Dois - Você é culpada
Lauren não se sentiu envergonhada sob os olhares intensos que havia recebido desde que colocou os pés pela primeira vez na aula da professora Thompsom, de inglês e literatura. Mas ela notou cada um ali. Notou o pequeno rapaz no fim da sala que se escondeu debaixo de um grosso casaco de frio, para ocultar o celular em sua mão. Notou também os olhares assustados para ela vindo de um jovem loiro, magrelo com um corte esquisito que lembrava, Justin Bieber em 2008. Notou mais uma dúzia de rostos, de todos os tamanhos formas e jeitos. Mas de todas as coisas que seu cérebro percebeu naquela manhã, a morena de cabelos castanhos que havia deixado um caderno de esboços cair em seus pés, era realmente o que valia atenção real.
Lauren havia sido condicionada, treinada para sempre ser o centro dos holofotes. E era lá que ela se dava bem, dentro e fora do campo de futebol. Ela vivia para os olhares, para os olhos escancarados e arregalados, maravilhados com suas proezas. Ela tinha passado toda infância e adolescência trabalhando para isso, afinal. No entanto, aquilo era diferente. Havia algo na garota de bonitos olhos castanhos e feições claramente latinas. A curva amendoada dos seus olhos brilhantes, refletiam as luzes fortes da sala de aula. Lauren podia apostar que ela atrai a atenção pra si sem precisar ser uma deusa do futebol.
O som do seu sorriso era outra coisa que chamava atenção. Um leve raspar rouco, na voz carregada de um sotaque latino-americano. Não era uma rouquidão crua como a sua, e sim algo adocicado, combinando totalmente com o sorriso perolado.
Sorte sua que ela parecia bastante concentrada na conversa com as amigas. Lauren desviou o olhar, esperando afastar o rubor nas bochechas. Aquela não era a sua versão habitual.
Sua conversa interna foi interrompida por Anabeth Thompson, lhe chamando para frente da classe.
Jauregui levantou as sobrancelhas.
Se dando conta que não estava prestando atenção em mais nada que não fosse a garota latina desde que havia entrado naquela sala. A última coisa que precisava era que sua namorada descobrisse que ela estava reparando em qualquer coisa que não fosse ela. Lucy não era alguém que gostava de dividir atenção.
— Pessoal. –Anabelle bateu palmas uma vez, exigindo atenção e silêncio. – Hoje tenho o prazer de apresentar a nova atacante e capitã do nosso querido time de futebol feminino, Lauren Jauregui. - Lauren deu um pequeno sorriso à classe em agradecimento.
A sala rugiu em aprovação, e quando o olhar esmeralda de Lauren avaliou a turma, ela sentiu uma pequena facada e algo terrivelmente parecido com desapontamento, quando percebeu que as energias de Camila foram gastas, não batendo palmas pra ela, mas examinado sua professora detrás dela.
—Eu sei que ela é um sucesso aqui, mas... certifiquem-se de serem acolhedores... Senhorita Jane, o que disse sobre colocar os pés em cima da mesa?
Os olhos de Lauren se arregalaram ligeiramente com a mudança de ritmo da fala da professora. A senhorita Jane, era uma garota de bonitos e brilhantes cabelos loiros, enfiada no casaco das lideres de torcida. Jane deu um pequeno sorriso cínico e piscou na direção de Lauren. Um pedido de desculpas que foi recebido com um risinho quase imperceptível da atacante.
Lauren teria sorrido um pouco mais se não tivesse encontrado o olhar duro de Camila nela. Parecia que a presença da atacante não agradava a alguém, afinal.
Lauren deu de ombro com desdém, antes de voltar ao seu lugar. Não estava ali pra fazer amizades e sim jogar futebol.
A primeira paixão avassaladora traz complicações para o resto da vida, Sophie repetiu isso pela segunda vez na sua mente. Não desejava estar com aquele humor do cão, mas a volta às aulas trazia a urgência de lidar com algo que ela não queria. Esse algo tinha brilhantes cabelos loiros e sorriso cínico que naquele momento mesmo flertava bem na sua cara com duas garotas do segundo ano.
Como eu pude me apaixonar por alguém como ela?
Ela havia passado todos os dias das férias de verão tentando arrumar distrações no tinder, perdendo as contas de quantas vezes saiu de casa com o intuito de conhecer alguém novo. E isso ia contra exatamente o discurso feminista das duas melhores amigas. Algo sobre, "Voce é suficiente pra si".
Não que Dinah ou Camila fossem às pessoas mais certas pra aconselhar qualquer pessoa sobre relacionamentos. Dinah estava apaixonada por Normani, há no mínimo quatro anos, já Camila havia sido traída com metade da escola e agora estava enfiada em tanto o estudo que seu cérebro podia fritar a qualquer momento.
Mas a quem ela queria enganar? Era ela que estava apaixonada pela garota mais galinha da escola, e quem sabe do universo! Devia ter sido uma noite de diversão e um ano depois, depois de tantas idas e vindas e nada concreto que ela havia tomado a decisão. Estava fora, definitivamente fora.
Em breve ela esqueceria a cretina sem coração e sua vida voltaria ao normal.
Mal posso esperar, pensou com um suspiro.
Bem nesse momento Alycia a reparou, sentada em um dos últimos bancos da entrada. Ela olhava diretamente para a ruiva, e mexeu nos bolsos da sua calça justa, retirando o celular. Seus dedos batiam apressadamente na tela, até que Sophie sentiu o vibrar em seu bolso.
Previsível.
Uma voz corajosa exigiu que ela deixasse o celular onde estava, mas a curiosidade era maior. Seus olhos arregalaram e seu cenho franziu imediatamente após ela ler a mensagem.
—Mas que filha da puta. – Sophie pensou alto. Ainda mais revoltada com a audácia de mandar um emoji cínico.
Na gama de coisas que Turner desejou fazer naquele momento com a loira safada, estava incluído assar ela em uma fornalha bem grande ou quem sabe mandar direto pra algum país árabe com uma camisa escrito "i luv US". Então ela tomou a decisão que lhe era mais fácil: Ignorou.
Pessoas com o ego como o de Alycia Evans odiavam ser ignoradas. E foi isso que ela constatou quando já estava chegando à biblioteca e a loira a alcançou.
Alycia Evans era bonita, de uma beleza de fazer as pessoas virar o rosto para contemplar. Alycia também era possivelmente garota mais inabalável quando se tratava de flertar. No fundo, quase todas as garotas iam ter uma queda por ela e a cretina sabia disso.
—Ei, porque está fugindo de mim?
Alycia tentou segurar o punho da ruiva, e por milésimos de segundos não recebeu um tapa na cara. Por sorte seus reflexos estavam em dia.
Ela recuou assustada, tropeçando em seus próprios pés.
—Você é louca?
—Eu não quero conversar com você, piorou ouvir sua voz!
—Eu preciso te explicar algumas coisas.
Ela se aproximou, aproveitando o momento de fraqueza de Sophie. O cheiro do seu perfume contaminou o ar.
—Se afaste! – Turner ordenou exasperada. Metade pelo cheiro irresistível e metade pela raiva.
—Desculpe, ok.
—Enfia suas desculpas no...
—Olha a boca, ruiva – Sua provocação veio seguida de um falso sorriso. – Você sabe que contrairia tudo que dizem sobre britânicos serem educados e elegantes? E é por isso que eu te adoro.
Porque ela tinha que ser tão bonita e mais uma gama de coisas, que deixam a gente com raiva e vontade de pular no colo?
—Me deixe em paz, Alycia. – Resmungou com a voz mais tranquila. – Não vai conseguir me tapear.
—Por que está com tanta raiva de mim? Achei que tinha deixado as coisas claras entre nós.
—E você deixou. – Sophie afastou a loira com um movimento brusco. – Eu respeitei as suas regras, e agora eu vou te passar as minhas... Fique longe de mim!
Mike, já tinha memorizado seu cronograma de aulas, bem como um mapa da escola, para que não perdesse no mar de pessoas no seu primeiro dia. O garoto, no entanto, não conseguia evitar se sentir um nerd. Sua primeira aula era de álgebra dois, que, sem dúvida, o colocaria em uma turma cheia de alunos mais velhos que ele. Mike entrou na classe com a cabeça erguida e passos firmes. Por dentro seu estômago dançava valsa.
Se Alycia pudesse vê-lo, sem dúvida o chamaria de nerd.
Seus olhos varreram a sala de aula procurando um lugar pra sentar. Uma das maiores decisões que um estudante pode tomar. O quadro de assentos basicamente determinaria sua felicidade, ou não, para o restante do trimestre. E ele não faria uma escolha ruim.
O alívio inundou seu corpo quando ele viu uma menina sentada no canto esquerdo da sala, que tinha um mapa da escola na mesa dela. Bingo. Mais um calouro. Mike andou afoito até a garota de cabelos castanhos curtos, colocando sua bolsa sobre a mesa ao lado dela.
—Com licença, se importa se eu sentar aqui? – Ela levantou um momento para encará-lo, os olhos castanhos escuros, olhando o seu rosto enquanto o próprio Mike, estava traçando as faces bonitas do seu rosto através da sua pele pálida. Então ela deu de ombros e acenou com a cabeça na direção do assento.
—Vá em frente. – Ele sorriu amplamente quando sentou ao lado dela, sabendo imediatamente que eles iriam se dar bem.
—Eu sou, – Ele se apresentou. – Michael Jauregui.
—Millie Brown – A garota respondeu, segurando a mão dele com firmeza. – Prazer em conhecê-lo. O idiota que está tirando uma soneca atrás de mim é meu amigo, Will Reik. – Ele quase não viu o garoto atrás de Millie, porque ele tinha se escondido sob um capuz, mas captou o som do seu nome, e despertou momentaneamente.
—Olá? – O menino cumprimentou com uma onda de calor humano, antes de se virar para Millie. – É o Rogers, ele já está aqui?
— Não. Você tem um ou dois minutos de paz. –Ele sorriu feliz antes de uma vez mais se retirar para a escuridão de seu capuz e Mike voltar-se para Millie interrogativamente.
— Tyrone Rogers, o "horror residente" de Alexander Maximus, – MIllie explicou. – Ele nunca foi meu professor, mas só ouvi histórias de horror sobre ele. Michael fez uma careta ao ouvir nome de seu professor de matemática.
— Minha prima, Alycia, falou-me sobre ele. – Mike estremeceu, ele não tinha dado importância a tudo que Alycia tinha dito porque sua prima estava sempre tirando sarro dele, mas pelo jeito era tudo absolutamente verdade. – Acho que vou precisar de um grupo de estudos.
Pelo que Alicia contou, Tyrone Rodgers era conhecido por ser um dos piores professores de matemática e também um dos mais malvados. Todos teorizavam que a única razão pra que ele nunca tivesse sido demitido era porque o diretor Simon estava com medo do que o homem de imponentes dreadlocks poderia revelar.
Mike engoliu em seco percebendo que não estava nem um pingo curioso para aquela aula.
O homem bateu alto na porta da sala de aula, um segundo depois. Will foi acordado do seu estado de meio sono, e começou a murmurar o quanto Tyrone odiava crianças.
—Abram seus livros no primeiro capítulo. – O homem arrastou-se para frente da sala, como um falcão. Os olhos escaneando os estudantes, procurando qualquer elo fraco na turma. Em um movimento digno de Severo Snape.
Seus olhos extremamente verdes e sem vida, pararam por um momento em Will, que estava tentando parecer tão acordado e consciente possível. Depois passou o olhar sobre Mike, muito rápido para o alívio do garoto.
—Tomem notas e façam o dever de casa, os quero devidamente respondidos na minha mesa no início da aula amanhã.
Millie não parecia horrorizada, muito pelo contrário. Ela parecia estar se segurando pra não rebater a arrogância do professor. Aparentemente qualquer pergunta na aula de matemática avançada era uma receita para o desastre, especialmente depois que Mike aborreceu o sujeito quando não entendeu o assunto. Suspirou sabendo que estava realmente fodido.
Perguntou-se se Alycia conhecia bons tutores, porque ele certamente precisaria de um ou quem sabe dois.
— Bem, suas notas são maravilhosas, querida. – Disse a senhora Gloss, orientadora da escola, horas mais tarde para Lauren. Ela pegou os óculos pendurados no pescoço gordo e revisou mais uma vez o boletim em suas mãos. - Seu boletim é brilhante.
— Sim. – Respondeu Lauren, sem falsa modéstia.
A pele pálida que repuxava os cantos da sua boca da mulher se franziu em um sorriso sincero em resposta ao que Jauregui havia dito. Ela sempre foi boa em dizer a coisa certa na hora certa, afinal, quem não se derrete com pessoas confiantes?
—Sim, sim. – A mulher voltou a encarar o currículo escolar como se estivesse apaixonada. Lauren relaxou o corpo no recosto macio da cadeira, sendo convencida que aquilo levaria mais tempo do que ela desejava.
—Senhora Gloss?
Uma voz exoticamente rouca invadiu a sala e no segundo seguinte, uma figura feminina entrou como um furacão. A garota latina da aula de literatura.
—Senhorita Cabello, em que posso ajudar? – A mulher idosa levantou da sua cadeira e foi recepcionar Camila.
Lauren levantou impulsivamente, observando-a se mover para dentro da sala com uma imponência arrogante. Ela pareci brava e mau educada.
—Desculpe pela interrupção. – Disse Camila, sem parecer realmente que sentir qualquer coisa. – Mas eu acabei de saber que as vagas para o CIM foram reduzidas e vim entregar os meus formulários pra o programa de arte. – Camila olhou para Lauren travando a mandíbula segundos antes de falar. - Desculpe – Sussurrou simples, o que aos ouvidos de Lauren pareceu um resmungo.
A atacante apenas deu de ombros.
—Bem, senhorita Cabello, temo que vai ter que esperar eu conferir os documentos da senhorita Jauregui para c-
—Não. –Lauren interrompeu a fala da mulher mais velha com a voz suave. –Pode concluir, não estou com pressa, já ela parece com um pouco mais que eu...
Lauren não freou o tom de deboche nas suas palavras, e alegrou-se quando Camila franziu o cenho fechando a cara com uma expressão carrancuda, sem agradecer a "gentileza" dessa vez.
— Se deseja assim. – A mulher colocou os óculos de volta no rosto –Não trago boas notícias, Cabello. – Lauren leu nos olhos da garota algo muito próximo de ansiedade. –O conselho achou por bem diminuir a verba para os cursos de arte esse ano. Haja vista que a procura tem diminuído ano após ano, e tínhamos outras prioridades financeiras.
Lauren envergonhou-se, ela sabia que as prioridades financeiras se referiam a ela e aos investimentos no clube.
—O quê?
—Eu sinto muito, mas...
—Eu preciso desse curso. – O tom desesperado em sua voz deixou em Lauren uma péssima sensação ruim, parecia que era algo importante pra ela. –Tem que haver outra maneira, senhora Gloss. Eu posso ficar em alguma lista de espera, eu não sei...
—Desculpe Camila, o orçamento foi todo comprometido.
A moça virou-se para Lauren com um sorriso raivoso.
—Provavelmente foi usada para essa pompa ridícula em cima de uma jogadora de um esporte idiota!
—Quando isso passou a ser sobre mim? – Lauren rebateu ficando de pé imediatamente. – Se tivesse ficado atenta as datas seu nome estaria na lista. – Não era da personalidade da jogadora baixar a cabeça pra ninguém, mas dessa vez ela tinha encontrado alguém a altura.
—Quem você pensa que é? Você não me conhece! Vá chutar bolas e não se meta na minha vida!
—Senhorita Cabello, por favor, mantenha os modos.
—Isso não é justo.
Foi a última coisa que disse antes de dar a Lauren seu pior olhar de raiva. Saindo da sala com a mesma arrogância que entrou.
—Ela só está um pouco brava, quem sabe uma detenção resolva.
—Não, não faça isso. Por favor. –Sorriu pra velha, sabendo que não lhe negariam nada. – ela só está chateada.
Estava acostumada a grandes bajulações, mas aquilo pela primeira vez não tinha lhe deixado confortável. Não era sua meta destruir sonhos alheios. Ainda mais sonhos que pareciam muito importantes. Talvez por isso Lauren não tenha pensando muito quando pediu pra resolver os assuntos em uma outra hora e partiu em disparada atrás da latina raivosa.
—Ei, – Falou a primeira coisa que veio a sua cabeça, quando a Camila parou olhando-a raivosa. O tipo de olhar que seria capaz de derreter gelo, e acuar uma parte adormecida dentro da jogadora não acostumada a se sentir acuada ou com medo.
—O que você quer?
Lauren também não sabia.
—Eu sinto muito.
—Isso realmente não é sobre você e eu, Lauren Jauregui. – Cuspiu o nome como se fosse amargo..
—Eu não queria ter sido rude. Entendo você.
—Não. – Negou com a voz, com os olhos, o corpo todo. Sua intensidade assustou Lauren mais uma vez. – Você não sabe. Só está aqui porque está acostumada a ser adorada. Deve ser terrível a sensação de não ter isso.
—O quê?
—É isso mesmo. Consigo enxergar o incomodo em seus olhos. Vi isso na aula de literatura, quando só eu não te aplaudir.
—Você não precisa ser mal educada. Eu apenas...
—E você não precisa fingir que se importa, mal conhece. – Camila ergueu o olhar ainda mais decidida. – Você está me fazendo perder tempo, com licença.
E saiu, enfiando-se na primeira sala que encontrou aberta.
E pela primeira vez em 17 anos, Lauren Jauregui não tinha o que responder.
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O que acharam dessa Camila mais "rebelde", ela é minha personagem favorita, junto com a Alycia, brevemente voces vão saber o motivo.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA gif feito por mim dos dois amores.
Até mais galerx. Não esqueçam de votar, comentar e indicar pra seus amiguinhos de shipp é importante demais.
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