𝐈

Tome cuidado com o que deseja

A casa Himura já não tinha mais prestígio e viver daquela forma simples, mesmo que para muitos fosse humilhante, para a jovem de olhos bondosos era o suficiente.

-- Escuta mana, eu vou me tornar um grande samurai, aí um senhor feudal pagará muito bem pelos meus serviços e então nossa vida será como antes. -- Você sorriu antes de distribuir um carinho mínimo nos cabelos dele.

-- Você não tem que se preocupar com isso Pocco Washi -- Comentou sorrindo e ele aponto o pedaço de madeira que usava em sua direção.

-- Não me chame assim nee-san. -- Você riu.

-- Tá bom Washi, vamos voltar antes que a mamãe ou o papai venham nos buscar. -- Seu kimono surrado e em suas mãos carregava a lenha, Washi trazia os frutos que vocês colheram para o chá dá tarde, ao adentrar o casebre simples viu como seus pais brigavam, o homem em específico parecia descontar a raiva na mulher, mas quando ergueu a mão para lhe desferir um tapa, seu irmão mais novo se pós a frente empunhando o pedaço de madeira.
Washi acreditava que seria um grande espadachim um dia e que para isso ele começaria de baixo protegendo a si e a família, mas o que um garoto de apenas sete anos pode fazer diante a força bruta de um homem de quarenta vidrado pelo ódio?

-- Deixa a mamãe em paz! -- Não foi preciso muito para o mais velho sorrir.

-- Está disposto a ir contra o seu pai garoto? -- O mais velho percebeu que as mãos dele, apesar de empunhar a arma com convicção, também tremiam, afinal era o seu progenitor ali a frente, o homem que até o ano passado era um pai excelente. -- Se não tem determinação suficiente para empunhar uma espada, não o faça! -- E assim em um movimento rápido arrancou a madeira da mão da criança, se posicionou para poder desferir um golpe, aquilo seria mais do que uma punição e Washi levaria tais palavras como aprendizado, porém seu corpo movido puramente pelo impulso foi mais rápido se colocando a frente e assim a madeira que antes feriria o corpo do seu pequeno irmão, agora resvalava do lado direito do seu rosto cortando-lhe a bochecha e virando sua face para o lado oposto pelo impacto.

-- Washi vai brincar lá fora, tudo bem? -- Seu irmão se negou e você o olhou de uma forma tão cruel que ele apenas respirou, sentindo o medo percorrer cada gota de seu ser. -- Sem demora, o pequeno saiu correndo e você permaneceu ali, de cabeça baixa e controlando a sua raiva.

-- Por que fez isso SN? Aquele pirralho de merda inútil não deve se meter nas conversas dos adultos!

-- O senhor ia agredir a mamãe e o irmão, onde isso é conversar? -- O olhar de seu pai suavizou passando o dedo no local do corte e apertando de leve.

-- Saya limpe essa bagunça! E prepare a menina, não quero ver uma mancha nesse rosto amanhã entendeu? -- O homem se afastou em direção à porta. -- E só mais uma coisa, nunca mais interfiram, do contrário esquecerei que possuem meu sangue e os punirei.

E assim saiu da casa, a menina de longas madeixas castanhas se aproximou da mãe ajoelhando em sua frente e olhando para o rosto tapado pelos cabelos revoltos, seus dedos gentis passaram pela face os ajeitando atrás da orelha, depois observou melhor as partes expostas do corpo com alguns hematomas nos braços.

"Há quanto tempo ela vem suportando isso?" Sua mente divagou sentindo o coração apertar, mas quando sua mãe fungou, foi que seu corpo pareceu perceber a dimensão do ocorrido.

-- Sinto muito querida, seu pai teve um dia ruim. -- Você a ajudou se levantar levando-a até o futon do outro lado da casa.

-- Não se desculpe por ele, mãe, se teve um dia ruim que esmurrasse a parede até cansar ou batesse a própria cara numa pedra até desfigurar. A verdade é que o papai não é mais um homem de família a muito tempo. -- Você se afastou pegando um pano e retornando para a cama.

-- Não diga isso filha, para uma menina de quatorze anos você é muito forte e realmente pertence aos Himura. -- Ela afagou seus cabelos recebendo sua ajuda, aos poucos limpou os braços marcados e o pescoço ferido, em contrapartida, ela limpou seu rosto colocando um sorriso doce em seus lábios. -- Amanhã é seu dia, já sabe o que quer de aniversário?

"Queria que meu pai se tornasse um homem melhor, ou que desaparecesse de nossas vidas." Esse foi o seu pensamento.

-- Não quero nada, mamãe. Talvez eu vá buscar algumas flores para enfeitar a casa, o que acha? -- o olhar terno de sua progenitora lhe alcançou se sentindo um lixo por não ter forças para se impor, no fundo, tinha medo que ocorresse com os Himura o mesmo que ocorreu com os Hashibira quando Kotoa simplesmente resolveu que não suportaria mais tantos abusos.

Você saiu em direção ao lado externo notando seu irmão brincar de chutar areia.

-- O Otosan me odeia. -- Você se aproximou deixando um carinho em seus cabelos.

-- Não diga isso, o papai só está confuso e o problema é todo ele, não você. Você é incrível Otōto. -- Comentou notando os olhinhos dele brilharem já que raramente o chamava assim e sim de Pocco-Washi. -- Vem vamos buscar mais lenha, parece que a noite vai ser fria. -- Você sorriu tentando animá-lo, o garoto se levantou enquanto você ia à frente, porém foi parada por um abraço forte que fez seu coração vacilar.

-- Eu vou ser o espadachim mais forte que você já viu e nunca mais outro homem vai encostar em você ou na mamãe, pois eu as protegerei. -- Se desprendendo dos braços dele você abaixou e fez um carinho nos cabelos pequenos, os fios castanhos medianos e os olhos brilhantes faziam seu sorriso resplandecer.

Se fosse necessário, daria a sua vida para nunca mais vê-lo entristecer ou sequer sofrer, mas o mundo não é assim, não é mesmo? Ele é cruel e maldoso, construído em muito sangue para aqueles que são desafortunados ou simplesmente desprovidos de sorte.

Em um olhar praticamente materno, você afagou os fios dele.

-- Você já me protegeu de mim mesma Washi, agora vamos e quem sabe encontramos amoras dessa vez.

A sua vida era simples, pobre e feliz, mas, nada dura para sempre

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Sua manhã começou animada, Washi lhe despertou bagunçando de leve seus cabelos, sua mãe havia lhe preparado um bom café além de se manter ao lado de sua cama e seu pai bem... Estava em algum lugar gastando o pouco dinheiro que tinham.

-- Anda nee-san hoje é o seu aniversário, levanta.

-- Só mais um pouquinho Pocco... -- Você sussurrou.

-- Não nee-san, vamos logo. -- Acabou cedendo ao pedido e se levantou meio bagunçada e indo até o local adequado para fazer suas higienes e arrumar o kimono e por um avental por cima. Afinal ainda ia trabalhar. -- Feliz aniversário nee-chan! -- Seu irmã lhe abraçou antes de deixar uma flor em seu colo, a planta em questão se assemelhava a uma aranha além de possuir o cabo muito verde.

-- Onde você encontrou? -- Perguntou sorrindo, deixando um beijinho na bochecha alheia.

-- Eu não sei, apenas passei pela cachoeira de manhã bem cedo e vi ela se abrindo junto ao sol, então lembrei de você nee-san. -- Seu sorriso se tornou largo e após pegar a planta colocou em um vaso bonito.

-- Um lírio-aranha é uma das plantas rara. Irei plantá-la num lugar bem bonito e quando florescer novamente será o nosso segredo. -- Piscou e ele se sentiu bem por saber que tinha lhe dado algo de suma importância. Sua mãe foi a segunda a se aproximar, além de lhe cumprimentar lhe deu um novo laço de cabelo, uma faixa curta costurada a mão em tom verde azulado. -- É muito bonito mamãe. -- Você levou a peça ao peito antes de soltar os enormes e pesados fios castanhos, aos quais sua mãe desembaraçou cantarolando uma canção que sempre cantava para te por para dormir quando pequena, depois trançou seus fios e por fim amarrou a faixa.

-- Bom eu vou levar os grãos para o vilarejo e Washi virá comigo e na volta vamos colher flores. -- Você sorriu sentindo a mão dela em sua bochecha acima do hematoma. -- Não precisa cobrir...

-- Sn não é correto uma moça andar com seu rosto marcado, chama atenção de uma forma negativa. -- E assim utilizou um pouco de maquiagem para cobrir e depois de se despedir adequadamente os filhos do clã Himura foram cumprir com suas obrigações.

...

-- Washi acho que exageramos, mas vendemos tudo! O que você acha de uns dangos para comemorar?

-- Mas Nee-san o papai...

-- Ele não vai saber e é meu aniversário, ainda vamos colher flores, não vamos? -- Ele sorriu, andar com Washi era como ter um segurança só pra você só que mirim com um pedaço de madeira preso a cintura que mais parecia uma espada, na pequena barraquinha próximo à entrada da cidade pediram uma porção bem grande, guardaram alguns para a sua mãe. -- Vamos comer pelo caminho Washi se não nada de flores.

Ele assentiu e assim vocês andaram em direção à floresta ao qual sempre atravessavam para chegar até sua moradia.

-- Nee-san o que acha de margaridas e rosas? -- Ele começou a arrancar sem cuidado algum. -- Ai!

Você se aproximou puxando a mão do pequeno e levando até a boca.

-- Tem que tomar cuidado com os espinhos das rosas. -- Tirando a faixa dos cabelos e ouvindo a reclamação de reprovação dele amarrou o tecido em seu dedo.

-- O Otosan está certo, eu sou um inútil. -- Baixou a cabeça mais uma vez.

-- Ei, o papai é um imbecil. Você é genial Washi, se não me ajudasse como eu conseguiria vender todos os grãos e colher lenha todas as manhãs para a mamãe cozinhar? -- Venha vamos colher as flores só que dessa vez com cuidado tudo bem?

Ele assentiu e por um bom tempo vocês passaram a colher flores sorrindo um para o outro até que Washi ficou responsável por encher os cantis com água que sempre levavam e você queria pegar algumas tulipas, pois, eram as favoritas de sua mãe. Os irmãos se dividiram sem saber que não passariam dessa noite.

Em seu aniversário tudo o que lhe restou foi o sangue e um sorriso empalidecido pela morbidez além da conclusão do seu desejo, porém, não foi somente seu pai que desapareceu.


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