09 | Eu senti sua falta.
KIM DAHYUN.
Batuco os dedos na mesa, aguardando Yerim chegar. São dez e meia da manhã. Ela mandou mensagem pedindo para eu vir na sorveteria urgentemente e não disse o motivo. Odeio esse costume dela de lançar a bomba e vazar, é estressante para o meu instinto de fofoqueira.
Meu celular vibra na bolsa. Pego-o para atender a ligação e vejo o nome da minha amiga na tela. Já estou prevendo o bolo que vou levar.
— Cadê você? Cheguei há uns 20 minutos! — digo, logo após atender.
— Desculpa, Hyunie! Esqueci que tinha uma cliente importantíssima, não posso desmarcar e... Quieto! — é interrompida por uma voz masculina, estranhamente conhecida por mim.
Se for quem estou pensando, mato ela.
— Espera, o Taehyung está aí?
Yerim muta a chamada rápido e fico igual uma tonta. Retorna após alguns segundos, dando uma desculpa esfarrapada que um homem veio lhe pedir informação na rua. Mentirosa.
— Tenho que ir, me agradeça depois! Te amo! — desliga na minha cara, sem esperar eu responder.
Um ponto de interrogação enorme cresce na minha cabeça, tentando interpretar o "me agradeça depois". Agradecer o fora que levei? Preciso de amigos novos, é a solução.
Não acredito que ela está com Taehyung e mentiu tão descaradamente. Escutei uma risada de criança no fundo... Sei que os meninos cuidam do filho pequeno da vizinha, provavelmente foi para casa dele.
— Que perda de tempo — resmungo, levantando.
Quase na saída, a porta de vidro do estabelecimento é aberta. O sininho toca, alertando a entrada de um novo cliente, e a última pessoa na Terra que gostaria de ver está ali estendida há quatro passos de distância: maldito Jeon Jungkook.
Uma expressão de surpresa preenche seu rosto. Ele veste um moletom azul escuro e um shorts preto, mostrando as ridículas coxas fortes. Seu cabelo está meio úmido, fazendo as mechas grudarem na testa.
É irônico o fato de sua idade não corresponder com a aparência jovem. Qualquer um que quisesse adivinhar quantos anos tem, daria no máximo vinte.
Minha boca não se atreve a emitir nenhum som, assim como a dele. Situação esquisita...
— Com licença, rapaz — uma velhinha se dirige ao garoto. — Você não é peso de porta. Quero sair, decida para onde vai!
— Oh, mil desculpas, senhora! Pode passar — faz uma reverência.
A idosa rabugenta anda devagarinho, equilibrando-se na bengala. Ele coça a nuca, envergonhado pela bronca. Por um breve período esqueço que também estava saindo e me divirto rindo da cena.
— Nossa, que coincidência! O Tae disse para eu vir correndo para cá, tive que largar a terapia. Viu ele? — franzo o cenho.
Fomos enganados! Agora compreendo porque Yerim e Taehyung estão juntos, os dois cancelaram de propósito. Eles armaram um plano para nos encontrarmos. Golpistas.
— Você é ingênuo ou trouxa? Não acho que tenha sido coincidência. Parece que nossos amigos estão nos forçando a conversar.
Um sorrisinho malicioso brota no canto de seus lábios ao entender o esquema. Eu odeio o fato dele achar engraçado e ver uma chance para tirar proveito.
— Concordo. Está na hora de termos uma conversa adulta real, sem gritos e tapas. Pode ser?
Bufo, irritada. Adiei minhas tarefas do trabalho só para ouvir a tal fofoca que Yerim prometeu e vejam a furada que acabei me metendo. Pior é ele estar certo; precisamos colocar as cartas na mesa e terminar de uma vez isso.
Sei que irei me arrepender.
Dou as costas para o garoto e sento na mesma mesa que estava, ao lado da grande janela que possibilita uma visão da rua e das pessoas caminhando. O movimento do lugar está calmo, a sorveteria costuma ter menos clientes antes do horário de almoço.
Meu querido ex-noivo ocupa o espaço vago na minha frente e apoia o celular perto do cardápio digital. Aproveita para dar uma revisada nas opções e olha para mim, em seguida.
— Faz anos que não tomo esse, vou pedir um milkshake de Nutella — clica no item e solicita seu pedido. — Quer um, linda? Eu pago.
Linda. Nem consegue esconder o sorrisão descarado estampado em sua cara. Sabe o que me afeta e provoca intencionalmente.
— Não, quero conversar.
— Beleza — ele dá de ombros. — Primeiro as damas, estou curioso para entender exatamente o que aconteceu na noite que te peguei seminua na cama de outro homem.
Reviro os olhos diante do tom de acusação.
Conheço Jungkook melhor que ninguém. Desde que éramos meros amigos, um traço que se destaca nele é a insegurança. Considerando os traumas de sua infância, é compreensível, porém uma péssima característica. Os passos rumo ao seu futuro são decididos por ela.
Até hoje, não consigo racionar direito o quão fora de si ele estava para simplesmente sair do país. Não deu uma chance para eu tentar explicar, terminou comigo por meio de uma ligação e sumiu. Suas ações fizeram eu repensar toda a nossa relação e as promessas que havia feito um mês antes quando pediu minha mão.
Deu a impressão de que aqueles quatro anos felizes foram insignificantes. Ao ponto dele ter jogado no lixo na primeira oportunidade.
— Jungkook, eu odeio falar sobre isso, não me faz bem. Se você debochar...
— Não estou aqui para te atacar, Dahyun — interrompe minha fala. — Quero saber seu lado da história.
Suspiro fundo. Minha mente é transportada para o exato momento da festa em que ainda estava minimamente sóbria.
— Fiquei chateada com você por causa daquela briga boba que tivemos, mas pedi para irmos para casa depois, lembra? — ele assente. — Naquele dia, ia te convidar para vir morar comigo...
O queixo do moreno cai. Com certeza, nem imaginava.
Praticamente vivíamos juntos. Jungkook aparecia no dormitório dos meninos raramente, quando precisava trabalhar em tarefas longas da faculdade. Suas roupas tinham um espaço reservado no meu guarda-roupa e o cheiro doce do seu perfume impregnava meus travesseiros.
Achei uma boa ideia oficializar sua mudança, já que até uma cópia da chave da minha casa ele usava.
— Eu aceitaria — comenta baixo. — É uma pena o destino ter traçado outros planos.
A decepção em sua voz ao citar a palavra "destino" me entristece. Jungkook sempre dizia com convicção que éramos "destinados a nos encontrarmos", e não importava como, quando ou onde, nossa história se repetiria.
Agora, seus olhos passam a sensação de que foi um erro do universo. De que, talvez, não se interessar desde o princípio, teria sido melhor do que me amar e sofrer novamente uma decepção amorosa.
— Enfim, bebi pouquíssimo naquela noite — forço as lembranças. — Minha memória começa a falhar após eu sair da sala de jogos para te procurar... O resto é um borrão.
Ele se mantém em silêncio, unindo as peças perdidas dessa confusão.
Uma atendente jovem vem entregar o pedido. A garota sorri de um jeito particularmente malicioso para Jungkook, que retribui inocente. Engraçado como o charme natural do moreno atrai mulheres de qualquer faixa etária. Safado conquistador.
— Mandei mensagens para você, mas elas não chegavam — retoma o assunto e toma um gole do milkshake. — E uma colega do seu curso disse que te viu subindo para o andar de cima da casa acompanhada. Se recorda do momento que alguém te abordou? Ou te deu algo para ingerir?
Jimin, Yerim e Hoseok encheram o caneco jogando Beer Pong, enquanto eu assistia. Preferi não ultrapassar meu limite e dei uns golinhos num copo de cerveja, nada a mais. Avisei aos cachaceiros que estava cansada e iria procurar Jungkook para irmos embora. A partir disso, há um vazio assustador.
— Esbarrei numas pessoas no corredor, é normal em festas lotadas. Está supondo que aceitei dormir com qualquer um?
— Não, Dahyun — o garoto dita num tom sério. — Você não tinha um motivo para me trair de repente, tinha? Eu errei fugindo e acreditando somente no que vi. E se... te drogaram? Teria sentido, considerando a perda de memória.
É minha vez de ficar calada. Minhas mãos tremem e um mal estar invade meu corpo. A todo momento que esta possiblidade tem chances de ser real, meu estômago embrulha. Óbvio que já tinha pensado nisso, não sou boba. Mas eu estava tão arrasada depois de ele terminar comigo, que decidi ignorar.
Taehyung contou a Yerim o quanto Jungkook estava sendo prejudicado pelas crises de ansiedade. Culpa, era a única coisa presente em mim. Queria entrar no chuveiro e tirar todas as impurezas grudadas na minha pele. Lavar minha boca e rezar para a sensação ruim por ter beijado um homem desconhecido que não era meu namorado, descer pelo ralo.
Jimin repetia que eu não deveria carregar esse peso nas costas se nem lembrava do que havia ocorrido e, com o passar dos anos, acreditei. Porém, até hoje, sou afetada pelo auto julgamento. Foi ou não minha culpa?
— E o que você faria se fosse essa a verdade, Jungkook? — seguro ao máximo o desejo de chorar. — Eu e a Chunja precisávamos de você aqui há cinco anos, não agora.
— Você sabe que eu teria pego o primeiro avião de volta se soubesse que estava grávida! Porra, nunca fingiria que não era da minha conta, porque ainda te amava e amaria a nossa filha também!
Damos uma diminuída no tom ao notar que o conteúdo da discussão ganhou o interesse de clientes curiosos. O moreno puxa a barra do moletom para cima e o remove, permanecendo com uma camisa branca lisa de baixo. Solto um suspiro longo para me acalmar, pois estamos tocando em feridas profundas.
— E-Eu quase matei ele na hora que vi vocês sem roupas — encara a própria palma, perturbado. — O meu lado sã lutava para manter o controle, enquanto o lado motivado pelo ódio ansiava espancar aquele cara por tocar num fio de cabelo da minha garota — estremeço ouvindo sua voz engrossar pela raiva. — Não vou vacilar de novo e descartar essa história.
Balanço a cabeça, negando.
— Remexer o passado só atrasa o futuro, Jungkook. Vamos esquec...
Sua mão alcança a minha sobre a mesa. O toque é repentino e me pega de surpresa, mas não o repreendo. Um olhar de remorso preenche o rosto do meu ex-noivo.
— Sinto muito, Dah — intensifica o contato em sinal de conforto. — Não posso esquecer. Você deve ter ficado apavorada imaginando o que houve no período que estava apagada, não é? Errei te julgando sem saber, me perdoe por não ter sido um namorado melhor... Estou feliz que tenha encontrado alguém capaz de cuidar de você, baixinha.
Foi o máximo que consegui aguentar. As lágrimas caem ligeiras, uma a uma. Tento esconder, cobrindo com o cabelo, mas é claro que o garoto percebe.
— Cada minuto dos meus dias eu me preocupava com você e sua saúde, era assustador não te ter perto. Quando descobri estar grávida fiquei tão feliz, ia contar para você que teríamos um bebê... — sorrio triste, relembrando o resultado do teste. — Mas durou pouco. Tinha tanto medo de estar grávida de um cara que sequer conhecia... Desculpa, Jungoo.
Ele me fita perplexo. Não sei se por causa do velho apelido ou da sinceridade.
— Admiro sua força, não deve ter sido fácil. Não sinta culpa, Dahyun — muda de lugar, sentando próximo a mim. — Orgulhe-se da garotinha linda e inteligente que criou sozinha. Ela é a nossa flor da primavera, ok?
Os dedos de Jungkook tocam meu rosto vagarosamente — um pedido de permissão silencioso. Um arfar suave escapa dos meus lábios ao vivenciar antigas emoções. Seu polegar desliza com delicadeza, acariciando minha bochecha molhada. O olhar desce lento até a minha boca.
O mundo ao redor desaparece. Sustentamos o contato visual, sem desviar a atenção um do outro. Analiso suas feições e o quanto amadureceu. O piercing inédito na sobrancelha direita lhe acrescenta uma boa dose de sedução e encanto. A pintinha fofa abaixo do lábio inferior faz eu rememorar as milhares de vezes que a beijava. E seus olhos adoráveis... Olhos negros e brilhantes feito uma noite estrelada.
— Preciso tocar você — a frase suspende meus pensamentos e me espanta. O moreno corrige de imediato, atrapalhado: — D-Digo, abraçar! Gostaria de te abraçar apenas. Posso?
Nem reflito devidamente no pedido, e aceno em concordância.
Jungkook torna o espaço entre nós quase inexistente. Não resisto e enlaço meus braços em seu tronco; ouço os batimentos cardíacos acelerarem. Inalo os resquícios do seu perfume que, diferente daquela colônia para bebês que costumava comprar, é um aroma mais "másculo". Um selar é depositado na minha bochecha.
Impossível explicar o que significa essa adrenalina correndo nas minhas veias. Estou feliz de estamos nos aproximando novamente?
— Eu senti sua falta, pequena — sussurra, rouco. Suas mãos afagam carinhosas o meu cabelo. — Muito, muito.
Quando nos separamos, os lábios de Jungkook roçam propositalmente no lóbulo da minha orelha. Um arrepio percorre meu corpo. Lanço um olhar de advertência na sua direção, e o idiota nem disfarça, estragando todo a nossa reconciliação.
— Adulto com mente de adolescente. Você não mudou nadinha, Jeon.
— Na verdade, cresci, mas em outros lugares... — sorri ladino, sugando o canudinho do milkshake. Reviro os olhos pelo comentário explícito e desnecessário. — Voltando ao assunto anterior, deixe comigo. Vou resolver tudo.
Semicerro os olhos, desconfiada. Tenho medo das prováveis idiotices que está planejando. Espero que fique na linha e não aja no impulso.
— Já falei para esquecer, Jungkook.
— Não preciso de permissão para ir atrás do filho da puta que mexeu com você, linda. Se quiser esquecer, fique à vontade. Te trago notícias do funeral! — ri da própria piadinha.
Vou rezar para ele não matar ninguém.
Seu celular vibra na mesa e uma música anuncia uma ligação. Leio o nome "Sra. Park" registrado na tela antes dele atender. Eles trocam saudações e Jungkook pede perdão por sair da sessão mais cedo — presumo ser sua psicóloga.
Acho errado xeretar o diálogo, então desvio o foco para algum ponto aleatório e, sem querer, me pego observando a camisa branca que está vestindo. Seu peitoral marca o tecido, consigo ver claramente o abdômen firme. Ele sempre foi forte, mas, uau... Ei, calma aí, não pense nisso!
— Dahyun? — estala os dedos e encaro-o, envergonhada. Céus, controle a sua mente! — Tenho que ir, estou atrasado. Se soubesse desse plano besta do Taehyung, teria adiado uns compromissos para termos uma conversa decente, desculpa.
— Sem problemas. Marquei de encontrar o Eunwoo onze e meia, já vou indo também — ignoro a careta que faz ao escutar o nome do meu atual namorado.
Guardo o telefone na bolsa e levanto. O moreno me acompanha, vestindo o moletom de novo. Aguardo ele pagar a conta no caixa automático para sairmos. O sininho do estabelecimento toca quando abro a porta de vidro, e o tapete no chão estampa a frase "Volte sempre!" em letras cursivas. Fora, alterno o olhar entre Jungkook e a sorveteria. Memórias se repetindo como num filme.
"Desculpa incomodar, mas onde eu deixo meu currículo para concorrer à vaga de amor da sua vida?"
"Está fazendo um desafio?"
Parece que foi ontem...
— Gostei de esclarecer nossos conflitos do passado — arruma os fios rebeldes do cabelo. O sol reflete nas mexas negras. — É bom para Chunja ver os pais bem.
— E você está bem mesmo? — a pergunta o confunde. — Está se cuidando e tomando os remédios?
Eu o conheço. Sei os sinais de que algo está ruim e afetando sua saúde. Assumo que me preocupo. Independente da nossa relação ter terminado, não conseguiria respirar normalmente num mundo sem o primeiro garoto que amei de verdade.
— Fica tranquila. Estou muito melhor porque abracei você depois de cinco anos — balança o celular. — Mais tarde te mando uma mensagem, garota da sorveteria.
— Sem cantadas, Jeon, é sério!
Um sorriso enorme cresce em seu rosto. Os dentinhos fofos de coelho aparecem e eu acabo sorrindo em retorno. Assisto-o sumir na virada da esquina, e sigo pelo caminho contrário, repassando os últimos inesperados 30 minutos.
Eu também senti sua falta, Jungkook.
• ♡︎ •
never not é a música dos dahkook e só minha opinião importa!! combina direitinho com eles, serio q tristeza.
com esse capítulo deu pra entender melhor oq aconteceu... ainda faltam algumas coisas que mais pra frente serão explicadas. enquanto as brigas não voltam, teremos dahkook voltando a serem amigos e jk papai coruja pra alegrar, ok?
presentinho de ano novo: meu meme pra vcs 💘💗💕💓💘💞💗
obs: tinha dito há uns capítulos atrás q o jungkook nao teria piercing na sobrancelha aqui, mas não consigo mais imaginar ele sem, então mudança de planos, tem sim 👍
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