17


— Até que enfim você chegou, ele estava prestes a ir te buscar na empresa — Ashley disse apontando pro Nash — Meu Deus, que cara é essa? Parece que viu o próprio capeta.

— Oi Nash, como estão as coisas? — Perguntei, abraçando meu irmão e ignorando Ashley.

— As coisas estão ótimas, eu vim aqui só para ficar passeando e aproveitar as minhas férias, se eu ficasse lá teria que passar as férias com a nossa mãe e o chefe dela. Papai está trabalhando muito.

— Você não vai poder ficar passeando por aí — falei — Quer dizer, é claro que vai poder, mas não sem me avisar quando estiver saindo.

Ainda não tinha contado à ninguém sobre o que vi mais cedo naquele dia. Se aquilo fosse exatamente o que eu estava pensando, Ashley teria que ficar longe do Cameron, não podia explicar muita coisa à ela, mas tinha que ser convincente.

— Por que ele não pode sair? Vai ficar aqui dentro me atrapalhando?

— Te atrapalhando no quê?

— Em fazer as minhas coisas... eu estava jurando que você ia acertar com o seu homem e poderia jurar que ficaria com a casa pra mim. Cameron ia vir aqui hoje.

— Foi burrice sua. Você sabia que Nash chegaria hoje.

— Laur, está namorando?

—Não, Nash. E você — para Ashley —Fique longe do Cameron.

— Por que?

— Eu não posso te explicar muita coisa agora, mas confia em mim, dessa vez é mais sério do que você pode imaginar.

Ela começou a balançar a cabeça negativamente. Normalmente era daquele jeito que as nossas brigas começavam, e eu estava quase certa de que daquela vez não seria diferente.

— O que foi? - perguntei.

— Como assim " o que foi?" É a primeira vez que algo dá certo na minha vida e você quer fazer questão de acabar com tudo?

Ela estava entendendo tudo errado. Cameron era perigoso e quanto menos ela soubesse, melhor pra ela.

— Não é isso, Ashley. O assunto é muito sério.

— Ah, é muito sério? Lauren, você não consegue ver o que está fazendo?

— Estou tentando te tirar disso para te proteger.

— Não, você está fazendo isso porque o seu caso com o seu chefe não deu certo, agora está tentando me levar pro fundo do poço junto com você e quer que eu aceite numa boa? Tem noção do que está me pedindo?

— Espera? Você também tem caso com o seu chefe? — Nash perguntou.

— Nash, agora não!

— que está acontecendo com essa família? Alguém me ajuda a entender onde é que eu fui me meter? — Nash disse.

— Toma — peguei minha carteira e dei uma nota de cinquenta dólares à ele — Vai dar uma volta, a gente conversa depois.

— Legal! — Nash sorriu, em seguida pegou seu skate e saiu com pressa.

— Fugir das responsabilidades é bem a sua cara mesmo, Lauren — Ashley falou.

Ela estava apenas com uma raiva momentânea, o que estava falando não tinha cabimento algum e eu não queria dar mais motivos para ela achar que tudo girava em torno de uma inveja que só existia na cabeça dela.

— Estou tentando te deixar fora disso, mas você não está ajudando. Só não quero que a sua segurança seja minha responsabilidade, se eu tiver que fazer você se afastar dele, vou fazer isso, você querendo ou não!

— Egoísta!

— Hoje você me xinga, amanhã você me agradece — respondi.

— Eu não tenho nada para te agradecer, sua mimada ingrata.

Ela poderia dizer o que quisesse, mas não ia me afetar e eu sabia que não era verdade. Meu maior foco era arrumar um jeito de descobrir os motivos de Diana, ou melhor, Sierra Dallas estar usando nome falso para entrar naquela empresa, não queria que Ashley fosse uma distração ou que Sierra a usasse para me atingir.

— Quer saber? — Ela perguntou — Não vou comentar nada com Cameron, mas acho bom você ficar longe de nós dois.

O fato de Cameron ter o mesmo sobrenome de uma aproveitadora profissional poderia não significar nada e ao mesmo tempo significar tudo. O quê poderiam ser? Irmãos? Primos?

Seria doloroso comprovar que Cameron estava do lado de Diana esse tempo todo, usando Shawn para se fingir de amigo. Isso anulava qualquer chance de eu me preocupar com outra coisa. Se eu estivesse certa sobre isso, uma hora Ashley ia descobrir e sentir na pele. No fundo, não queria estar certa, mas caso eu estivesse, esperava não ser tarde demais.

Peguei meu celular e fiquei pensando se contava ou não para Shawn.

Por mais que eu odiasse aquela situação, aquilo tinha tudo a ver com ele e eu não podia esconder por muito tempo. Isso ia totalmente contra o que eu tinha dito à ele mais cedo, mas não dava para guardar aquilo só para mim, não ia ajudar em nada. Não com um suposto inimigo tão próximo e tão dentro dos nossos planos.

Liguei pra ele e fui breve, pedi para que ele me encontrasse na empresa às onze da noite, para evitar que alguém me visse sozinha com ele e apesar da insistência, não contei detalhe algum sobre a descoberta, queria que ele visse com os seus próprios olhos.

— Posso entrar? — A voz de Nash surgiu através de batidas na porta do meu quarto.

— Pode.

Ele ficou parado por um bom tempo na minha frente sem dizer uma palavra sequer.

— Vai ficar me olhando como se eu tivesse cometido um crime ou vai falar alguma coisa decente?

— Eu não tenho nada à declarar sobre a briga de vocês lá embaixo. Mas sobre o outro caso... você e o seu chefe? É sério?

— Não, não é sério e nunca foi sério, provavelmente nunca vai ser sério.

— Então vocês do tipo "amigos com benefícios" ?

— Nós não somos amigos, ele é meu chefe e eu nem sei por que estou falando disso com você.

— É que eu nunca conheci um namorado seu que prestasse.

Se nem eu prestava, quem diria meus namorados.

Mas no fundo ele tinha razão.

— Achei que você fosse me dar aquele sermão de irmão mais novo revoltado.

— É claro que não, a mamãe era casada e o nosso pai sempre respeitou ela. Você é solteira, pode dar pra quem quiser — Nash disse fazendo eu me assustar com suas palavras.

— Me respeita, garoto!

— É verdade. Eu só queria conhecer ele, pra falar o quanto você é especial e dizer que se ele te magoar eu quebro a cara dele.

— Nash, você é um pirralho, não aguentaria um puxão de orelha. Mas valeu pelos elogios — falei abraçando-o.

— Eu só falei isso por que quero ir pra Santa Mônica e preciso do seu carro — ele disse rindo.

— Filho da mãe! — Dei um tapa no braço dele — Me escuta, hoje à noite eu vou sair e você vê se pega leve com a Ashley, ok?

— Eu nem faço nada e ela sempre me culpa de tudo —respondeu.

— Depois isso passa, só não encha o saco dela hoje, pode até sair amanhã com meu carro se quiser, mas não chega depois da meia noite e no caso de eu não estar em casa, mande uma mensagem ou deixa um bilhete.

— Onde é que você vai tão tarde e sozinha?

— Fazer hora extra — menti.

— Com ele?

— Estou saindo, ok? E Ashley perguntar onde fui, diga que não sabe.

— Dizer que não sei, ok. Mas eu realmente vou precisar do seu carro amanhã.

[...]

Eu tinha tirado algumas fotos de todos os documentos e do armário de "Diana" no caso de chegarmos lá e não ter mais nada dentro.

Cheguei no horário combinado e felizmente Shawn já estava lá.

— Espero que seja sério, Bella já está muito brava comigo hoje.

— Não te chamei aqui pra falar dela e muito menos para falar de algo que não seja Diana e Cameron.

— Diana e Cameron?

— Você me disse uma vez que eles tiveram algo, não foi? — perguntei confusa.

— Só boatos, nada confirmado.

— Tem cinquenta e nove por cento de chances de isso ser mentira e eles serem irmãos.

— Ou de gostarem de um incesto.

— Sr.Mendes, não estou brincando! Se você reparar bem, eles são parecidos fisicamente. Grandes chances de serem parentes.

—Isso é impossível! — ele esbravejou.

— Não é. Sierra Dallas é o verdadeiro nome de Diana Smith.

— Sem chances de isso ser verdade, meu pai não contrata funcionários que tem grau de parentesco com qualquer um dentro da empresa!

— Espero que você esteja certo e que isso seja apenas mais um engano — falei enquanto andávamos até os armários.

Ao chegarmos no vestiário, abri o armário de Diana e por sorte estava exatamente do mesmo jeito, isso indicava que ela não tinha ido à empresa até o momento.

Entreguei os documentos dela pro Shawn, ele estava confuso e muito surpreso por ter sido enganado debaixo do seu próprio nariz.

— Eu não acredito que Cameron fez isso comigo!

— Tecnicamente ele fez isso com o seu pai, mas enfim, já sabe o que vai fazer à respeito?

— Não... mas - fechei a sua boca com uma de minhas mãos ao ouvir o barulho da porta do vestiário se abrindo devagar.

Ele me olhou com dúvida.

— Tem alguém aqui — sussurrei — vem comigo.

Tirei meus saltos para não fazer eco pelo vestiário e fomos rapidamente para uma das cabines de trocadores. Era pequena, mas na medida do possível, coube os dois.

— É, idiota. Acho que perdi a chave do meu armário - Ouvimos a voz de Diana ecoar.

Naquela hora não tinha ninguém na empresa além dos seguranças, ou melhor, não era para ter ninguém.

Espera, eu acho que alguém pegou a chave do meu armário... minhas coisas ainda estão aqui mas o armário está aberto. Espero que eu tenha deixado aberto, ou que ninguém tenha olhado o que tem aqui dentro, senão, a pessoa pode descobrir tudo.

Naquele momento, Shawn parecia mais relaxado do que eu e aquilo era muito estranho, ele estava sendo roubado e acabara de descobrir quem estava ajudando Diana, no lugar dele eu estaria surtando.

É claro que foi a Lauren! Quem mais seria? Não é ela que está ajudando Shawn e Manuel? - ela deu uma pausa e logo continuou — Vai deixar uma mulher acabar com todo o nosso plano? Essa é a nossa vingança, Cameron. Nossa chance! E não podemos deixá-la estragar isso. Você tem uma semana para dar um sumiço nela, ou então eu farei! Ela disse batendo com força a porta do armário.

Pudemos ouvir seus passos ecoarem pelo local vazio.

Shawn fez um sinal de quem ia sair, mas eu segurei seu braço para que ele não fizesse.

— O quê? — ele perguntou num sussurro.

— Ela ainda não foi — sussurrei de volta.

Eu estava certa. Diana queria ter a certeza de que não tinha ninguém ali, então esperou por pelo menos mais dois minutos até perceber que ninguém sairia das cabines e depois foi embora.

Demoramos mais uns dez minutos escondidos dentro do trocado, para ter certeza que estava tudo seguro e que Diana não estava nos esperando do lado de fora do vestuário, ou até mesmo fora da empresa. Quando me senti totalmente segura, sai do trocador e deixei Shawn sozinho lá dentro.

— Ei, onde é que você vai? — ele perguntou confuso.

— Pra minha casa, talvez?

— Vai me deixar aqui?

— O que eu tinha que fazer eu já fiz, descobri quem estava roubando a sua família. Agora você pega a informação e faz o que quiser com ela — respondi seca.

— Só espera eu falar com o meu pai e depois eu te levo pra casa, pode ser?

— Eu conheço perfeitamente o caminho da minha casa, Sr Mendes.

— Não vou deixar você sair por aí sozinha à uma hora dessas, muito menos depois do que eu ouvi.

— Já disse, não precisa se incomodar.

Ele riu de nervoso.

— Você escutou o mesmo que eu, não é?

Pensei melhor na situação. Se Diana tivesse visto meu carro no terceiro quarteirão, não era uma boa ideia eu sair sozinha.

— Então faz assim, liga pro seu pai agora e depois eu deixo você me acompanhar até onde meu carro está estacionado. Eu realmente não queria te incomodar e muito menos da deixar Bella nervosa te esperando, mas já que faz tanta questão...

Após Shawn ter contado a notícia ao seu pai por telefone, demorou um bom tempo para Manuel processar toda a informação, mas por fim ele disse para deixarmos o resto com ele e pediu para Shawn ficar de olho nos próximo movimentos de Cameron e Sierra.

— Vamos sair daqui, rápido!

Fomos até a saída principal e demos de cara com portas trancadas.

— E agora? — Shawn perguntou preocupado.

— Saída de emergência! Você tem certeza que é filho do dono disso aqui?

— Olha, você não precisa me tratar desse jeito, está bem? — ele disse enquanto andava rápido tentando me acompanhar.

Continuei meu caminho até a saída de emergência, estava trancada por fora.

— Merda! Como é que eu vou sair daqui?

— Estacionamento — Shawn respondeu — e à propósito, não finja que eu não estou preso aqui também.

— O estacionamento não funciona de noite e não fica nenhum porteiro daquele lado, não finja que não sabe disso. E mais uma coisa, eu não iria me importar se você ficasse preso aqui sozinho.

— Acho que você vai ter que começar a se importar, não temos como sair daqui hoje, os sensores de movimentos foram todos retirados para processo de troca, ou seja, as imagens das câmeras estão escuras e não tem ninguém nos vendo.

— Bom, graças ao meu trabalho eu tenho um objeto mágico aqui comigo, chamado celular, você conhece?

— Vai fazer o que? Ligar pra polícia?

— Sim e talvez eu diga que você me sequestrou... é claro que não vou ligar pra polícia.

— Então o que você vai fazer?

— Vou fazer melhor, vou ligar pro Aaron, assim ele vem e me tira daqui.

Estava torcendo para que Aaron não estivesse dormindo e para que não ignorasse minha ligação.

— Acho que alguém não está muito afim de falar com você — Shawn disse rindo.

Segundos depois Aaron atendeu.

—Resposta errada — falei.

Espero que tenha um bom motivo para me ligar à meia noite - Ele disse. Pelo tom rouco de sua voz, pude ter a certeza que eu tinha o acordado.

Eu preciso de um pequeno favorzinho... estou presa aqui na empresa com um mala sem alça, e não tem outro jeito de sair, à não ser que você venha me tirar.

Mas que diabos você está fazendo aí à essa hora? Período extra com o chefe? - dei uma breve olhada para o Shawn, queria ter certeza que ele estava longe o suficiente para não ter escutado aquilo.

Se fosse só isso seria fácil, mas nós viemos aqui só para comprovar que nossos suspeitos estavam roubando a empresa. Posso dizer que você vai ficar surpreso quando souber quem são as pessoas.

É mais de uma? Por Deus, me conte, minha promoção e emprego fixo nesse país depende disso, esqueceu?

A gente vai pra sua casa e eu te conto tudo, mas claro, preciso que você me tire daqui antes.

Estarei aí em trinta minutos.

Tá maluco? Já ouviu falar em Uber?

Certo. Daqui a pouco estou aí foi o que ele disse antes de desligar.

— Ei, Mendes, o que estava dizendo antes? — perguntei cínica.

— Podia jurar que ele não viria.

— Diferente de você, ele não é acostumado a deixar mulheres sozinhas por aí.

— Lauren, não dá pra continuar assim. Temos que conversar.

— Eu acho o contrário, não temos nada para falar, você já deixou bem claro o meu grau de importância, não sei consegue lembrar.

— Porra, você não entende. Eu quero ficar com você, mas...

— Quer ficar com a Bella também?

— Nós temos uma longa história juntos, e isso não se apaga em tão pouco tempo. Aí você apareceu e mudou algumas coisas, eu desejo você, só consigo pensar em você. Mas quando estou com ela, eu me sinto feliz.

O fato de ele estar se abrindo tanto naquele momento era um pouco estranho, era até compreensível, mas para mim era inaceitável.

— Se tem uma coisa que eu aprendi e levo comigo é não ser o estepe de ninguém. O fato de você ser rico e muito atraente não muda nada. Se você quer viver com ela, ótimo, é direito o seu. Mas eu não vou ser sua segunda opção e muito menos sua amante, desculpa, apenas não nasci pra isso.

— Me diz uma coisa, você gosta de estar comigo?

— Já estive com muitos caras antes, joguinho emocional não funciona comigo.

— Eu não sei o que fazer, não sei o que você quer de mim!

— Seja justo, com você mesmo e com nós duas!

— Não sei por onde começar!

— Ah, você sabe sim. Só não quer admitir que é a coisa certa a se fazer.

— Está sugerindo que eu escolha uma de vocês duas?

— Acho que você já escolheu e está tudo bem.

— Lauren...

— Você se sente feliz com ela e vocês têm uma história. Eu entendo, ela é incrível. Mas eu também sou, entende? Não posso ficar presa à uma pessoa que só me quer pra uma coisa. Também entendo que a gente não tinha nada além de um trato bobo, mas o que você tinha que ter feito era dizer que não queria mais nada ao invés de me ignorar por semanas para poder ficar com ela.

— Eu nem sei o que falar...

— E nem precisa. Essa conversa já deu o que tinha que dar. Você tem problemas maiores do que eu — falei calma — Não se preocupe, Aaron pode me acompanhar.

Aaron demorou pelo menos uns dez minutos para chegar. Levantei-me bruscamente quando ouvi ele chamar meu nome.

— Aqui embaixo — gritei.

As luzes do local se acenderam deixando meus olhos sensíveis, pisquei forte algumas vezes e me levantei para tentar encontrar Aaron, mas antes que eu pudesse sair Shawn segurou minha mão.

— Lauren...

Demorei um pouco para me virar. Simplesmente não queria ouvir o que ele tinha à falar, mais desculpas e confissões estranhas não era exatamente o que eu queria naquela hora. Não. Eu não ia aguentar.

— Boa noite — falei me soltando.

Não sabia exatamente o que estava acontecendo dentro de mim naquele momento, mas quando avistei Aaron, meu primeiro impulso foi correr até ele abraçá-lo bem forte.

— Ei, o que houve? — ele perguntou confuso enquanto retribuía lentamente ao abraço.

Percebi Shawn passar por nós dois e finalmente grande peso sumiu da minhas costas.

— Você está chorando?

Sim, eu estava. E com certeza me sentia muito idiota por ter que passar por tudo aquilo. Ser sentimental era uma droga. Mas eu precisava disso. Precisava chorar até me dar conta de que estava chorando por um motivo idiota.

— Vamos sair daqui? — perguntei.

— Claro.

Provavelmente eu ia me odiar no dia seguinte. Tudo aquilo que estava acontecendo era minha culpa, eu não poderia ter esperado menos, tratos como aquele nunca terminavam em coisa boa, o final feliz era feito para todos, menos para mim. Menos para quem se mete com esse tipo de coisa.

Entreguei a chave do carro ao Aaron e entrei no banco de carona, não queria dirigir naquele estado. Também não queria chegar em casa e deixar Nash preocupado comigo.

Estava emocionalmente abalada, mas não era somente culpa de Shawn Mendes. Minha família não estava lá para mim. A minha prima não queria ver a minha cara e aquilo ficaria do mesmo jeito pelo menos até o resto da semana. Meu melhor amigo estava roubando empresas e provavelmente procurando um jeito de acabar comigo, o cara com quem eu passava as minhas noites estava oficialmente com outra.

Estou me sentido sozinha? Não sei dizer. Mas era bom ter Aaron ali comigo, mesmo que por poucos minutos.

— Ele não fez nada com você, não é? Eu não sou muito bom nessas coisas, mas você pode se abrir comigo se quiser — Aaron disse, um pouco sem jeito.

— Não estava chorando por causa disso, tem muitas coisas acontecendo comigo, tudo de uma vez só, acho que você não vai entender — Falei.

— Tenta explicar, quem sabe eu me saio bem como entendedor das mulheres.

Aquilo me fez rir.

— Bom, minha família está sempre envolvida em problemas, minha prima me odeia, o cara que dormia comigo disse na minha cara que só se sente feliz com outra, meu melhor amigo me odeia, bem, até você me odeia...

— Eu não te odeio, Lauren. Só fiz o que tinha que fazer, acho que adiantou, afinal hoje estou aqui sentado, ouvindo suas decepções amorosas — por mais estranha que aquela situação fosse, Aaron estava me fazendo sorrir sem precisar fazer esforço.

— Vai por mim, você estaria bem melhor se tivesse ficado em Londres. Esse lugar é uma bagunça.

— Você é uma bagunça! E eu estou tentando entender por que não saímos do lugar ainda...

— Talvez devesse ligar o carro.

— Você é um conselheira melhor do que eu — ele disse sorrindo —Vou te deixar em casa.

— Não! — praticamente gritei — me leve para qualquer lugar, menos para lá.

[...]

No dia seguinte acordei com muita dor de cabeça. Meus olhos demoraram para acostumar com aquele cenário diferente. Estava na casa do Aaron.

Rapidamente flashes da minha conversa com Aaron na noite anterior invadiram a minha cabeça, eu havia explicado a história de Cameron e Sierra detalhadamente.

Ele ficou muito chocado, afinal, confiávamos em Cameron com a mesma intensidade, porém, ele demonstrou uma raiva ainda maior à respeito, mas combinamos de agir normalmente com Cameron e isso significava mandar mensagens, contar sobre nosso dia e principalmente sobre a nossa noite.

— Bom dia — Aaron apareceu na porta do quarto.

O que era estranho, já que eu tinha dormido no sofá.

— Bom dia... como é que eu vim parar aqui? — perguntei enquanto observava ele arrumar os botões das mangas de sua blusa social preta.

— Eu te coloquei, e tenho que admitir, você tem o sono mais pesado do mundo.

— Acho que era cansaço — respondi.

— Pois é, não sabia se devia te acordar ou não.

— Eu não vou pra empresa hoje, acho melhor eu ir pra casa. Mas antes eu vou te deixar lá.

Era o mínimo que eu podia fazer por ele, já que Aaron me acolheu durante a noite inteira.

— Vamos tomar café primeiro.

Troquei de roupa, antes usava uma roupa de Aaron que precisei pedir emprestado para conseguir dormir.

Ao sentar na mesa do café, Aaron demonstrou um alto-astral e eu não entendi como alguém podia acordar com o humor daquele jeito.

— Sobre ontem à noite, me desculpa por ser tão chorona.

— Você se desculpa demais, Lauren. Não fez nada de errado.

— E você dormiu no sofá por minha causa, sinto muito.

— Está proibida de ficar se desculpando comigo.

— Certo. Mas preciso de um álibi e já que estou aqui, tem que ser você.

Aaron fechou a cara pela primeira vez no dia.

— Não acredito que vou ter que fingir que não sei que ele está me usando e continuar agindo como se não soubesse de nada.

— Enquanto o chefe não souber o que fazer, nós dois teremos que fingir. E eu preciso da sua ajuda, se ele perguntar de mim, você precisa dizer que eu estava com você desde umas sete da noite.

— Ok, mas ele não vai desconfiar que estamos próximos demais? Quer dizer, ele acha que eu te odeio de verdade.

— Pode falar pra ele que eu estava me sentindo carente e que passei a noite inteira com você. Mas não se esqueça, ele precisa saber que eu estive aqui.

— Mas ele vai achar que nós...

— E é exatamente o que ele precisa achar. Ele não vai duvidar se você contar, pode inventar o que quiser, contanto que só ele escute, mas ele precisa acreditar que eu estava muito carente à ponto de correr atrás de você.

— Ei, eu seria uma opção tão ruim assim?

Na verdade, eu achava Aaron muito bonito e o sotaque britânico deixava tudo nele ainda mais sexy. É claro que eu não ia admitir, mas não podia ignorar os fatos.

— O que eu quis dizer é que, ele acha que eu te odeio, então, vai ficar bem surpreso. E além do mais, você é homem, pode falar o que quiser e ele não vai duvidar de você.

Aaron concordou e não tocamos mais em nenhum assunto que envolvesse pessoas da empresa.  Pouco tempo depois, ele se retirou para falar com a mãe no telefone, e logo depois saímos da casa e não demoramos muito para chegar na empresa.

— Obrigada — falei.

— Pelo que exatamente?

— Você sabe, por "cuidar" de mim ontem.

— Sempre que precisar!

Depois disso ele desceu e sumiu pela porta principal da empresa.

Tomei meu caminho para casa e Nash foi quem me recebeu.

— Achei que tivesse acontecido alguma coisa com você, por que não mandou mensagem avisando que estava bem?

— Eu não lembrei, desculpa.

— Você não parece bem, onde dormiu?

— Na casa de um amigo, dessa vez estou falando sério. E sim, eu estou bem. Se você quiser o carro ele é todo seu — falei entregando a chave e subindo para o quarto.

Mandei uma mensagem avisando ao Shawn que não iria trabalhar, sem dar muitas explicações. Ele também respondeu perguntando se eu estava bem, mas não respondi.

O resto do dia foi literalmente uma porcaria, Nash me contou que quase bateu meu carro e Ashley me ignorou todas as vezes em que me viu. Basicamente o que fiz até às dez da noite foi sido maratona de uma série de comédia.

Meu celular notificou algumas mensagens mas nem fiz questão de respondê-las até que recebi uma ligação de Shawn.

Ele nunca ligava, à não ser que fosse algo sério. Mas mesmo assim eu não atendi. Apenas rolei a barra de notificações e li as mensagens por lá.

Em uma delas, ele dizia que precisava me encontrar para falar sobre o caso, na outra ele dizia que tinha descoberto uma outra pessoa envolvida com os roubos e fez questão de me lembrar que meu emprego dependia daquilo.

A próxima mensagem veio com o endereço de uma cafeteria e um horário. Ele queria me encontrar às dez e meia no local.

"Ok." Respondi.

Me arrumei rápido e fui até a tal cafeteria. Era uma das únicas coisas naquela rua que estava aberta. Eu já tinha passado naquele local algumas vezes, mas nunca esteve tão vazio então achei melhor entrar e ficar esperando sentada, torcendo para ele não demorar muito. Sentei de costas para a porta, só tinha eu no local e obviamente ele ia me reconhecer mesmo estando de costas.

Ouvi o barulho que o sininho da porta fazia quando chegava um cliente, apenas respirei fundo e torci para ele só tocar em assuntos da empresa.

Para a minha tristeza, não foi Shawn quem deslizou no banco à minha frente. Era Bella, com o celular dele.

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