Se metendo em confusão
"Se arriscar é algo que nem todos têm coragem de fazer e quem consegue, às vezes pode se surpreender com as descobertas que acaba encontrando." — Jessica Oliveira.
Enquanto estava a olhando, me parecia que ela não tinha percebido a minha presença, mas também, eu estava a alguns ou vários metros de distância da mesma. Digamos que a única reação que fiz assim que parei de admirá-la, devido à sua tamanha beleza, foi resolver me esconder atrás das árvores que tinham aqui por perto. Pois, eu estava sem coragem de me aproximar desta mulher e ela sair correndo, assim que percebesse que não sou uma pessoa daqui, principalmente por conta das minhas vestimentas.
Sei que isso tudo é um sonho, mas não quero que isso acabe se tornando um pesadelo para mim. Com isso, aposto que ficará mais difícil de sair deste mundo inventado pela minha mente:
— Isabelle, pare de frescura e crie vergonha na cara. Vá falar com esta mulher! E seja a pessoa mais amável possível, ok? — Sussurrei bem baixinho para que só eu mesma pudesse ouvir.
Com isso, respirei fundo, juntei toda a coragem que ainda me restava e então saí detrás das árvores. Andei até ficar a poucos passos atrás da mesma. Confesso que quando estava prestes a dizer alguma coisa, ela se virou para mim:
— Por que estás me seguindo? Oh, meu Deus... Quem és tu e que vestes são estas? Queres algo de mim? — Perguntava enquanto dava alguns passos para trás, estava com os olhos arregalados de tão assustada que ficou, assim que me viu.
— Calma, me chamo Isabelle González e não irei te machucar. Desculpe-me por estar me aproximando desta forma da senhorita, mas é que estou um pouco perdida. Se me permite perguntar... Poderia me dizer aonde e em qual ano nós estamos? — Perguntei-lhe fazendo o possível para transparecer que não sou um perigo para ela.
— Isabelle González? Nunca ouvi falar de uma família com este sobrenome aqui. Sou Duquesa Elizabeth Mary Lancaster. Estamos na Inglaterra e já faz uma semana que estamos no ano de 1455, mas por que estás me fazendo estas perguntas tão estranhas? E você ainda não respondeu, que tipo de vestes estás usando? Donde és tu? — Perguntou com um leve semblante de assustada.
— Digamos que não sou daqui, vim de muito longe e acabei me perdendo e, acho que acabei perdendo a noção do tempo e devo ter esquecido que um novo ano chegou. E estas vestes acabei encontrando em uma casa abandonada, meio que tive que customizá-las, já que estavam praticamente todas rasgadas. — Falei torcendo para que ela acreditasse em cada palavra que saía de minha boca.
— Entendi, mas ainda não sei se devo confiar numa estranha que ainda por cima, fala de um jeito que parece não ser daqui. — Disse um pouco confusa.
— Tem razão em não confiar numa pessoa que acabou de conhecer, mas juro que farei o possível para mostrá-la que sou digna de sua confiança. Então por favor, poderia me ajudar a sair desta floresta? — Perguntei enquanto fazia a posição de súplica com as mãos.
— Bom, posso levá-la ao Reino, mas depois disso, nos separamos e seguimos com as nossas vidas, concordas quanto à isso? — Disse propondo um acordo.
— Tudo bem, isso já irá me ajudar bastante! — Falei enquanto soltava um suspiro de alívio, pois, pode parecer nada, mas já seria um bom começo para talvez sair deste sonho.
— Mas antes que possamos ir até ao Reino, acho melhor usares esta capa vermelha de veludo com capuz para esconder as tuas vestes estranhas e o seu rosto. Lá não aceitam muito bem os forasteiros. — Disse enquanto me entregava.
— Obrigada. E então, vamos? — Falei enquanto me vestia rapidamente.
Elizabeth apenas assentiu com a cabeça e com isso, começamos a caminhar sem trocar muitas palavras. Só falávamos o necessário. Confesso que sentia que ela realmente não confiava em mim, mas logo poderá. Ela nunca me viu na vida e eu com essas roupas só a deixou mais desconfiada e assustada do que nunca.
Mas espero conseguir ganhar um pouco de sua confiança até chegar ao Reino, apesar que iremos nos separar assim que chegássemos lá. Terei de me virar até conseguir sair deste sonho que mais parece que saiu de um conto de fadas, mas enfim, não demorou muito para que finalmente estivéssemos a alguns passos para chegar.
Alguns minutos depois...
Quando faltavam apenas quatro ou cinco passos para entrarmos lá, Elizabeth me disse para andar atrás dela para que assim não aconteça de que eu seja descoberta pelos guardas reais do Rei Carl.
Enfim, assim que estávamos em frente a entrada do Reino, fomos paradas por dois brutamontes de armaduras prateadas, e que estavam sem os seus elmos. Eles aparentavam estar desconfiando de algo, pois, um deles me analisou de baixo para cima. E o mesmo andou em volta de mim, como se estivesse procurando por algo suspeito. Aliás, parecia que ele não estava ligando muito para a presença da Duquesa.
Confesso que achei um pouco estranho, já que tecnicamente ela é superior a ele, ou seja, deve respeito a ela acima de tudo. Elizabeth começou a ficar incomodada por eles estarem agindo de forma exagerada conosco, e então resolveu se pronunciar:
— Phillippe, o que pensa que estás fazendo? Não achas que estás a exagerar? Esqueceu que já prenderam todos os possíveis ladrões deste Reino? Sinto que serás muito difícil alguém de fora ter a coragem de vir para cá, após saber o fim que vocês deram aos que foram capturados. — Falou com um semblante sério, mas não conseguiu segurar por muito tempo e acabou soltando um sorriso doce que amoleceu o coração do guarda real.
— Duquesa Elizabeth!? És a senhorita? Mil perdões, eu não tinha a reconhecido. Por favor, não conte para o seu primo, Rei Carl. Não quero ser morto ou passar o resto dos meus dias dentro de um calabouço. — Disse aos prantos de tão desesperado que ficou.
— Phillippe sendo dramático como sempre! — Deu uma curta risada. — Não precises se preocupar, não sou tão rancorosa que nem a minha irmã mais nova, Lucy. Então, podemos passar pelos portões do Reino? — Perguntou com um sorriso doce em seu rosto.
— Claro que podes, Duquesa Elizabeth! — Os dois disseram enquanto faziam a reverência para a mesma.
— Obrigada, rapazes! E ótimo trabalho para vocês. — Disse torcendo para que eles não perguntassem nada sobre mim.
— Desculpe-me pela intromissão, mas gostaríamos de saber quem és essa pessoa ao lado da Duquesa? — Perguntou, Phillippe, enquanto me analisava mais uma vez de baixo pra cima.
— És uma pessoa que se perdeu na floresta e que acabei a encontrando, então pensei em ajudá-la. Não se preocupem, não és nenhuma ladra... Espero. — Terminou a frase falando baixinho para que só ela pudesse ouvir.
— A senhorita tens certeza disso? Poderia pedir para que esta pessoa retire o capuz da cabeça? Só para que pudéssemos ter a certeza de que não és uma das pessoas divulgadas nos "cartazes de procurados" que estão espalhados em cada canto deste Reino. — Falou enquanto me fitava.
— Por favor, Isabelle, retire o capuz e prove que não és nenhuma ladra ou algo do tipo. — Pediu com os olhos cheios de esperança, como se tivesse torcendo de que eu realmente não fosse este tipo de pessoa, já que a mesma ainda não confiava totalmente em mim.
— Ok... — Falei enquanto tirava o capuz e torcia para que não fosse parecida com ninguém que tivesse nestes cartazes.
— Oh, peço que perdoe-me... Mas és que estávamos apenas cumprindo as ordens do Rei Carl. Jovens donzelas podem entrar no Reino e por favor, tomem cuidado, nunca se sabes o que poderia acontecer com vocês sozinhas por aqui. — Dizia o outro guarda real.
— Não precisa se preocupar. E então, era apenas isso? — Perguntou, Elizabeth, que acabou suspirando no final depois do acontecido.
— Sim, senhoritas! — Disseram ao mesmo tempo, e abriram os portões para que pudéssemos entrar.
Assim que finalmente entramos neste tal Reino, que para mim mais parecia uma cidade enorme e evoluída. O que me fazia crer que não tinha nada a ver com o que imaginava ser um Reino desta época. Estávamos chegando numa praça, onde continha uma estátua enorme de um homem com uma coroa, ao qual deduzi de que talvez seja a do Rei deles aqui.
Elizabeth parou de andar, ficou olhando para mim como se estivesse arrumando um jeito de dizer algo. E meio que eu já estava começando a desconfiar de que era sobre a parte do nosso acordo:
— Então, como tínhamos concordado lá na floresta... Assim que já estivéssemos no Reino, teríamos que nos separar e seguir com o nosso caminho. Enfim, foi um prazer conhecê-la e peço que tome cuidado em qualquer lugar que for agora. — Assim que terminou de falar, ela deu alguns passos para trás e começou a se virar para o outro lado da praça.
— Digo o mesmo para a senhorita, Elizabeth. Serei eternamente grata por ter me ajudado a chegar até aqui. — Respondi enquanto conseguia vê-la indo embora.
— E agora, o que irei fazer para sair deste sonho maluco e que está sendo mais longo dos que já tive em toda a minha vida...? — Falei baixinho para eu mesma.
A única coisa que ainda me restava, era de torcer para que aparecesse outra pessoa que realmente pudesse me ajudar de uma forma indireta a sair deste sonho.
Vinte e cinco minutos depois...
Enquanto perambulava pelas ruas sem saber onde que estava indo, ficava deslumbrada com as casas que eram bem o estilo europeu da época. Acabei entrando em uma espécie de beco e lá tinha um bar ou aparentava ser um, acho que nesta época se chamava de taverna. Não pensei duas vezes e entrei naquele lugar.
Sim, sei que estou procurando encrencas, pois, deve ser um lugar cheios de pessoas que adoram arrumar uma briga sem motivo algum, mas não fazia ideia de onde ir. Quem sabe, eu consiga encontrar alguém mais louco do que eu e que possa me ajudar a me livrar deste sonho?
Quando já me encontrava dentro do respectivo local, acabei recebendo vários olhares dos frequentadores. Alguns muito maldosos, como se estivessem imaginando o que fariam comigo. E outros me encaravam de uma forma, como se tivessem tentando entender o que uma mulher sozinha estaria fazendo em um lugar repleto de homens bêbados.
Após ter andado com uma vontade enorme de sair correndo dessa taverna, parei em frente ao balcão. Onde se encontrava um homem com uma barba preta e longa, que aparentava não tomar banho há anos e tinha uma estatura mediana.
Ele estava limpando os copos ou pelo menos tentava fazer isso e tenho quase certeza de que o mesmo não tenha percebido a minha presença. Então, não sobrou uma alternativa à não ser tentar chamar a atenção do dono deste lugar, resolvi bater um copo que estava sob o balcão. E assim que fiz isso, o homem me encarou com um semblante de alguém que acabou de levar o maior susto de sua vida:
— O que uma jovem donzela pensas que estás fazendo em um lugar como este? Não tens medo de perder a vida por um destes caras, que estão te encarando como se fosse o último pedaço de carne na mesa? — Perguntou, e logo em seguida cuspiu no chão como se fosse a coisa mais natural a se fazer no mundo.
— Mas é claro que não, vocês homens não me assustam. Vou ser bem direta com o senhor, poderia me dar um copo d'água? Já vou logo dizendo que não tenho dinheiro, mas aceito fazer qualquer serviço para pagar. O que acha disso? — Perguntei enquanto entregava o copo a ele.
— Mas que mulherzinha abusada és tu, hein? A água sai por conta da casa, mas só com uma condição... — Disse e logo em seguida foi interrompido por mim.
— E qual seria? — Perguntei com uma certa pressa.
— Calma, me deixe terminar... Com a condição de que você saia daqui assim que terminar de beber este copo d'água, porque não quero que você se machuque por aqui. Concordas quanto à isso? — Perguntou enquanto pegava uma jarra de barro que continha a água e com isso, começou a despejá-lo em um copo.
— Ok, ok! Trato feito e não falamos mais sobre isso, senhor a... — Falei torcendo de que ele dissesse o seu nome.
— Podes me chamar de Zack. Agora beba esta água, antes que algum destes homens venha tentar fazer algum mal a senhorita. — Falou como se tivesse preocupado comigo.
Apenas assenti com a cabeça e comecei a beber os primeiros goles o mais rápido que conseguia. Assim que terminei, entreguei o copo ao Zack e o agradeci. Feito isso, me virei e andei em direção a saída deste lugar rústico.
Quando estava a poucos passos para finalmente pisar pra fora desta taverna, acabei me esbarrando com um homem que estava usando trajes de quem veio de muito longe. E especificamente de um lugar que faz muito frio, pois, suas vestes eram enormes e cheias de pêlos. Aparentavam ser um pouco pesadas ou seria apenas minha impressão. Ele tinha uma barba mal feita e olhos penetrantes como se estivessem tentando ler os meus pensamentos, e era um pouco mais alto do que eu. Essas foram as primeiras coisas que pude notar por estes míseros segundos que o vi.
Enfim, demorei alguns segundos para raciocinar e conseguir falar alguma coisa a fim de pedir desculpas por ter o esbarrado. Ele me olhou como se não tivesse gostado nenhum pouco disso:
— O que uma jovem mulher faz neste tipo de lugar? Não achas que corre perigo estando por aqui? — Perguntou enquanto me olhava intensamente.
— Não te interessa. — O respondi e logo em seguida o mesmo me segurou pelo braço me arrastando para fora da taverna.
— Me solte, seu idiota! — Estas foram as únicas palavras que consegui dizer.
— Vou te levar até uma praça e de lá, te deixarei com algum guarda real que estiveres por perto para poder te proteger até que chegue alguém para te buscar. Pois, duvido que uma moça solteira estejas autorizada pela família para andar desacompanhada neste Reino. — Falou enquanto ainda me puxava pelo braço e me fazendo acompanhá-lo à força pelas ruas.
— Oh, fico tocada por ter um homem que se preocupe tanto comigo. — Falei com um tom de ironia na voz.
— Não sejas ingrata, só estou sendo um cavalheiro com uma jovem mulher que entrou em um lugar proibido. — Falou enquanto avistava a estátua do Rei Carl, o que fez com que ele suspirasse aliviado por saber que faltavam alguns minutos para se livrar de mim.
Assim que chegamos na praça, ele finalmente tinha soltado o meu braço, mas ficou ao meu lado na esperança de que aparecesse alguém que estivesse me procurando. No final, ele percebeu que não tinha aparecido uma alma viva que estivesse querendo me encontrar:
— Bom, pelo visto a senhorita estás sozinha mesmo. Isso és muita falta de responsabilidade de sua família e... — Falou, mas foi interrompido por uma voz feminina que parecia ser familiar para mim.
— Como ousas chegar perto da minha amiga Isabelle, Lorde Isaac? — Indagou, Elizabeth, com um tom de voz um pouco alterada e andava em nossa direção.
— Isso não te convém ao caso. Ah, vocês se conhecem? Bom, parece que o meu trabalho acabou por aqui, até mais. — Falou dando alguns passos para trás na intenção de se distanciar de nós duas para poder ir embora.
— Ah... Antes que vá embora, gostaria de saber o que fazes aqui no Reino, não achas que estás muito longe do seu território? — Perguntou um pouco desconfiada.
— Vim para resolver assuntos pendentes de extrema importância com o Rei Carl. Então se me derem licença, a minha presença também és requisitada em meu castelo, além das montanhas próxima à costa sul. — Disse apertando os passos até que acabássemos o perdendo de vista.
Após esta pequena conversa entre dois nobres, foi que pude raciocinar que aquele homem era um Lorde. Fiquei pensando que eu era algum tipo de ímã para os nobres, pois, parecia que só os atraíam. Enquanto estava perdida em meus pensamentos, Elizabeth balançou a mão na minha frente na intenção de chamar a minha atenção:
— Gostaria de saber o que fazias com aquele homem? — Perguntou enquanto me olhava atentamente.
— Vocês não se dão bem, né? — Perguntei na intenção de tentar mudar de assunto.
— Primeiro, responda a minha pergunta, por favor. — Falou enquanto caminhávamos um pouco.
— É uma longa história, mas digamos que ele me ajudou de uma certa forma. E agora, me responda o por quê parece que vocês não se dão bem? — Perguntei mais uma vez.
— Também és uma longa história e talvez um dia, você saiba de todos os detalhes, prometo. — Disse e soltou um suspiro em seguida.
— Espero que eu descubra isso logo. — Falei enquanto tentava controlar a minha curiosidade.
— Estarei torcendo para que assim que souber de toda a história, não mude o que achas de mim ou de minha família. E falando neles, estive pensando algo neste exato momento e queria perguntar-lhe... Gostarias de ficar por algum tempo em meu castelo até que arrume um lugar para morar ou se alguém de sua família aparecer? O que achas? — Perguntou com um leve sorriso em seu rosto.
— Tem certeza? Não estarei lhe incomodando? — Perguntei surpresa com a proposta que acabei de ouvir da mesma.
— Não, os meus irmãos adoram receber visitas. — Falou enquanto se aproximava de uma carruagem ao qual desconfio que seja dela.
Com isso, entramos na carruagem que era totalmente preta e bem típica desta época. Na porta havia um brasão da família real, que era uma rosa vermelha. Ela pediu ao homem, que segurava às duas rédeas dos cavalos, para que já começasse a correr o mais rápido possível, pois, assim poderíamos chegar ao castelo antes do jantar em família.
E foi isso que o mesmo fez, bateu as rédeas nos dois animais e assim eles correram em direção a saída do Reino, como se as suas vidas estivessem dependendo daquilo. Por alguns segundos, senti uma dó deles porque aposto que devem ter se assustados quando aquele homem fez isso e por conta disso, saíram disparadamente.
Confesso que a forma ao qual Elizabeth e Isaac se olharam e, as palavras que usaram para se dirigir um ao outro, me deixou um tanto intrigada. Qual será o real motivo de eles não se darem bem? Espero que muito em breve eu descubra isso, e que não seja nada muito sombrio ou algo muito triste.
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