Treze - Verdades e caronas não fazem mal a ninguém(né?)
Lauren sobe as escadas elegantes da sua casa dois degraus de cada vez. Estava decidida a colocar um ponto final naquilo de uma vez por todas. Para na porta do quarto e quando fecha os dedos em nós a portas é aberta e Alycia aparece, com uma expressão de medo que se torna alívio quando a reconhece.
— Você me assustou, pensei que fosse o papai. – Ela puxa Lauren pela mão pra dentro do quarto. – Entre antes que ele sinta o cheiro.
O odor inconfundível de maconha está impregnado pelas paredes do quarto. Lauren particularmente gosta do cheiro, mas dentro de casa com seus tios o odor era amargo como perigo. Não queria nem sonhar no tipo de castigo que seu pai lhe daria se soubesse que ela se drogava de vez em sempre.
— Você perdeu a noção?
— Sem sermão hoje, mãe. – Zomba Alycia. – O que quer comigo?
Lauren estava cansada de indiretas e palavras enigmáticas. Por isso, não hesitou em ir direto ao ponto:
— Porque não me contou que Lucy foi namorada de Verônica Iglesias?
Alycia sorrir.
— Me dê só um motivo pra eu te dizer isso?
— Por que você é minha prima e achei que soubéssemos os segredos uma da outra?
— Um motivo melhor que esse.
— Que tal por que Verônica Iglesias acabou de aparecer aqui e causou o maior climão e eu fiquei com cara de tacho sem entender nada?
— O quê? – Evans enfim reage a suas palavras. – Vero estava aqui?
— Sim. Ela veio tentar barganhar a volta ao time. Agora você pode me explicar o que diabos está acontecendo?
— Você aceitou né? – Insistiu.
— Não, – Lauren respondeu com urgência. – Quer dizer, sim. Ela tentou ter minha braçadeira de capitã.
— Que obviamente seu ego não deixou você dar.
— Isso não tem nada a ver meu ego, Alycia. – Retrucou alterando a voz. – Pare de me acusar.
— Se você diz que não, e eu não estou te acusando, só disse o óbvio.
Lauren era egocêntrica sim, fazia parte do pacote de ser uma jogadora brilhante. Alycia não estava envergonhada por dizer a verdade.
— Acho que Lucy está mentindo pra mim sobre seus sentimentos por Vero.
— E você se importa? – Alycia devolveu dando uma analisada na prima. Jauregui parecia a ponto de explodir, no entanto, isso não tinha relação com Lucy, ela podia apostar.
— Não sei. – Lauren coçou a orelha. – Eu só quero saber de alguma coisa, Lucy inventou uma desculpa e foi embora.
— Eu sei o que todo mundo sabe, elas duas namoraram por um tempo. – Alycia deu de ombros. – O motivo do término é o verdadeiro segredo, como tudo que envolve Verônica e o último ano.
– Claro, – Lauren retirou o cabelo da frente do rosto em um gesto exasperado. Estava cansada, definitivamente cansada. – Porra!
– Você precisa relaxar Lauren.
Alycia andou em passos largos até sua escrivaninha, se abaixou apenas o suficiente para alcançar a pequena fileira de livros e retirou um de lá um livro de capa dura que era apenas uma fachada para esconder um fundo falso de onde ela puxou um cigarro.
Lauren não foi convidada, contudo seguiu a prima quando ela foi do quarto até a varanda suspensa do seu quarto.
Sentaram no chão atapetado lado a lado, olhando o céu. As mãos moviam-se apenas para passar o baseado entre uma e outra. O céu na Califórnia brilhava banhando a cidade com bilhares de estrelas piscando em monocrômica luzes amarelas. Lauren suspirou encostando a cabeça na proteção de vidro.
Sentiu vontade de desabafar sobre tudo que a afligia, mas o momento certo não chegava nunca. Talvez o silêncio incomodasse Alycia tanto quanto a ela, já que sua prima é a primeira a falar:
— Qual foi o melhor dia da sua vida?
Lauren estranhou o questionamento, e não teve dúvidas de qual era a sua resposta:
— Provavelmente o dia que Mike nasceu. – Laur sorriu levemente, lembrando do embrulho de cabelos cacheados que sua mãe trouxe nos braços para apresentá-la.
— E o pior? – O sorriso de jogadora foi morrendo lentamente à medida que sua mente ia até as profundezas da sua memória para reviver o dia. Como ela poderia esquecer?
— A primeira vez que disputei um torneio. – Respondeu firmemente e Alycia virou-se para ela sem entender, ansiosa para que Lauren explicasse. – É estranho, eu sei, mas era o primeiro jogo que meus pais iam ver. Antes era sempre um ou outro, ou minha baba. Quando entrei em campo e todos os pais esticavam o pescoço tentando reconhecer seus filhos. Michael e Clara Jauregui estavam ao celular resolvendo seus negócios, isso se estendeu pelos vinte minutos que durou a partida, e eu duvido que eles tenham me visto fazer três gols e qualquer outra coisa em campo. Parecia que eu era invisível.
Jauregui nunca tinha dito a ninguém sobre como se sentiu, até aquele dia, Alyca era a pessoa certa pra isso. Ela nunca usaria aquilo contra Lauren.
— Porra, Michele. É uma merda de lembrança mesmo. – Lauren mordeu os lábios fazendo força para esquecer aquilo. Tinha prometido outras vezes que não ia mais se abater, passado mora no passado.
Alycia faz uma careta.
— Eu nunca tive um dia triste, triste de verdade. Mas eu me lembro do meu dia mais feliz.
— Quando?
— Prometa que não vai rir de mim ou espalhar.
— Eu prometo. – Riu.
— Me deixe ver suas mãos, – Lauren estendeu os dedos da mão para mostrar a prima. – Se contar isso a alguém eu dou sua foto vestida de odalisca a Louise D'Champs.
— Conte de uma vez, Al!
— Quando você e Mike vieram passar as primeiras férias aqui. – Ela respondeu envergonhada. – Eu acordei horas antes e fiquei esperando vocês na janela e não foi bem da maneira que eu esperei. – Alycia sorrir balançando a cabeça, – Mike chegou doente, tinha contraído catapora ou algo do tipo, e você era tão selvagem quanto agora. Só pensava em jogar futebol e reclamar do calor, e eu era horrível jogando bola e amava o calor.
—Não é uma boa lembrança, eu fui idiota naquelas férias.
— É uma boa lembrança, porque foi naquele verão que você me ensinou a jogar bola. – Alycia acrescentou pegando Lauren de surpresa. – E eu treinei sozinha durante todo o ano para te impressionar quando você voltasse. Não porque eu queria ser melhor que você, mas porque eu queria que fosse minha amiga e me achasse legal. – Sorriram. – Deu certo, você ficou maravilhada quando chegou e jogamos juntas pela primeira vez.
— Alycia, – Lauren engoliu em seco, não queria chorar, saber daquilo a emocionou profundamente. – Por que nunca me disse isso?
— Você está sabendo agora. – Olhou nos olhos da prima, a mesma intensidade de verde indo e voltando. – Me desculpe por jogar aquilo em você ontem, eu realmente não acho que você é egoísta. – Diz Evans com a voz baixa e firme. – Eu só estava chateada com tudo que aconteceu e porque você é burra pra caralho às vezes.
— Tudo bem, eu sei. – Lauren passa o baseado esquecido em suas mãos para a prima, experimentando a vontade de rir de tudo. – Eu só gostaria que da próxima vez que estiver chateada comigo não use algo que uma pessoa que não me conhece direito, pensa sobre mim pra me atingir.
— Camila... – Sugeriu Alycia.
— Camila. – O nome deixa um zumbido em sua mente, e em sua língua. – Ela é linda e irritante – Lauren completou com um sorriso chapado. – E me odeia... Quer dizer, eu acho que odeia. Quando estamos nos beijando, eu penso que- – Sua mente embaralhou seu pensamento – bem eu não penso em muita coisa quanto estamos nos beijando.
— Camila não odeia você. Ela só está brava. – Diz a Lauren de maneira agradável.
— Parece que todos estão bravos comigo. Me sinto como uma visita que chega pra um jantar que não foi convidado.
— Por favor Laur, você vai me contagiar com sua bad, cale-se.
— Você começou idiota!
Calaram-se por mais algum tempo, dessa vez com o ombro lado a lado e a cabeça de Lauren tombada na curva do pescoço de Alycia.
— Você sabe que Mike está apaixonado? – Lauren ergue o rosto, ela não fazia à menor idéia. – Bem, ele está, é fofo e assustador, porque outro dia que ele estava comendo meleca por aí.
Lauren estava surpresa com a notícia e ao mesmo tempo culpada. Passou tão preocupada com o time nos últimos dias que não tinha se tocado que seu irmãozinho crescia bem diante dos seus olhos. Longe dos pais e ela era a sua família. Ela e Alycia.
— Nós somos os pais dele. – Soltou metade chapada, metade honesta. – Na falta dos meus é claro.
Alycia nem precisou pensar pra gostar do significado daquelas palavras.
— Meu deus, isso soa tão estranho quanto- – Seus olhos arregalaram e ela sorriu gostosamente – ohh Deus foi com você meu primeiro beijo. – Alycia morreu de rir com a lembrança e Lauren sentiu a bochecha esquentar. Era uma tragédia lembra daquilo. – Você me bateu e correu pra o seu quarto.
— Cale-se, eu tinha dez anos, e você babou minha boca. Eu quase a lavei com alvejante.
— Mentirosa!
Riram por mais ou menos dois minutos sem parar. Lauren repetiu o movimento de apoiar a cabeça nos ombros da prima e piscou algumas vezes com um zumbido sonolento no seu ouvido.
– Lauren, você vai sentir falta de mim quando for embora pra Barcelona? – Jauregui sentiu o coração apertar.
Aquela pergunta era cheia de mensagens subliminares, que tocavam sem pretensão aquela parte mais escondida onde só sua alma habita. Lauren ia sentir falta sim, muito mais do que qualquer palavra pudesse expressar. Alycia pareceu notou, pois, apoiou sua cabeça junto a de Lauren e suspirou com a voz não mais alta que um sussurro.
— Eu também Lauren, eu também.
12 meses e até lá...
Até lá...
No fim da noite de sábado, Camila estava parada na porta da sua casa olhando para os dois lados da rua ansiosa. Tinha demorado mais tempo pra se arrumar do que gostaria porquê de última hora Dinah e Sophie fizeram uma ligação de vídeo e começaram dar palpites diversos sobre o que ela deveria ou não vestir.
No geral Camila não usava vestidos, ela amava muito mais suas calças skinys cintura alta e bodys de todo tipo de tamanho e cor. Naquela noite estava usando um vestido preto, com mangas folgadas que iam até seu joelho, nos pés confortáveis ankle boots que deram a ela alguns bons centímetros e o cabelo preso com apenas uma mecha atrás da orelha que lhe rendeu um ar inocente. Não podia negar que esperava surpreender Brooke Lauren.
O fato que sua mãe ter ido passar quatro dias na casa da sua tia foi um fator não planejado, que parecia providencial. Não que ela estivesse desesperada para dormir com Brooke, mas se acontecesse ela não colocaria nenhum tipo de empecilho. Estavam se divertindo, e isso era maravilhoso.
A luz brilhante da moto de Brooke surgiu dobrando a esquina, e seu coração deu um pulinho ansioso.
— Uau. – Disse ela, logo que desceu da moto. – Você está linda, e eu tou sem palavras.
Camila também estava. Brooke usava calças jeans com rasgos nos dois joelhos e uma jaqueta de couro sobre uma blusa de banda de rock. Irritantemente parecida com Lauren Jauregui e talvez esse fosse o motivo de Camila estar sem palavras. Pare de pensar nessa idiota, Camila. Uma voz da sua cabeça ordenou.
— Oi – Sorriu dissimulando seus probleminhas mentais.
— Oi.
Ficaram uma olhando pra outra sem saber ao certo que tipo de atitude viria a seguir. Não tinham nenhuma relação, contudo, já sabiam o que queriam uma da outra.
Brooke sorriu.
— Nem acredito que vou te levar pra sair. – Se aproximou confiante. – Onde está seu vizinho tocando The Smiths?
Mila rolou os olhos, lembrando do emo irritante e se aproximando pra pegar o capacete em suas mãos.
— Nossa trilha sonora vai ser outra.
— É mesmo? Qual?
— Você escolhe.
— Que tal Rihanna e uma taça de vinho? – Mila arregalou os olhos. Tá de brincadeira!
—Nada de Rihanna! – Apressou-se. Hoje não Lauren.
— Ok, então ainda bem que vamos apenas pra um sarau na minha faculdade.
Dessa vez quando subiu na moto e elas cortaram a cidade em direção ao restaurante, Camila não se preocupou em evitar tocar em Brooke. Segurou seu corpo e encaixou seu rosto nas suas costas. Ela era cheirosa e pele era macia.
O campus da universidade estava lotado de alunos. Todos conversando e em grupos receberam Camila super bem, e pelo que ela pode perceber Brooke era muito popular por ali. Elas pararam várias vezes para cumprimentar seus colegas e até ensaiaram uma palhinha em uma roda de voz e violão. Mila já podia se imaginar vivendo em um lugar como aquele. As mãos delas não se desgrudaram em nenhum momento da noite, nem seus lábios.
Brooke era atenciosa, mais que isso. Ela estava sempre preocupada se Camila de fato se divertia ou se ela queria ficar naquele lugar. Algo que Camila nunca tinha tido em abundância. Seu único namorado havia sido Nash Herrera e ele não era parâmetro pra nenhum tipo de comparação.
No mais, o campus era um lugar aconchegante, tomada por pequenos prédios, alojamentos e ruas irregulares de pedra. As casinhas onde os alunos moravam eram pintados de cores malucas como verde, roxo e laranja.
Mila tinha se divertido pra caramba, sem dar conta das horas passando.
—Nossa? – Se dê conta do horário. – As horas passaram tão rápido.
— Humm, nossa é mesmo... – Suspirou Brooke parecendo envergonhada. – Então...uh... quer ir pra casa? Ou... Você pode dormir aqui... Não precisa ser comigo... Só ficar.
Mila sorriu se aproximando para dar outro beijinho em seus lábios pra que ela se acalmasse e visse que estava tudo bem.
— Calma, nena. Eu quero ficar. – Deu outro beijinho em seus lábios antes de completar a frase. – Com você.
Elas entraram no prédio, minutos depois tentando não fazer barulho. À frente, uma escada com carpete vermelho desbotado levava ao andar superior. A esquerda no segundo andar, Brooke retirou a chave do bolso e abriu a porta do quarto.
— Essa é minha casa.
— Legal. – Camila olhou ao redor, reparando na TV e no videogame, a cama de solteiro, as prateleiras embutidas, e na poltrona amarela reclinável. O quarto cheirava ao perfume de Brooke e pinho sol, mas havia um violão maravilhoso pendurado na parede e diversas partituras espalhadas e gibis. Lembrava o seu quarto, só que com outro tipo de bagunça.
— Eu viveria em um lugar como esse. – Declarou Camila deslumbrada.
— Eu estou fascinada em você. – Brooke disse ao mesmo tempo.
Mila olhou sobre os ombros.
— É mesmo?
— Eu passei uma semana imaginando como seria quando você estivesse comigo, e não cheguei nem perto.
Brooke veio por trás dela e abraçou seu corpo e então Mila se virou. Ela olhou seu rosto bonito, e no pequeno sinal que ela tinha abaixo do queixo, suspirou, e passou seus braços em volta dela. Beijaram-se ardentemente, as mãos percorrendo o contato em uma libido gradativa. Camila arrastou suas mãos pelas costas de Brooke levando com ela sua jaqueta de couro que ficou jogada no chão, como todas as peças que estavam em seu corpo.
Antes de tudo terminar em uma chama só.
Camila levantou quando, o primeiro raio de sol que entrava pela janela incomodou seus olhos, vestia apenas uma blusa de Brooke e seu vestido estava esparramado pelo chão. Ela tentou se mexer, mas o braço fino da loira estava jogado sobre a sua barriga repousando ali como se aquele hábito fosse natural.
Ela moveu-se devagar e saiu do laço da loira, saindo da cama pra pegar seu vestido. Quando tentava aos pulos não fazer barulho, viu que dois olhos azuis a observavam.
— Você ia embora sem me dar tchau?
—Não. – Ia sim. – Te chamaria quando estivesse pronta de verdade pra ir. – Cínica.
—Você pode levar ela. – Brooke apontou para a camiseta. – Tenho mais uma desculpa pra te ver outra vez.
Mila parou de brigar com suas botas, e sorriu. Era incrível a quantidade de vezes que Brooke a fazia rir. E isso era muito bom.
— Você não precisa de desculpas pra me ver.
— Eu sei, antes de fugir de mim, eu tenho uma coisa aqui pra você.
— Presentes?
— Uma lembrança. Para quando você enjoar de mim.
— Sua insegurança é fofa, Lauren. – Travou depois de dizer aquele nome, e por sorte Brooke estava de costas mexendo em umas caixas.
O nome soou estranho saindo de seus lábios. Era como se pertencesse a exclusividade da Lauren "verdadeira", Camila teve cuidado pra não a chamar ela de Lauren no meio do sexo, isso seria uma catástrofe. E provavelmente broxante.
— Não é grande coisa, espero que goste. – Brooke estendeu um pequeno colar com um pincel dourado delicado na pontinha.
— Brooke, não precisava sério. É lindo.
— Posso colocar? – Ela se aproximou com o consentimento de Camila e colocou o pequeno colar no pescoço magro, tocando a pele com a ponta dos dedos sem querer. Camila se remexeu levemente. Estava tão sensível assim?
— Tem certeza que quer ir embora agora?
Mila nem precisou responder aquela pergunta, seu corpo disse.
Alycia tinha pressa. Lauren tinha deixado em suas mãos a responsabilidade de tomar conta do time. Mas só depois de pegar as chaves dos vestiários na mão do professor Rodgers, na sala dos professores. Onde a chance de se bater com a loira que agora ela sabia que se chama Eliza Griffin.
Lauren deveria a ela pra sempre.
Entrou no corredor da ala dos professores, e deu uma espiada pra ver se a barra estava limpa, era só ir, pegar a chave na mão do professor Rodgers e nunca mais pisar seus pés ali. A sala ficava no último lado, perto da biblioteca. Ela parou na porta e ficou com as mãos estendidas. Ora, Alycia, parede agir como uma amadora. É só sua professora.
Deu apenas uma batida na porta e aguardou. Dois olhos azuis surgiram ante a porta, arregalados. Eliza Griffin estava usando uma blusa de botão que apertava seus seios, e uma saia sexy cinza. Porra! Os cantos da sua boca se retezaram um pouco pra cima em um sorriso tímido.
— Oi. – Ela cumprimentou.
— Oi. – Alycia respondeu tentando parecer natural. – O professor Rodgers está?
— Não, ele acabou de sair. – Eliza hesitou, tirando uma mecha loira que caia do seu coque. – Acho que precisamos conversar.
— Claro.
— Eu já estou indo embora, porém amanhã depois da aula, se você quiser. Acho que temos assunto a esclarecer? – Alycia observou os lábios dela antes de qualquer coisa. Eram tão sexys. – Você ouviu?
— Oh, é claro. Amanhã depois da aula, onde?
— Pode ser na minha sala mesmo, quando todos forem, não quero levantar suspeitas.
— Tudo bem.
— Então vejo você amanhã? – Perguntou esperançosa.
—Sim. Até amanhã. - Acenou e um um enorme anel de prata estava no seu dedo da mão esquerda. E Alycia, podia jurar que aquele anel não estava ali. Quer dizer, ela não tinha certeza.
A quem ela estava tentando enganar, parecia mais que obvio que aquele anel em seus dedos era uma aliança. Eliza sorriu, aparentemente notando que sua aluna tinha visto a a aliança.
Mas Alycia não estava mais preocupada, recuperou sua postura e voltou ao seu típico ar irônico.
— Até mais mister Griffin.
O táxi que Camila tinha tomado para bem lentamente em frente à construção decorada com imagens de personagens infantis. O prédio era relativamente pequeno, e olhando de fora poderia passar despercebido por olhos apressados e desatentos. Mila pagou a corrida e desceu do carro. Esperava ser útil de alguma forma, que não envolvessem crianças.
Ela nem bem tinha se situado no lugar quando viu Lauren descendo apressada do seu carro. Seus cabelos escuros estavam presos e ela usava baby looks e calças jeans. Mila vira o rosto, arruma as mangas da sua blusa e vai em direção a entrada.
— Oi, Lauren
— Oi, Camila.
Jauregui respondeu formalmente, sem emoção alguma na voz.
Mila arruma sua blusa mais uma vez, observando Lauren dar um passo na sua frente pra tocar a campainha. Ela tentou se concentrar, só que quando viu, toda sua atenção estava na tatuagem de libélula que ficou evidente agora que a jogadora estava de cabelos presos.
A dupla fica em silêncio mais um tempo, então o zelador do prédio surge olhando por uma pequena fresta na porta. Esperaram mais alguns minutos na recepção, até que pouco tempo depois uma voz simpática vem de encontro a elas.
— Posso ajudar?
Era alta, cabelos loiros, o rosto magro coberto por óculos de grau. Devia ter na faixa dos 47 anos, mantendo uma beleza tipicamente americana. Lauren levantou-se imediatamente, com sua postura arrogante de sempre sumindo.
— Me chamo Lauren Jauregui. – Ela se apresenta educada. – Nossa professora de literatura pediu que viéssemos como voluntárias... – A mulher abre um enorme sorrisão.
— Sim, a senhorita Thompson. Ela me avisou sobre uma possível visita. – A loira se aproxima com as mãos estendidas. – Me chamo Minerva Blake, sou a coordenadora desse lugar, sejam bem-vindas a creche Little Harmony. O nome da creche fez uma pequena cócega boa no estômago de Camila.
— Camila Cabello. – Mila também se apresenta apertando os dedos finos da senhora.
— Me acompanhe garotas. – Ela disse. – Vou apresentar o lugar. Espero que não se incomodem com barulho. – Alertou diante uma enorme porta laranja.
Quando a porta se abriu, uma cacofonia de risadas, chorinhos e gritos invadiram seus ouvidos; Assustadas as duas deram um passo para trás. Nunca tinham visto tantas crianças no mesmo lugar, eram muitas, muitas mesmo. De todo tamanho, idade e etnia, cada uma mais barulhenta que a outra.
Passado o susto, Lauren olhava para o mar de criança com brilho nos olhos admirado e um sorriso deslumbrado nos lábios. Camila queria poder ter a mesma admiração, porém ela estava definitivamente assustada.
— Venham, quero mostrar o berçário. – Convidou Minerva. As crianças iam surgindo na sua frente do nada, correndo parecendo realmente felizes com as visitantes.
Mila teve que suspirar duas vezes, sentindo o coração cheio com uma sensação muito gostosa. A tensão de minutos antes se esvaindo completamente.
Se Camila ainda não estivesse se derretido com tanta fofura o berçário se encarregou disso. Um monte de nenês cobertos por mantas, enquanto uma leve música de ninar soava. Camila desgarrou das duas e se aproximou de um dos berços, onde um pequeno bebe de cabelos escuros ressonava baixinho, Estendeu a mão com cuidado tocando no braço cheio de dobrinhas.
— Esse é o Shawn. – Mila virou-se, notando Minerva ao seu lado. – Tem apenas uma semana conosco. É um garotinho bem preguiçoso. – A mulher olhou para trás apertando sua prancheta contra o peito. – Ela parece gostar bastante de crianças.
Camila foi surpreendida pela cena de Lauren, atenciosamente carregando um pequeno embrulho no colo. Ela o ninava e sussurrava coisas para o pequeno ou a pequena. O peito da cubana esquentou e ela abriu um pequeno sorriso para o que via.
- Bem, espero ter conseguido mostrar tudo para vocês. – Minerva disse quando já estavam na sua sala.
Era uma secretaria bem simples, com um computador e uma poltrona reclinável com o estofado esfolado.
— Que tipo de ajuda é mais urgente? – Lauren pergunta diretamente.
— Bem... – A coordenadora pareceu um tanto constrangida. – Como nos mantemos por doações, aceitamos tudo. De roupas a remédios. O prédio não é nosso, o aluguel é caro e são raras as vezes que não atrasamos. O dono não é uma pessoa muito simpática. – Ela colocou a prancheta sobre a mesa. – As maiorias dos pais dessas crianças vivem em situação caótica, tentamos amenizar o máximo a situação delas, porém as doações são raras. As pessoas agem como se essas crianças não fossem problema delas. Temo que em breve tenhamos que fechar as portas.
— Isso não vai acontecer! – Mila sente seu rosto ruborizar, quando percebe que Lauren e ela disseram a frase juntas.
Minerva fica admira em ver jovens tão decididas.
— Vamos arrumar uma maneira de conseguir arrecadar fundos para pagar esse prédio, e vamos arrecadar mais dinheiro. – Promete Lauren.
Camila sai da sala com o peito cheio de coragem e vontade de ajudar aquelas pessoas. Em breve pensaria em alguma coisa. A maneira que Lauren falou à maneira que ela se importou com aquilo tudo a deixou tocada.
A noite já estava caindo quando enfim, as primeiras crianças começaram a ir embora. Camila sentia as pernas moles, voltou a ser criança nas últimas horas, não se lembrava de ter divertido tanto desde que foi a Disney, com Dinah e Sophie.
Lauren provavelmente tinha sido ainda melhor. Mila notou, como se não fosse obvio, que ela realmente não a conhecia.
Nos braços da morena, um neném dorme profundamente enquanto ela faz movimentos com os dedos nos cabelinhos dourados. Ela desfrutava de cada criança ali, não tinha dúvida disso. O clima naquela creche era doce, era impossível entrar em Little Harmony e não se comover nem um pingo com tanta fofura. No fim do dia, Cami queria levar cada uma para casa.
— Vocês já podem ir se quiserem. – Minerva disse parando do seu lado. – Me ajudaram demais. Voluntários são raros e tão participativas são ainda mais.
Mila enfia a mão no bolso da calça jeans. Ela realmente não queria ir embora.
— Estou adorando ficar aqui. – No cantinho oposto, um garoto de no máximo oito anos passava os dedos monotonamente em um piano gasto. O seu rostinho apático chama sua atenção. – Quem é ele? – A loira olhou para onde Camila aponta.
— Oh... Esse é o Jake.
— Ele parece tão...
— Triste. – Minerva completou. – Jacob perdeu a mãe há alguns meses. Ele vive com o pai aqui perto. Digamos que o Jake tem um pouco dificuldades para arrumar amigos...
—Eu posso?
A mulher entendeu a que se referia o seu pedido e acenou um sim. Camila cruza a sala chutando uma bola de assoprar. Seus cabelos eram cor de ouro, quase dourados, lisinho escorria até seu pescoço alvinho. Jake desviou os olhos castanhos para o lado quando percebeu que era observado e voltou a se concentrar no piano faltando teclas.
— Gosta de pianos? – Ele não responde de imediato, continua com os olhos fixos no piano. Quando Camila tem certeza que vai ser ignorada, ele sussurra.
— Gosto, mas não sei tocar.
— Eu sei tocar. – Mila conta se aproximando um pouco mais.
— Sabe? – O menino interrogou duvidando, com uma fagulha de interesse nos olhos pela primeira vez.
— Sei, sim. Posso te mostrar, você quer?
Encolheu os ombros, desconfiado, no entanto se afastou um pouco para o lado deixando um espaço mínimo para que a cubana sentasse.
Camila deixa seus dedos deslizarem levemente pelas teclas. Ignorando as que faltavam até conseguir fazer a melodia que queria. A medida que o piano produzia som, o sorriso do pequeno ficava maior, mostrando as covinhas que ele tinha na bochecha.
— Havana uh, nana, half of my heart is in havana uh nana na – Mila cantarolou tentando acompanhar o ritmo da música que sua mãe cantava pra ela quando pequena. – Oh, na, na, na, half of my heart is in havana, havana uh nana.
Ela parou e observou o rosto do garotinho vendo sua reação.
— Viu só, é muito fácil. – O menino sorriu maravilhado. – Me chamo Camila Cabello. Qual o seu nome?
O loirinho desviou os olhos do piano e olhou Camila mais uma vez antes de responder:
— Jacob Trembley.
— Bem, Jacob Trembley. Se quiser eu posso te ensinar a tocar, porém você terá que me ensinar alguma coisa.
— Eu sei jogar futebol. – Disse orgulhoso. – Papai disse que um dia serei como o Messi.
— Ohh eu aposto que sim, um dia será muito melhor que o Messi. Algo como Pele.
O menino franziu o cenho estranhando a menção ao nome do jogador brasileiro, mas pareceu gostar do elogio porque sorriu ainda mais. Camila se lembrava do seu pai sempre falar de Pele, apesar de ela não saber nada além de que ele era o maior jogador de todos os tempos. O que importava era que Jacob tinha gostado, e ela queria amassar suas bochechas.
— Então temos um acordo? – Jacob ergueu o dedo mindinho. – Promessa de dedinho?
— Sim.
Ajeitou-se do lado dele, e guiando com suas mãos fez os dedos do menino repetirem o mesmo movimento que ela fazia. Passando nota por nota, produzindo um som semelhante ao que ela havia executado antes.
— Eu consegui tia. – Jacob deu um pulo empolgado pegando ela de surpresa. – Podemos fazer de novo?
Quando Mila tentou responder a voz de Minerva cortou a interação entre os dois.
— Jacob, seu pai chegou.
O menino desceu do banquinho quando viu um homem de barba clara e cabelos presos em um boné surgir. Ele correu e se jogou no colo do homem gesticulando empolgado enquanto arrastava o pai pela mão, levando-o para onde Camila e a coordenadora estavam.
— Tia diga para ele o que consegui fazer. – Ele falou orgulhoso e o homem sorriu simpático.
— Boa noite. - O senhor Tremblay disse um pouco tímido.
O pai do menino devia ter no máximo 35 anos, era alto, ombros largos. Trazia no rosto coberto por uma barba cheia um rosto cansado. Parecia ser alguém legal.
— Sim, Jake, você conseguiu, ainda está me devendo uma aula de futebol.
O menino arregalou os olhos e para a surpresa do pai e de Camila abraçou suas pernas. Todos pareciam surpresos, inclusive ela própria, quando se agachou para abraçar o pequeno corpo agarrado ao dela.
— Vamos campeão? – O senhor Trembley pegou o filho pelo tronco e o colocou no pescoço. Jake acenou feliz quando o pai o levou embora.
Já passava das oito quando enfim, Minerva conseguiu convencer Camila a ir embora. A mulher explicou que ela não tinha hora para ir, e que só podiam fechar as portas quando a última criança fosse embora. Camila foi prometendo que voltaria ainda naquela semana.
Retirou seu casaco de dentro da bolsa e se aproximou da calçada para aguardar um táxi. Foi quando Lauren se dirigiu a ela pela segunda vez no dia:
—Foi admirável o que fez hoje. – Sussurrou parada ao seu lado. – Você foi ótima.
— Você também não foi nada mal.
— Se quiser eu posso te dar uma carona. – Ofereceu. – Não é bom ficar nesse bairro a essa hora sozinha.
— Eu vou de táxi, obrigada.
— Você que sabe, boa noite.
A morena dá um simples sorriso anasalado e começa a caminhar em direção ao seu carro, sem dar nenhuma palavra.
Foi então que Camila percebeu que aquilo não tinha nada a ver com Lauren e ela. Aquelas pessoas, aquelas crianças, tudo fazia parte de um bem maior. Serendipidade.
— Lauren? – A morena virou-se, surpresa com o chamado de Camila. – Eu acho que vou aceitar sua carona, se não for te incomodar.
— Não incomoda.
Nenhuma das duas sabia naquele momento que uma simples carona seria um divisor de águas.
Quando eu disse que esses seriam os capítulos mais intensos que eu já postei até agr na fic(tem mais!!) só hoje tivemos Clexa, Camren, Bmila(nome de shipp que acabei de inventar sorry :D!!) e a cena amorzinho das primas mais legais do universo.
Ces vão me perdoar, mas Brooke Lauren tá esmurrando a Lauren. Não me matem, mas são os fatos, já, já tudo muda.
Assim como na vida real n existe ngm bom nem ruim por completo(exceto trump e o bozonabo), na fic também não, então sintam-se à vontade pra xingar a Lauren porque ela está sendo muito fdp com a Lucy, sim. Não se preocupem porque n passo pano pra meus personagens.
Antes que alguém pergunte porque a rihanna é tão citada nessa fic, é porque minha namorada é fenty e ela é a primeira pessoa que ler antes de todo mundo. Te amo, baby :*
Obs: Esse garotinho que a Camila toca Havana é o Jacob Tremblay o garotinho que fez o filme extraordinário ele é um fofo.
Amanhã temos mais, pra fechar essa maratona e vou adiantar que será bem... diferente. rsrsrs.
Alguém aqui queria previa:
Só no segundo chamado que ela parece voltar a sua consciência e soltar o corpo do homem, desacordado. O rosto dele está lavado de sangue, e não é possível reconhecer muita coisa.
Lauren levanta com os punhos travados, e respira profundamente, há algo perturbadoramente indomado na sua postura e na expressão de fúria.
— Você está bem?
Postei e corri real. O que será que aconteceu? Sugestões?
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