22

Acordei em um cenário branco, estava sozinha na sala, ou melhor, no quarto do hospital, onde fiquei pelo menos dez minutos sozinha, olhando em volta para ter certeza que tudo aquilo era real. Eu odiava hospitais, mas era bem melhor do que onde eu estava antes.

Quando senti as agulhas conectadas às veias dos meus braços doloridos, dei graças aos céus por não ter visto ou sentido a hora da injeção e acho que tive a minha prova de que aquilo era de verdade, eu estava à salvo no hospital e embora meu impulso fosse arrancar aquelas agulhas do meu braço, fiquei feliz por estar sendo medicada.

Vi que os tubos de medicação estavam vazios e apertei o botão próximo à mim para chamar alguma enfermeira.

Ela caminhou até mim sorrindo e fiquei feliz ao ver Nash e meus pais atrás dela também.

— Como vocês chegaram aqui tão rápido?

— Lauren, querida... que susto você nos deu — meu pai disse segurando em minha mão.

— Eu estou bem, só um pouco cansada.

— Filha, olha para você, eu sabia que era uma das péssima ideia deixar você e Ashley aqui sozinhas.

— Pai, não foi culpa de nenhum de nós. E eu estou bem.

— A culpa é toda daquele cara, não devia ter te deixado sozinha! — meu pai começou a ficar bravo.

Não era culpa do Shawn, totalmente o contrário, Cameron e Sierra eram os responsáveis por tudo. E acima de tudo, Manuel também.

— Eu que expulsei ele da minha casa, Ashley não estava em casa e por isso eu estava sozinha, se for pra jogar a culpa em alguém, esse alguém tem que ser eu.

Eles ficaram em silêncio por algum tempo enquanto observavam as marcas no meu pulso.

Foi aí que me dei conta, Ashley não estava ali.

— Ela está bem, não está?

— Sim, meu amor, ela conseguiu escapar, não se preocupe, estamos todos muito bem.

Eles estavam extremamente preocupados, como eu já esperava, mas tinha algo mais acontecendo ali.

— Parem de me olhar desse jeito, eu já disse que vou ficar bem — falei com o tom mais calmo que pude enquanto escondia meus braços ente o lençol branco do hospital.

— Desculpa, eu só não consigo imaginar como deve ter sido horrível passar por isso —  foi a primeira fala de minha mãe, que logo começou a chorar.

— É melhor a gente não falar sobre isso —eu não queria ter que detalhar o que passei naquele lugar.

— Tudo bem... nós estávamos conversando e achamos melhor você passar um tempo conosco em Miami - minha mãe falou.

— Você quis dizer "com o seu pai"?

— Susan, eu avisei que ela não ia querer — meu pai chamou a atenção dela.

— Eu vou ficar bem aqui, não precisam se preocupar!

A enfermeira colocou dois comprimidos em um copinho e entregou em minha mão. Em seguida, me deu água.

— O que é isso? — perguntei.

— É para dor, você está bem, mas está um pouco fraca, só precisa disso, algumas vitaminas e mais um tempinho de observação. Vou chamar o médico, vocês precisam conversar.

Engoli o remédio, tinha o gosto horrível mas ali eu engoliria qualquer coisa que fizesse aquelas dores passar.

Um alarme soou fraco no quarto que eu estava e por mais que fosse fraco, ainda assim ecoou em minha cabeça.

— Já? — meu pai perguntou.

— O que é isso?

— Tem mais pessoas querendo te ver lá fora, essa é a troca de visitas — a enfermeira respondeu — Mas vão ter que esperar, o médico está vindo para te examinar. Os pais podem ficar para ouvir as recomendações do médico, se quiserem.

Eles assentiram com a cabeça e logo em seguida, o médico entrou sorrindo.

Primeiro me examinou antes de fazer diversas perguntas.

— Você vai ficar bem, vai precisar de muito descanso e paciência com esses hematomas. Não tem nenhuma fratura como pode ver  —  Ele me mostrou uma radiografia, fingi entender e pedi pra ele prosseguir — As feridas que vão te perturbar não são visíveis, Lauren. Você vai precisar tomar a medicação, sim, isso é inegável. Mas acima de tudo, precisará ver um psicólogo, pelo menos até o final desse ano. Isso é normal, todos nós precisamos, mas no seu caso é extremamente necessário.

— Ela vai sim, doutor. Não precisa se preocupar — Minha mãe tomou a frente.

— Descanse mais um pouco, pode ser que você receba alta amanhã a noite. Tem alguma dúvida, ou algo que queria saber?

Fiz que não com a cabeça.

— Certo. Se precisar de mim, peça para os enfermeiros me chamarem. Com licença.

Ele se despediu dos meus pais e saiu. Logo depois, o alerta de fim da visita tocou novamente.

— Estaremos lá fora se precisar de alguma coisa — meu pai disse e em seguida deu um beijo na minha cabeça.

Quando meu pai passou pela porta, o ombro propositalmente dele encontrou o e Shawn que estava querendo entrar.

— Ele me odeia — Shawn disse acariciando seu ombro — Como você está?

— Sinceramente... não sei! Quando eu disse que queria sumir do mundo, não era exatamente disso que eu estava falando — falei fazendo Shawn rir fraco.

Percebi que ele estava com a mesma roupa de quando tinha me resgatado. Tudo bem que minha vista estava embaçada, mas ele era Shawn Mendes, eu não tinha como confundir.

— Nunca mais faça isso comigo, entendeu? Você me deixou muito preocupado, eu estava desesperado por qualquer notícia sua...

— Obrigada pela preocupação. Vou fazer um cartaz pedindo para não me sequestrarem novamente — Esperei ele rir, mas não aconteceu —  Obrigada por não ter desistido. Não sei por onde começar a agradecer, se vocês não tivessem aparecido sabe-se lá o que ia acontecer comigo.

— Agradeça à polícia e Kayla, rastreou as ligações e fez isso de um jeito que nem a polícia conseguiu, só assim eu consegui achar você. Ela se meteu num problemão, está até hoje tendo que explicar para a polícia como foi que conseguiu... Fiquei assustado quando olhei aquele lugar, não consigo imaginar como deve ter sido esses dias.

As pessoas jamais entenderiam que se elas se colocassem em meu lugar não ia fazer com que eu me sentisse melhor. Eu não gostaria que ninguém passasse por aquilo.

— A gente pode não tocar nesse assunto? — Perguntei.

— Só se você prometer que não vai se fechar, porque sua mãe já me avisou que você vai brigar para não ter que ir ao psicólogo e você não precisa sofrer calada, isso tudo é minha culpa.

— É culpa deles! — Falei brava, enquanto tentava me sentar.

Senti um pouco de dor e achei melhor me deitar outra vez.

— Tudo bem, falamos disso depois.

— Você ficou aqui? — Perguntei.

— O tempo todo. Todos nós ficamos, incluindo Aaron, todos ajudaram a achar você, mas o cachorro chegou primeiro. Ele se chama Lótus, a propósito.

— Vocês fizeram um ótimo trabalho, obrigada.

— Provavelmente você sai desse lugar amanhã, espero que esteja pronta para aguentar a imprensa... eles estão cercando o hospital, a empresa e até a sua casa.

— O quê? O que querem comigo?

— Detalhes sobre o caso e o sequestro, mas você não precisar falar nada, só se quiser. Lauren, isso tomou uma proporção tão grande, à ponto de eles acharem que...

— Que o quê?

— Há alguns dias atrás, tinham a certeza de que eu e Aaron tínhamos dado um jeito em você e de uma hora pra outra, parece que a cidade inteira sabia o que a gente tinha, até do meu condomínio deu entrevista sobre o caso.

Achei engraçado, o que ele teria para falar sobre Shawn e eu?

— Eu não quero e não vou falar nada sobre o sequestro, não quero relembrar nada sobre esses dois dias, foram os piores da minha vida.

— Lauren... não foram só dois dias, mas sobre isso conversamos depois. Contratei dois seguranças, nós vamos precisar.

— Nós?

— Seus pais não te contaram? Manuel está sendo investigado pela morte dos pais de Cameron e Sierra, a imprensa está atrás da minha família, principalmente de mim, querem saber como eu vou cuidar de tudo sozinho, se você vai me ajudar. Cada um tem sua teoria aqui, mas é melhor você não dar ouvidos.

— Shawn, não estou pronta para responder nada sobre o que aconteceu e nem estou a fim de receber toda essa atenção.

— Você tem que prestar sua queixa e vai ficar em observação até acharem a terceira pessoa envolvida.

— Ele fugiu? Como deixaram ele fugir?

— Era um homem? Bom, ou eu ia atrás dele ou ia atrás de você e ele não parecia uma opção pra mim.

— Foi ele quem atirou? Alguém se machucou?

— Não houve tiros, o barulho era apenas um oficial que abriu a fechadura, não teria como te tirar de lá se não fosse isso.

Eu não tinha palavras para agradecê-los o suficiente.

— Você realmente pagou 300 mil dólares por mim?

— Era sua vida em jogo e fui eu que te coloquei nisso, era meu dever te tirar de lá, dinheiro não é problema para mim, pagaria o que ele pedisse.

— Se eu soubesse que estava valendo tão bem assim, eu mesma teria me sequestrado — brinquei para aliviar a tensão, mas novamente ele não riu.

— Eu ainda não acredito que Cameron teve a coragem de te machucar — ele disse passando os dedos pelo meu pulso — eles fizeram algo além disso?

— Não... não vamos falar sobre isso, por favor.

— Claro, eu só queria saber de tudo antes que meu horário acabe, só para ter certeza de que você vai ficar bem quando eu sair.

Só de pensar em ficar sozinha novamente me dava um frio na barriga.

— Está tudo bem? — ele perguntou com tom de preocupação.

— Sim, eu só não quero ficar aqui sozinha.

— Tem que esperar os resultados dos exames, precisamos saber se você realmente está bem, só assim poderá ir pra casa. Eles não vão me deixar dormir aqui de novo.

— Eu estou bem, juro. Não quero ficar aqui sozinha.

— Te entendo, também não gosto desse lugar, mas é o melhor para você.

— O quê?

— Vou conversar com o médico, à pedido de sua mãe. Ela quer que eu saiba de tudo antes de você ter alta.

Ele beijou minha testa algumas vezes antes de sair.

Não demorou muito tempo até Ashley entrar correndo. Estava com um curativo no cotovelo esquerdo e com um pequeno corte na boca.

— Quando esses idiotas vão aprender que você é imortal? — ela disse me abraçando enquanto sorríamos — Como você está?

— Depois desse abraço, um pouco mais dolorida.

— Me desculpe, eu estava tão nervosa por você. Shawn disse para eu não me preocupar e descansar, mas eu precisava ver como você está.

— Melhor do que o esperado.

— Droga, essas marcas no seu pulso... Se um dia eu encontrar Cameron, vou enforcá-lo com as cordas que ele fez isso. Oh meu Deus! É tudo culpa minha, todas as vezes que você tentava me avisar eu brigava com você...

Eu queria muito ver Ashley, de verdade. Mas a última coisa que eu precisava naquele momento era ouvir gente chorando.

— Vamos focar nisso, Cameron está preso e não poderá mais fazer nada comigo.

— Shawn quase matou ele de tanto soco na cara e por pouco não foi preso por agressão.

— Ele esqueceu de me contar essa parte —falei.

— Eu prometo que à partir de hoje vou pegar leve com ele, o cara fez o possível e o impossível para tirar você de lá. Posso até dizer que agora considero ele como um irmão.

Olhei para a porta e percebi que um cara alto de preto estava conversando com o Shawn.

— Aquele ali é o seu guarda costas, pelo menos até a poeira abaixar.

— Não estou preparada pra isso. Todos vão ficar me olhando com pena, ou virão atras de mim querendo saber os segredos de Manuel Mendes, se eu pudesse fugiria disso tudo agora mesmo.

— Nem queira saber como estava a nossa casa hoje de manhã. E lá fora está bem pior.

Shawn entrou na sala com uma enfermeira. Ela estava com uma bandeja, cheia de coisas que eu realmente não queria comer.

— Sei que parece horrível, mas é comestível, prometo — ela disse com um sorriso.

— Shawn, podemos conversar lá fora? — Ashley perguntou.

Meu maior medo era o que sairia daquela conversa.

— Já volto — Shawn me avisou e logo acompanhou Ashley.

— Então, Srta Portman — Ela disse olhando em minha ficha — Você não estava tão consciente quando almoçou, mas mesmo assim mostrou muita resistência, nós não temos muito o que avaliar aqui, você está bem, mas ficou muito tempo sem se alimentar. Vamos precisar passar uma lista com coisas que você precisa comer.

— Me diz que nessa lista tem pizza e hambúrguer?

— Nada disso, senhorita. Seu estômago não vai aguentar tanta coisa pesada.

— Nem se a pizza for só de queijo?

Ela me olhou com séria antes de começar a rir da minha piada fraca.

— Espero que você vá embora antes de me obrigarem a te dar comida na boca.

— Tudo bem, nada de besteira.

— Eu volto mais tarde quando tiver que te dar o remédio para dormir. E nem adianta tentar pedir para trazerem fast-food, seu namorado já sabe que você não pode. Não quero ter que voltar aqui para te dar outra injeção.

— Acho que uma vez só já está de bom tamanho!

— Se sentir dores em qualquer lugar do corpo me procure imediatamente.

— Sim senhora.

Fiquei encarando a comida que me deram por tanto tempo, que Shawn se sentiu preocupado quando voltou e viu que eu não tinha tocado em nada.

— Não posso te julgar, não conseguiria comer também.

— Eu mataria por um hambúrguer agora.

— Sabia que você ia tentar, mas não pode. Talvez possa semana que vem, mas é melhor não arriscar.

— O horário de visitas não acabou?

— Faz um bom tempo, mas eu pedi com jeitinho e me deixaram ficar até um pouco mais tarde.

Com jeitinho ele queria dizer, implorou e seduziu a recepcionista.

***************

Sair daquele hospital não tinha sido fácil para nenhum de nós. Colocavam microfones e gravadores naminha cara, e com Shawn era ainda pior. É o que se ganha sendo filho de um traste.

Minha casa estava um desastre, literalmente, mas eu tive que ignorar e subir para o quarto.

— Eu vou deixar você aqui. Acho que precisa de um pouco de espaço e um tempo com a sua família — Shawn disse.

Depois de ficar tanto tempo sozinha naquele lugar escuro, a última coisa que eu queria era dormir sozinha.

— Fica mais um pouco, eles não vão se importar.

Shawn olhou pela janela. Acho que estava sem vontade de encarar os repórteres que estavam centímetros atrás do meu jardim.

Pelo menos o jardim eles estavam respeitando.

— Certo, só mais um pouco.

— Preciso tomar um banho, por favor, não saia daqui

Entrei no banheiro e fiquei lá por muito tempo, até Shawn chamar minha atenção e me lembrar de que eu tinha que sair. Me troquei dentro do banheiro, o que era bobagem já que eu tinha tomado banho de porta aberta.

— Precisa de alguma coisa?

— Shawn, você não vai ficar me tratando como a coitadinha.

— Só estou preocupado — ele disse se aproximando de mim — Preciso saber que você está bem, tipo, de verdade.

Eu o abracei por impulso, aquilo era estranho até mesmo para mim.

— Acho que era disso que eu precisava –falei depois que o soltei.

Eu não estava totalmente bem, precisava ficar longe daquele lugar, principalmente depois de toda aquela muvuca para sair do hospital e entrar em minha casa. Aquele abraço foi um alívio.

— O quê foi aquela conversa com a Ashley? Tenho que ter medo disso? —perguntei para quebrar o clima estranho.

— Nada demais, ela só queria fazer as pazes.

A situação estava seria, Ashley nunca fazia as pazes. Nem quando estava errada, o que era 90% das vezes em que brigava com alguém.

— Um problema à menos para eu resolver — falei.

— O quê? Tem mais problemas?

— Meus pais, eles ainda estão lá embaixo e querem que eu vá com eles para Miami para passar um tempo longe disso tudo.

— Você quer ir?

— Não e eu já disse à eles, mas sabe como são os pais, conseguem ser insistentes.

— Lauren, eu concordo com eles. Passar um tempo longe disso tudo seria uma boa.

— Eu não quero passar um tempo em Miami, minha mãe e o chefe dela, meu pai e Nash... Isso é tudo muito estressante para mim e eu não posso deixar Ashley sozinha aqui, se o outro homem realmente está em L.A isso é perigoso pra ela também.

— Certo. E o que você pretende fazer a partir de agora?

— Não sei, só conversar com os meus pais e eu acho melhor você não descer comigo, meu pai vai te matar se você aparecer mais uma vez na frente dele. Eu peço pra Ashley subir e ficar aqui com você por enquanto, pode ser?

— Se ela não me matar eu aceito.

— Ótimo! Eu já volto, ou não, pode ser que demore, mas por favor não se matem.

Desci as escadas devagar e encontrei meus pais no andar de baixo.

— Ash, você poderia subir?  Queria falar com eles. Vai ser rápido — Pedi.

— Claro!

Se fosse em outra ocasião Ashley me fuzilaria com olhares. Mas assim como Shawn e Aaron, ela também estava pisando em ovos quando eu estava por perto. Eles escolhiam exatamente o quê dizer e como dizer.

— Papai, eu não quero ficar segurando vocês aqui. Juro que vou ficar bem, mas eu não posso ir pra Miami. Eu também não posso deixar minha vida aqui, cedo ou tarde eu vou ter que aprender a lidar com isso.

— Tudo isso é por causa dele? — Nash perguntou.

— Não. Tudo isso é por mim. E você tem que voltar com eles, não quero que aconteça nada com você por minha causa.

Meu pai pareceu menos compreensivo.

— Eu não vou te obrigar a ir para lugar nenhum. Acho que você já está cansada de ser levada à força. Mas, sempre que quiser ir pra casa você pode, estaremos lá para você! —minha mãe disse.

— É por isso que ela é desse jeito, Susan. Essa história de chefe com funcionária... {
Ela é seu espelho. Você desmoronou nossa família e foi por isso que Lauren saiu de casa!

— Nash, sobe! —falei.

— Lauren, eu não sou mais criança.

— Sobe, agora!

Ele reclamou por mais um tempo até que meu pai o obrigou a subir.

— Eu queria dizer que já sou adulta, posso ficar com quem eu quiser, vocês não vão poder fazer nada à respeito porque eu tenho a minha vida e eu tomo as minhas escolhas. Nash não é assim, ele só tem dezesseis anos e caso não se lembrem, ninguém é adulto com essa idade. Por favor, prestem atenção no que vocês estão fazendo, não estou pedindo permissão para me envolver com ninguém. Já sou dona da minha própria vida há muito tempo.

— Nao quis te ofender, querida.

— Mas quis ofender minha mãe.

— O que quer que eu faça? Sua mãe nos largou por causa do chefe, você está fazendo o mesmo.

— Quero que você cuide dele direito! Ele precisa de vocês dois agora, mas vocês não percebem por que passam a maioria do tempo brigando e esquecem que tem um filho.

— Nós temos dois filhos! Cuidamos de vocês dois muito bem dele, Lauren. — minha mãe disse.

— Então me diz o motivo de ele preferir ficar comigo do que com vocês?

Eles não responderam nada.

— Foi o que eu pensei, talvez seja por isso que eu sai de casa também. E não é por causa de Shawn que eu vou ficar, é por causa de mim e de vocês. Eu não preciso de discussões de vocês na minha cabeça... ou aprendem à cuidar de Nash direito ou eu fico com a guarda dele até os dezoito anos.

— Você não pode fazer isso!

— Posso sim. Ja conversei com os advogados de Shawn e eles disseram que a causa é minha — Menti.

Me senti péssima por jogar tão sujo, mas eu conhecia meus pais e as coisas só funcionariam dessa maneira. Eles tinham que ficar com medo de perder para começar a dar valor.

— Ele não tem culpa de minha mãe ter te traído, assim como eu também não. Supera isso, pai. Minha mãe já está em outra e você deveria fazer o mesmo!

Eles ficaram trocando olhares entre si.

Sabia que eles tinham vindo por minha causa, mas não dava para aguentar uma situação daquelas.

— Eu amo vocês, de verdade, mas a única pessoa que precisa do meu apoio em meio à essas brigas é o meu irmão.

— Ela está certa, Susan. Nós vamos embora, filha. Não queremos te causar mais problemas.

— Não foi o que eu quis dizer, pai. As coisas não estão fáceis para mim também e ter vocês brigando aqui so pioraria a situação.

— Você tem razão, querida. E além disso, precisa descansar — Minha mãe concordou.

— Susan, quero falar com a Lauren, sozinho.

Minha mãe não discutiu, apenas foi para a cozinha e começou a mexer nas panelas.

— Desculpa ter falado com você daquele jeito, sei que você não é nada parecida com a sua mãe.

— Tudo bem, só não quero que fale comigo daquele jeito outra vez. Não estou fazendo nada de errado e Shawn não é casado, muito menos eu. Você sabe que eu te amo, mas não vou tolerar suas acusações.

Ele sorriu e me abraçou, logo em seguida pediu desculpas.

— Papai... vê se pega leve com ele, está bem?

— Ele está impossível, Lauren. Se eu deixasse ele fazer o que quer, nem pra escola ele iria.

— Estou falando de Shawn, ou acha que não vi o que aconteceu ontem no hospital?

— Minha vontade é de prender esse homem...

— Mas?

— Mas vou tentar aturar ele, só porque é você quem está pedindo.

— Você não tem jeito, não é? — perguntei.

Ele ainda estava triste, mas sorria o tempo todo para tentar não demonstrar o seu grau de preocupação.

— Já posso descer? — Nash gritou.

— Pode, Nash — respondi, subindo as escadas — Mas vem se despedir antes de ir embora.

Ashley e Shawn estavam me olhando, ambos sérios demais.

— Parem de me olhar com essa cara.

— É que nós estávamos conversando civilizadamente e chegamos à uma conclusão — Ash disse.

— Nós queríamos saber se você gostaria de passar um tempo em Londres com a gente.

A gente? Desde quando vocês viajam juntos?

— Você vai comigo, Ashley é só enfeite —  Shawn disse brincando.

— Bom, de qualquer jeito eu vou, não aguento mais essa vida e olha que acabou de começar. Mas vamos ter que esperar alguns dias, preciso ver a psicóloga antes.

— Não precisa ir se não quiser, mas é só uma sugestão para fugir de todas essas pessoas que querem saber sobre meu pai ou sobre você.

— Shawn, eu quero ir. E até acho que é melhor pra mim.

— Ótimo, quando nós vamos? — Ashley perguntou.

— Eu tenho algumas sessões marcadas por três semanas, vamos ter que ficar aqui mais um tempinho — respondi.

— Droga, queria ir o mais rápido possível.

— Se você quiser pode ir na frente — Shawn disse para Ashley — Lauren e eu podemos ficar lá em casa enquanto as sessões dela acontecem, acho que você vai estar mais segura em Londres.

Ashley me olhou, como quem queria me perguntar o que eu achava daquilo, mas ao mesmo tempo queria me obrigar a dizer que concordava com Shawn.

— Ele está certo. E além do mais, não quero ficar aqui, dormir neste lugar está sendo uma tortura.

Não tinha como ficar reclamando tanto, era isso ou levar Ashley para a casa do Shawn com a gente. Embora eles jurassem que estavam se entendendo, eu conseguia sentir que Shawn não ia querer morar com Ashley.

Ela sempre me dizia que não confiava nele, mas, eu sabia que era ele quem não confiava nela por ser bisbilhoteira demais.

Shawn recebeu uma mensagem no celular e saiu de perto para responder. Eu não fiquei alarmada, mas Ashley sim. Ela estava me olhando como quem tinha acabado de se arrepender por propor uma trégua.

— É Aaron, me perguntando se pode vir — Shawn se justificou. Mesmo quando eu achava que não tinha necessidade alguma.

— Ele não devia perguntar isso para Lauren? A casa é dela, não?

— Por favor, vocês dois acabaram de estender a bandeira branca.

Ashley olhava para ele com uma careta horrível.

— Acho que ele só não quer incomodar — Shawn respondeu.

— Se não quer incomodar é só não vir.

Ele estava começando a ficar sem paciência com Ashley e eu entendia.

— Ashley, ele precisa vir! Não vejo problema nenhum, eles são amigos.

— Como se eu fosse acreditar nisso — Ashley disse tão baixo que tive certeza que Shawn não escutou.

— Se pensam que eu vou viajar com os dois desse jeito, estão enganados. Diga à ele que pode vir e Ashley, vai ajudar meu irmão a fazer a mala ou sei lá.

— Nem que me paguem!

Ela saiu pisando forte.

— Nunca vou entender por que ela é assim comigo.

— Nem se preocupe em tentar entender Ashley. Ela é demais até para mim.

Sentei na cama e Shawn me acompanhou.

— Vou para casa por algumas horas, tudo bem?

Fiz que sim com a cabeça, mas não queria que ele fosse.

— Não precisa se preocupar, Aaron está vindo te ver e o segurança está na porta, ninguém entra ou sai sem que ele perceba.

— Vocês dois não precisam ficar revezando para não me deixar sozinha, Ashley está aqui.

— E você acha isso seguro? — Ele perguntou rindo.

— Que sem graça, Shawn.

Não aguentei e comecei a rir junto com ele.

— Ficar aqui em casa por três semanas vai ser um saco... Por favor, me diz que tem qualquer trabalho para mim. Preciso ocupar minha cabeça ou vou enlouquecer.

— Você está aqui há dois dias, vai ter que aguentar mais um pouco. Seu pai me mataria, não posso fazer isso, não vou te dar trabalho algum porquê queremos que você descanse.

— Qualquer coisa, Shawn. Apagar seus e-mails, falar mal do seu pai na empresa ou atender seu telefone só para dizer que você está ocupado.

— Nada disso, e além do mais, você foi demitida, se lembra?

Tinha me esquecido desse detalhe importante. No instante que Shawn me lembrou, outras coisas vieram em massa na minha cabeça.

— Meu Deus, o hospital...

— Sem preocupações com isso agora.

— Aquele hospital... não me diga que meus pais se endividaram por minha causa.

— Ninguém se endividou. É só isso que você precisa saber agora. E vai me prometer que não vamos mais falar sobre isso, está bem?

Fiquei num impasse. Me sentia aliviada por meus pais não se complicarem por mim, mas ao mesmo tempo triste, na hora eu não tinha me tocado que aquele hospital era o melhor de toda a Califórnia e de que nunca teria dinheiro o suficiente para pagar uma única consulta ali. Mas uma estadia? Aquilo era caro demais.

— Você vai ter seu emprego de volta, quando for a hora certa. E quando isso acontecer, que fique bem claro que você não me deve absolutamente nada. Quero que me prometa que não vamos voltar a falar sobre contas de hospital.

Nunca tinha visto Shawn tão sério em toda minha vida. Mas ainda assim, sabia que tinha custado caro e aquilo ia pesar na minha consciência depois.

— Tem certeza disso? Porque eu posso...

— Lauren, eu não sou meu pai e não estou falindo, pelo contrário, às vezes não sei o que faço com tanto dinheiro. Não vai me fazer falta.

— Eu posso te pagar quando ficar rica, então.

— Se isso fizer você se sentir melhor, combinado.

Começamos a rir. Ele sabia que eu nunca ia pagar esse dinheiro e não estava incomodado. Mas foi uma promessa engraçada de se fazer, e por mais estranho que fosse, me senti melhor com essa pequena possibilidade.

— Obrigada, Shawn. Por tudo.

— Não precisa me agradecer, sei que você faria o mesmo por mim sem pensar duas vezes.

Ele estava certo.

— Não me lembro se já te contei, mas um pouco antes do cachorrinho ter me encontrado, eu já tinha desistido completamente. Por isso estou te agradecendo, por não ter desistido de me encontrar.

Segurei o choro. Nos últimos dias tentei o máximo que pude não pensar no tempo que fiquei naquele galpão. Era bem mais fácil evitar tudo aquilo quando estava acordada, mas antes de dormir, beliscava meus braços para ter a certeza de que não estava sonhando ou delirando, queria saber se a sensação de segurança que eu tinha era real. Saber que eu podia dormir, porquê quando acordasse, conseguiria ver a luz do dia pela janela do meu quarto e teria a certeza de que ninguém que estava ali queria me machucar.

— Digamos que eu um homem determinado. E fala sério, quem em sã consciência desistiria de Lauren Portman?

Depois de dizer isto, Shawn ficou num meio-termo, sem saber se me beijava ou não.

— Você sabe que pode me beijar, não sabe?

— Não é uma boa ideia, seu pai está lá embaixo e já ameaçou me prender umas três vezes. E se ele aparecer aqui?

— Ele vai ter que esperar a gente terminar.

Os lábios dele tocaram os meus. E mesmo depois de todo o meu discurso sobre estar inteira, Shawn manteve uma delicadeza fora do comum enquanto me beijava.

Escutamos alguém bater na porta e nos separamos no exato momento.

— Que susto, garoto, achei que era seu pai.

— Eu quero falar com você — Nash disse sério.

— Comigo?

Meu irmão ficou sem paciência.

— Te espero lá embaixo. Aaron já chegou, vou deixar ele subir.

Nash nos deixou a sós de novo.

— Provavelmente eu não vou voltar hoje, mas qualquer coisa que precisar é só me ligar, está bem?

Fiquei um pouco triste, mas sabia que Shawn tinha a vida dele para retomar e eu teria que me acostumar a voltar a dormir sozinha.

— Claro, qualquer coisa te ligo.

Ele beijou minha testa e saiu. No mesmo instante, comecei a sentir falta dele. Parecia besteira ter que reclamar disso, mas naquela noite eu dormi com Ashley e não foi nada agradável.

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