Vinte e três - Boias para nos salvar

O carro cruzando a pista em uma velocidade relativamente alta corta a última fronteira antes de chegar em Santa Claryta. Camila roí o cantinho das unhas com a mente fervilhando entre raiva e dor. Dizer que não estava doendo era uma grande mentira. Doía e doía muito. Bem mais que o tapa na cara, doía mais até do que quando ela descobriu que Nash Herrera a traiu. Cabello sabia que aquela dor estava lentamente modificando ela, como um ser mutante que pacientemente corrompia a pessoa que ela era de verdade.

Recostou a cabeça no estofado pra só depois mover os olhos para a sua direita. A todo custo ela evitava olhares ao pai, porque era muito ruim olhar pra ele e não sentir nada mais do que uma mágoa velada e pungente. Havia luto na sua dor também; Alejandro morreu pra ela dois anos antes e estava sendo sepultado naquele dia.

O pior de tudo era que ele ficava rondando-a, como um maldito fantasma exigindo sua cota de atenção.

— Você se incomoda se eu ligar o rádio? – Alejandro perguntou com a voz distante, porém Camila continuou olhando a paisagem do lado de fora como se as pistas desertas fossem a coisa mais legal do mundo. – Camila eu estou falando com você.

— Coloque o que quiser...

Mila suspirou notando a placa indicando que estavam a 45 km de Santa Claryta. Só mais uns minutos dentro daquele carro, apenas isso, ou tudo isso.

— Você vai continuar agindo como se fosse uma criança mimada?

— Eu só quero ficar me paz... Meu Deus, quando você vai começar a respeitar o meu espaço e direito de não querer conversar com você?

— Eu não sei porque estou surpreso com esse seu comportamento, haja vista os tipos de pessoas que você criou laços.

Novamente ele levava Camila ao seu limite.

— Não ouse falar dos meus amigos, tá me ouvindo? Não pense que tem um pingo de direito de falar deles ou de culpá-los por algo que é única e exclusivamente sua culpa.

— Abaixe esse tom pra falar comigo, Camila. – Advertiu com um tom ameaçador, mas nem isso assustou a sua filha.

— O que vai fazer? – Ela sorriu maldosamente. – Me bater novamente? Pare de tentar fingir que é um super pai e se importa comigo.

Odiava usar a sua personalidade mais dura, porém não conseguia ser de outro modo. De baixo da sua doçura e da sua quase exclusiva habilidade de modificar o ar com felicidade, havia também espaço para amargura e rancor. Era assustador pra ela ser assim também.

De relance, Camila viu Sofia encolhida nos bancos do fundo, dorosamente olhando aquela briga. Era óbvio que a menina não estava entendendo a hostilidade entre eles e por mais que seu pai fosse terrível com ela, provavelmente a irmã o adorava. Camila se perguntou quando tempo levaria para Alejandro causar danos a personalidade Sofia, assim como fez com ela.

— Eu te dei uma lição porque me desrespeitou... me desculpe tá bem? Eu estou tentando Camila. – Ele desligou o som do carro, erroneamente interpretando o silêncio da filha como aquiescência. – Você pode baixar suas armas também? Tem um restaurante cubano perto da minha casa. Passaremos uma noite tranquila, juntos. Você está cansada eu também estou. Amanhã cedo eu deixo você em sua casa e fingimos que hoje nada aconteceu, o que me diz?

— Fingimos que nada aconteceu? – Riu. – Pelo amor de Deus me deixe em paz. Eu só quero ir pra minha casa!

Os últimos 20 minutos da viagem foram feitos debaixo de um silêncio sepulcral. Camila passava as mãos pelo cabelo retirando os zilhões de fios castanhos que ameaçavam cair. Pelo menos, seu pai não tinha insistido na tentativa de conversar com ela, isso era uma pequena vitória no meio de tantas derrotas.

Assim que Alejandro freou na porta da casinha de ladrilhos amarelados desbotando, Camila abriu a porta do veículo fugindo de qualquer outra tentativa de conversa. Ela não se preocupou, sequer, em fechar a porta do carro, ou pegar a mala no fundo. Só precisava ficar sozinha por tempo suficiente para desintoxicar da presença dele.

Avançou pelo meio-fio da casa. Subindo o gramado notou quando a luz da sala ligou e ela viu a silhueta da sua mãe mover-se por dentro da casa para logo em seguida abrir a porta. Sinu se jogou nos braços da filha sem deixar ela dar uma palavra. Apertou seu corpo com tanta força que Camila sentiu seus ossos serem comprimidos. Seus braços estendiam-se flácidos sem retribuir o carinho.

— Querida, você está bem? – Beijou seu rosto mais uma vez.

Camila fugiu dos braços da mãe. Depois de um olhar avaliativo, Sinu entendeu o motivo daquele olhar profundo da filha, Camila estava no seu limite.

— Eu vou entrar. – Disse ela, saindo do abraço sufocante.

— Filha eu...

— Precisamos conversar os três sobre o comportamento dessa menina – Alejandro se aproximou de mãe e filha segurando a mala de Camila em mãos. – Agora.

— Alejandro eu não sei se-

— Eu não vou esperar, Sinu. Eu exijo que a Camila me trate com o mínimo de respeito.

— Por favor, será que você pode me deixar em paz? – Explodiu Camila, mais uma vez. – Eu não quero falar com você, eu não estou interessada nas suas desculpas.

— Esse é o comportamento da sua filha agora. – Apontou acusadoramente para Camila. – Ela é toda respostas duras, e sarcasmo. O que está acontecendo com a Camila? Eu quero respostas.

— Pra mim deu vocês dois.

Mila subiu as escadas correndo tropeçando nas próprias pernas, nas próprias penas e dores. Abriu a porta com um tranco e escorregou da porta até o chão, largando-se de qualquer jeito. Pior de tudo é que por mais que ela quisesse chorar ela não conseguia derramar uma única lágrima, estava seca, de dentro pra fora.

Camila treme dos pés a cabeça e balança o corpo de maneira catatônica. A discussão entre os dois se mantêm acirrada lá em baixo. Era como se ela tivesse voltado anos no tempo. Ela olha para as paredes, inspira e expira.

— Seu quarto é muito legal.

Cabello levanta os olhos dando de cara com Sofia parada na porta do seu quarto, apertando com tanta força as pontas do vestido amarelinho com gatinho desenhados que seus dedos gordinhos ficam esbranquiçados.

Ela se lembra de Mike, e da conversa que tiveram na biblioteca a uma semana atrás que na verdade pareciam um milhão de anos.

"Ter um irmão é isso, alguém que te dá seu único sorvete só pra te ver sorrir"

A voz rouca do menino dentro da sua cabeça transporta ela há um lugar que não queria ir, mas que precisava ir. Sofia não tinha culpa dos erros do seu pai. Sofia era tão inocente quanto ela... quanto sua mãe.

Apesar dela ainda não está pronta para lhe "entregar o seu sorvete", ela podia lhe dar pelo menos um pouco da sua atenção. A pequena olhava ela com uma devoção tão grande que os olhos mal moviam.. Era tudo que ela queria: Um segundo no mundo de Camila.

— Meus amigos me ajudaram a pintar. – Respondeu docemente, suspirando para a voz voltar ao normal. – E aquela rosa na parede, fui eu que fiz.

— Você é mais incrível do que eu imaginava e mais bonita também. – Sofia pensou alto e Camila sorriu observando como a menina estava parada no limite entre o corredor e o seu quarto.

— Você quer entrar? – Sua irmã deu um pulo e apressadamente cruzou a linha invisível que aparentemente tinha construído.

— Uau. – ela rodou em volta de si mesma. – é lindo.

Camila afastou um pouco o corpo, deixando um espacinho entre ela e a porta. Sofia olhou a irmã com expectativa, e Camila deu dois tapinhas leves no lugar.

Percebe que o que estava fazendo era além da sua capacidade de compreensão. Era o certo a se fazer.

— Por que está tão exitante? – Disse Mila e a menina enfim tomou coragem.

— Eu quero que goste mim. – A pequena confidenciou logo que sentou ao lado da irmã, e os olhos de Camila brilharam ouvindo aquilo – Você está bem?

— Eu acho que sim. Sinto muito que tenha que ter visto tudo aquilo.

Sofia olhou para Camila curiosa, antes de murmurar:

— Você odeia meu papai?

Mila teve que morder a língua para não responder a primeira coisa que passou pela sua cabeça. Ela engoliu em seco e tentou dissimular uma careta de raiva.

— Não.

Sofia ficou calada balançando as perninhas lentamente. Cabello se perguntou onde se escondiam a semelhança da menina com sua mãe, porque ela só conseguia encontrar semelhanças entre elas e claro, com seu pai.

— Camila?

— Sim.

— A sua amiga... – Mila ergueu uma sobrancelha esperando que a menina concluísse. – Ela disse que não, mas eu preciso muito saber... Você e a Lauren, são casadas?

Camila sorriu imediatamente, a menina tinha visto as duas dormindo agarradas. Ela só conseguia pensar na cara que Lauren deve ter feito ao ouvir aquela pergunta de Sofia.

— O que ela respondeu?

— Ela disse que vocês são boas amigas.

— Ela falou a verdade. Somos amigas, a Lauren estuda comigo. – A garotinha acenou que sim. – Ela cuidou bem de você?

— Ela cuidou, – Assentiu. – ela me comprou suco de morango.

Sinu para a porta do quarto. As irmãs ficam tensas. A bolha que as protegiam sendo rasgada.

— Sofia seu pai já está indo embora. – Anuncia ela com a voz doce. – Ele pediu para avisar.

A menina deu um olhar triste pra Camila, antes de perguntar:

— Você vai querer me ver novamente depois de hoje?

— Sim. – Assumiu Camila, amorosamente para ela. – Eu vou querer te ver sempre que você quiser.

Sofia pulou animada se jogando contra os braço da irmã mais velha.. O gesto durou alguns segundos, mas foi o bastante pra uma quentura boa se apoderar da Cabello mais velha. Mila aspirou o delicioso cheiro de Shampoo de melancia que vinha dos cabelinhos roçando lentamente contra sua face e sorriu.

Ela observou a irmã deixar o quarto até que seu olhos se encontraram com os da sua mãe. O sorriso se fechou.

— Seu pai ia gostar de... – Mila já imaginava o que ouviria, porém cortou a frase antes mesmo de Sinu completar o pensamento.

— Eu não estou fazendo isso por ele, estou fazendo por ela.

Fechou a porta do quarto com um baque estrondoso. Suas emoções vencendo a consciência novamente.

O domingo acordou frio e cheio de nuvens pesadas ao redor da cidade de Santa Claryta. Uma pequena chuvinha antecipava-se a proximidade do inverno. Monotonamente Camila jogou um pouco de comida para o seu peixinho e desceu as escadas, dando-se conta um pouco depois que estava sozinha.

Um simples bilhete de sua mãe estampava a geladeira, avisando que tinha torta de carne no forno e que ela estava caminhando com uma colega. Mila encarou a torta sem vontade alguma de comer. Era sua segunda comida favorita do mundo e Sinu só fazia quando queria melhorar o humor da filha, a diferença era que dessa vez ela era a causadora indireta do seu péssimo humor.

Camila comia seu cereal em uma mão e com a outra rolava pela sua timeline do instagram entediada e até com uma pontinha de inveja. A maioria das fotos eram relacionadas ao fim de semana fantástico em Calabaças. Mal podia acreditar que tinha sonhado com aquilo durante todo o ensino médio para ser arrancado dela tão fácil.

Tudo bem que ter sua primeira vez com Lauren diante das circunstancias tinha sido algo que ela lembraria com muito carinho, mas não era o suficiente, queria ter ficado perto dos amigos, rir com seus amigos e ter memórias suficientes para guardar. Nem uma boa marca de bronzeado ela tinha conseguido.

A única memória física que ela tinha em seu corpo, eram os arranhões e cortes no seu pé, a marca dos dedos do seu pai no rosto e um pequeno chupão que Lauren deixou em seu seio direito.

Pensar em Lauren de volta ao mundo delas era esquisito. Sentia vontade de falar com ela, mas não urgência.

Mesmo sem ter certeza, ela abriu a caixa privada do instagram e começou a digitar uma mensagem para Lauren. Desistiu, pensando que realmente ela não tinha nada para dizer. Voltou a olhar, vídeos aleatórios e foi nesse momento que a conta da escola atualizou. Ansiosa e querendo ver alguma dos seus amigos, Camila entrou na página. Em meio as várias fotos, uma em particular atraiu sua atenção. Era Lauren, ela posava lindamente na foto. O detalhe era que ela não estava sozinha na foto.

Lucy e Lauren. Lauren e Lucy. Ela era a peça estranha se envolvendo no meio daquelas coisas que já estavam lá. Como podia se sentir no direito de ter nojo da atitude do pai quando agia igualzinha a ele, traindo e agindo como um clandestino. Lauren disse mais de uma vez que aceitaria viver em uma caverna com ela.

Seria viajar longe demais pensar que era uma analogia para a sua falta de coragem ou vontade de colocar um ponto final no que tinha com Lucy? Cavernas eram escuras e escondidas e Camila precisava de luminosidade na sua vida. Elas nem tinha o número uma da outra salvo em suas agendas.

Bloqueou a tela do celular e o escondeu debaixo das frutas na mesa. Nesse momento a porta da frente se abriu e sua mãe foi diretamente até ela na cozinha. Sinu lhe deu bom dia e sentou diante dela.

Era o momento da conversa, Camila querendo ou não.

— Quer me contar o que aconteceu com você nesse fim de semana?

— Eu tive um ataque de pânico. – Respondeu sem levantar o olhar. Ela pode notar a maneira que o olhar da sua mãe caiu. – Acabei me perdendo e meus amigos me encontraram. Ponto.

— Eu pensei que tinham sumido. – Mila sentiu as lágrimas acumularem em volta dos seus olhos.

—Eu também, – respondeu fungando. – parece que não foi só uma coisa ruim que voltou pra minha vida.

— Se u pai não vai voltar a te incomodar até que você esteja pronta pra ter ele na sua vida. – Disse ela fortalecendo-se. Camila queria sorrir, como refrear algo que já tinha passado por cima dela?

Amava tanto sua mãe, mas até seu amor cego e devoto podia notar que Sinu tinha culpa em tudo que ela estava passando. Ocultar dela sua volta, forçar uma aproximação e todo resto. Estavam todos jogando a única pessoa que tinha se ser polpada no meio das suas guerras do que era ou não certo.

Sua mãe ergueu as mãos para afastar uma lágrima que escorreu.

— Não repita mais o que fez. Não me obrigue a aceitá-lo na minha vida.

— Eu não vou mais repetir, me perdoe. Mas não puna Sofia pelos erros do seu pai, ela quer muito ficar perto de você.

— Eu quero me aproximar da Sofia, mas não quero ter ligação com meu pai pra isso, falarei até com a mãe dela se for preciso.

— Uh... – Sinu mudou o tom pra algo pesaroso. – Acho que isso não será possível.

— Por que não?

— A mãe da Sofia... Bem, ela abandonou seu pai e a menina; É por isso que ele está de volta.

Mila teve que se controlar, ela teve que fazer muita força para não se deleitar em satisfação ao ouvir aquilo. Ela queria ter visto com os próprios olhos como deve ter sido para Alejandro sentir-se do mesmo jeito que elas se sentiram. Perdido? Com medo? A roda nunca parava de girar.

— Não seja essa pessoa. – Sua mãe leu em suas feições o que ela estava pensando. – Sua irmã sofreu e sofre até hoje com isso. Não é justo com ela.

Camila desviou o olhar com vergonha e raiva. Largou a comida pela metade e sentou-se sozinha varanda da sua casa com os olhos brilhantes olhando a céu nublado.

O vizinho ouvia The Smiths no volume máximo quando Camila sentou na varanda. Instantaneamente sua mente visitou Brooke, a garota mais atenciosa e legal que já tinha cruzado seu caminho. E que ela tinha praticamente rejeitado para viver debaixo da explosão que sentia com Lauren. Gostar é mesmo o fator mais importante de uma relação?

Camila fica empolgada. Soa como uma saída. Uma porta aberta. Um bote. Brooke pode levá-la ha um lugar melhor.

Camila notou que imediatamente a garota ficou online. Brooke escreveu e apagou várias vezes e então ficou offline novamente. A cubana bloqueou o celular e encostou a cabeça na parede fria detrás dela. Pelo menos ela tinha tentado.

— Que merda. – Murmurou pensando alto.

Seu celular vibrou em uma chamada. Ela deslizou os dedos pela tela e suspirou antes de ouvir a voz confiante do outro lado da linha.

— Qual música? – Mila riu, tinha sentido falta de ouvir sua voz e nem tinha notado.

— How soon is now. – Foi a vez de Brooke sorrir.

— Então quebradora de corações, quais as novidades?

— É tarde para tentar?

— Depende do motivo que você está tentando. – Camila hesita, querendo não pensar nas motivações por trás daquela chamada.

Ela ouviu um som de violões do outro lado da linha.

— Eu estou incomodando?

— Ah, não. Mais uma das festas sem motivo algum da faculdade, já estava indo dormir. – Mila esperou ela dizer mais alguma coisa, mas notou que quem tinha que dizer algo era ela.

— Você quer sair comigo? – A voz sorriu gostosamente do outro lado. – Posso te mostrar que sei muito mais que quebrar corações.

— Eu sei que você sabe. – Brooke respondeu com a voz que sugeria exatamente o que Camila pensava que sugeria. – Deixe eu pensar.

— Eu deixo sim, e então qual a resposta?

— Eu queria uns dias, né. Mas não posso fingir que não estou morrendo de vontade ir te buscar.

— Venha. Me roube, me leve pra qualquer lugar...

— Pra qualquer lugar?

— Pra qualquer lugar.

Serendipidade. Quando peças aleatórias se unem em um momento maravilhoso.

Lauren desce do ônibus com o peito estasiado pela possibilidade de estar de volta a sua casa. Ah, sair de férias era maravilhoso, porém voltar ao seu mundo, suas coisas não tinha viagem no mundo que pagasse. O pensamento de como ela já estava pensando na Califórnia como o seu lar a surpreendeu, nascida em Miami sempre viu a pequena cidade litorânea como um lugar de caipiras e surfistas, seu pensamento etnocêntrico mudava a cada minuto que passava ali. Podia viver pra sempre naquela cidade, isso ela não tinha dúvidas.

— Meu Deus, esse foi o pior fim de semana de todos os tempos. – Alycia exalou arrastando a mala para perto de Lauren. – Eu juro que nunca mais crio tantas expectativas em cima de algo assim.

Lauren olhou para Alycia criticamente, duvidava que a prima levasse isso a sério, ela era toda constituída por emoções grandiosas que acendiam e apagavam na mesma intensidade, talvez por isso tomasse decisões erradas na maioria das vezes em seus relacionamentos.

— Você só está assim porque tomou um fora.

— Lauren vá se foder.

Elas pararam lado a lado de frente a marina onde os ônibus estavam estacionando. A cidade estava debaixo de um véu lento e cinza de nuvens, que indicava uma possível tempestade.

— Babe – Lucy abraçou Lauren pelas costas e imediatamente Alycia se afastou repelida pela presença da menina. – Tudo certo pra hoje? – Lauren ergueu uma das sobrancelhas sem se recordar pra o que estava "tudo certo". – O jantar que te falei ontem. Meu pai está superempolgado com a perspectiva de ter você lá.

Lauren queria dizer o mesmo. O pai de Lucy era um politico dos mais antigos daquela cidade. Ela havia se encontrado com o homem duas vezes. Na primeira, apertaram as mãos e ele foi friamente cortês. Da segunda, já sabendo de quem ela era filha, seu comportamento mudou drasticamente.

— Eu... Tudo bem, eu irei. – A menina deu um grito afetado pulando nos braços de Lauren e enchendo ela de beijos molhados no rosto.

— Você é a melhor namorada do mundo.

E saiu saltitante em direção as amigas lideres de torcida do outro lado.

— Imagine quando ela descobrir que o chifre que tem na cabeça é maior que o ego dela. – Lauren suspirou profundamente e virou-se para prima. – Não me olhe assim, eu não estou mentindo.

O Audi preto cruzava a cidade em uma velocidade relativamente lenta para quem estava atrasada para um importante jantar de gala com a família da namorada.

Lauren parou no sema faro e encarou o seu reflexo no espelho. Os cabelos normalmente bagunçados em uma juba estavam lisos e partidos, as botas e camisas tinham dado lugar um vestido justo de alcinha cor de vinho. Parecia uma outra Lauren, uma Lauren que não se encaixava naquele papel. Seu celular vibrou na sua perna e ela leu o nome de Lucy, o coração deu uma murchada, queria tanto que fosse Camila. Era até patético como ela esperava a mensagem de alguém que não tinha seu número.

As placas indo e vindo pareciam que indicavam apenas um caminho, mesmo que ela continuasse avançando e avançando em direção ao enorme hall de eventos da cidade. Quando encostou o carro atrás da fila de carros Lauren deu ré, no carro, assustando o guardador que esperava pra pegar suas chaves.

Ela não podia mais fingir que estava adorando aquilo, ela simplesmente não podia mais fingir. Atravessou a pista contraria com uma derrapada, avançando em direção ao bairro da cubana que tinha virado sua vida de ponta cabeça.

Lembrava nitidamente de cada uma das vezes que foi ali. Davam para contar nos dedos de uma única mão, mas tinha significados diferentes. Aquele vai e vem terrível, onde elas subiam e desciam tão rápido em lugares que deveriam ter pisado os pés da maneira correta. Não! Agora ela estava ali, novamente pronta para ela e esperando que ela estivesse pronta também.

A relatividade de quando é o momento certo traiu Lauren. Antes mesmo de descer do carro, Jauregui notou que seu tempo estava curto, e talvez escasso.

A moto escandalosa estava parada na porta de Camila. Lauren sentiu os dedos tremerem em volta do pano do vestido. Teria dado meia volta se a voz melodiosa de Camila não tivesse surgido para atrapalhar sua rota de fuga.

— Lauren? – Ela parecia confusa e até chocada.

— Olá. – Ela acenou. Camila olhou-a de cima a baixo estranhando sua vestimenta elegante. – O que faz aqui?

Lauren afastou-se como quem leva um tapa, não pela pergunta, mas por ter notado as mãos de Brooke frouxamente segurando sua cintura. Camila baixou os olhos, talvez estivesse com pena dela, ou envergonhada.

— Eu preciso conversar com ela. – Murmurou, porém Lauren foi capaz de ouvir.

— Tudo bem. – A voz doce de Brooke causou um mal estar em Lauren. Ela era tão perfeita assim? Tão compreensiva assim? – Te vejo amanhã então?

— Sim. – Brooke e Camila se abraçaram e mesmo que não tenha acontecido um beijo Lauren virou o rosto para o lado oposto. – Boa noite Lauren. – Murmurou quando passou por ela.

— Boa noite, Brooke.

Ela subiu na moto e se afastou com um ronco provocativo, sumindo na primeira esquina.

— Eu... Desculpe eu não queria atrapalhar.

— Não se preocupe, você não está me atrapalhando. – Mila sorriu um pouquinho. – Nunca pensei que fosse te ver vestida assim.

— Era uma roupa para um evento que não fui. - Explicou. - Foi uma péssima ideia ter saído de casa hoje.

— Você deveria ir para essa festa.

— Não deveria não. – Disse Lauren, evitando olhar Camila. Não queria que ela notasse que estava derrotada. – Você está melhor?

— Sim.

— Eu jurava que estávamos em um lugar melhor. -- Se viu obrigada a se lamentar. Ela esperou mesmo.

— Por uma noite, dentro de uma caverna e escondidas estávamos. Mas eu não posso viver com esse sentimento clandestino, não posso roubar algo que não é meu.

— Eu ia terminar com ela.

— Não ia não, você sabe disso. E eu não acho que em algum momento eu quis que você terminasse. – Mila tirou alguns fios do rosto. Por que tudo em sua vida tinha que carregar aquele peso dramático? – Você precisa desse relacionamento instável, em que não ama suficiente para que possa ir embora em paz sem deixar nada. E eu preciso de segurança para passar essa fase da minha vida, não ficar preocupada com o que pode acontecer amanhã. É muito bom quando estamos juntas, mas não é o certo Lauren.

— Camila...

— Lembra quando eu te disse pra ir em busca dela? Faça isso novamente.

— Mas eu gosto de você.

— E eu também gosto de você, mas eu não posso ficar com você. – Ela travou o "não agora" que se preparava pra deixar seus lábios, não queria minar Lauren com esperanças relativas.

— Eu te entendo – E ela entendia mesmo, no fim Lauren concordava com Camila. – Desculpe, você tem razão nós somos forças opostas. Em algum momento eu magoaria você.

— Não é sua culpa, Lauren.

Lauren mordeu os lábios e se afastou lentamente da porta da casa dela ela voltou-se sentindo que ainda tinha mais alguma coisa para perguntar:

— Você gosta dela? De verdade?

— Eu... – Calou-se como se a resposta aquilo travasse no fundo da sua garganta.

— Você está fazendo o mesmo que eu Camila. – Disse em um tom triste. – Mila baixou os olhos e Lauren sabia que ela concordava. – Usando botes pra se manter a deriva, quando na verdade o que queria era atracar.

— Eu queria te dar uma explicação concreta, que faça sentindo igual faz na minha cabeça, mas eu preciso fazer isso por mim. Estar com você é como a luz do sol, é doce e quente, mas as consequências que isso causa na minha vida, eu não estou pronta para lidar. Não agora, talvez não dentro do nosso curto espaço de tempo. Sinto que se eu tiver você por só um dia, os outros 365 vão ser poucos.. 

— Você consegue recitar poemas atá para me rejeitar.

— Não é uma rejeição, é uma autoproteção.

— Eu consigo entender. – Lauren virou-se de costas pra Camila sentindo algo que nunca tinha provado antes. – Boa noite, Camila.

 —  Boa noite, Lauren.  

Lauren estacionou seu carro na porta de casa, a janela do quarto de Alycia estava acesa e ela podia ver a silhueta da prima sentada na varanda suspensa do seu quarto. Subiu as escadas cruzando com seu tio dormindo na sala com a cabeça apoiada no ombro da sua tia. Ele era um homem grande e musculoso, mas sempre que sua tia estava perto Stephen Evans diminuía em tamanho e aumentava em carinho e amor.

Ela ficou parada ao pé da escada observando-os algum tempo. Não lembrava de ter visto seus pais dividirem aquela cumplicidade nunca em sua vida. Imaginou se ela seria igual, fadada a passar o resto da sua vida junto de alguém que não amava o suficiente.

Subiu as escadas parando na porta do quarto de Mike, o menino dormia enrolado em suas cobertas, com as pernas praticamente fora da cama.

Ela continuou indo em direção a seu quarto, mas quando colocou a mão na fechadura voltou-se procurou abrigo perto de quem sempre entendia.

Alycia abriu a porta do seu quarto após a segunda batida, talvez tenha visto ela estacionar na garagem. Leu em seus olhos algo que só ela poderia enxergar.

— Você não foi pra a festa da Lucy, né? – Lauren negou incapaz de vocalizar. – Você foi atrás da Camila e a viu com a Brooke? Eu vi as fotos no instagram. Tentei te avisar, mas você não atendeu.

— Existe um lado bom nisso, é minha chance de desencanar de vez.

— Venha. – Ela abraçou os ombros de Lauren. – Vamos unir nossa dor de cotovelo.

— Eu vou terminar com Lucy. Eu sei o que está pensando, não tem nada a ver com Camila. Chega de botes salva-vidas

— Yuhuuu... – Alycia dá um berro que assusta Lauren. – Uma notícia boa nessa noite desgraçada. Acabou o deserto, Lauren. Vamos pegar todas juntas... E dar uma lição nessas duas cruéis sem coração...

— Alycia...

— Por favor, me deixe sonhar com a prima pegadora que eu sempre quis!

Lauren sorriu para a prima. Não era realmente o fim do mundo. Existia vida depois do fora de Camila, e ela precisava viver.

Lauren quando viu as duas juntas/Lauren quando Alycia falou em pegar todas

Vou apanhar que eu sei... Mas pensem com sinceridade. Estando no lugar da Camila, com a vida toda bagunçada, vocês escolheriam outra bagunça, ou procurariam estabilidade?

Eu tenho que ser coerente com minha história e com o tipo de pessoa que a Camila é. Ela é controladora e gosta de segurança, notem os diálogos anteriores dela e mesmo quando Lauren admitiu em voz alta que gostava dela ela ficou calada... "gostar não é o suficiente".

Ces notaram que esse capítulo tá cheio de referências ao capítulo consequencens ne? Pois é mores, estamos indo para a metade da fic, ou seja, daqui pra frente só tiros.

Camren é o que tudo mundo quer ver, mas se for sem justificativa nenhuma pra mim n tem graça, elas vão ter o tempo delas TODO MUNDO SABE, mas não é agora. Eu gosto da Brooke e no momento o melhor pra Camila é ela.

Curtam os outros amores e a Lauren com ciúmes... N fiquem com raiva de mim:( sou sensível, kkkkkkkkkkkkkk

A partir do próximo cap as midias voltam, fechamos outro ciclo hoje.

Enquanto esperam a próxima att, leiam Profanos que atualizou hoje é uma história original que visita o passado de cinco jovens bem problemáticos, quem gosta de PLL e Skins tem muita coisa de referência lá. Tudo bem que n é exatamente original, já que Camila e Lauren são os personagens principais, só que com outros nomes, porém... A att de hoje está chocante, EU JURO!

Leiam as outras também, ai cês n ficam com saudade de mim :D #caradepau

Love u galero

Bye e obrigada pelos nossos momentos únicos, vocês me fazem muito mais feliz. 

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