01 | Olhos cor de mel.

JEON JUNGKOOK,
9 anos depois,
Seul - 2030.

E aqui estamos novamente.

Conforme o carro cruza a avenida movimentada, analiso pela janela fumê as ruas repletas de comércios e prédios desenvolvidos recém erguidos nos últimos anos. Tanta coisa está diferente; sinto como se fosse um turista visitando um país desconhecido.

O dia está bonito. O sol fraco do meio-dia ilumina as sombras pelas calçadas, acompanhando o passo acelerado da multidão.

É até engraçado eu ter sentido saudades daqui... O simples fato de ouvir sobre qualquer merda referente à essa cidade, me causava ódio e tristeza. É a parte que mais dói: saber que minhas melhores lembranças aqui, tornaram-se ilusões que alimentei com meu coração ingenuamente.

Balanço a cabeça, espantando este pensamento. Esquece ela, cara. Você veio para trabalhar, não se distraia com inutilidades.

— Senhor — levo a atenção ao meu motorista que falava ao telefone há alguns segundos. — Seu pai pediu desculpas por não ter ido buscá-lo no aeroporto. Disse que estará aguardando sua chegada em casa.

Já previa que iria dar um bolo em mim. Deve estar bravinho pelo mal jeito que tratei a filha de um dos acionistas da empresa, mas a culpa não é minha. Casamento arranjado é uma piada! Eu me recuso a aceitar essa prisão matrimonial. Não serei forçado a ficar com alguém que nem conheço.

Bufo e encaro a paisagem urbana. Meu pescoço e mãos estão suando frio sem motivo. Afrouxo a gravata, nervoso.

Tento acreditar que voltei apenas para negócios, porém sei que estou enganando a mim mesmo. Apesar de todos os meus esforços para seguir em frente, é impossível superar antigos sentimentos. Queria vê-la. Descobrir se está bem, se resolveu deixar tudo no passado e me esquecer...

Não. Merda, pare de ser trouxa, Jungkook! Nada irá reverter o que ela fez com você.

Estou esgotado, preciso aguentar este dia. Odeio viajar de avião por longas horas, fico estressado com a mudança de fuso horário. E aposto que estarei lotado de trabalho, iremos demorar e não terei tempo de descansar.

Tiro do bolso do paletó o frasco de remédio e engulo um comprimido a seco. Apoio a cabeça no encosto macio do banco e fecho os olhos, suspirando fundo. Sinto minhas pálpebras pesarem e me permito cochilar.

ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ  ᴀ ɢ ᴀ ɪ ɴ

— Marquei uma reunião com os administradores do hotel assim que pousou na capital — o homem de cabelos grisalhos avisa, servindo-se de um pouco de Tteokbokki. — Esteja atento, logo irá comandar sozinho.

O papaizinho decidiu preparar um almoço de boas-vindas, lindo, não? Foram 20 minutos e já considerei fugir umas cem vezes.

Sinceramente, não estou feliz. Passei cinco anos fora do país, larguei tudo para me dedicar à vida decente e "perfeita" que meu pai queria desde o início. Dinheiro, luxo, uma casa grande, um bom trabalho e essas besteiras, são insignificantes. Sou igual um personagem de videogame vivendo no automático, sem planos futuros.

Fotografia era meu passatempo predileto e tive que deixar de lado também, pois, segundo ele, é uma "distração". Resumindo: perdi absolutamente tudo que me motivava a viver.

— Eu que gerenciei o escritório em Nova York nos últimos três anos — sinalizo para a funcionária retirar meu prato e a mesma o faz. — Aposto que esse seu chamado repentino, é para avaliar se já sou qualificado para ficar no seu lugar.

Ele ri.

— Confio no seu potencial, filho. Amadureceu e virou o homem que eu e sua mãe queríamos. Não irá me decepcionar, correto?

Ignoro o comentário cheio de expectativas e bebo um gole de vinho. Sou obrigado a sorrir e fingir que está tudo bem, quando o que eu mais desejo, é viajar para aqueles bons dias onde minha preocupação principal era encher a cara e passar a noite em festas.

Fingir. Até quando?

— É uma pena... Jurava que retornaria casado — o olho torto. Lá vamos nós com a ladainha. — Haemin é uma mulher linda, rica e respeitada, por que recusou a proposta? Deveria estar compromissado há anos!

Deus me livre, chega de desilusões amorosas.

— Nada interessante — respondo, indiferente. — Sexo ruim e é loira. Não gosto de loiras.

— Oh, claro. Esqueci que qualquer uma que não seja a Dahyun, não é seu tipo — provoca e eu mordo o lábio. — Cinco anos passaram e continua um tolo, Jungkook.

Infelizmente, ele está certo. Um amor igual ao que senti na adolescência, não é facilmente superado. Especialmente, a garota que jurava ser o meu destino.

Fui apresentado para diversas mulheres em encontros arranjados pelo meu pai. Nenhuma, nunca, conseguiu me satisfazer ou ser atraente o suficiente. É como se meu corpo rejeitasse todas e ansiasse unicamente pelos toques dela.

— Sou burro, pai. Era o que queria ouvir? Sim, eu ainda amo a maldita garota que peguei numa cama com outro cara! — me altero e o mais velho suspira irritado. — Pare de encher o meu saco com esse assunto. Dependendo de mim, nem a porra de um neto para incluir no testamento você terá!

— Abaixe esse tom, Jeon Jungkook! — repreende, batendo na mesa. — Lembre-se que não está aqui para vadiar. Você tem afazeres e ficarei na sua cola para cumprir com suas obrigações!

Reviro os olhos.

Senhor Jeon SeoJung — meu querido papai — vem sofrendo de alguns probleminhas de saúde e o estresse do trabalho o prejudica. Não é num nível preocupante; usar medicamentos "resolve". Mesmo assim, semana passada, recebi uma ligação sua demandando que eu voltasse para a Coreia e o ajudasse em questões relacionadas à empresa.

Pretendo ficar até o final deste mês. Nem um mísero dia a mais.

— Tenho 28 anos, não preciso que me diga o que fazer.

Checo o horário no celular. Taehyung disse para avisá-lo quando eu já estivesse aqui e esqueci. Ele quer me encontrar amanhã, mas essa semana estarei ocupado, hoje seria ideal... Bem, tanto faz. Já queria escapar dessa tortura.

— Enfim, obrigado pela refeição. Vou passear e acostumar com a cidade — minto, arrastando a cadeira para trás e me curvando brevemente.

— Peça ao motorista que te leve — responde desinteressado, lendo algo no tablet e comendo. — Está cansado, é perigoso dirigir nessas condições.

Motorista, uma ova. Para que ter carteira se eu não uso?

Apenas deixo a sala de jantar e saio de casa doido para me livrar daquela atmosfera ruim. Ultrapasso o portão e ando até o carro — estacionado em frente e livre para uso. Explico para o chofer que irei tratar de assuntos pessoais sozinho e o proíbo de contar ao chefão.

Estaria encrencado, pois meu pai não gosta dos meus amigos. Especificamente, Taehyung, o "fumacinha má influência".

— Tome cuidado, garoto! Ligue e eu te busco, caso queira — o homem informa, receoso.

Conheço-o desde os 15, ele sempre me ajudava fugir de casa. Bons e velhos tempos...

— Não se preocupe.

Jungkook!

Viro na direção que meu nome foi chamado e abro um sorriso ao ver quem é. Ela vem correndo pela calçada, vestida com o uniforme da escola, e envolve os braços na minha cintura. Retribuo o abraço, contente com o afeto.

— Seu paspalho! Você nem ligou para dizer que já tinha chegado! — belisca minhas costas.

— Haneul, está doendo! — rio, pedindo que pare. A garota se afasta e dá um pulinho para beijar minha bochecha.

— Morri de saudades de você, Kook.

Minha irmã ficou bem triste quando fui morar no exterior. Ela me visitou uma vez no ano retrasado e, desde então, só nos vimos por vídeo chamadas. Às vezes esqueço que a criancinha que eu provocava, é uma adolescente de quase 19 anos atualmente.

— Eu também, chatinha — bagunço seu cabelo e ela pragueja. — Preciso dar uma saidinha agora. À noite, nós podemos pedir pizza e ver um filme, que tal?

— Combinado! Não atrase, quero passar um tempinho com você antes que volte — diz, cabisbaixa.

Retribuo o beijo que me deu na bochecha e estico o dedinho para selar nosso trato. Haneul aceita e espera eu dar partida no carro para entrar em casa.

Meu pai comprou essa mansão há poucos meses e eu achei meio exagerado ter um terreno tão gigante. Não é longe do nosso antigo bairro — onde os meninos moram —, então, em menos de 15 minutos, reconheço as ruas que marcaram minha infância.

Eu não deveria, mas por impulso, paro o carro em frente à sorveteria. Jurava que esse lugar não existia mais, e aqui está ele, firme e forte. Boa parte da cidade está avançada na construção de prédios altos e modernos, no entanto, este bairro manteve a simplicidade. É acolhedor.

Meu corpo sai do carro involuntariamente, indo direto para a porta. O sininho toca, anunciando minha entrada, e uma sequência de memórias marcantes vêm à tona na minha mente.

As paredes azuis e amarelas em cores pastéis e as mesas com assentos acolchoados, continuam idênticos. Há mais opções de sorvetes na vitrine e o caixa foi retirado, pois na maioria dos comércios não é preciso cobrador — o pagamento é feito por uma espécie de "caixa automático".

Concentro-me nos quadros espalhados pelo local com fotos de clientes queridos do falecido dono. Entre eles, uma minha com o meu grupo de amigos: nós dez, cada um com seu respectivo par, e o senhorzinho sorrindo no meio. Dahyun está sentada no meu colo e eu dando beijo em sua bochecha.

É doloroso demais para mim estar aqui, confesso.

Escolho meu sabor preferido no caixa e pago. Minutos depois, a atendente simpática me entrega o potinho colorido com sorvete de chocolate até a borda. Seu número de celular vem escrito no guardanapo e eu rio da ousadia. Ignoro o papel no balcão e nego com a cabeça.

A decepção da jovem é evidente. Ela tem no máximo uns 16 anos... Ser preso não está na minha lista de desejos.

Saio do estabelecimento e retorno para o veículo estacionado adiante. O dia está ensolarado, então decido tirar a parte de cima do terno e deixar o paletó no banco de passageiro. Uma mensagem de Taehyung brilha na tela do meu celular e leio sem desbloquear.

💬 três teta • 15:04
ok, tô esperando

💬 três teta • 15:04
NAO PARA NA SORVETERIA.
se tu chegar chorando, vou te socar
corno depressivo

Tarde demais, amigo.

Não me incomodo em dar uma resposta, porque Tae me conhece bem e sabe que sou trouxa a esse nível.

Fecho a porta e encosto no carro, tomando o sorvete com a colherzinha de plástico. Através da vidraça da sorveteria é possível ver que não está movimentada hoje. Nas mesinhas de fora há apenas um casal e alguns estudantes do fundamental.

Sinto um cutucão na perna e abaixo o olhar, confuso. Uma garotinha está ao meu lado e gesticula confiante com a mão que eu chegue perto. Junto as sobrancelhas curioso com o motivo do chamado, e me agacho para ficar na altura da mesma.

— O que foi, princesa? Está perdida?

A menina é incrivelmente linda. Os olhinhos são grandes e negros, chegam a brilhar com a luz refletida do sol. Bochechas coradas e um sorriso fofo, faltando dois dentinhos de baixo. A pele é pálida e tem longos cabelos castanhos escuros. Uma presilha amarela — combinando com a cor de seu vestido — prende uma das mechas lisas para não atrapalhar a visão.

— Moço, você se parece com o meu pai... — ela faz um biquinho, analisando meu semblante. — Tem um narigão igual ele!

Relevo o comentário criticando meu lindo nariz e esboço um sorriso que transparece claramente meu pânico.

Tenho absoluta certeza de que me preveni. Se eu não lembro, não aconteceu. Logo, não é minha responsabilidade.

— Oh, sério? Então, ele deve ser bonitão! — brinco, arrancando uma risadinha dela. Que gracinha.

Chunja! — alguém a chama com um grito. — Vem cá!

Essa voz...

Meus olhos sobem lentamente e encontram os seus. Olhos cor de mel.

Me levanto rápido. Tão rápido, que meus joelhos quase perdem a força pelo impacto que é vê-la estendida a míseros sete passos de distância de mim. Os cabelos compridos que eu admirava e elogiava, agora estão nos ombros, destacando ainda mais sua beleza extraordinária.

Tinha o pressentimento que aconteceria algo.

Mamãe!

Assisto a menina correr e abraçar suas pernas, pulando de alegria para pegar o potinho de sorvete. É quando sinto a minha pressão despencar e a visão tornar-se turva.

Dahyun está tão perplexa quanto eu. Ficamos nos encarando por minutos a fio. O céu parece contribuir e fechar diante dessa situação tão desconfortável. Meus pés travam no chão, impossibilitados de moverem um músculo sequer.

"Mamãe"? Escutei errado? Não, não pode ser... É impossível.

Ela desvia o olhar para a suposta filha e sorri minimamente, escondendo o choque. Despreza minha presença e segura a mão da menina. Acompanho com os olhos seus passos atravessando a rua apressadamente, e entrando em um carro cinza escuro. Um homem — cujo rosto não pude identificar de longe — as aguardava e ocupou o banco do motorista.

Minha ex-noiva desaparece da minha vista como mágica, deixando meu coração palpitar de frustração.

Praticamente me arrasto de volta para o meu veículo, derrubando o potinho de sorvete no chão. Fecho a porta bruscamente e encosto a testa no volante. Quando me dou conta, estou chorando desesperado. Permito um rio de lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas e pingarem sobre o tecido da calça.

Meu peito dói. Uma dor insuportável. Algo que só senti naquele dia, quando a vi traindo todas as promessas que fizemos um ao outro por quatro anos. É como uma agulha furando lentamente cada partizinha do meu corpo, abrindo antigas cicatrizes e fazendo novas.

Lembranças. Lembranças são uma maldição.

Minha cabeça está repleta delas e dos nossos planos de criar uma família juntos. Porém, ela já construiu uma vida. É mãe, tem um — provável — marido e está feliz. Era para nós estarmos assim, mas ela conseguiu tudo isso sem mim. Sem mim...

Ódio, fúria, decepção. Minha mãos tremem, as veias pulsam, o sangue ferve. Deposito socos no volante com raiva a cada pergunta e insegurança, ferindo a pele fina dos dedos.

Por que me trocou? Não era o suficiente? Por que me abandonou como todos?

Não importa, porque eu ainda te amo, Dahyun. Eu ainda sou aquele garotinho apaixonado de 17 anos que iria até a Lua e roubaria todas as estrelas do céu para você. Tudo apenas por você. Pela minha baixinha, minha estrelinha.

Talvez, você ainda me ame também?

Não! Qual a porra do seu problema, Jeon? Não consegue enxergar que é um inútil? Ela te usou. Te usou, porque você é fraco e dispensável. Quem te amaria, afinal?

A voz no meu subconsciente grita ardentemente, me forçando a puxar os fios do cabelo de tanta dor. Bato na minha própria cabeça tentando me livrar dos berros finos infernais e irritantes.

Fracassado. Fracassado. Fracassado. Fracassado!

— Cala a boca! Você não sabe do que está falando! Não... Não, é real...

Mais choro, mais lágrimas e pingos frios.

Alcanço o frasco de remédio no banco ao lado e entorno o recipiente, tomando três comprimidos a seco. Encosto no estofado macio e fecho os olhos suspirando fundo.

Coloco em prática a técnica para me acalmar que aprendi com a psicóloga: tampar os ouvidos, esquecer inteiramente do mundo ao redor, contar até dez e me concentrar unicamente na minha respiração; no som baixo do ar enchendo meus pulmões e saindo do nariz com harmonia.

E funciona. Digo, ajuda um pouco, pelo menos. Em dez minutos — por efeito dos comprimidos também — normaliza meu fôlego e diminui o estresse consideravelmente. As janelas estão borradas de vapor e a parte de cima da minha mão ficou um vermelhão, quase roxo, em consequência dos socos.

— E-Eu estou bem — aperto os olhos. — Você está bem, Jungkook. Se acalme.

Fazia um bom tempo que não tinha uma crise tão intensa assim. Tenho me esforçado para levar uma vida estável, controlando com remédios e acompanhamento médico, mas vê-la tão de repente me desestabilizou.

Preciso aprender a ter controle pela minha mente. Odeio as vozes. Elas são como monstros habitando e alterando minhas emoções.

Tomo um susto ao escutar meu celular tocar e enxergo o nome de Taehyung na tela. Já tinha esquecido que iria para lá.

Aciono o modo de câmbio automático do carro — para não precisar dirigir manualmente — e aproveito para me recompor do surto de emoções. Tae me mataria se soubesse que tive problemas por causa disso novamente.

A linda garotinha de bochechas rubras preenche meus pensamentos. Não consigo processar essa informação direito. Chunja... era esse seu nome?

Cinco anos se passaram. Dahyun tem uma filha.

♡︎

(sim, o jungkook tá meio perturbado das ideias, vcs se acostumam)

dahy traiu o jungoo, serase??? aposto que vcs acharam que ele q tinha cagado no pau, né KKKKJKK coitado do jeon, ele é ""inocente"" dessa vez.👨🏻‍🦯

montei um plot tão novela mexicana pra essa temporada hmmkkk sério, tá meio previsível, mas sempre dou um jeito de surpreender vcs com mais treta, então apertem bem os cintos :)

jojo todynho's voice: "agora o pau vai toraaaar"

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top