha medo do escuro — ele disse para Ashley.
— Que cavalheiro, tem certeza que não tem nenhuma armadilha aí? Não vai por fogo no quarto?
— Eu sairia no prejuízo. São só duas velas.
— Eu não confio em você, quem me garante que o quarto não vai começar a pegar fogo quando você sair daqui?
— Você está comigo em outro país, Portman. Se isso não é confiança então me diz o que é.
— Não me chame de "Portman". Isso soa horrível vindo de você.
Os dois não parariam até aquilo terminar em briga, então resolvi tirar Shawn dali antes que fosse tarde.
— Vamos — puxei-o pela mão — Pensei que vocês dois tinham estendido a bandeira branca.
— Foi ela quem começou.
— Eu ainda nem tive filhos e já estou cuidando de duas crianças — Respondi revirando os olhos.
— É o que se ganha por ter uma prima dessas.
— O que é isso em cima da cama? — perguntei ao entramos no "nosso" quarto e avistar uma mesinha.
— Eu fiz chá, e ainda bem que fiz, porque você está muito gelada.
— Obrigada, mas não acho que isso vá me ajudar — Falei caminhando até a xícara quente.
— Ficou bom? — ele perguntou assim que eu experimentei.
Estava ótimo.
— Meu preferido.
Ele deitou na cama e me convidou para deitar quando terminasse meu chá.
— Só para deixar claro, não estava nervoso com você, eu só... não queria te envolver tanto nessa história e agora você também está sendo ameaçada.
— Foi aquela maldita carta, não foi?
Ele apenas assentiu.
— O que tinha nela que te deixou desse jeito?
— Acho que quanto menos você souber, melhor. E eu não quero ficar pensando nisso. Ainda acho que é uma brincadeira de mau gosto da sua prima.
— Tudo bem, não vou insistir. E para ser sincera, também acredito na possibilidade de ser Ashley tentando me assustar. Mas como você disse, não vamos pensar muito nisso.
Bebi meu chá em silêncio. Eu não poderia me envolver tanto com os assuntos da empresa, eu era apenas uma secretária com benefícios e nada fora do meu trabalho me dizia respeito.
— O que vamos fazer pelo resto do dia? Está caindo um temporal lá fora... Ash ligou para a central de energia e disseram que não tem previsão para a volta —coloquei a xícara vazia de volta de mesinha.
— Eu vou levar isso lá embaixo — Shawn disse.
— Deixa isso para depois — Falei, empurrando a mesinha para um canto do quarto.
— Não temos televisão, Wi-Fi, celular está descarregado... Nunca pensei que ia chover tanto essa época e... Nossa, sua mão está muito gelada — Ele disse, quando encostou em meus dedos acidentalmente.
— Você se preocupa demais, sabia?
Beijei a bochecha dele e fiz um caminho de beijos curtos até a boca, onde beijei por tanto tempo que acabei perdendo a noção da realidade. Era assim que eu me sentia quando estava com Shawn Mendes.
Ele ficou por cima de mim, ainda com o cobertor para nos esquentar, abri minhas pernas e deixei que ele ficasse no meio delas. Quando voltou a me beijar, as mãos dele tocavam meu corpo com delicadeza, mas ainda assim era firme. A temperatura do meu corpo começava a subir aos poucos, conforme ele me tocava e beijava meu pescoço, só tirei o moletom quando achei que estava prestes a pegar fogo.
Fiquei nua na parte de cima, completamente exposta e pronta para sentir o corpo dele colado ao meu. Shawn não demorou para tirar a camiseta e deitar sobre mim novamente. O corpo dele estava quente, eu conseguia sentir quando meus mamilos roçavam seu peito, nessa hora, ele achou melhor se livrar do edredom que nos tirava a liberdade. Era estranho, agora que cada um de nós sabia o que queria e o que esperar um do outro. Mas pela primeira vez, senti que Shawn realmente desejava algo além do meu corpo, ele queria estar ali comigo e quando tudo acabou, não me sentia vazia. Também não tive aquela sensação que dizia "Pronto, agora que terminamos eu posso ir para casa", eu queria estar ali, queria deixar transparecer o que eu estava sentindo e parar de tentar evitar.
Esquecemos todos os problemas e ignoramos qualquer barulho que não viesse da nossa bolha. Nada poderia estragar o que criamos ali e aquele momento jamais seria esquecido por mim. Fizemos tudo de novo e de novo, até nos cansarmos e finalmente pegarmos no sonho. Tudo estava tranquilo, exatamente como era para ser.
*************************
Acordei cedo no dia seguinte, pelo fato de ter dormido cedo demais.
Tateei a cama à procura do Shawn, mas o lugar ao meu lado estava ocupado por algo diferente. Me virei para olhar direito e dei de cara com uma das minhas coisas favoritas, um buquê de girassóis.
Segurei-o com as minhas duas mãos e ao sentir o aroma das flores, sorri feito boba e imaginei que tivesse o dedo de Ashley nisso.
Ele tinha deixado um vaso em cima da mesa de cabeceira, para que eu pudesse colocar o buquê, e assim fiz.
Chequei o disjuntor para saber se a energia tinha voltado e logo em seguida, tomei um banho. Não demorei muito.
— Feliz aniversário!! — Ashley entrou no quarto gritando e saltitando.
— Você me assustou — falei enquanto ela me abraçava forte.
— Seu presente ficou em L.A, mas assim que voltarmos eu te entrego. Você não vai saber o que é porque eu não vou abrir minha boca dessa vez, nem adianta.
Ashley não parava de falar um segundo sequer desde o minuto em que entrou pela porta do quarto.
— Quem deixou aquilo? — ela perguntou — Esquece, só tem três pessoas aqui, e com certeza não fui eu.
— Não se finja, eu sei que foi você quem disse à ele sobre minha queda por girassóis.
— Bem que eu gostaria, mas se eu tivesse envolvida com isso seu presente seria um carro novo ou algo do tipo. Então ele é bom para adivinhar as coisas também porque eu não contei nada, e por falar nisso, cadê ele? Não deveria estar aqui? — Ela disse tudo de uma vez, sem respirar.
— Deve ter saído.
— Que seja, vamos descer porque estou morrendo de fome.
Descemos as escadas juntas e tivemos a maior surpresa quando chegamos na cozinha.
— Uau! Tudo isso é pra mim? — Ashley perguntou ao ver uma mesa de café da manhã farta, decorada e muito delicada.
— É claro que não — Shawn respondeu quando nos viu. Ele logo caminhou até mim com um belo sorriso no rosto, em seguida me abraçou — Feliz aniversário.
— Só isso? Não vai rolar nem um beijo daqueles? — Ashley atiçou —Achei que você fosse melhor.
— Da próxima vez eu vou construir um muro entre você e nós dois — ele respondeu à ela me fazendo rir.
— Só não te mato por que hoje é o dia dela e eu quero vê-la feliz. Mas depois da meia-noite você não me escapa — Ela disse, sentando em uma das cadeiras.
Me sentei ao lado de Shawn que servia o café da manhã para nós duas, vez ou outra Ashley soltava algumas piadinhas para irritá-lo, mas até que ele estava se saindo bem em não perder a cabeça tão cedo.
— E então? O que você quer fazer durante o resto do dia? — Shawn perguntou.
Eu ainda não tinha pensado nada à respeito, eu nem sequer comemoraria se os dois não estivessem tão empolgados.
— Não sei direito. Eu faço qualquer coisa, por tanto que vocês estejam comigo e não se matem.
— Ela quer se encher de porcaria no McDonalds — Ashley sugeriu.
Até que era uma ótima ideia. Passar aqueles dias com Shawn estava me deixando saudável até demais. Quer dizer, tirando o dia da pizza que veio com um recadinho malvado.
— Eu adoraria fazer isso. A noite podemos fazer alguma coisa que você queira — Eu disse ao Shawn.
— Ah, querida... Se eu fosse você eu não ia sugerir nada disso — Ashley respondeu.
— Nós poderíamos apresentar aquele restaurante pra Ashley, ou ir na London Eye novamente.
— Comer é comigo mesma, mas acho que Aaron devia ir com a gente. Se vocês pensam que eu vou servir de babá pro casalzinho, estão enganados.
— Tudo bem para você se ele for?
— Claro — Respondi de imediato.
Estava mentindo. Aquilo era uma péssima ideia e Ashley sabia disso.
**************
Nós acabamos mudando os planos por pelo menos cinco vezes durante a tarde, e resolvemos ir no restaurante italiano outra vez.
— Boa noite, sejam bem vindos — Disse uma moça simpática ao nos atender.
— Pelo menos dessa vez é uma mulher — Shawn disse referindo-se à última vez que estivemos lá.
— Do que estão falando?
— Nem queira saber, Ash. Sua prima fez a gente passar vergonha da última vez que estivemos aqui — Ele respondeu.
— Mas pelo menos funcionou, não foi?
Não sei o que ela quis dizer com isso. Olhava diretamente para Shawn.
— Seus pais te desejaram feliz aniversário? — Ela perguntou enquanto sentávamos.
— Sim, mas não estavam muito animados. Eu peguei pesado com eles da última vez, o único que realmente me entendeu foi Nash, como sempre o mais adulto daquela casa.
— Eles mereceram, estão iguaizinhos aos meus pais, por isso eu prefiro ficar distante.
Percebi que Aaron estava um pouco desconfortável com aquela situação, talvez pelo fato de tudo aquilo parecer mais um com um encontro de casais do que com meu aniversário. Achei melhor ignorar esse fato e dei um toque para Ashley.
— Preciso de ajuda com uma coisa, você pode vir comigo? — Ela perguntou a ele que logo aceitou.
Assim que saíram, imaginei que Ashley faria Aaron voltar com outra expressão, ela sempre fazia de tudo para deixar todos o mais confortável possível diante de qualquer situação, apostei que com ele não seria diferente. Ela usaria suas "cartas" e ele voltaria sorrindo.
Com os olhos, segui o caminho que Ashley fez e reparei que o restaurante tinha isolado a parte artística. Os quadros agora ficavam em uma sala separada com paredes de vidro. Mas tinha algo ali que eu notei logo de cara.
— Está faltando um quadro ali.
— Aonde?
Apontei com o dedo para a parte vazia.
— Aquele quadro amarelo.
— Ah sim, alguém deve ter comprado. Isso não é só uma exposição, os quadros estão à venda. Se você reparar bem, tem quadros que foram substituídos por outros.
Fiquei reparando e ele tinha razão. Tinha três quadros diferentes ali, eram muito bonitos, mas infelizmente o meu favorito já não estava mais lá. Mas ainda assim, eram todos muito bonitos.
Shawn e eu ficaríamos sozinhos por alguns minutos e eu aproveitei a situação para falar com ele.
— Obrigada.
— Pelo quê, exatamente?
— Por tudo. Hoje foi um dos melhores aniversários da minha vida.
Eu não estava exagerando, enquanto morava com os meus pais, minha mãe fazia meus aniversários ficaram piores a cada ano.
— Tentei parecer o mais romântico possível, ainda vou melhorar — Ele disse rindo.
Shawn tinha um corpo escultural, e isso não tinha quem contestasse como negar. Mas nada conseguia superar o sorriso maravilhoso que aquele homem possuía, era simplesmente uma das melhores coisas para ficar admirando.
— Por que você está me olhando desse jeito? — Ele perguntou sem graça, e só então eu percebi que estava encarando-o por muito tempo.
— Nada demais, eu só estou muito feliz de estar aqui hoje. Eu definitivamente amo tudo nesse lugar.
— Então eu posso dizer que consegui alcançar meu objetivo — ele disse ainda sorrindo.
Meu primeiro impulso foi
beijá-lo, era tudo que estávamos evitando fazer em público durante o dia. As crianças londrinas eram bem raivosas.
Uma vez, Cameron me disse que Shawn se fingia de durão o tempo todo, mas por dentro era uma pessoa maravilhosa. Eu tinha certeza de que essa foi a única coisa verdadeira que saiu daquela boca.
Assim que nos afastamos, senti algo vibrar e tocar ao mesmo tempo em cima da nossa mesa.
— Pode atender se quiser.
— É o da Ashley — Eu disse e deixei tocando.
Ele tocou diversas vezes seguidas e eu não me atrevi a mexer, mesmo sabendo que se fosse o meu celular Ashley faria exatamente o contrário.
— Porcaria de toque — Shawn resmungou — As pessoas estão começando nos encarar.
— Ela já está vindo — Respondi ao avistar os dois saírem de um corredor. Pude imaginar que estavam no banheiro.
— Você estava de batom da última vez que eu te vi — Shawn disse.
— Esse é o legal de usar batons, você pode tirar quando não quiser mais usar. Ninguém usaria se fosse permanente.
Olhei para Aaron que parecia melhor do que antes, como eu imaginei que ele voltaria.
— Ei... tá sujinho aqui — Falei com ele enquanto apontava para o meu pescoço.
— Vocês não aprenderam o básico da discrição — Shawn respondeu.
— Querem que sejamos discretos? Iguais a vocês ontem à noite? — Ashley disse me fazendo dar uma cutucada em suas pernas por baixo da mesa — Acho que não sou eu que tenho que aprender o básico da discrição.
— Enfim... seu celular não para de chorar em cima da mesa, acho melhor você atender — Falei para desviar o assunto.
Pouco tempo depois o celular começou a tocar novamente e Ashley finalmente saiu para atender.
— E então, o que vamos pedir? — Aaron tentou puxar assunto.
Ele tinha falado pouco durante o dia.
— Ah, eu comeria qualquer coisa desse lugar. E vocês?
— Ainda não sei, acho melhor esperar a outra voltar, não dá pra pedir sem ela.
— Achei que vocês tinham se acertado —Aaron disse.
— Eu achei que a Lauren fosse complicada, mas aí eu conheci a prima dela que é três vezes mais louca.
Coloquei a mão no peito e fingi estar ofendida.
— Eu sou completamente normal. Não posso dizer por Ashley, mas tenho certeza que eu sou.
Os dois se olharam e começaram a rir.
— Cara, se você visse o que ela fez da última vez que estivemos aqui, mudaria de ideia na mesma hora — Shawn e Aaron finalmente trocaram as primeiras palavras.
— Bom, eu vou me retirar para vocês falarem de mim com mais liberdade —Falei brincando.
— Aonde você vai?
— Chamar a Ashley, ela está demorando demais e eu estou começando a sentir fome.
Fui andando entre as mesas até chegar no corredor dos banheiros onde Ashley estava.
Ela ainda estava no telefone e por sinal, estava bem alterada. De longe, eu conseguia ouvir algumas palavras que ela dizia.
— Não, hoje não vai dar para fazer isso. É o aniversário dela — ela dizia, e eu não tinha razões para acreditar que ela estava falando de outra pessoa.
Me aproximei mais da porta entreaberta e acabei batendo nela sem querer.
— Está ocupado — ela gritou e logo tratou de fechar a porta por inteiro.
Eu não queria chegar questionando e obrigá-la a me dizer com quem estava falando. Mas pensei que talvez, se eu ficasse por mais um minuto conseguiria entender pelo menos um pouco do assunto.
— Não dá para discutir isso agora, eu estou no banheiro de um restaurante, ela pode vir aqui à qualquer momento e a culpa vai ser sua.
Eu sabia que Ashley estava estranha o dia inteiro, mas não imaginava o que isso realmente significava. E também não queria pensar na hipótese de ela ser a pessoa quem enviou a carta anônima.
— Eles estão bem e ela está feliz agora. A Lauren não pode saber disso, muito menos o Shawn. Desculpa mas eu tenho que desligar — ela disse nervosa.
Esperei-a do lado de fora do banheiro e quando ela abriu a porta eu tomei sua frente.
— Ei, há quanto tempo está me esperando? — Ela perguntou.
Estava assustada e não parava de mexer as mãos, gesto típico de quem está mentindo. E além de tudo, completamente sem graça.
Resolvi ser bem direta.
— Há tempo suficiente para ouvir você falando sobre mim... anda, me conte o que você está escondendo!
•••••••••••••••••••••
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top