05 | 17 de novo.

JEON JUNGKOOK.

Mais um vaso voa no chão, estilhaçando-se em milhares de pedaços. Fecho os olhos numa tentativa de me manter calmo diante do descontrole do homem.

— Como pude trazer ao mundo um filho tão imbecil! — grita com a voz carregada de ódio. — Céus... Só me traz prejuízo.

Aperto os punhos.

— Estou me segurando para não envolver nenhum tipo de violência aqui e você não está ajudando, pai!

Já sabia que seria difícil assim que pisei os pés aqui. Criei coragem para contar sobre a Chunja e minha decisão de assumi-la formalmente como minha filha. Lógico que ele surtou, afirmando que estou fora de mim e não sei da "verdade".

— Acha que deixarei cometer um erro desses? Nem sabe se a criança é sua, Jungkook! — apoia as mãos na mesa e me encara com fúria nos olhos. — Eu exijo um teste de DNA ou vou processar essa golpista.

Desde a época que namorávamos, meu pai implicava com a Dahyun. A família dela não é farta de dinheiro, mas vivem confortavelmente. Esse fato era o que incomodava o Senhor Jeon. Ao seu ver, sou obrigado a me casar por conveniência para juntar laços com empresas inimigas e fortalecer nossa economia. Não passo de um acordo de negócios.

O argumento utilizado era sempre o mesmo: "ela não te ama, quer apenas arrancar umas notas do seu bolso". Obviamente, neguei essas acusações, afinal, fomos melhores amigos e eu amava Dahyun mais do que amava a mim próprio; nunca duvidaria dela. Porém, o dia da traição me fez repensar. Fiquei tão perturbado que minha única reação foi sumir.

— Escute aqui você, caralho — jogo uma pasta com papéis na sua frente. — Pense muito bem antes de ousar ofender a Dahyun! A menina é minha filha e eu já assumi a responsabilidade de algo que o senhor escondeu por cinco anos.

Ele torce o rosto ao ver o conteúdo da pasta. Dentro há a cópia da certidão de nascimento alterada de Chunja, documentos escolares, plano de saúde e outros. Todos incluindo meu nome como pai legalmente.

Não preciso de teste para ter certeza. Além de acreditar na Dahyun porque sei que ela não mentiria, também sinto no fundo do meu coração que essa garotinha está conectada a mim. Cometi o erro de ir embora uma vez, não farei de novo.

— Tem noção do está colocando em risco, Jungkook?! — seu tom alterado retorna. Meu pai ergue-se da cadeira e aponta um dedo. — Podemos perder contratos que valem milhões quando a polêmica da sua filha bastarda vazar para mídia! Um rebelde não irá me suceder. Você está sujando o nome da nossa família.

Estou me segurando ao máximo. É possível ver as veias marcando o meu braço pela intensidade que pressiono a poltrona. Tem sorte que treinei bastante o controle da minha raiva na terapia ou ele já estaria numa ambulância nessa exato momento.

— Eu não ligo para porra de contrato nenhum! — levanto e ando em direção à saída de seu escritório. — Você está colhendo o que plantou. Prepare-se para ser vovô, SeoJung.

Eu o odeio. Odeio o jeito que insiste em comandar minha vida como se eu me resumisse a um simples boneco de pano. Odeio ter que viver aguentando essa merda todos os dias. Odeio não poder resolver isso com vários socos na cara dele. Eu me odeio por não conseguir sair daqui.

— Ah, papai — debocho, virando-me de costas com a mão na maçaneta. — Se tentar machucar a Chunja ou a Dahyun, juro pela mamãe que te mato. Não fará falta de qualquer forma.

Bato a porta e solto o ar dos meus pulmões. Estar perto dele é como estar envolto de uma sombra negra que me sufoca.

O desgosto estampado em sua face faz meu estômago revirar. O que eu fiz de tão errado para me tratar assim? Dou o máximo para ser o "filho perfeito" desde os dez anos, não é o suficiente?

Tiro o frasco de remédio do bolso da calça e pego um comprimido. Uma mão impede que eu leve-o a boca e me assusto ao ver que pertence à Haneul — parada ali há um bom tempo, espiando a discussão com nosso pai. Ela apenas me abraça apertado. Não diz nada, mas nós dois sabemos o quanto eu precisava disso.

— Desculpa por ter escutado o que eu disse... — refiro-me à ameaça. — Estava puto e não pensei direito.

Haneul sorri, cabisbaixa.

— Você está certo, Jungkook. Não se desculpe por tentar proteger a sua família. A Chunja tem cinco aninhos, ela não pode passar pelo mesmo inferno que nós dois sofremos.

Ela tem razão. De jeito nenhum vou permitir que ele faça algum mal para a minha filha. Infelizmente, não pude poupar minha irmã, mas a Chunja ficará longe da crueldade dele.

— Obrigado. Eu te amo, esquilinha — belisco a bochecha da menor e ela ri. — Dias após o seu nascimento, a mamãe fez eu prometer que cuidaria da nova integrante da família, e seria o melhor irmão do mundo. Se eu não tivesse você, já estaria morto.

— Pois é, aposto que ela está revirando no túmulo — fico confuso. — Vai se fingir de sonso? Você me largava sozinha em casa com sete anos para ir para balada toda semana, seu idiota!

Coço a nuca, arrumando um argumento. Fui todo fofo e ela lança uma patada? Por que memória de criança é tão boa?

— E as vezes que dispensei garotas para assistirmos My Little Pony juntos, hein? Ou quando você me maquiava e me deixava horroroso igual o Pennywise? — dou um peteleco em sua testa. — Jeon Haneul, dê valor ao seu irmão mais velho, sua adolescente modinha insolente!

Haneul retruca com um dedo do meio. Rio da ousadia da garota. Acho que ela aprendeu coisas demais comigo.

— Enfim, quero conhecer a minha sobrinha, Kook! — muda da água para o vinho e os olhos brilham. — Trate de trazê-la em um dia que o chefão Jeon não estiver. Ainda tenho a minha caixa de brinquedos antiga, posso dar para ela!

Tenho sorte da minha irmã amar crianças, não precisarei contratar uma babá um dia. É só oferecer uma graninha como chantagem que ela aceita.

— Você irá amá-la, eu garanto. Vou apenas esperar até a Dahyun acalmar os nervos... O clima entre nós está bem hostil.

— Pelo amor, Jungkook, seja homem! — dá um soco no meu ombro e eu cubro o local com dor. — Pare de se lamentar e roube sua namorada de volta! Vocês adultos são tão complicados, que irritante.

E com essa bronca, um soco dolorido e um tapa de realidade na minha cara, Haneul sobe para o quarto resmungando.

Eu criei uma miniatura do Yoongi?

ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ  ᴀ ɢ ᴀ ɪ ɴ

Quando os meninos disseram que estavam aprontando o tal do plano de boas-vindas — a besteira de "Operação Jungkook Corno Feliz" —, não acreditei que fosse verdade, e óbvio que eles levaram bem a sério.

Taehyung e Yoongi me trouxeram para um clube no centro de Seul. Segundo Tae, é um lugar novo e está sendo sucesso entre os jovens. Esperava tudo, menos encontrar colegas meus da faculdade, do curso de fotografia que fazia antigamente e alguns jogadores do time de basquete do ensino médio. Chamaram eles para me receberem e para comemorar do jeitinho que Jeon Jungkook sabe: bebendo até cair.

Já tinha esquecido o que era aproveitar uma noite da forma certa. Consigo contar nos dedos de uma mão quantas vezes estive em um clube desde que mudei para o exterior. Foram todas visitas para possíveis investimentos em baladas, ou seja, nenhuma festança.

Lá, não tinha tempo para respirar; estudar e trabalhar eram minha prioridade. Por isso, entrar aqui e me deparar com essa surpresa armada pelos meus dois imbecis melhores amigos, inicialmente me irritou. Minha mente não consegue sair desse transe, onde o trabalho deve ser mais relevante que meu bem estar e vida pessoal.

— Ei, JK. Estou vendo seu copo vazio ou é miragem? — Tae entorna sua bebida e abraça meu pescoço. Está fedendo à álcool.

— Não quero beber, tenho compromisso amanhã.

Na verdade, eu desaprendi a virar o caneco. Juntando o fator da falta de tempo e minhas crises, decidi parar e ficar "limpo". Uma taça de vinho ali ou acolá não causa problemas, porém bebida em excesso me destabiliza.

Aquele garoto despreocupado e festeiro de nove anos atrás, não está mais presente aqui dentro. Gostaria de revivê-lo, entretanto, sei que ele não aguentaria a pressão desse mundo real. Ele teria chances se a pessoa que iluminava a vida dele estivesse ao seu lado. E ela não está.

Sua estrelinha agora pertence a outro.

— Você é um sem graça — empurra meu ombro e aponta para uns homens que reconheço de longe. — Então, vou chamar o Jimin! É o meu amigo de copo.

Ah, é. Além de amigos antigos meus, Taehyung também convidou Hoseok, Jin e a cobra bundunda, Park Jimin.

Nós éramos próximos, cheguei a ajudá-lo múltiplas vezes a flertar corretamente com a Chaewon. Se não fosse eu, minhas dicas de paquera e cantadas infalíveis, nem estaria casando. Ingrato.

Era tudo flores, até ele me bater com uma vassoura. Foi uma tentativa de vingança por eu ter terminado com a Dahyun pelo celular — uma mísera ligação de cinco minutos de duração, recheada de raiva, dor e lágrimas. Entendi a fúria dele, admito que acabar assim foi escroto. Faria o mesmo para proteger minha melhor amiga.

— Você já bebeu muito, Tae — pego o copo dele contra sua vontade e seguro sua mão, arrastando-o para Yoongi.

Esbarramos em várias pessoas no caminho, pois o maluco do Taehyung tropeça nos próprios pés. O branquelo está encostado no balcão do bar, encarando firmemente Hoseok, que conversa animado com Jimin e Jin do outro lado do clube.

Ele namora Deus e o mundo, mas nunca esquece quem verdadeiramente fez uma casinha com uma plantação de morangos no seu coração.

Bom, não posso julgá-lo, não é?

— Sua vez. Cuida do seu namoradinho, Yoon — entrego o ator falido.

— Porra, sempre sobra para mim — bufa irritado. — Kim, se você tentar me beijar, eu corto seu pau fora, está avisado!

Rio dos dois brigando feito crianças. Taehyung fica tarado bêbado, é assustador.

Crio coragem e cruzo a multidão de jovens dançando e se divertindo. Chegando perto dos meninos, fico frente a frente com Jimin. O de cabelos pretos — antes loiros e angelicais — esboça uma carranca ao me ver.

— Olha só quem resolveu criar vergonha na cara e assumir a filha — debocha com um sorrisinho nos lábios cheios.

Um silêncio desconfortável — na teoria, já que a música no fundo ainda está altíssima — ocupa o clima entre nós quatro. Jin limpa a garganta e quebra o gelo.

— Sem socos, vamos manter a paz! — J Hope dá um tapinha em nossos braços. — Certo, garotos?

Num sinal de trégua, estico a mão para Jimin apertar. Ele pondera uns segundos e, com desprezo no olhar, me cumprimenta.

Hoseok e Jin vão dançar e permitem que conversemos particularmente. Aos pouquinhos, o Park perde a pose de machão e conta sobre sua vida atual, relacionamento e assuntos de seu serviço como advogado — execlente ao ponto de ser requisitado internacionalmente.

Nossa boa relação não elimina o meu ódio mortal e eterno pelo anão intrometido.

— Você está bonitinho moreno. Prefiria loiro para te xingar de "loira do banheiro", mas tudo bem, é aceitável.

Seus olhos formam dois risquinhos enquanto ri.

— Depois do casamento, viro a loira do banheiro novamente — toma um gole da bebida em sua mão. — E, talvez, eu te convide. A Dah tem que estar confortável com isso ou não rola.

É, faz sentido. Estamos tão distantes, parece que não a conheço mais. Dói pensar assim e lembrar de toda a história que vivemos, sinto como se fosse ontem... Queria poder apertar um botão e retroceder nossos momentos até o primeiro dia que a vi e tirei uma foto sua distraída.

Ali, era o meu paraíso.

— Jimin, ela... está feliz? Com o Eunwoo? — pergunto, mas não quero saber a resposta. Apenas irá machucar.

— Sim... O Eunwoo é aquele tipo de namorado perfeito de filmes, eles se amam muito.

Eu não sei o que dizer. Pelo o que observei, Chunja trata-o igual um pai, afinal, foi ele que esteve cuidando dela desde os três aninhos. Eles são uma família: Dahyun, Eunwoo e Chunja. E eu estou forçando uma entrada num lugar que não tem espaço para mim.

Cheguei tarde demais e tenho que fazer o que estiver ao meu alcance para arrumar essa situação.

— Eu amo tanto ela, Park... Merda! — bagunço o cabelo, frustrado. — Estraguei tudo e agora a quero comigo de novo.

— Jungkook, vou mandar a real para você — o rosto do menor muda para uma expressão séria. — Esquece a Dahyun. A Hyunie demorou para superar a dor que causou a ela. Você foi um cuzão, fez sua escolha, então arque com as consequências, caralho! Você é passado e o Eunwoo é o futuro. Aceite e siga em frente.

Me seguro para não meter um belo de um soco no meio da fuça dele. No entanto, Jimin falou o que ninguém teve coragem de dizer para mim, ou melhor, o que eu mesmo tenho evitado pensar.

Estou incompleto. Sem ela, uma metade de mim não existe. O pior é que não há como retornar para os tempos bons da minha vida. Eles se foram e a Dahyun também.

Eu fodi todos os planos que criamos. Estava tudo perfeito; iríamos casar e construir uma família juntos, do jeito que deveria ser. É totalmente minha culpa. Tinha felicidade, amor, carinho... Joguei essas coisas para o alto e fui embora. Por que deu errado? Por que quebro tudo que toco?

— Você é rico, bonitão e jovem, Jungkook — ele emenda: — Certeza que encontrará uma pessoa que te fará feliz. Quem me dera ser você.

Rio irônico. Essa frase soa igual uma piada para alguém no fundo do poço. Foi a gota d'água.

Foda-se, preciso beber para não sentir essa pontada no peito. Não vou me preocupar com nada. Hoje, somente hoje, Jeon Jungkook tem 17 de novo.

♡︎

jungkook vai dar pt depois de tanto tempo sem beber, vcs já sabem o que vai acontecer né, hmkk

ngm perguntou, mas profissões de cada um caso estejam com curiosidade:

> principais
• jeikei: CEO - administra rede de hotéis, restaurantes, comércios grandes dos jeon's e afins (mas queria fotografia);
• dah: arquiteta paisagista (cria projetos de paisagens pra espaços naturais/urbanos);
• eunwoo: arquiteto de edificações (projeta prédios residenciais, comerciais e etc);
• tae: ator falido & modelo de cueca nas horas vagas 😋;
• yoon: CEO/sommelier (especializado em vinhos chiq);
• jimin: advogado rabugento, n aceita perder;
• yerim: consultora de moda, cobra caro;

> secundários
• chaewon: terapeuta de casais lacradora;
• jhope: modelo & influencer (tá famosoh);
• jin: confeiteiro famoso no yt pelo eat jin KDJFKFK;
• namjoon: cardiologista gostosao *cai pressão*

ngm perguntou parte 2, mas eu imagino a haneul como a go minsi (atriz de sweet home, love alarm e outros 👍):

até daqui há um mês 💋💋 memeKKKKKKK

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