17 | Um brinde à liberdade.

JEON JUNGKOOK.

— Jungkook, se você me chamar de cobra anã de novo, eu juro que te mato!

Solto uma risada que ecoa no vazio da casa. Jimin lança um olhar furioso na minha direção e eu ergo as mãos em sinal de rendição.

— Ok, vou parar... — passo andando ao seu lado e completo num sussurro: — cobra anã.

Não esperava receber uma cotovelada nas costas. Gemo de dor e quase tropeço, perdendo o equilíbrio. O recém-moreno ri alto me assistindo. Filho da puta.

— Porra, Park! — repreendo, alisando o local atingido. Vai ficar roxo. — Você tem sorte que eu prometi para Dahyun te deixar inteiro.

— Você não é o único que malhou nesses cinco anos, Jeon — pisca.

O maldito sai desfilando enquanto sofro. Vou revidar depois.

Como combinado, eu chamei os meninos para ajudarem no novo passo da minha vida: morar sozinho. É ridículo um homem sucedido de 28 anos viver com o pai e a irmãzinha, sei disso. Porém, parte de mim permaneceu ali por medo. Medo de não conseguir suportar meus próprios demônios e crises sem ninguém.

Mesmo o chefão Jeon não dando a mínima para o próprio filho, era um consolo tê-lo perto. Tão perto e tão ausente... É um tipo de amor diferente, doloroso, errado.

Começamos as visitações bem cedinho. Tirei geral da cama ao amanhecer e marquei um horário que, obviamente, o bundudo foi o único a cumprir. Todos estão lá fora, na área da piscina. Jimin e eu estávamos checando os detalhes finais do contrato de compra. O bonitinho se auto denominou meu advogado. Poderia pagar por um mil vezes melhor, mas serei humilde e aceitarei seus serviços.

Nós visitamos seis bairros diferentes — um pior que o outro na minha sincera perspectiva. O sétimo ganhou meu afeto. Além de não ser longe do cetro da cidade e do lugar que estava acostumado a morar, segue mais da metade da lista de exigências que montei. Incluí os gostos de Dahyun pois, nunca se sabe, né. Mulheres são confusas, vou esperar ela perceber que está perdendo tempo com aquele moleque.

Estamos num pequeno bairro de classe alta. Há uma certa distância entre as outras casas, cercadas de árvores, dessa forma dá privacidade suficiente a cada morador. É calmo aqui, e já percebi que tem famílias com crianças. Exatamente como eu queria: natureza, tranquilo e familiar.

A casa não é gigantesca, tipo a mansão extravagante e fútil do meu pai. É moderna e média, tamanho suficiente. O agente imobiliário disse que o nome do lugar é "A Casa Branca". Faz sentido, dada que a paleta de cores principal é branco. A parte de fora inteira se concentra nessa cor, tendo como adorno alguns detalhes em preto nas janelas e marrom claro para quebrar o excesso de branco.

Um jardim bem cuidado recepciona a entrada, seguido por uma pequena escada que leva à porta. Dentro há um hall inicial, e então a primeira sala, repleta de janelas. Tem duas: de estar e de TV. Acho frescura dividir, mas Jimin falou que traz um ar chique para a casa. Uma delas serve para receber visitas e a outra é destinada à atividades informais (assistir televisão, jogar videogame, música, etc). Talvez chamá-lo tenha sido bom, afinal.

O meu futuro escritório fica no andar de baixo também, perto da cozinha e da sala de jantar. A cozinha perfeita para um amante de culinária. Vista para o quintal dos fundos, espaçosa e bonita. Não está mobiliada ainda, terei que comprar tudo e trocar a cor dos armários. Aceito branco no exterior, aqui de jeito nenhum. Precisa de uma pitada de preto para combinar comigo.

O quintal é irreal de grande. Piscina de aproximadamente uns 20 metros de comprimento, churrasqueira e uma área coberta para relaxar, que terei que mobiliar com poltronas. Nem sabia que tinha uma casa menor à parte, onde se localiza a academia. Andando mais para o fundo, parece uma mini floresta particular com trilhas delimitada pelo muro. Um paraíso de diversidade de árvores lindas, brotando flores novas e coloridas.

É, sem dúvidas, meu local favorito.

Conforme o tempo, trarei mudanças. Chunja, por exemplo, ia gostar de brincar no seu próprio parquinho. Posso providenciar isso. E eu adoraria ter um pula-pula. Imagina? É uma ideia fantástica e genial.

O segundo andar, onde estou, é separado em dois corredores. Do lado esquerdo, três quartos; do lado direito, dois e um banheiro. Cada um deles é suíte e têm varanda, são quase as mesmas medidas. Vou pegar o maior, claro. Dahyun queria quatro no máximo, cinco não é muito, é? Enfim, serão úteis, teremos mais filhos de qualquer modo.

Paro na porta de um dos quartos. Já quero planejar uma decoração bem fofa para a minha filha. Não sei se deveria deixá-la escolher ou fazer surpresa... Temo ela odiar e eu acabar estragando a magia.

Jungkook! — a voz de Taehyung corta meus pensamentos. — Cadê você?

Abandono o futuro covil da porquinha e desço as escadas de mármore. Tae está no último degrau esperando com uma garrafa de soju em mãos.

— O que foi? Estava dando uma olhadinha definitiva lá em cima.

— Nós vamos brindar, esqueceu?

Apesar de ser pouco mais que meio-dia e breve demais para beber de barriga vazia, não discuto.

Ele abraça meus ombros e me guia pelo espaço da sala de estar, nos levando à porta de vidro deslizante que separa o quintal da casa. Ainda não há espreguiçadeiras nem mesas ao redor da grande piscina, então os meninos estão sentados na grama aparada, bebendo e conversando animados. Um cooler trazido por Hoseok está no centro da rodinha.

Sim, tive a ousadia de convidar Jung Hoseok. Yoongi quase me matou com o olhar quando o ex apareceu. Azar dele, estava precisando de um empurrãozinho para parar de lamentar o término pelos cantos e reagir.

Tae pega uma cerveja na caixa térmica e abre o lacre da latinha, entregando-a para mim.

— Pessoal, queria dizer umas palavras — o castanho chama a atenção do grupinho. — Foi uma longa jornada e, hoje, tenho orgulho de afirmar que nosso Jeon finalmente alcançou a liberdade! Meus parabéns, Jun!

Taehyung grita, segurando minha nuca. Todos riem e eu reviro os olhos pelo exagero. Aposto que já está balançado depois de apenas uns golinhos.

— Se é assim... Um brinde à liberdade! — J Hope exclama, erguendo sua bebida. Ele é acompanhado pelo resto.

Sorrio, me juntando. As garrafas e latinhas chocam-se, celebrando o meu livramento. Viro o líquido na boca e sinto-o descer queimando pela garganta. Meus amigos festejam como se estivéssemos numa noitada. De fato, é mesmo.

É oficial: consegui sair das garras de SeoJung. Após tantos anos me submetendo às suas ordens, estou experimentando o gostinho de uma vida sem amarras. Admito que um vazio incômodo se instala no meu corpo, porém sei que é passageiro. Vai ficar tudo bem.

— Corrida do Álcool! Arriba, Park! — meu melhor amigo anuncia, puxando Jimin para participar. — Quem terminar por último, toma água da piscina!

Rio de sua imaturidade. Cinco anos passaram e certas coisas não mudaram nadinha.

ᴛ ᴇ x ᴛ  ᴍ ᴇ  ᴀ ɢ ᴀ ɪ ɴ

Ser o único sóbrio no meio de quatro bêbados é o pior tipo de resenha que você pode querer. Bom, às vezes rende boas risadas ver, por exemplo, o Jimin flertando com a "Chaewon" — um vaso de plantas no jardim. Taehyung, bebendo água da piscina cheia de cloro após perder um desafio. Ou, Yoongi tentando dar em cima de Hoseok (comprometido), e levando uma patada atrás da outra.

Seria hipocrisia da minha parte dizer que estou completamente livre de birita no sangue. Sempre fui duro para bebida, mas faz anos que não encho a cara como antes, minha tolerância diminuiu consideravelmente. Eu era um anjinho, só retornei a praticar besteiras ao chegar em Seul, influenciado por más amizades.

Tomei uma boa quantidade de latinhas hoje e já estou quase vendo a Dahyun nua, rebolando no meu colo. Ah, sim. Tenho gravadas na mente cada uma de suas curvas, seu cheiro, seu gosto... Sendo honesto, seria a visão dos deuses. No entanto, se eu começar a chorar depois, ia estragar tudo. Excitado e depressivo. Aí, seria vergonhoso.

E vergonhoso é o estado do Min neste momento. Minha tentativa de ser cupido não aparenta ter rolado da maneira que eu esperava. J Hope é fiel ao namorado atual. Se seu coração fraquejou novamente pelo gatinho dele, não demonstrou.

— Yoon, pare de chorar — agachado, cutuco seu ombro. O branquelo está sentado na grama, cobrindo os olhos enquanto pequenos soluços saem de sua boca. — Sei por experiência própria que lágrimas não vão trazer ninguém de volta. Você tem que esmagar a concorrência, caralho! É assim que nós resolvemos nos negócios.

Ele me olha com o rosto corado e olheiras visíveis. Passo o dedo abaixo de seus olhos, secando-os. Yoongi abre os braços num pedido silencioso que eu o console, parecendo uma criança manhosa. Envolvo seu corpo — pequeno, comparado ao meu porte — e abraço apertado. Também estava precisando de um apoio emocional.

Seu dedo acaricia os cabelos da minha nuca em círculos. Até que ele é fofo quando não está xingando de graça.

— É a primeira vez em uns dez anos que você diz uma porra que preste — rio, me afastando. Ok, sem fofura. — Mas obrigado. Vamos esmagar a concorrência, Jeon.

Estico a mão para apertar a sua em concordância; uma promessa. Eunwoo que aguarde, não vou desistir tão cedo.

— Que lindos! — Tae aplaude de longe, em seguida vira-se para vomitar no gramado. Meu gramado limpinho e recém-comprado.

Pelo menos, já posso riscar o tópico "Primeira festa na casa nova" da minha lista.

— Acho que a gente devia ir embora — Hoseok vem da sala, praticamente carregando Park, que não consegue utilizar as pernas. — Jimin fez xixi na sua cozinha.

Yoongi rola no chão de tanto rir e eu fico parado, processando os estragos causados pelos idiotas cachaceiros. Foram míseras quatro horas e veja a bagunça que virou.

— Jungkook! — Park escapa dos braços do amigo e cambaleia torto na minha direção. — Você vai ser o padrinho do Jiminie!

Não pisco, encarando-o atônito. Em vez de estar vendo Dahyun pelada, estou ouvindo Park Jimin, melhor amigo da minha ex e meu maior inimigo, me convidar para ser seu padrinho de casamento? Deve ser uma alucinação.

— Vai dormir que amanhá é outro dia, cobra anã — dou um tapinha em suas bochechas infladas e vermelhas.

— Jiminie quer que Jungkook seja o padrinho — segura minha cara entre as mãos pequenas e quentinhas. — Porque ele te ama.

Arregalo os olhos, sentindo o hálito de vodca. Os meninos riem ao nosso redor — menos Tae, que luta para não botar os órgãos para fora. Me desvencilho do moreno com a cabeça latejando. Estou girando. Talvez não estivesse tão sóbrio assim.

Ele chegou no estágio "Jiminie", o bebê chorão. Alguns acham fofo e engraçado essa coisa de falar na primeira pessoa, referindo-se a si mesmo, e aquele biquinho manipulador em seus lábios. Eu, particularmente, estou aterrorizado. Mais ainda por escutá-lo dizer com todas as letras que me ama.

Que horror. Beber é humilhante.

Estamos alterados, depois ele irá se lembrar e me desconvidar arrependido. Porém, não nego que gosto da ideia... Afinal, a baixinha provavelmente seria meu par.

— Agora é sério: estou morrendo — Taehyung apoia o peso do corpo em mim. Reviro os olhos, enlaçando sua cintura para não cair. — Tomar água da piscina foi uma péssima ideia, por que não me impediu?

A pergunta é direcionada a Yoongi. O branquelo apenas ri maldoso.

— Desafio é desafio — dá de ombros. — Você é um guerreiro, Kim, sinta orgulho!

Sorrio quando o castanho resmunga um "guerreiro é o seu cu". Em um segundo, o sorriso some, pois ele inclina-se para mim de modo suspeito.

— Se você vomitar no meu terno... — ameaço, pronto para lhe dar um belo de um soco.

— Você pode comprar uns 20 novos iguais, seu mesquinho.

Fico quieto, sem ter como contestar tal fato. Sou culpado por nascer rico?

— Jimin! Sai daí! — Hoseok chama o amigo, que está em pé na borda da piscina a um passo de cair.

Não sou capaz de exprimir forças para reagir, eles me esgotaram.

Depois de impedir Jimin de se matar afogado, recolher todas as latinhas e garrafas de bebida e procurar o celular perdido de Yoongi no meio do jardim, finalmente nós fomos embora. Terei que contratar uma equipe de limpeza completa para desintoxicar minha cozinha de quaisquer resquícios do Park. Aquela cobra bunduda mal educada.

A tarde está quente, os raios de sol entrando pela janela do carro esquentam minha pele. É fim de março, ou seja, a primavera está perto de iniciar. Aos 17, já estaria por aí enchendo o cartão de memória da minha câmera. Vou aproveitar para retomar antigos hábitos e fazer um novo mural de fotos.

O aniversário de Chunja está próximo também. Quero organizar algo especial para, ao menos, compensar a minha falta nos outros cinco anos. Julguei tanto meu pai por ser ausente e, de resultado, cometi um erro idêntico — até pior.

Balanço a cabeça, espantando o pensamento. Positividade, Jungkook, vamos lá.

Sra. Park, a psicóloga, disse que um dos meus problemas graves é a autocobrança. Consequências da infância, óbvio. Absolutamente tudo era minha culpa, porque é mais fácil jogar a responsabilidade numa criança de dez anos que acabou de perder a mãe, do que lidar sozinho.

SeoJung era um homem de negócios, casado com o trabalho. Nem queria filhos após o casamento, foi pressionado por minha mãe. Mas, ele estava apaixonado e a amava tanto, que concedeu esse desejo à esposa. Eu gostava daquele pai que me criou inicialmente, apesar da falta de emoções. Por uns anos, funcionou bem. Aí, perdeu a mulher e ficou com dois pirralhos inúteis para dar amor. Um amor inexistente.

Lembro-me daquele dia vividamente, às vezes ele se repete como um loop na mente. Minha mãe, Jeon Sarang, recebeu um telefonema da escola solicitando sua presença na diretoria. Eu tinha levado uma suspensão por brigar... de novo. E, no caminho, bastou um motorista embriagado, um farol fechado, uma lateral de carro destruída, e bum. Lugar errado, hora errada.

"Morte instantânea", disseram duas horas depois. Rápido, indolor. Nenhuma de nós teve chance de se despedir. Acho que foi ali o estrago de verdade. No jeito que o olhar dele se transformou. Perdeu o brilho, a vida, o estimulo de continuar. Caiu sobre mim o peso do acidente e os inúmeros "e se?".

E se eu tivesse sido um filho melhor? E se eu não tivesse agredido um colega por pura birra infantil? Ela não precisaria sair de casa e deixar a governanta cuidando de Haneul para sempre. Ela estaria viva. Ainda estaria respirando. Nossa família estaria completa e feliz. Odeio sequer considerar essa possibilidade.

Meu celular vibra no bolso da calça. Solto um suspiro, exausto demais mentalmente para lidar com trabalho. Entretanto, ao pegar o objeto e ver o número não identificado brilhando na tela, uma faísca de alegria se acende no meu rosto. Atendo no quinto toque.

— Novidades?

Sim, senhor — a voz do homem soa formal e firme na outra linha. — Encontrei novas pistas do seu interesse.

Os meus devaneios de minutos atrás tornam-se insignificantes. Sorrio pela boa notícia, brincando com o anel no dedo.

— Hoje à noite, mesmo horário e endereço.

Positivo, estarei aguardando.

Desligo a chamada, contente com os avanços da investigação. Isso tem que dar certo. Preciso colocar um ponto final definitivo nesse caso.

— Senhor Jeon — olho pelo retrovisor. — Devo levá-lo ao compromisso? — meu motorista pergunta. Um dos de confiança, não contratado a serviço do chefão Jeon para me vigiar.

— Não é necessário, prefiro ir sozinho.

Encosto a cabeça no assento de couro, sentindo as pontadas de dor. Beber de manhã é horrível. E não posso tomar remédio para ressaca correndo perigo de misturar substâncias. Morrer seria péssimo agora. Merda.

Não sei quando acontece, mas caio no sono aos pouquinhos observando a paisagem.

♡︎

vish, o que será que nosso jeikei tá aprontando? teorias?

nunca tinha contado como a mãe do jungkook morreu com detalhes, isso é um dos motivos do pq o pai dele é desse jeito. + pra frente vcs vão chorar (spoiler) com a carta q o jk vai receber...

gent, decidi mudar o nome de tm2. do nada, eu sei, mas tem um motivo. será "text me again" (me mande uma mensagem de novo). no primeiro capítulo da temp 1, o jk passa o número dele e diz pra dahy mandar uma mensagem, né? aí, agr depois de 5 anos, eles estão recomeçando "again", faz sentido ou eu brisei mt?

avisinho: minhas provas começaram e eu fui mal pra caralho na 1a etapa 😭, tenho que me sair melhor nessa, então vou priorizar os estudos em junho... não vou parar de postar e sumir por completo obv, demoro mas nao abandono vcs!!

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