04 | Ex é igual cadeira...

KIM DAHYUN.

— Ele está um gostoso, Dahyun! — cobre a boca, perplexa.

Balanço a cabeça, indignada.

Vim para casa dela na intenção de nós falarmos mal de Jungkook e, em vez disso, Yerim decidiu stalkear as redes sociais desse imbecil na minha frente. Para piorar, elogiando.

Obviamente, eu sei que é impossível não notar o quanto os músculos de seus braços dobraram de tamanho ou as diversas inéditas tatuagens espalhadas neles. Sem falar do novo corte de cabelo que lhe cai bem e transmite seriedade. Ridiculamente bonito.

— Continua um babaca — dou um gole na xícara de chá.

"Nem se você implorasse de joelhos, iria aceitar uma traidora de novo", quem ele pensa que é para me tratar desse jeito? Age como se a gente nunca tivesse namorado ou sido amigos. Não deu uma chance de ouvir o meu lado da história e ainda tentou me humilhar.

Jungkook mudou para pior.

— Fico chateada de ver vocês brigados, Dah — minha amiga assume, cabisbaixa. — Todo mundo achava que iriam casar e viver felizes para sempre...

Exato. O que vivemos foi um conto de fadas e agora enxergo a sujeira embaixo do tapete. Nós éramos tão novos, tão bobos de amor, idealizando um futuro e uma vida "perfeita" juntos sem considerar os milhares de obstáculos que nos impediam. Foi especial e lindo, porém não existe mais.

— Melhor sozinha do que mal acompanhada — dou de ombros e a garota ri.

— Ele ficou assustado quando viu a Chunja?

Suspeito que a intenção de Jungkook era ficar invisível em Seul. Resolver coisas do trabalho e ir embora. No entanto, acabamos nos reencontrando da pior maneira possível: eu, na sorveteria, com uma criança me chamando de "mãe". Conheço-o bem e tenho certeza que surtou.

Senti meu coração parar ao vê-lo. Meus pés grudaram no chão e ali, cara a cara com ele, perdi toda a força que ganhei conforme os anos. Achei que fosse minha imaginação brincando com as memórias do passado, mas era real. Jungkook voltou de repente e, naquela hora, eu não estava preparada para anunciar que era papai.

Significou muito ele ter acreditado em mim. Eu sei que vai causar uma briga enorme na família e seu pai irá me ameaçar como das última vezes, mas é a verdade. Não mentiria para — palavras do Velho Rabugento Jeon — "arrancar seu dinheiro", somente quero que ele se responsabilize.

— Foi tudo bem, eu acho. Eles se abraçaram... — sorrio, lembrando do quanto Chunja estava animada. — Aposto que ela gostou mais do carro.

Não a julgo. Se nessa idade eu visse um carro que abre as portas para cima como uma gaivota, também me impressionaria. Eunwoo disse que é uma BMW. Nem trabalhando por cem anos, eu conseguiria comprar.

— Credo, você é sortuda demais.

Junto as sobrancelhas, confusa pelo comentário.

— Sortuda? Minha vida é um mar de azar!

— Seu ex é tipo um Sugar Daddy gostosão e milionário de 28 anos! Onde está o azar?

Agora Yerim só pensa nessa bobagem de "Sugar Daddy". Até me mostrou um aplicativo específico para arranjá-los. Não me surpreenderia se, do dia para noite, ela brotasse com um e terminasse com o cara que está saindo. Sinceramente, viu...

O som da campainha nos pega de surpresa. Minha amiga pula da cama e desce as escadas correndo para atender. Ouço uma voz masculina no andar de baixo. Segundos depois, ela entra no quarto seguida de Jimin.

— Oi, Hyunie! — inclina-se para deixar um beijo na minha bochecha. — Vocês estão fofocando sem mim, que audácia! Amo falar mal do Jungkook, por que não me chamaram?

— Ficamos com medo de você querer bater nele com uma vassoura — Yerim se joga na cama. — Igual da última vez.

— Bati errado, deveria ter enfiado no c...

Rio e puxo a mão do garoto para sentar ao meu lado. Ele está de terno, provavelmente saiu do escritório há pouco tempo. Seu típico tom loiro de cabelo foi trocado pelos originais fios negros. Deve ter mudado para o casamento.

— Pedi para ela não chamar porque sei que, apesar de tudo, vocês são amigos — ele sorri, sem graça.

— Por você, eu o xingaria sem problemas.

É quase impossível ver Park Jimin e Jeon Jungkook sendo amigos, certo? Bom, o inimaginável aconteceu. Nos quatro anos que namoramos, os dois se aproximaram demais. É claro que as provocações, apelidos ruins e falsas brigas não pararam, mas era evidente que se gostavam. Percebo que Jimin sente falta da amizade deles.

— Esquece, vamos falar sobre os preparativos do seu casamento! Como estão indo?

O moreno solta um suspiro cansado e também se esparrama na cama, perto de Yerim.

— A organização do salão precisa combinar com nossas roupas. Chaewon não quer casar de vestido branco — bufa. — Disse que essa cor simboliza a paz e ela está longe de ser pacífica, acredita unicamente na violência — seguro a risada. — Ou seja, voltamos à estaca zero.

Chaewon tem uma personalidade forte. No início, pensei que eles não iriam se entender direito, porém deu mais certo do que qualquer um esperava. O fato de terem gostos e ideias diferentes, foi o motivo do amor tão lindo que nasceu entre os dois. Um completa o outro.

Jimin encontrou sua alma gêmea e estou muito feliz por ele.

— Branco é tradição velha. Pega na mão da titia — a morena desbloqueia o celular e mostra fotos de modelos. — Tem diversas cores em alta: rosa claro, ouro, azul... Até vermelho! Chae ficará linda, confia.

— Verdade, Jiminie. Converse com ela e cheguem a um acordo.

O garoto sorri, transformando os olhos em risquinhos.

— Vocês são minhas salvadoras.

Essa coisa toda de casamento, traz lembranças de quando eu estava organizando o meu. Supostamente, iríamos realizar a cerimônia no início do ano seguinte. Jungkook falava o dia inteiro que queria casar logo e morar fora do país — eu discordava do plano. A Yerim, atiçada, já estava me levando para ver vestidos de noiva e locais possíveis para a festa depois.

Me precipitei crendo que aconteceria. A vida fora dos sonhos é um mar de surpresas e decepções. No final, acabou tão rápido quanto começou.

— ...uma puta mansão! — minha amiga exclama, enquanto Jimin ouve atentamente. — Imagina o valor da pensão que ela vai receber.

— Não faz mais que a obrigação. Tem que pagar uma quantia grande!

Incrível. Eu me distraio um segundo nos meus pensamentos e os doidos não demoram para fofocar sobre Jungkook. Desocupados.

— Parem! Cansei de sequer escutar o nome dele.

Na realidade, terei que me acostumar com sua presença por causa da Chunja. Frequentando minha casa, aniversários, participando de reuniões escolares... Prevejo o inferno que será.

— Conhece aquele ditado, "ex é igual cadeira, uma hora você senta"? — Yerim beberica a caneca com chá. — Se aplica direitinho a vocês.

— Não é porque aconteceu com você e o Taehyung, que irá se aplicar a mim, entendeu?

Os palhacinhos caem na risada. Reviro os olhos.

Nossa relação é um passado distante que está enterrado a sete palmos do chão. Não tem a menor chance de reviver algo morto. Incluindo o meu amor.

ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ ᴀ ɢ ᴀ ɪ ɴ

Chunja corre do banheiro com a toalha e eu vou atrás. Ela sempre faz isso, pois odeia tomar banho. Não entendo direito o porquê, é a parte mais satisfatória do meu dia. Todo o cansaço e estresse desce para o ralo junto da sujeira do corpo. É maravilhoso.

Analisando agora, pode ser que esteja traumatizada pelos primeiros anos da vida dela, em que eu, ainda bem inexperiente nessa coisa de bebês, fazia a coitadinha engolir muita água. Treinar com bonecas foi uma ideia horrível... Culpa da minha mãe que prometeu que seria fácil.

Entro no quarto da menina — antes meu — e rio da cena. Está sentada na cama encolhidinha e tremendo de frio. Enquanto seco-a com a toalha, ela mantém a cara fechada e as bochechas infladas, certamente irritada.

Passo o pano entre os dedinhos do seu pé, sei bem que não irá resistir.

— Faz cócegas, mamãe! — solta uma risada alta.

— Você está limpinha agora, viu como é bom?

— Não é — murmura, ficando emburrada de novo.

Teria sido uma morte se hoje fosse dia de lavar o cabelo. Chunja joga a água da banheira para fora propositalmente, só para fazer birra. Engraçado como até a teimosia de Jungkook é genética.

Pego no armário os dois pijamas que separei e deixo-a escolher. Um deles é um conjunto azul estampado com coelhinhos brancos e, o outro, é rosa claro com desenhos de porquinhos — o preferido dela.

A menina encara, pensativa.

— Hm... Esse! — aponta para o dos coelhos. — Porque me lembra o papai.

Ela diz tão baixinho que quase não escuto.

Estou feliz da Chunja ter aceitado na boa essa confusão. Sinto que ela já tinha noção, desde que encontrou aquela caixa antiga no meu quarto ano passado.

Fui idiota de guardar essas coisas? Sim, foi um erro enorme. Porém, não consegui jogar no lixo. Praticamente tudo que vivi com Jungkook está nela; fotos, presentes, desenhos seus, o anel, e muito mais. Minha pequena — uma criança de quatro anos, curiosa e xereta — me atingiu com várias perguntas sobre o "homem misterioso".

Não sobrou saída, senão contar um ponto de vista diferente da história. Ou seja, eu menti e disse que o pai dela precisou morar longe para resolver questões seríssimas do trabalho, por isso, não pôde estar lá quando ela nasceu, nem participar de nenhum dos aniversários e eventos de dia dos pais como todos os seus colegas da escola.

A versão "legal" a chateou também. Ela ainda não entendia o motivo de Jungkook nunca ter ligado ou mandado sequer uma carta. De que modo eu responderia? "Ah, filha, porque ele não sabe da sua existência".

Se eu tivesse contado a verdade, ela teria ficado magoada. E, de forma alguma, mesmo odiando o jeito que me desprezou, eu não tentaria sujar a imagem de Jungkook para a sua própria filha.

— Mamãe — ela deita, já trocada e pronta para dormir. Sento na borda da cama, escutando. — O papai voltou do trabalho, então... vocês vão casar? Igual o tio Jimin?

Sou cuidadosa com as palavras. Às vezes, Chunja parece um detector de mentiras; analisa cada expressão em seu rosto e te pega no flagra. É uma pestinha inteligente até demais para a idade.

— Já expliquei que isto é um assunto de adultos, florzinha — os lábios finos formam um bico de tristeza. — Não adianta tentar me convencer com fofura! Está tarde e você tem escola amanhã.

— Mas estou sem sono!

Arrumo a coberta e cubro-a na altura do pescoço. Ela boceja e esfrega os olhinhos. Teimosa.

— Conte porquinhos pulando na lama até o número dez várias vezes. Vai dormir rapidinho. — coloco o ursinho do seu lado para que o abrace. — Boa noite, meu amor.

Boite, mamãe.

Ligo o abajur na cabeceira e o cômodo é iluminado por um tom de rosa fraco. Dou um beijinho no topo de sua cabeça e apago a luz. Pouco antes de encostar a porta do quarto, Chunja já está de olhos fechados.

Desço as escadas para a sala. Eunwoo está deitado no sofá assistindo algum filme. Dou um tapinha em sua cabeça e o moreno sorri largo ao me ver. Ele se ajeita e abre espaço para eu sentar também.

— Chunja não fez tanto escândalo — comenta sobre os chiliques que a citada dá no banho. — Ontem o banheiro parecia um campo de guerra.

Rio, mas no fundo estou aliviada. Não aguentaria brigar com ela hoje, muito estresse acumulado para um único dia.

— Espero que conforme o tempo, ela se acostume e pare — me espreguiço. — Ah, que dor nas costas! Quero minha cama, Woo.

— Vem, dorminhoca — estica os braços, sorridente.

Aconchego meu corpo no abraço quentinho do meu namorado. Aprecio o carinho no meu cabelo e a maciez da sua boca dando selinhos na minha bochecha. Não evito rir da brincadeira.

— Amor, eu sei que está cansada, mas estava na dúvida... — ele hesita completar a frase. — O que significa a volta do Jungkook para você? Mais precisamente: o que muda entre nós?

A pergunta não me pega de surpresa. Estava adiando essa conversa o máximo que podia, no entanto, não é justo com o Eunwoo.

Nós nos conhecemos na faculdade. Devido à gravidez e "responsabilidades maternas", eu tive que trancar o curso de arquitetura para cuidar da Chunja quando ela nasceu. Retornei os estudos dois anos depois, onde conheci Woo. Criamos um laço de amizade rápido, já que sentávamos juntos nas aulas. E acabou resultando em algo maior.

O fato é que ele tem sido uma das razões de eu continuar levantando todos os dias. Eunwoo que ficou ao meu lado nas vezes que precisei de alguém para me dar forças. Ele que respeitou e aceitou a garota que é alvo de fofocas maldosas na região — vulgo eu, a mãe solteira abandonada pelo noivo. Ele que cuidou de mim e se importou quando ninguém mais fazia... Eu realmente o amo.

— Eunwoo — toco o rosto do garoto que espera pacientemente pela resposta. — Apesar de eu ter amado muito o Jungkook no passado, atualmente é mais saudável nós mantermos distância. Pretendo falar, se necessário, somente sobre a Chunja. Não se preocupe, ok?

Encontrar Jungkook após anos, mexeu comigo, porém, não de um modo romântico. Há nada restante no meu coração para ele. Talvez, Jungkook estivesse errado. Não fomos "destinados" como dizia convicto, e está tudo bem. Já superei e tenho outros assuntos mais relevantes para me concentrar.

— Confio em você, Dahyun. Minha preocupação é com a sua saúde — gentilmente, põe uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Você sofreu bastante, não quero que seu passado te atormente.

Seguro suas bochechas com as duas mãos e deixo um selar em seus lábios.

— Fica tranquilo, eu estou bem! Eu te amo, amor. Obrigada por sempre estar aqui comigo.

— E-Eu também te amo... Muito.

Sorri tímido e cora. Fofinho.

Encosto a cabeça em seu ombro e relembro as palavras que disse há segundos: "Você sofreu bastante, não quero que seu passado te atormente".

Nem para fazer piada brincaria com isso.

A ilustre volta de Jungkook não irá afetar a vida que construí do zero sem ele. A fase de adolescentes apaixonados se foi. Somos adultos e temos que aprender a lidar com a nova realidade. Ele querendo ou não.

♡︎

o eunwoo é um amorzinho, só se fingiu de machão na frente do jk pra marcar território mesmokkkkkkkk

⚠️ importantíssimo, respondam pls!!:
estou planejando um especial de 1M para TM e quero saber o que >vocês<, meus caros lindos leitores, gostariam que eu escrevesse!

ex: pode ser algum momento fofo/hot dos dahkook no passado, povs de outros personagens pra mostrar o relacionamento deles, ou um universo alternativo onde os dahkook não terminam e o jk vê a dah grávida.... enfim, peçam o que vcs teriam vontade de ler e deem sugestões pra mim! caso vc goste da ideia do amiguinho, pode dar rt e/ou complementar também.

agora um gatilho na sua telinha >> dahkook como a trend do tkk: "from strangers to friends, friends into lovers and strangers again..." sofram aí, bjs

eu sei que demorei, perdao limdos amo vcs não vou demorar muito pra postar o próximo <3

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