Livro dois - Consequências

"Uma mentira pode dar a volta ao mundo, enquanto a verdade calça os sapatos"

Mark Twain

O ambiente dentro do carro era capaz de cortar até aço, talvez o motorista do Uber se perguntasse por dentro o motivo daquelas caras de velório. Ou porque elas nem ao menos conseguiam se olhar. Camila se manteve afastada todo percurso, os dedos desencorajados até de tocar sua própria pele. Estava com nojo de si. Culpada. Como podia ter ido tão longe?

A dor de cabeça da ressaca e a sensação de vômito não adormeceram suficiente seu corpo. Camila sentia se como uma casca vazia.

— Camila... – Alycia Evans chamou-a. Evans estava sentada do outro lado do passageiro, mantendo um enorme espaço entre elas. Cabello apenas acenou, sem desviar os olhos para o lado. Não tinha coragem de olhar aqueles olhos. Não aqueles olhos. – Precisamos conversar.

— Eu sei. – Ela balançou a cabeça levemente, concordando – Isso... Eu-Eu não tenho palavras pra isso, Alycia. Não deveria ter acontecido... – Ela piscou os olhos debilmente, querendo inutilmente resgatar na memória algo que explicasse aquela conjectura. – Na verdade, eu nem sei se aconteceu.

Alycia esquivou uma das sobrancelhas e balançou a cabeça.

— Se aconteceu ou não, temos indícios suficientes para acreditar que... – Ela se interrompeu e suspirou profundamente, tremendo as mãos de um jeito estranho – O que eu to tentando dizer é: Não importa. A única coisa que tem valor é o que vamos fazer com isso.

— Falar a verdade. – Seu tom de voz foi categórico.

Sentiu-se mal com o pensamento que teve depois de falar aquilo. Porque sendo bem sincera, havia uma parte pequena, ainda que mínima dentro dela que desejaria omitir aqueles fatos. Queimar dentro das verdades. Entretanto, Camila sempre foi mais que isso. Ela não suportaria viver com uma mentira, nem pra salvar a própria pele.

— Eu sei, isso sim. – Evans suspirou profundamente, lágrimas brilharam em seus olhos, debaixo de um lamento. – Camila, elas nunca mais vão querer olhar em nossos olhos. Como eu vou dizer isso a Sophie?

A dor a atingiu com mais força que antes, os olhos enchendo-se de lágrimas o ardor surreal em seu peito. Sophie tinha sido sua amiga durante todos os anos que havia desembarcado na Califórnia. A única garota que quis sentar do seu lado no primeiro dia de aula, a primeira pessoa a lhe enxergar de verdade. Como ela olharia aqueles olhos e diria que muito provavelmente tinha dormido com sua namorada. Namorada e amor de uma vida?

Camila engoliu o bolo que se formou em sua garganta.

— A verdade é a única coisa que eu posso oferecer a elas duas. As pessoas sentem o que sentem, Al. Não é nossa dor que está em consideração aqui, e sim a dor que causamos.

Alycia concordou com a cabeça e encarou a amiga com os olhos verdes ainda mais verdes pelas lágrimas.

— Eu não sei de onde vou tirar forças para fazer isso. – Camila fitou o rosto da garota, ela entendia exatamente o que aquelas palavras queriam dizer.

— Precisamos lamber nossas feridas e nos preparar para amanhã.

Alycia dormiu o dia todo e nem as batidas na porta do seu quarto foram o bastante para lhe acordar. Feito que só ocorreu quando ela se espreguiçou e sua perna roçou em algo quente. A loira ergueu-se minimamente, notando uma cabeleira ruiva despejada em seu travesseiro. Seus olhos encheram de lágrimas, a dor no peito contrastando com a quantidade de sentimento que nutriu.

Na eminente derrota ela se fez um único questionamento: Por que havia perdido tanto tempo? Por que correu por camas e relacionamentos que tinham como composto único o sexo, se poderia ter aproveitado aquela mulher que estava na sua cama? Quantas juras de amor deveria ter feito?

Talvez eu tenha a resposta. Porque nós os seres humanos sempre achamos que podemos controlar tudo, até o tempo. Achamos que existe dentro de nós a chance de lidar com nossa vida tal qual num filme. Onde simplesmente podemos rebobinar, travar, voltar atrás. Mas a vida é um tantinho menos simplista que isso. A vida não guarda roteiros, não espera amores pra sempre. A vida não pode ser moldada, por predições, videntes ou posições no horóscopo. O que é, é. E quando caímos em si, já não há mais tempo para nada.

Evans estava tão distraída acariciando os fios brilhantes em uma devoção paciente, que não se deu conta que era observada pela mulher junto a ela. Sophie sorriu e ela forçou-se a fazer o mesmo. A namorada a abraçou e pressionou beijos molhados em todo seu rosto. O sol quente contrastou com a culpa amarga e fria que retumbava em seu peito.

— Você não apareceu o dia todo. Imaginei que tivesse dormido bêbada e vim ver a extensão do estrago. – Sophie sussurrou com a voz ainda um pouco rouca, ela suspirou e seguiu – Mike me deixou entrar, mas eu não quis te acordar e acabei pegando no sono – Os olhos azuis acompanharam o caminho que a lágrima fez dos seus olhos de Alycia até o queixo. – Al? Por que você está chorando? – Havia tanta ternura explicita naquelas palavras que o choro se tornou um soluço desesperador.

— Eu te amo. – Alycia murmurou perdendo o controle. – Eu te amo tanto.

— Ei, – Sophie beijou seu rosto. – Tá tudo bem, eu te amo. O que aconteceu, baby? – Alycia engoliu o soluço.

Como diria algo aquela mulher? Como destruiria tanto amor ali mesmo, diante daqueles olhos?

Ela engoliu em seco, encontrando a coragem que faltava para falar:

— Eu só notei o quanto sou sortuda, o quanto eu te amo e preciso de você. – Ela seguiu enquanto limpava suas lágrimas. – Desculpe...

—Não, baby... – Ela a interrompeu. – Eu acho bonitinho como você fica toda confusa quando precisa lidar com seus sentimentos.

Alycia suspirou profundamente, observando a namorada se aninhar nela.

— Dinah nos chamou para ir comer no Dropship, o que acha? – Perguntou afastando alguns fios loiros do rosto de Alycia. – Me comprometo a obrigar o Nico afazer o melhor Chocolate quente para curar sua ressaca e vou te dar muito amor.

Ela não sentia como se pudesse sair daquela cama e ir pra qualquer lugar e a cada palavra amorosa seu peito era golpeado mais forte por ondas de culpa e medo.

— Podemos ter esse fim de tarde junto? – Alycia tentou forçar um riso. – Sei lá, eu quero ficar com você, só hoje. – Pela última vez. Sua mente pensou, mas ela não disse.

— Tudo bem. – Sophie fez uma pausa considerando a ideia e um pequeno sorriso nasceu em seu rosto – Vou ligar pra Dinah e dizer que não vamos... Camila também deve estar morrendo de ressaca.

Ao ouvir aquele nome o coração de Alycia acelerou e as lágrimas voltaram a queimar suas pupilas. Ela engoliu em seco. Precisava dizer a verdade logo ou a culpa a mataria.

Não. Ainda tinha algumas horas, era algo que Camila e ela teriam que fazer juntas. Iludiu-se que de alguma forma isso atenuaria a ação, como se ela não soubesse que quando aquelas palavras fossem proferidas, tudo nunca mais seria igual. Precisava aproveitar aquela mulher pelas horas que ainda tinham. Por todo amor que queimaria diante dos seus olhos em algumas horas.

— Eu só quero dormir com você.

Elas adormeceram por algumas horas, até o sol morrer através da janela do seu quarto. Acordadas, Alycia carregou Sophie para o chuveiro, suas pernas longas enroladas firmemente ao redor dos quadris da namorada, seu rosto enterrado em seu pescoço para abafar seus protestos por ser carregada.

Tirou sua roupa e beijou cada parte daquele corpo com devoção. Lambeu a pele, mordeu o ombro enquanto o ritmo forte ditava o caminho para um orgasmo que naquele corpo ela sabia que talvez fosse o último. O amor tem dessas coisas, a antecipação do fim às vezes é sentida nos ossos.

A seguir, Alycia pediu pizza. Elas passaram o resto da noite vendo filmes, enroscada. Tudo estava indo bem até o celular de Alycia bipar debaixo dela. A primeira peça do domino havia sido derrubada.

Ela sacou o aparelho do bolso para verificá-lo, mas quando notou a imagem na tela, congelou, franzindo o cenho. Com os olhos fixos na tela do aparelho, Alycia Evans ardeu. Se extinguiu em um milhão de cacos envenenados por culpa. A raiva queimou sua garganta. A culpa era dela. Como explicaria isso? Como encontraria dentro de si forças para traduzir a Lauren e sua namorada aquela foto?

Sentiu vontade de vomitar, mas engoliu em seco. Elevando os olhos para a mulher diante dela.

— Baby? – Sophie murmurou, mas interrompeu sua ação desviando os olhos ao seu celular esquecido no meio de suas pernas. Evans apertou o seu próprio com tanta força que os dedos ficaram brancos.

— O que... – A frase que ela pensou em dizer, morreu na ponta da sua língua quando ela ergueu o celular em direção seu rosto. Seu rosto iluminado pela luz azul foi perdendo lentamente a face tranquila e ganhando uma máscara de pânico.

Sophie tremeu como se tivesse levado um tiro, seus braços voando instantaneamente para envolver protetoramente em torno de si. A imagem era perfeita não deixava espaço para ambiguidades, nem que ela quisesse.

O coração de Alycia se quebrou quando ela percebeu que os olhos de Sophie estão brilhando de lágrimas. Evans deu um passo à frente, mas a ruiva recuou, travando na cama. Ela choramingou alguma coisa. A dor era tão crua que incendiava, deixando rastros quentes enquanto circulava por seu sangue.

Nuas...

Juntas...

Alycia e Camila...

Nem em seus piores devaneios aquilo passou pela sua cabeça. Nem ali, com a imagem tatuada em seu cérebro ela conseguia acreditar. A maneira que os braços de Alycia estavam em volta da cintura de sua amiga, os corpos nus intimamente ligados.

Elas ficaram em caladas por muito tempo. Em seus rostos a dificuldade em querer acreditar que aquela dor fosse real. Pareceu mesmo um pesadelo. Pequenos ecos produzidos pelo choro contido cortavam o silêncio. O quarto enorme se fechando em paredes de algo mais denso.

— Eu-eu sei que você está com nojo de mim. – Alycia disse de repente, limpando os olhos. A ruiva a fitava de um jeito tão ressentido e vulnerável que restou a ela implorar. – Não olhe assim pra mim. – Ela soluçou. O coração batia tão forte contra suas costelas que quase doía – Não me olhe como se-

As lágrimas escorreram pelo seu rosto, seu corpo se contorceu dos soluços que ela tentava desesperadamente reprimir. Nunca pensou que veria aquele olhar de novo, não depois de experimentar o amor dela.

— Como se o quê? – A tristeza de Sophie lentamente se converteu em algo irreversível. Ódio... – Como se você não tivesse dormido com minha melhor amiga? Você é tão nojenta. Meu deus! – Ela se desesperou. A incredulidade dando lugar a razão da realidade. – A Camila... A Camila! – Sophia esticou alguns fios de cabelo se apoiando na mesinha. Ela descarregou um soco potente lá. – Como vocês tiveram coragem? COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE DORMIR COM MINHA MELHOR AMIGA, PORRA?

A voz de Turner rachou um soluço quando ela jogou o telefone violentamente na parede. Desejou que tivesse acertado em Alycia, queria vê-la sangra como ela estava sangrando.

— Eu te odeio!

Seus ombros tremiam enquanto ela soluçava; choramingos trágicos que esfaqueavam o coração de Alycia.

— Por que Alycia? – Ela clamou por uma resposta. – Só me diz por quê? – Seus olhos estavam tão tristes.

— Sophie... – Disse. E as palavras acabaram. Não conseguiu pensar em mais nada para dizer. Perdeu seu próprio argumento.

A verdade é que por mais nublada estivesse sua memória. Por mais oculta por nuvens e nuvens de poeira. A realidade, a parte que importava a quem ela devia explicações, havia oferecido a Sophie uma foto. A ela só restavam palavras. E ela nem tinha certeza.

A vida dizia que ela tinha de fato dormido com Camila. Como? Não importava.

— E sabe mais? – Sophie parou de chorar e com um suspiro secou as lágrimas. – Isso era esperado vindo de você. – Riu amargamente. – Essa é você. Egoísta, egocêntrica. Mas eu esperava muito mais, esperava muito mais dela. Não sei como isso faz sentido na realidade, mas transar com a namorada da sua prima bêbada é podre até pra você.

— Eu jamais faria isso, você sabe... – Defendeu-se. – Não me aproveitaria dela ou de qualquer mulher bêbada. Jamais.

— Ah, é? Então vocês estavam apaixonadas? É isso? Se apaixonou pela namorada da sua prima?

— NÃO! – Alycia gritou. – Eu só amei você n-

— CALA A BOCA! – Sophie gritou indo pra cima dela calando sua boca em um rompante raivoso. Queria fazê-la engolir aquelas palavras. Sophie murmurou por entredentes. – Nunca mais diga isso, nunca mais eu quero ouvir falar sobre esse amor.

Lágrimas quentes saíram dos olhos de Alycia, escorrendo o comprimento de suas bochechas. Ela balançou a cabeça, mas nenhuma palavra veio à superfície. Ela sabia que talvez nenhuma palavra fosse suficiente para acalmar, reparar o que ela havia feito.

Quando a porta bateu e Sophie saiu, Alycia sentiu dentro dela que aquele era o final. O final que atou suas as mãos. Aquele que por mais que você lute não tem como ficar. Aquele final que só diz não e não talvez. Não vão dividir um apartamento. Não vão ter filhos. Não vão envelhecer juntas. Não são mais.

Sophie e Alycia Evans estavam acabadas.

A taça tremeu entre os dedos úmidos de Lauren, quando ela virou para observar a movimentação no salão principal da sua casa. Mais uma comitiva de gente importante dava as caras.

Cercada por empresários, acionistas e gente admirável da Holanda. Mesmo com pouco tempo de mercado a Jauregui INC, era uma empresa notória no ramo da tecnologia e com uma ascensão proeminente. Pra Lauren, que sempre achou dinheiro um saco estar naquela sala sendo rodeada de pompa a deixava um pouco tonta.

Observou o celular em suas mãos, a conversa com Camila aberta e nenhuma reposta da namorada. Acreditou que receberia uma reação como aquela, só não imaginou que Camila fosse deixar de responder por tanto tempo. Dois dias e nenhum sinal. O que a deixava a ponto de ter um ataque de nervos.

A mulher trajando um belíssimo vestido azul bebê, que incrivelmente combinavam com seus olhos e cabelo louros brilhantes, acenou e sorriu em direção a Lauren. Se tratava de Blake Lively, a filha de um sócio e grande amigo do seu pai.

Independentemente de não se verem por anos, a garota havia sido presença constante na sua vida quando eram crianças descobrindo a habilidade dos hormônios. Teria sido naturalmente sua namorada se só por acaso o futebol não tivesse a feito escolher.

— Ei! – Blake acenou, abrindo um de seus sorrisos de matar. – A festa está maravilhosa e você aí sozinha. Nunca vai deixar de ser uma grande ante social?

— Eu estou bem aqui. – A morena ergueu a taça. – Apenas tentando evitar aglomerações.

— Seu pai praticamente me mandou vir te dar uma animada. Ele acha que você não gostou do cardápio.

Lauren olhou para baixo e girou o anel perolado repetidamente no dedo anular da mão esquerda. Seus pais haviam planejado aquilo, chamado seus melhores amigos e chegados. Só que, aquelas pessoas faziam parte da vida deles e não da vida de Lauren. Ela sentiu falta de tudo. Seu irmão, a bagunça de Alycia e Dinah, dos sorrisos de Normani e Sophie e, obviamente dela. Camila.

Ela poderia suportar muita coisa, mas aquela saudade golpeava seu peito com entusiasmo. E a ausência de notícias que se desdobrou por dois dias estava matando-a.

— Lauren? – A loira diante dela chamou depois de não ouvir nada. Blake estava acostumada a ter totalmente atenção toda vez que ela falava. Era uma mulher com muitos atributos, físicos e intelectuais.

Ela empurrou uma mecha loura para trás da orelha e sorriu para a anfitriã. O sorriso magnético e delicioso que Lauren não notou.

— Desculpe. – Lauren pediu com um suspiro lento. Blake anuiu, levando a taça aos lábios, porém sem nunca tirar os olhos azuis dela. – Eu estou um pouco no mundo da lua.

— Tudo bem. – Ela sacudiu a cabeça – Sei que agora somos praticamente desconhecidas, mas gostaria de te dizer que eu confio em você. Com relação ao doping...

Lauren não sabia dizer se ela estava falando aquilo apenas pra lhe agradar ou se de fato sentia qualquer coisa, mas era bom ter qualquer empatia. O mundo estava apontando pra ela naquele momento, suas redes sociais eram insuportáveis de usar, cheias de mensagens de ódio, recados e acusações falsas a seu respeito.

— Obrigada.

— E pra onde você vai agora? – Lauren abaixou os olhos. Tinha passado a semana estudando suas opções. Todas a avisavam que seu lugar era com Camila Cabello, pra onde ela fosse.

— Nova York. Quer dizer, se minha namorada ainda me quiser por perto. – Blake não notou, mas ela olhou para a tela do celular como se o aparelho tivesse levado suas palavras direto para quem elas eram endereçadas.

— Se ela for esperta, tenho certeza que vai te aceitar de volta.

— Ela acha que eu a abandonei, ou que eu amo mais o futebol que ela.

— E você ama?

— O quê? Não! – Respondeu ela com uma pressa repentina. – Camila é a mulher da minha vida.

— Quem pode te culpar por querer espairecer? – Lauren franziu o cenho, tinha certeza que sua mãe havia dado todas aquelas informações a loira por algum motivo. Em seguida, ela voltou a prestar atenção em Blake – Eu cuido de muitos projetos sociais do meu pai, Lauren. Você um dia poderia aparecer.

— Eu acho melhor não. Minha imagem atual não faria bem para você ou seus projetos.

— É algo passageiro. Em um ano você estará de volta, brilhando.

— Minha carreira nunca mais será a mesma. Não tenho essa ilusão... O futebol morreu pra mim.

— É uma pena..., mas o que será que a vida pode te reservar no futuro?

— Do jeito que eu estou em uma maré de azar? – Ela se inclinou para sussurrar. – Caos.

— O amor é caótico por si só. – Lauren desanimou só de falar daquilo.

— Gostaria de poder discordar. – Ela balançou a cabeça, bebendo o que restou da sua bebida de uma vez.

Blake repetiu o gesto da morena e respirou fundo tomando coragem de fazer o que tinha se proposto aquela noite:

— Lauren, eu não vou mentir, – A de olhos verdes encarou-a. – Eu só estou aqui hoje por você. Quando sua mãe me disse que você estava de volta, a chama que queimava quando éramos crianças acendeu mais uma vez. Sei que tem outra mulher em sua mente agora mesmo, mas... estou indo para Roma em três semanas, se quiser buscar outra diretriz. Você tem meu número.

— Blake eu...

— Eu sei, você a ama. O que eu estou te oferecendo é uma diretriz, em nome da nossa amizade.

Olharam uma para a outro por um instante. Então o celular de Lauren bipou. Ansiando por um retorno de Camila, ela abriu a mensagem na sua caixa de e-mail e a imagem foi baixada via anexo instantaneamente para em seguida brilhar diante dos seus olhos como uma chama condenatória.

Caos.

Todos os conjuntos cognitivos que formavam as ações que o cérebro de Lauren levou anos para aprender simplesmente expiraram, abandonadas. Esboçou um débil sorriso, deixando as lágrimas escaparem por entre seus cílios

Não podia ser real.

Ela literalmente fora arrancada da órbita da terra.

A dor de cabeça e as náuseas foram diminuindo ao longo do dia. Camila, no entanto, não conseguiu dormir ou ter ação nenhuma além de ficar parada observando a janela do seu quarto. O calendário ao seu lado dava uma falsa sensação de cronometro no fim. Havia chegado aquela cidade perseguindo um sonho de seu pai, e em breve sairia atrás dos seus. No entanto, quais eram seus sonhos naquele momento?

Ela nunca soube exatamente por qual motivo seu pai havia selecionado de maneira especial aquele lugar. Se isso havia sido planejado ou ocasionado pelo desespero na sua busca por um lar. Contudo, Santa Clarita havia dado a ela muitas coisas. Fazia sentido que faltando poucas semanas para ir embora da cidade, ela estivesse no limite que indicava perder tudo.

Recostou a cabeça contra o travesseiro, mordendo os lábios para segurar aquela sensação. Os cacos do celular que um dia Lauren lhe presenteou, jaziam acabados ao seu lado. Foi a sua reação ao receber o e-mail anônimo indicando que mais uma vez o destino jogava a roleta russa apontando contra ela.

Todos àquela hora estavam recebendo as fotos do seu crime. Sim, ela sentia como se tivesse cometido um crime e estivesse a poucos minutos de receber sua sentença de prisão perpétua ou pena de morte.

Prometeu a si mesma que jogaria com a verdade. Embora soubesse do risco, fez uma promessa. Contudo, a cada batida do relógio, Mila tinha mais certeza que não conseguiria resolver, não sozinha.

Ergueu-se um pouco ao ouvir passos e vozes subindo as escadas. A princípio imaginou ser sua mãe, mas então lembrou que Sinu tinha saído com Sophie, poderia ser o Dr. Benson, mas o homem nunca subia em direção ao segundo andar se Sinu não estivesse em casa. Ansiosa esperou.

Quando ficou de pé, a porta foi aberta e Sophie parou. O rosto da ruiva estava vermelho e ela mordia a parte interior da bochecha, apertando as mãos trêmulas. Lágrimas imediatamente encheram ambos os olhos quando as amigas ficaram cara a cara.

— Eu só preciso ouvir da sua boca... – Camila engoliu em seco, desistindo de segurar as lágrimas. – Me diga que é mentira, que isso não passa de uma montagem, que vocês não fizeram isso com a gente. – O desespero que Sophie dizia aquilo matava ela cada segundo mais um pouco.

— Eu não posso... – Murmurou se desesperando ela também. Ela gostaria de dizer que era tudo uma grande piada. – É tudo nublado sobre aquela noite, Sophie... Eu bebi e então...

— Ela te usou? Ela fez isso?

—Não! – Camila urgentemente cortou-a. – Deus! A Alycia jamais faria isso comigo. Tudo ainda é confuso na minha cabeça, mas eu lembro de ter corrido da Dinah e depois tudo apagou. Apenas flashes de frases soltas... Eu lembro que...eu a beijei. – Murmurou envergonhada por ter que admitir aquilo. – Talvez eu tenha ficado tão bêbada a ponto de não saber o que estava fazendo, mas eu tomei a ação de beijá-la e a partir daí eu não lembro mais.

— Então é tudo verdade? Você dormiu com ela?

— Eu jamais faria isso...

— Mas você fez. – Ela riu amargamente. – Eu já entendi tudo... – A ruiva parou para engolir ar e Camila soube que o pior ainda estava por vir. – Quanto mais eu penso mais faz sentido... Porque Lauren Jauregui te deu um pé na bunda, você quis a parte mais próxima dela.

Camila encarou a amiga com um misto de perplexidade e culpa.

— Não... – Ela balançou a cabeça sem parar. Querendo expulsar o efeito devastador daquelas palavras.

— Ela é uma cretina sem escrúpulos. – Sophie continuou. Cabello tentou tapar os ouvidos, mas a voz continuava chegando. Cruel. – Óbvio que ela não negaria uma noite com você.

— Não... – Ela retrucou. – Você me conhece, S. Você sabe que eu jamais-

— Eu não te conheço porra nenhuma! Eu conheço a Camila que era minha melhor amiga. A Camila que dormiu com minha namorada, essa é a real. Você morreu pra mim, Camila. E quer saber? Vocês duas podem ficar juntas, pode correr para os braços de Alycia. Eu duvido que Lauren Jauregui queira chegar perto de você depois do que vocês foram capazes de fazer.

— Sophie por favor, isso dói.

— Tá doendo mais em mim. – Ela chorou novamente. – Tá doendo muito mais em mim.

— Podemos consertar isso, podemos conversar. -- Repetia enquanto chorava -- Eu nunca mais vou me aproximar dela e tudo vai ficar bem.

— TUDO VAI FICAR BEM? TUDO VAI FICAR BEM PRA QUEM? SE COLOQUE NA PORRA DO MEU LUGAR! – Camila encolheu-se, nunca sua amiga havia usado aquele tom com ela. – Me diga o que faria se soubesse que eu dormi com a Lauren? – Sophie riu ao ver que a amiga não podia responder. – Isso mesmo. Eu nunca mais quero ver vocês duas!

— Sinto muito. – Disse a ela. – Eu sinto muito, muito mesmo.

Ela assentiu, mas deu para ver que não era o suficiente. Em algum momento, ela parou de acreditar.

Quatro dias depois da bomba explodir nos celulares dos alunos de Alexander Maximus, Sinu continuou incentivando Camila a ir à escola. Faltando apenas dois dias para o término definitivo do ano letivo. A fofoca de Camila Cabello dormindo com Alycia Evans, ainda tem muita lenha pra queimar. Pelo menos, entre as rodas de boatos. Estar sem acesso as redes sociais era uma glória pra Camila.

Ela se sentiu sozinha todos os dias. Dinah e Nico não pareciam se importar muito com isso. Eles se ocuparam tentando juntar os cacos de Sophie. Camila não os culpou, como poderia? Sophie, nem ao menos conseguia se manter no mesmo recinto que ela. Se havia sido ela a errar, era seguro que ela ficaria sozinha.

Era quando eles se olhavam, nas vezes que se cruzavam nos corredores, que as coisas mostravam sua real face destruída. Eles não diziam, mas Camila sentia que gritavam o tempo todo que: "você estragou tudo". Estavam impressas em seus rostos sempre que eles olhavam para ela.

Ela perdeu tudo e pra a sua desesperança, continuou perdendo mais. A dor nem ecoava mais. Ardia, mas a cada novo golpe, Camila se encolhia e somente. Como um lutador convicto da sua derrota.

Lauren também havia desaparecido da sua vida. As notícias tinham voado até ela da mesma força que o fogo avança em direção ao rastilho de pólvora. Elas queimaram daquela forma silenciosa, feia e simplista. Não trocaram uma única palavra. Não houveram gritos ou acusações. Uma normalidade que ocultava que Lauren foi e sempre seria a mulher da sua vida. E isso causava efeitos colaterais.

Camila sentiu tanto sua falta que houveram momentos que uma explosão nuclear derreteu todos seus órgãos deixando nada além de cinzas flutuando dentro da massa disforme que ela havia se tornado.

Mandou dezenas de mensagens que não ficaram apenas sem resposta; ficaram sem visualização. Ela lhe excluiu do Facebook e deixou de seguir no Instagram e de qualquer rede social possível. Lauren agiu como se Camila nunca tivesse passado em sua vida.

Alycia tinha lhe ligou aos prantos duas noites antes para dizer que Lauren havia pedido para uma transportadora buscar suas coisas, levaram suas coisas naquela tarde mesmo.

Resignou-se aceitando que se voltasse a ver Lauren, não poderia articular uma defesa plausível. O que ela diria?

"Eu não fiz"

"Eu não lembro se fiz"

"Eu fiz, mas eu não queria fazer"

Foram as imagens que responderam por ela. Nua ao lado de Alycia, só aquela resposta bastou.

Camila saiu do carro de sua mãe, tentando reunir coragem para enfrentar o penúltimo dia de aula. Ela lançou os olhos para o reflexo na enorme porta de vidro da entrada. Mal reconheceu a garota que devolveu o olhar. Estava usando uma camisa branca larga e calças jeans que apenas uma semana atrás estavam justas nela. O rosto magro e olhar sem vida traduziam quem Camila era naquele momento.

Apenas uma pessoa aparentava estar pior que ela: Alycia Evans. A loira devia ter perdido uns 5 quilos, a postura de rainha foi deixada para trás. Os cabelos fabulosos estavam presos a maior parte do tempo e ela andava o tempo todo de cabeça baixa pelos corredores. Quem nunca tivesse visto Alycia antes, jamais imaginaria quem ela tinha sido.

Normani era basicamente a única pessoa que falava com Evans, e Camila ficou feliz por isso. Estava evitando-a, mas não queria seu mal. Sabia que tinham que manter distância, não queria mais magoar ninguém. A rainha de AM, tinha sido abandonada por seus súditos. Transar com a namorada da prima era um crime imperdoável até pra ela.

Camila colocou sua proteção contra comentários maldosos: Seus fones de ouvido no máximo. O Ipod tocava uma melodia alta dos Beatles, poderia perder a audição por passar tantas horas ouvindo música no máximo, mas era a única coisa a fazer. Pensando bem, ficar surda nem era tão ruim assim.

Assim que entrou no corredor, viu Sophie no armário dela. Ficou pálida e tão zonza que chegou a cambalear ao andar na sua direção.

A expressão dela era calma e preocupada enquanto pegava seus livros. Momentaneamente, Camila torceu para que elas estivessem bem. Como um milagre.

Ela desligou o som em seus fones de ouvido e se aproximou lentamente.

— Oi. – Cumprimentou.

Sophie travou. O rosto dela mudou instante: de calma para furiosa. Ela bateu a porta do armário com força, atraindo a atenção a sua volta.

— Você algum dia vai me perdoar? – Camila perguntou. Sua voz estava miúda, ofegante.

Sophie riu, lançou a ex-amiga um olhar tão cheio de desprezo que Camila deu um passo para trás.

— Não enquanto eu respirar.

Não chore. Não chore. Camila implorou para si própria.

Todo mundo olhava para a pequena cubana quando Sophie foi embora. Camila tropeçou na frente do seu próprio armário e estendeu a mão até a tranca. Levou alguns segundos para que as letras escritas com marcador preto fizessem sentido.

PUTA.

Risadas altas cercaram seu caminho, enquanto ela tentou chegar ao banheiro mais próximo. Pra sua sorte, vazio àquela hora, Camila passou direto pelo espelho, correndo até a última cabine.

Desmoronou e chorou em silêncio, com a cabeça enfiada nas mãos.

Lauren estava deitada no chão do seu quarto por horas, o barulho da música que escapava do sistema de som era apenas mais uma de suas tentativas falhas de se manter viva de alguma coisa. Seu celular tocava largado em alguma parte do quarto, mas ela não levantou para atender. Os últimos dias ela não sentia coragem pra fazer absolutamente nada que não fosse beber e se maldizer.

Ela não poderia fingir que o mundo tinha tombado mais uma vez sobre sua cabeça. E ficar bêbada, por mais perigoso que fosse, era em partes, a certeza que ela não pegaria um voo para a Califórnia, afinal? Quem deixaria uma pessoa bêbada daquele jeito entrar em um avião?

Tentou que pensar que merecia aquilo, que o fato de ter abandonando-as em prol da sua dor fosse uma punição justa. Mas isso também não ajudava. Ela não tinha culpa. Fosse qualquer explicação que quisesse, não justificaria a traição que fizeram. Algo tão pesado que levou seu pai uma noite, depois de ouvir seus soluços, a perguntar se ela queria que ele ficasse a noite com ela.

Lauren não sabia bem quanto tempo passou sentada no chão do seu quarto. Ela levantou as mãos e esfregou seus olhos, tentando limpar sua visão distorcida. Seu corpo inteiro afundando de exaustão, os efeitos posteriores do ataque de pânico muito proeminente. Não costumava ter ataques de pânico. Mas também não costumava chorar tanto.

Ela já tinha passado da fase de chorar. Havia chorado tanto nos dias passados que as lágrimas simplesmente não caiam mais. Mesmo que Lauren se esforçasse muito, ela não conseguia mais chorar. A fase de se desesperar já tinha sumido a muito tempo. Agora ela precisava de alguma forma se conformar e esquecer aquela cidade e todos seus habitantes.

Lauren só teve reação, horas mais tarde quando a porta do seu quarto foi esmurrada pela sua mãe. Ela ficou enrolada dos pés à cabeça, esperando que a mãe fosse embora, mas a mulher manteve-se ali. Clara Jauregui sabia ser insistente quando queria.

— Abra essa porta, Lauren! – A voz soou. – Ou eu juro que vou chamar um chaveiro para colocá-la abaixo.

Ela se levantou e esfregou seu rosto para limpar. Descansou sua testa contra a porta e respirou fundo em um último esforço para agarrar algum tipo de compostura antes de se afastar e abrir a porta.

Os olhos Clara se arregalaram para a filha, a mão erguida, pronta para bater de novo.

— Você andou bebendo? – Sua expressão foi de surpresa para irritação. – Está tentando virar alcoólatra?

— O que quer mamãe?

— Quero que sai desse quarto... encare a vida de frente como sempre fez! Está tentando se matar? Ou ficar depressiva? Tem quatro dias que você não come, não conversa com ninguém. Filha, eu sei que doí, mas você precisa reagir. Lauren olhe pra você.

Jauregui desviou o olhar para a porta espelhada. Olheiras, os cabelos despenteados e o corpo curvado em uma postura derrotada.

— Seja qual for o tamanho do amor que sente por essa menina, não vale a pena se destruir assim.

Lauren quis rir daquela convicção protetora que na realidade nunca existiu. Conviver com os pais aquelas semanas tinha deixado claro o tipo de relação impessoal que eles tinham. Eram sempre os negócios que guiavam suas vidas, não os filhos.

— O que sabe sobre nós, mamãe? O que sabe sobre mim? – Não estava em sua intenção magoar sua mãe. Mas sua alma estava envenenada por rancor.

— Sei que é uma menina linda, que sempre batalhou com honra pelos seus objetivos. – Ela tentou tocar o rosto da filha, porém Lauren se afastou.

— E de que me serviu tanta honra? De que me serviu tanta beleza? A mulher que eu amo me traiu com minha prima, eu perdi o futebol. – Ela fez um gesto desdenhoso. – Aquela cidade maldita que fui empurrada por vocês me tirou tudo!

— Está querendo me culpar?

— Ou será que é sua consciência te cobrando, Clara? Não fossem pais negligentes não teriam me deixado naquela cidade de merda, não teriam calado minha boca com um carro, teriam largado essa empresa idiota e cruzado o Atlântico pra me apoiar quando eu perdi tudo!

— Pensamos sempre no futuro seu e do seu irmão. Estamos construindo algo para que vocês vivam bem...

— É tudo sempre sobre dinheiro? Temos grana suficiente para dez gerações de pompa e luxo e a única coisa que vocês se importam é em ter mais. E seu filho? Seu filho adolescente, agora mesmo sendo criado por tios?

— Mike está em boas mãos, eu sei que ele entende.

— Ah sabe? Vocês não sabem nada sobre ele, não sabem que ele está apaixonado pela primeira vez, não sabem que ele foi espancado durante metade do ano letivo. – Clara abriu a boca, mas Lauren não parou de falar – Qual a cor favorita do meu irmão?

— Por que está me perguntando isso?

— Responda... Qual a cor favorita dele?

— Eu- Azul.

— É vermelho. – Disse ela com um riso gutural. – Ele usou o mesmo cachecol vermelho por anos. – Concluiu e ergueu as mãos apontando para a saída. – Eu não vou morrer mamãe, nem vou me tornar uma alcoólatra. Saia.

Ela envolveu seus braços em volta do meu corpo trêmulo e gentilmente bateu sua cabeça contra a porta atrás dela uma vez, duas vezes, três e depois quatro vezes.

Lauren precisava encontrar um jeito de ficar melhor, porque as coisas, com certeza, piorariam conforme o tempo passasse.

Dois meses depois

Sábado à noite era enfim, a formatura dos concluintes da turma de 2016/2017. Tinham esperado o verão inteiro para concluir aquela palhaçada na última noite que muita gente ficaria na cidade. Uma ode à juventude, ou foi isso que Alycia leu no panfleto da festa.

Alycia Evans tinha certeza de duas coisas, a primeira: Ela não pisaria os pés na festa nem que a amarrassem. A segunda: Ela precisava beber e beber muito. Aqueles dois meses foram de longe os piores da sua vida. Ficar em sua casa era insuportável. Sua família estava decepcionada com ela, suas caras não negavam. Ela também estava decepcionada consigo... com a vida de modo geral. Mike era a única coisa boa, o coração do garoto era muito grande pra ele a odiar. Mesmo que a relação dos dois não fosse mais a mesma.

No entanto, ela não podia culpá-lo ou cobrar. Odiar a pessoa culpada pela dor sua irmã era um direito seu. Porque mesmo sem trocar uma palavra com a prima, Alycia sabia que tinha destruído o que restou de Lauren depois de perder o futebol.

Mas também estava cansada do luto. Perceba, nem todo mundo lida com a dor morrendo de chorar. Alycia era demasiada resiliente para isso. Então, arrumou-se como se fosse mesmo para festa de adeus. Colocou seu vestido preto que deixava suas pernas de modelo de fora e em saltos altos, desceu no único bar da cidade que ficaria em paz. Comemoraria sozinha. Em nome da desgraça que tinha se tornado a vida. Alexander Maximus que se fodesse. Ela estava livre de uma vez por todas.

O cassino da Reina Del Sur, piscava. Lotado com suas luzes brilhantes e pessoas se remexendo ao som do reggaeton chiclete que vazava das caixas de som. Sua presença ali voltou a ser constante, bem como seus hábitos alcoólicos preocupantes.

— Mais uma... – Ela bateu no balcão e o bartender lhe entregou outra cerveja instantaneamente. Já estava na oitava, mas pela quantidade de álcool em seu sangue, provavelmente tinha perdido a conta.

Escutou uma risada rouca e virou-se presentemente para olhar de onde o som vinha. Levou meio segundo para reconhecer. Seus olhares se cruzaram por um tempo que pareceu longo demais.

— Alycia Evans... – Proferiu a mulher. – Que surpresa.

Eliza, agora sua ex-professora de história estava parada diante o balcão segurando uma margarita na mão. O destino e suas armações e deja-vu.

— Eu ainda não estou bêbada o bastante para jurar que voltei no tempo. – Disse ela com a voz meio ébria, fazendo alusão a primeira vez que tinham se visto. Naquele mesmo lugar.

— Creio que não. – Eliza sorriu galante. – Por que não está na sua festa?

— Aquela festa não é minha. – Respondeu secamente. – E você? Achei que participaria.

— Acho que não tenho mais idade para festas adolescentes.

Alycia largou a cerveja e virou se para a mulher diante dela.

— Você fala como se tivesse 90 anos, e só tem 26. - Riu um pouquinho disso.

— Se eu tivesse ido não te encontraria.

— Amém as coincidências dessa vida desgraçada... – Brindou sozinha e sorveu um longo gole de cerveja, sem desviar os olhos da mulher a sua frente.

— Nem tão coincidência assim. Eu costumo vir aqui, as vezes.

— Engraçado, tenho andando aqui nesses meses e nunca te vi. – Eliza deu de ombros. – Ou é porque quando você está com seu marido prefere me evitar?

— Você é sempre tão direta?

— Sim. – Apesar do humor negro, Eliza tinha que admitir que era uma delícia se antecipar pela reação daquela mulher diante dela. Sim, Alycia era pouco mais que uma adolescente, mas pouco agia como uma.

— Quer me acompanhar? – Apontou para o banco ao seu lado.

— Oferecendo bebidas a menores? – Notou a reação espantada da mais velha e disse: – Eu tô brincando... – Ela riu malvada e completou. – Você já fez coisas piores... aqui mesmo, em uma noite dessa, um ano atrás. Quem imaginaria que a vida estaria assim?

— Você não parece nada bem, quer conversar? – A mais velha perguntou e sem querer tocou no joelho descoberto e a de olhos verdes olhou pra ela um pouco assustada. A química entre elas sempre foi muito real. – Desculpe... – Eliza pediu sem jeito.

— Tudo bem. – Deu de ombros. – Não é como se você nunca tivesse me tocado.

Eliza acenou se aproximando mais um pouco. Alycia estava mais magra e com as feições duras, diferente do sorrisinho cínico sempre pendendo do rosto. Mas ela era uma mulher tão esplêndida que aquilo realmente se perdeu dentro de tantas coisas belas, principalmente a queimadura de sol no ombro e as bochechas vermelhas, combinando com os lábios vermelhos.

— Se quiser desabafar, eu tô falando sério. Não vou te julgar...

— Não precisa agir como se não soubesse o que aconteceu!

— Sim, eu soube o que "aconteceu". – Simulou aspas para não dar a Alycia uma impressão errada da sua intenção. – Insisti pra que o Dr. Simon fizesse algo a respeito, mas ele chamou de "confusão de adolescentes".

— Sabe porque ele não deu a mínima? Porque é um corrupto desgraçado. – Eliza se surpreendeu. O Dr. Simon era um homem duro, mas corrupto? – Surpresa? Ficará bem mais nas próximas semanas.

A loira sentou novamente, tentando controlar aquele rompante de raiva. Sentiu aquela sensação muitas vezes naqueles dias. Vontade de quebrar tudo, as vezes na sua própria cabeça.

— Sei que você vai tirar alguma lição disso. – Alycia franziu o cenho, e deu um riso debochado. Odiava quando tentavam consolá-la com aquelas frases de rodapé de revista ruim.

— Sabe o que foi que eu aprendi sobre tudo esses dias? – A loira disse, com o olhar fixo nos da mulher a sua frente – É preciso reconhecer todas essas merdas pelo que elas são...

— E o que são?

— Fraqueza.

— O quê? Amor? – Alycia lhe respondeu com um profundo olhar. – Então vai parar de se importar, por que está de coração partido?

— Isso tudo que aconteceu comigo, só aconteceu porque eu baixei a guarda. Eu me coloquei nessa situação quando deixei de me importar comigo para me apaixonar. Eu fui fraca quando não impedi Camila de me beijar. Fui fraca quando deveria ter pegado o primeiro avião e ido até a Holanda pedir perdão de joelhos a Lauren. Eu estou sempre sendo fraca, porque eu amo essas pessoas.

— O que vai fazer agora? Parar de se importar com as pessoas que ama?

— Amor é fraqueza. – Eliza desistiu de debater com a jovem tão magoada, ela calou e bebericou sua bebida. Então quando abriu os olhos a sua ex-aluna estava diante dela. – Vamos dançar?

Seu queixo caiu um pouco reagindo aquele convite. Ela não soube ao certo o que responder. O quão longe elas iriam depois daquela proximidade?

— O que foi? Seu marido não vai chegar aqui.

Alycia a puxou para o meio da pista, encostando seus corpos. Ela sentiu o cheiro e o calor que exalavam daquele corpo. Alycia era naturalmente sensual, sem muito esforço. Eliza notou a sua virilha latejar quando a garota colou seus corpos subindo ousadamente suas mãos macias pelo seu torso.

Experimentou a aproximação de Alycia e fechou os olhos. Evans afastou seus cabelos, deixando sua orelha exposta, respirou tão profundamente que ela gemeu, só por tão pouco.

— Estava com saudade? – Alycia sussurrou, lambendo o pescoço da mulher mais velha. Estavam ocultas, na parte mais cheia e escura da boate. Eliza sentiu o roçar nos seus quadris.

— Muita. – Ela respondeu suspirando. Alycia cadenciou o ritmo da dança detrás dela.

— Vamos sair daqui?

— Tem certeza?

— Você não queria me ajudar? Me ajude a noite toda. – Ela lambeu mais uma vez seu ponto de pulso. – Será nosso segredo...

— Sim. – Acenou.

— Mas não será em qualquer lugar, vamos para minha casa.

Sem deixar chance para outra coisa, ela acenou. Cedendo ao beijo molhado em seu pescoço, enquanto Alycia foi pagar a conta. Suspirou arrumando o vestido, aquela garota era sua morte.

Evans voltou ao balcão com uma urgência sexual culposa. Não tinha estado com ninguém naqueles dois meses, se questionava se fazia porque queria ou era o contrário de tudo que pensava. Piscou profundamente. Que se foda! Ela não daria a mínima.

Pagou a conta e pediu outra cerveja, parou o ato de levar a garrafa a boca quando viu um rosto familiar lhe sorrindo, próximo ao balcão.

O desgosto que sentiu ao reconhecer o rapaz a deixou nauseada. Ryan D'Champs, estava parado olhando pra ela com um sorrisinho que Alycia carinhosamente tinha apelidado de "ímã de soco".

— Depois de pegar a namorada da sua prima, agora quer se aproveitar de professoras casadas, Evans? – Ele riu com a voz desagradável. – Você é um mito.

— Vá se foder, Ryan! – Desejou. Quando se preparava para sair o rapaz chamou seu nome e ela voltou-se.

O rapaz estendeu a garrafa que ela tinha abandonado sobre o balcão.

Não vá esquecer sua bebida, não vai querer que coloquem nada aí dentro, vai?

As mãos de Alycia ficaram no ar tamanho foi o choque ao ouvir aquelas palavras. Seus olhos saltaram à medida que ela teve um lampejo urgente. A mesma frase, dias diferentes... De repente, seu cérebro recobrou as ações totais e as lembranças foram a corroendo.

A conversa onde Ryan disse onde Camila estava, ele lhe entregando seu copo. Ryan D'Champs que era conhecido por batizar bebida de garotas para se aproveitar...

Quanto mais ela pensava mais sentido fazia. Como nunca tinha juntado aquelas peças?

— Foi você...

— Eu o quê? Está bêbada?

— Foi você quem armou tudo isso-

— Eu? Es-

O que quer que ele estivesse dizendo foi brutalmente interrompido pelo angustiante barulho do punho de Alycia se chocando contra seu queixo. Ryan era musculoso e tinha no mínimo um metro e oitenta, mas ao ser golpeado caiu sobre o balcão zonzo com porrada que tinha levado.

— Argh, porra! – Ele grunhiu, tentado estancar o fluxo de sangue que escorria da sua testa – sua puta!

— Filho da puta! – Ryan levantou pra partir para cima de Alycia, mas ela sabia que não aguentaria em uma luta justa. Então ela não tinha motivo para ser justa. Acertou-o novamente, voltando a derrubá-lo.

Nesse momento a confusão se tornou generalizada. Algumas pessoas correram até Ryan, principalmente os brutamontes juntos a ele e outras, mais próximas seguraram Alycia.

— Me solte! – Evans gritou, debatendo-se, tentando se livrar do aperto que um segurança forte dava em seus braços. – Eu vou te matar, Ryan! Eu vou te matar! – Em vão ela tentou se soltar, mas continuou praguejando. – Seu estuprador de merda, verme... Eu vou te colocar na cadeia. Eu juro D'Champs, vai me pagar!

A raiva eclodiu tão forte dentro dela, que nem se incomodou quando foi arrastada para fora pela segurança do local. O olho que foi acertado enquanto se debateu já nem doía tanto assim. Doía muito mais por dento. Chorou como um bebê sentada no meio da calçada. Tinha perdido tudo por causa dele... tinha perdido sua prima e a mulher da sua vida.

Ouviu som de saltos detrás dela e não fez questão de mover o pescoço para olhar.

— Você é tão problemática assim? – Eliza disse, enquanto a ajudava ficar de pé. Ela passou a mão com delicadeza pelo seu rosto, se demorando em seu machucado recente.

— Por que está aqui?

— Porque eu me importo. – Respondeu e suspirou, passando os braços em volta da sua cintura. – Eu vou te levar pra casa, Alycia.

— Eu não vou agora, ou meus pais vão me matar. Eles já suportam muito!

— Eu vou te levar pra minha casa. – Evans parou sua ação e olhou confusa pra mulher com a sobrancelha em pé.

— E seu marido?

— Você estava certa, eu só venho nesse bar quando ele não está na cidade. – Ela deu de ombros um pouco envergonhada. – Eu sei que vai soar meio patético, mas lá no fundo eu sempre acho que vou encontrar você.

Alycia se sentiu grata pela primeira vez em muito meses.

O verão queimava as praias da Califórnia e anunciavam o prelúdio de algo novo e tão intenso quanto antes. A vida emergia cobrando que o tempo avançasse e as mudanças ditassem ali o início. Todo mundo tinha mudado de alguma forma naqueles dias. Principalmente naquela casa suburbana onde tinha crescido Camila Cabello.

Passos subindo a escada de madeira indicaram pressa de alguém que residia no imóvel.

Era Camila. No último momento, ela pediu pra mãe que esperasse um segundo, precisava voltar ao seu quarto, agora vazio de suas coisas. Mas nem tanto, em cada pedacinho tinha gravado um pedaço seu. Passou a mão lentamente na cômoda e no seu peixinho de aquário que agora era de Sofia.

Os quadros que não tirou da parede, as memórias que jamais deixaria de lado, mas que não cabiam em sua mala. Conteve as lágrimas, quando tocou na madeira do guarda-roupas cheio de adesivos de Oned, queria gravar no tato aquela sensação. Cedeu ao desejo imensurável de andar para frente.

Estava indo mesmo. Embora de uma vez. O dia que retornasse (se) retornasse, ela seria uma nova pessoa.

Quando regressou a saída onde Sinu, Sofia e Dr. Benson a esperavam, travou ao encontrar Nícolas Turner a sua espera. O rapaz estava imóvel sobre a grama, meio deslocado, com o rosto vermelho de tentar segurar as lágrimas. Camila suspirou, não esperava vê-lo ali, de verdade.

Sem uma só palavra se abraçaram. Camila descansou a cabeça no peito do rapaz. Lembrou-se dos momentos únicos que viveram.

— Não podia deixar você ir sem um adeus – Nico chorou. Ele não sabia lidar com os afastamentos. Ainda mais como aquele. – Porra, nos preparamos anos para esse momento e... – Interrompeu-se.

—Desculpe por esse fim melancólico e feio.

— Isso não é o fim, Camila. – Ele disse, balançando a cabeça. -- Toda final triste é uma história interrompida. A nossa história vai continuar.

—Eu sei, eu só queria me desculpar.

— Não vamos falar mais disso. – Ele pediu se esforçando para não chorar. – Agora vá, Mimi. – Ela enfim chorou, aquele apelido remetia tanto a Sophie. – Eu te amo, princesa. De seu melhor, acabe com eles como sempre fez.

Ela deu mais um beijo no rosto do amigo, abraçou e deu adeus. Nico ficou parado no mesmo lugar vendo a amiga ir embora. Ela fixou os olhos nele através do vidro do carro. Os amigos se olhando enquanto o carro da família cruzava a avenida principal. Camila suspirou limpando as lágrimas aceitando o carinho de sua irmãzinha.

Quando o carro parou no estacionamento a família estava um pouco atrasada e com pressa. Camila começou a retirar suas malas de dentro do carro, ajudando a mãe e o Dr. Benson.

— CAMILA! – Cabello parou a ação virando imediatamente para trás. Um jovenzinho de cabelos desgrenhados corria em sua direção, cortando o caminho até ela em um desespero comovido.

Mike se jogou em seus braços com força. Ela fechou os olhos aproveitando o carinho. A maior bagunçou os fios escuros do cabelo, depositando um beijo em sua bochecha. Tinha sentido tanta falta dele que doía.

— Eu vou sentir sua falta. – Ele murmurou, soluçando.

Mike estava vermelho e trêmulo, com lágrimas molhando todo o rosto. Cabello sentiu-se culpada. Não era assim que as coisas deveriam terminar.

— Eu também vou sentir sua falta, baby boy. – Mike chorou mais ainda. – Você pode me visitar quando quiser.

— Eu sei, mas as coisas não serão mais as mesmas. Nunca mais, nunca mais... Eu quero vocês, eu quero minha irmã, eu quero a nossa vidinha novamente, Camila. Eu não quero ninguém em seu lugar.

Ele atirou-se nos seus braços mais uma vez, Camila o envolveu em seu abraço, numa busca desesperada por consolo. Sua pressa ficaria em segundo plano, ela se despediria dele corretamente. Mantiveram-se assim por algum tempo, até que a mais velha se afastou lentamente, e, olhando o garotinho, murmurou:

— Eu amo você, Mike. Ninguém vai ocupar meu lugar, porque eu estarei sempre pra você, não importa a distância.

— Eu te amo e eu acredito em vocês, quando ela souber a verdade ela acreditará também.

Camila piscou os olhos sem entender o do que ele falava, até que se viu frente a frente com Alycia Evans. A loira segurava as chaves do carro nas mãos como uma ancora, mas seus olhos estavam vermelhos do choque ela não ousou conter. A marca roxa abaixo do olho esquerdo também não era algo que pudesse se dissimular.

— Que verdade, do que ele está falando?

— Ele está certo – Alycia anunciou – Foi a Louise. Foi a Louise e o bastardo do irmão dela. Eles armaram pra nós duas. Tudo não passou de um plano pra se vingar de mim por ter derrubado o jornal.

— C-Como? – Ela gaguejou chocada.

— Ecstasy. É por isso que não lembramos de nada. Acho que não temos tempo para explicações detalhadas, mas eu descobri isso ontem.

— De que adianta agora? – Camila sorriu tristemente. – É remédio apenas para nossa consciência. Não podemos provar nada.

— Eu sei. Só não queria que você fosse duvidando de você mesma e de mim.

— Eu não me importo mais com o que foi, Al. Não importa... Eu só quero ir embora e nunca mais voltar pra esse lugar.

— Não posso te julgar, mas eu não vou descansar até provar a verdade.

— Eu sei disso. Você tem sempre um bom plano na sua manga.

— Eu vou sentir sua falta, Cuba.

— E eu também vou sentir sua falta, Al.

— Tem mais uma coisa. – Ela colocou a mão no bolso da jaqueta. – Lembra quando Lauren brigou e você ficou com toda culpa?

— Sim.

— Você nunca foi realocada pela escola. – Camila arregalou os olhos. – Na verdade, foi a Lauren quem pagou todo seu curso.

— O quê? – Seus olhos ameaçaram derramar mais lágrimas. – Não me diga isso...

— Ela vendeu seu carro e tirou toda grana que tinha no banco. Está tudo pago, a faculdade, seus materiais e o aluguem de um apartamento pelo tempo que durar seu curso. Ela fez sua mãe e eu, prometermos que só te contaríamos no momento certo, para impedir que seu orgulho fosse maior que seu sonho. Acho que o momento certo é esse.

— Al... Eu não posso aceitar, não de jeito nenhum. – Ela devolveu as chaves da casa na mão da amiga. – Você não pode chegar e me contar essas coisas assim. Eu amo aquela mulher, sempre a amarei... Como eu vou seguir depois disso? – se desesperou mais uma vez.

— Vai ser forte e fazer isso em memória ao amor de vocês, faça isso... – Suas pernas ganharam um aspecto gelatinoso – Era o que a Lauren queria. E mesmo agora, conheço-a o bastante para saber que é o que ela quer.

— Eu...

— Prometa que vai se esforçar pra ser a melhor de todas...

— Eu prometo.

— Deixe-me ver suas mãos. – Ela brincou e sorrindo Camila ergueu as mãos. – Seja feliz da maneira que der, Cuba.

— Você também, Al.

As amigas ficaram uma diante da outra e se abraçaram carinhosamente. Camila ficou aliviada. Ela estava muito aliviada.

Quando Camila entrou no avião e esperou sua mãe se acomodar junto com Sofia, algumas poltronas a frente, havia uma angustia doce no seu peito. Diante de tanta dor que tinha sentido nos últimos tempos. Era uma glória de longa duração. Partiria em busca dos maiores sonhos da sua vida. Estava triste, mas ao mesmo tempo...

A felicidade é o que nós fazemos dela. Dá pra ser feliz com o que se tem, ou ser triste lamentando o que se perdeu. Lauren ainda era o amor da sua vida. Ainda doía pensar nela, doía pensar em Sophie. Camila trocaria tudo sem pensar pelo perdão das duas, mas... A vida dela estava recomeçando. Tudo novo...

Ou nem tudo assim...

Ela sentou na poltrona e qual não foi sua surpresa ao ver a cabeleira loira de Dinah Jane e as feições travessas surgirem por detrás de uma revista.

— Você achou que estaria sozinha nessa aventura? – Disse rindo brilhantemente.

— Eu... Eu achei que você me odiava.

— Talvez. – Dinah confessou e então sorriu largamente. – Mas sabe o que? Eu não me importo Camila. Isso tudo faz parte do passado. Nós planejamos tudo isso juntas... Vamos para Nova York e eu te amo... é minha melhor amiga, a garota que deu um soco no nariz de um garoto porque ele riu de mim.

— Dinah...

Camila tão acostumada com hostilidade chorou se jogando nos braços da amiga.

Uma nova vida.


O que o futuro reservaria?

Respira e passa para o próximo. PRESTEM ATENÇÃO NO EXPOSED AAAA

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