Nota da autora
"A concepção romana de templum
liga-se ao solo consagrado
e ao espaço que lhe corresponde no céu,
e não propriamente ao edifício".
Patricia Horvat
2024: o ano em que terminei meu último livro. Tá, eu sei que é perigoso dizer que dessa água nunca mais beberei... Também sei que restaram vários rascunhos de romances inacabados. Mas é a decisão que tomei. Preciso priorizar as coisas agora. Fico feliz de não ter seguido o conselho que me deram: quando você se aposentar, poderá começar a escrever e ocupar o seu dia. Acredite, as coisas não funcionam de maneira tão simples assim. A gente tem mais experiência, é fato. Mas eu só tenho a experiência da escrita, porque a exercitei na juventude. Hoje, não sei se teria saco nem imaginação para fazer a metade do que já fiz. Mesmo porque, a minha agilidade mental não é mais a mesma; especialmente a memória e os insights que eu costumava ter para conciliar boas ideias. A menopausa bagunça muito a vida da gente e metade dos médicos, por serem especialistas, não sabem tratá-la em sua condição global. Além de tudo, minhas mãos doem. Tenho artrose. Não dá para forçar digitando... Ainda bem que eu não esperei a aposentadoria e escrevi enquanto era jovem e ágil. Há outro fator: discriminação contra escritores idosos. Somos invisíveis no Brasil, especialmente em espaços e prêmios dedicados a ajudar os escritores. Simplesmente recebemos um selo de vencedor, nos dizem que nossos livros são fantásticos, mas... Somos deixados de lado. Os autores jovens passam na frente. Mais um motivo para você não esperar para começar a escrever.
As ideias para esse livro me rodearam desde a adolescência. Eram duas ideias separadas, ambientadas na Roma Imperial. Mas, o livro em si começou a ser delineado apenas em 2022. Foi quando fundi as duas ideias em uma só. O processo de escrita se estendeu até este ano, porque tive várias preocupações no ano de 2023. Essencialmente, uma burocracia típica de nosso país, que drena nossa criatividade, nos rouba tempo e nos mobiliza... Nos adoece! Uma burocracia muitas vezes sem sentido, criada não para resolver os problemas, mas para controlar as pessoas, e que a gente simplesmente não entende a razão de tal coisa existir; a gente não entende como o sistema funciona, ou para quem de fato trabalha. Existe uma burrice proposital? Uma burrice projetada para ser assim? Ficamos lá, à deriva, sendo levados por pessoas que sabem tanto ou menos do que nós. Muitas dessas pessoas têm má vontade em ajudar os outros porque foram formatadas a seguir algo que não querem entender para que serve. Robozinhos em forma de gente. Daí, você cai na malha fina por erro de alguém pago por você para fazer sua declaração corretamente. A pessoa vai lá e digita um código errado que te faz parecer uma marajá com procedimentos médicos no exterior, quando na verdade, você fez fisioterapia para artrose, com muita dificuldade, no Brasil mesmo. E paga caro por isso. Ou, por outro lado... Você é orientada a colocar no sistema um atestado após o término da vigência do anterior, quando na verdade a orientação foi equivocada e você deveria ter colocado o atestado no mesmo dia que o recebeu. Ou você contrata um advogado que não lê todo o processo e pede ao juiz uma coisa que não tem nada a ver com o que você está pedindo... Daí, você recebe uma sentença desfavorável depois de tanto labutar por algo que é seu direito... Essas pessoas que sabem menos, mas são tão arrogantes a ponto de fingirem que sabem mais, não entendem bem o que fazem e te empurram para uma espiral de eventos que te fazem correr atrás do erro delas e de uma solução que se torna ainda mais difícil. O pior é quando a solução leva o ano todo para acontecer e você fica lá, preocupando-se dia após dia com as consequências que não são culpa sua. São culpa de profissionais que não reconhecem suas limitações. Se fosse para nomear o ano de 2023, eu diria que foi o ano em que lidei com burrocratas que não sabem o que fazem e não reconhecem seus erros. O ano dos burrocratas!
A burocracia brasileira foi aperfeiçoada para que as pessoas desistam. E o pior de tudo, é altamente excludente. Telefones não funcionam, ninguém sabe o que fazer, os protocolos são ridículos... Se você tem dinheiro, paga as custas de um processo e ganha a causa. Se você não tem dinheiro, você perde, nem entre na arena. Não é a causa que é justa, mas o quanto você pode pagar para resolver o seu problema. Se você tem dinheiro, encontra profissionais mais bem conectados para te ajudar. Se você não tem dinheiro, conta com os malucos de plantão e pede a Deus para te salvar. Além da exclusão financeira da burrocracia brasileira, existe a exclusão de idade. Tenho pena dos idosos que nem sabem lidar com um computador, quem dirá, criar estratégias digitais para encontrar soluções. Todos lhe dizem que a solução está lá, só você não encontra. Os noticiários de televisão são os primeiros a informar errado. Eles entrevistam alguém que diz: "Está tudo funcionando. Basta o requerente, ou o contribuinte ir até lá que será rapidamente atendido. Tudo fácil". Muitos repórteres não se esforçam mais para investigar e checar se os entrevistados estão falando a verdade. Eles dão graças a Deus que têm uma notícia qualquer (que eles pescam no Instagram com semanas de atraso) para apresentar na televisão.
Muito dessa desinformação e burrocracia minou o meu propósito de concluir este livro em 2023. E eu queria que saísse legal, bem feito, bem trabalhado, se é que vocês me entendem... Eu queria que transbordasse alto astral. Mas estou tão cansada! Antigamente, eu superava o cansaço e seguia em frente. Era fácil me concentrar. Hoje, eu só quero terminar logo, correndo o risco de terminar de qualquer jeito. No final, estou dando graças a Deus que estou me aposentando da escrita. Sabe... Quando uma coisa que você amava muito fazer, começa a pesar e a te puxar para baixo – sendo que antes tinha o poder de te relaxar... Bem, eu penso que quando isso acontece, então, está na hora de parar; está na hora de mudar. O mundo de hoje é para um outro tipo de escritor. Mais preocupado com estratégias e embalagens. Capaz de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. E quer saber? Talvez o meu conteúdo não seja para o público de hoje. É o cilindro do tempo girando... Simplesmente isso.
O tema geral deste livro estava inicialmente ancorado na Roma Imperial, mas eu não me achava suficientemente conhecedora da cultura romana para desenvolvê-lo. Fiz alguns esboços quando tinha uns trinta e poucos anos de idade e os deixei lá, arquivados, por não me sentir competente para terminá-los. Mas, como vou parar de escrever, decidi mandar às favas meus receios e encerrar com chave de ouro. Isto é, peguei o desafio pelos chifres. Para isso, fui bem econômica, como fiz com Nahash: juntei os dois argumentos em uma só obra, atualizei minha pesquisa e consegui encontrar soluções para os buracos entre os diferentes enredos. Aproveitei uma pequena fração da pesquisa original para a trilogia A Muralha, feita em 2006, o restante não pode ser aproveitado, pois era específico daquela trama. Como havia informações ultrapassadas, por conta de novos estudos e descobertas, eu remodelei e assim nasceu Templum. Descobri que a trama não se encaixava mais na Roma Imperial, mas na República Romana. As referências específicas de Templum foram consultadas várias vezes entre 01.02.2022 e 30.08.2024. Essa é a primeira vez que incluo a pesquisa num dos meus livros, para que os leitores tenham uma ideia de como construo o enredo e checo as informações. Portanto, poderão ver em que trechos usei informação e em que trechos decidi ignorar a informação para adotar liberdade artística. Bem, enquanto pesquisava, cheguei à conclusão de que o mundo retratado neste livro é um mundo em que só podemos deduzir, supor, diante dos indícios que nos apresentam a arqueologia e a literatura de autores antigos que viveram mais perto do período, do que nós. O problema é que mesmo esses autores, que escreveram cem, duzentos e até quatrocentos anos após o transcurso dos eventos, também estavam deduzindo e supondo, tendo por base algumas poucas obras que sobreviveram. Em sua maioria, as obras originais não sobreviveram para contar o verdadeiro cotidiano dos romanos da República.
Roma teve basicamente três fases: o reino (monarquia supostamente parlamentar, pois há indícios que já contasse com senadores e cônsules); a República Romana (governada pela magistratura, excepcionalmente os senadores e os cônsules); e o Império Romano (que tinha uma espécie de primeiro cidadão, que se tornou Manda-Chuva e tocava o terror nos senadores... Estes tentavam algumas intrigas e até arquitetavam assassinatos de imperadores, via exército: leia-se, os pretores eram os caras que mantinham ou derrubavam governos, conforme seus interesses... Eles funcionavam como um misto de Inteligência (CIA) e forças militares especiais (SEALs, Green Beret) de sua época. Enfim, o Império Romano foi o auge da civilização romana. E como queria se firmar em termos de potência mundial, os autores imperiais escolhidos a dedo para escrever, pesquisar ou educar, filtravam a história romana pelo viés dos interesses políticos de seus imperadores. Assim, relatavam o próprio o passado, como imaginavam ter sido o Reino e a República Romana. O que sobrou da República foi a visão do Império sobre ela. Não sobraram muitas certezas de como a República realmente teria sido, em todas as áreas da vida, por meio da voz dos próprios republicanos. Certamente, nessas releituras infinitas por parte dos historiadores imperiais, existem muitas lacunas históricas. Não encontrei, por exemplo, a visão dos cartagineses que foram derrotados, massacrados e sua cultura erradicada pelos romanos. Não encontrei o que o próprio general e herói Cipião Africano (Scipio Africanus) pensava sobre os eventos de sua época. Não encontrei muita coisa, pois não era de interesse dos historiadores e oradores imperiais falarem sobre coisas que eu queria saber (e eu queria saber a visão do lado perdedor). Os historiadores imperiais talvez se sentissem tentados a apagar ou destruir relatos de heróis que caíram em desgraça ou que pertenceram a partidos políticos de oposição. Além do mais, eles não eram versados em técnicas narrativas, ou escrita criativa, para perceberem que estavam narrando coisas óbvias para eles e nada óbvias para os leitores – ou para nós. Como por exemplo, ter o cuidado de sinalizar quem era quem ou quem estava fazendo o que... Diziam simplesmente: "Eles fizeram tal coisa". (Daí a gente se pergunta: Eles, quem?). A gente – nisso, incluo os romancistas, historiadores e pesquisadores independentes modernos de diferentes segmentos – acaba deduzindo a quem os antigos historiadores se referiam, por eliminação ou por meio de indícios adicionais presentes ao contexto, tais como epígrafes, fragmentos de papiros e numismática. A maior dor de cabeça é dos atuais arqueólogos, que estudam as diferentes fases da cidade de Roma. Uma cidade que se construiu e reconstruiu sobre si mesma. Foram realizados vários estudos; foram estabelecidas várias hipóteses e até hoje, nem todas concordam entre si.
Por tudo isso, por mais que meus leitores possam supor que enriqueci a obra com detalhes históricos "acurados", vale lembrar que provavelmente estou dando um tiro no escuro. Meramente passando perto ao que suponho possa ter sido a vida daquele povo, durante o período que decidi retratar. Além do mais, é impossível que eu consiga traduzir fielmente o ponto de vista deles, sobre si mesmos. Estou usando o meu ponto de vista moderno a respeito do que penso terem sido os pensamentos deles. E mais: estou atribuindo pensamentos modernos a reações que, imagino, eles poderiam ter tido em relação aos fatos. Não me preocupei muito em tentar tornar o ponto de vista das personagens igual a um hipotético pensamento antigo. Aliás, fiz o contrário. Procurei trazer para os dias de hoje. Caso contrário, não haveria conexão mínima entre a psicologia deles e a nossa. Quem for fã de história pode achar que a minha psicologia ficou rasa (superficial). E eu concordo plenamente. Mas a ideia não foi aprofundar, e sim, dar um ar comum e plausível. Uma conexão para que o leitor sinta empatia pelas minhas personagens. Na realidade, aliás, é impossível a gente abstrair a forma como os antigos de diferentes épocas se relacionavam com seus deuses na intimidade religiosa de seus lares; ou como relacionavam suas convicções ao cotidiano público documentado. Muito do cotidiano deles se perdeu para nós. Sobraram as interpretações das interpretações e os textos oficiais. Tudo isso são cacos de vidro para montar um mosaico muito maior, que nos escapa. Alguns rituais de ordem cultural eu precisei recriar. Isso mesmo, eu recriei na minha cabeça, como acho que poderia ter acontecido, já que existem relatos separados, divergentes e fragmentados que, se forem juntados sem uma coesão emocional e racional, não fazem o menor sentido. É como se eu pegasse uma estátua de mármore e tentasse dizer ao leitor o que o escultor dela estava pensando, quando a esculpiu. Então, não existe uma ordem realmente comprovada de eventos, mas eu os recriei de acordo com o que os torna mais plausíveis ou lógicos, na minha mente de escritora moderna. E já adianto que o que pode parecer plausível e lógico, na minha cabeça, não necessariamente corresponde à maioria. Aliás, com certeza não corresponde (risos!).
Eu inventei alguns eventos que nunca aconteceram, como a invasão dos dacianos à cidade de Roma. Dacianos e romanos só iriam se confrontar mais de trezentos anos depois. Também modifiquei alguns rituais. O munus fúnebre, por exemplo, pode ter tido uma ordem a ser seguida adversa à que eu escolhi. Como também foi o caso do trajeto do desfile triunfal. O munus provavelmente teve a cremação antes e os eventos dos jogos de gladiadores depois. Mas eu tive que lidar com questões de logística; com a questão dia versus noite; o fato de as pessoas circularem pela cidade em diferentes horários e por diferentes razões. Assim, eu criei uma ordem mais de acordo com os acontecimentos do meu livro do que o real trajeto de um munus fúnebre ou do real trajeto de um cortejo triunfal. No mais, em ambos os casos (triunfo e munus), tentei utilizar todos os elementos históricos que encontrei em minha pesquisa, para torná-los o mais próximo do que entendi ser a função de ambos os rituais. Lembrando que os rituais podiam mudar, incluindo os seus trajetos, conforme a cidade ia mudando e se tornando mais poderosa; conforme era reconstruída para acomodar novos prédios públicos e novas "celebridades de guerra", como eu chamo os generais e políticos. A política da época modificava os rituais e seus significados públicos conforme seus interesses. Esta é a única certeza histórica que encontrei, em toda a minha pesquisa. Quanto ao triunfo, há textos que dizem que as tropas faziam sua concentração no Campo de Marte. Olhei inúmeros mapas e comparei com vários outros textos. A rota cerimonial, supostamente, seria do Campo de Marte para o Circo Máximo e deste para os templos ao redor do Fórum Romano, para oferendas e banquete público. Mas eu decidi fazer o caminho inverso, uma vez que não há consenso entre os trajetos, ou sobre a ordem da procissão. As cerimônias não são idênticas ao longo da República, muito menos no Império. Além do mais, não acredito que as legiões inteiras coubessem ao redor do fórum e dos templos para celebração do triunfo. E como eu queria mostrar os soldados à população, e não apenas o general e sua escolta, decidi modificar a ordem do cortejo e preencher as lacunas para melhor conveniência do meu enredo, como já disse antes. Quer dizer, eu segui o que achei mais lógico e mais interessante para as personagens. Isso também se aplica ao uso de expressões, palavras e termos modernos, como foi o caso de “conservador”, “radical”, “político”, “turista”, “terrorista” ou “mordomo”.
Pegando a palavra “mordomo”, como exemplo, os romanos da República tinham servos que atendiam à casa, recebiam as visitas, isso, se fosse a casa de um dominus muito rico. Eu usei o termo "mordomo", porque se encaixava melhor e era mais familiar ao que eu queria que o leitor compreendesse, sem que eu tivesse que dar muitas explicações dentro da história. Mas, vale salientar que o termo "mordomo" surgiu muito tempo depois. Na Roma Imperial, talvez. Mas não com o nome mordomo e sim "major domus", ou chefe da casa – o escravo principal que administrava a propriedade. Também poderia ser outras coisas e poderia ser um magistrado designado para administrar outro tipo de casa, como uma confraria, um prédio público, enfim... Dizer que um escravo era o chefe da casa causaria confusão na mente dos leitores, por isso, usei o termo já transformado em épocas posteriores, a partir da Antiguidade Tardia e da Alta Idade Média. Como podem perceber, adotei algumas modernidades. Não só palavras, mas tecnologias, com o intuito de aproximar as pessoas daquela época à nossa. São modernidades que, na verdade, podem já ter existido àquele tempo, com outros nomes. Algumas delas atualmente são comprovadas pela Arqueologia. Na verdade, quanto mais eu pesquisava, mais compreendia que os romanos tinham coisas que nós nem imaginávamos que tivessem. Por isso, há situações em que eu julguei perfeitamente cabível que fizessem, usassem ou pensassem. Os antigos não são tão antigos como fomos doutrinados a acreditar. Eles têm diferenças, claro, em suas formas de pensar, agir e em suas estruturas sociais. Mas basicamente, penso que a nossa principal diferença é que nós subestimamos os antigos, porque nos consideramos mais modernos. Porque temos internet e satélites.
E falando em tecnologia, quero deixar registrado aqui algo que percebi em relação à internet, durante as minhas pesquisas. Elas aconteceram antes e durante a transição para IA. Por isso, tenho percebido um retrocesso, ao invés de melhorias. Eu explico: para ferramentas de busca na internet, percebi que ao invés de se tornarem mais apuradas, ficaram limitadas aos sites comumente procurados pela média de pessoas que navegam na internet. Eu já não consigo escapar da média de resultados e encontrar respostas aprofundadas, fora do senso comum, como antigamente eu conseguia, sem a IA, apenas com o uso de palavras-chaves. Não consigo nem mais encontrar os sites que desejo, porque a IA não me deixa sair da média de respostas que ela encontra e me obriga a aceitar. Isso é preocupante. Sinto um emburrecimento das ferramentas de buscas, com o advento da IA, ao invés de tornar a internet mais ágil, precisa e assertiva. A IA tornou o processo de pesquisa limitado e superficial. Além de fazer da pesquisa um processo mais demorado e cansativo do que antes, porque eu tive que desenvolver subterfúgios para driblar a IA e conseguir alguns resultados mais promissores. Talvez isso esteja acontecendo para forçar o pesquisador a pagar algum pacote prime para ter um Google mais interessante, como antigamente ele era, de maneira gratuita. Talvez, eu esteja enganada. Pode ser que o Google Search esteja apenas se adaptando à nova condição da IA. Sabe como é, ajustando ou calibrando suas habilidades de pesquisa. O problema é que ninguém previu os desdobramentos do uso da IA em termos de pesquisa. Não basta a máquina ser capaz de raciocinar mais rápido ou de maneira independente. É preciso discriminar e sistematizar uma pesquisa. Isso exige critérios tão diferenciados quanto os temas de pesquisa são diferentes entre si. A IA não consegue fazer essa discriminação, pois depende do "contexto" da pesquisa e das escolhas que ocorrem, conforme as alternativas apresentadas. Discriminar, ou escolher conforme o problema ou situação, é um ato do raciocínio humano. A IA não consegue fazer isso, exceto num nível muito básico. Para mascarar o problema, os desenvolvedores de IA colocaram o calibre de pesquisa incidindo não na resposta procurada (por meio das palavras chaves), mas na média da busca dos internautas (o que eles procuram com mais frequência, em temas parecidos ou correlatos, e não específicos às palavras chaves). Isso é um tremendo erro. Cria uma bolha de senso comum para a qual o pesquisador não consegue escapar. Ou para escapar, gasta muito mais tempo analisando os resultados apresentados, sendo que a maioria, ele tem que descartar, porque a IA jogou na frente todo o lixo do senso comum. Os desenvolvedores podem negar, podem silenciar, mas é isto que fizeram de maneira flagrante. Vou dar um exemplo: Se eu perguntar por um filósofo grego antigo famoso e importante, a IA do Google vai jogar na frente tudo que ela tem sobre um certo jogador de futebol com o mesmo nome do filósofo. Isso porque pessoas que gostam de futebol procuram mais o jogador do que o filósofo. Daí, sou obrigada a tentar agregar outras palavras chaves, como "antiguidade", "filosofia", e mesmo assim, a IA continua atirando os resultados do jogador de futebol na frente. Isso obriga o pesquisador a perder o dobro de tempo com a pesquisa, alterando as palavras chaves e tirando o nome do filósofo para, quem sabe, a pesquisa finalmente mostrá-lo indiretamente Outro exemplo: quando procurei a origem histórica da marreta, o novo Google me deu como origem "Os Mupptes", aqueles bonecos infantis americanos que estrelaram filmes e programas de televisão nos anos 70 e 80... Depois apareceu nome de bar, ou de uma feira no Nordeste... Até eu encontrar o uso histórico da ferramenta marreta, desde os egípcios, deu o que falar... Até bem pouco tempo, eu conseguia resultados de sites com até vinte ou vinte e cinco anos de postagem. Agora, o máximo de antiguidade que consigo de uma postagem é de doze anos. Se antes meus resultados chegavam até 1993... Hoje só chegam até 2012 e com muito sacrifício. Antigamente, quando eu buscava informações, o Google me fornecia uma grande variedade ou especificidade, dependendo apenas das palavras-chaves que eu digitava. As informações vinham de diferentes países. Havia o cache do Google, que mantinha um instantâneo que me permitia acessar a informação sem correr risco desnecessário com spam, malware e mantinha a informação se o site original desaparecesse. Agora, não existe mais. O futuro dirá como os pesquisadores poderão usar a IA. Se ela vai ser uma contribuição para a sociedade, ou um desastre cultural completo. Ainda bem que eu estou me aposentando e não preciso mais fazer pesquisas. Caso contrário, estaria ferrada! Por sorte, a maior parte da minha pesquisa foi feita antes da introdução da IA. Talvez os bancos de dados continuem sendo o oásis dos pesquisadores. A Wikipédia é um oásis, mas já não aparece como prioridade na pesquisa do Google (porque é gratuita e sobrevive a base de doadores).
Enfim, em relação às obras consultadas, todos os livros, artigos e sites estudados foram listados nas referências. Quero aqui louvar os blogues de história brasileiros São excelentes! Muito superiores em termos de qualidade de informação do que as teses que encontrei. Roma Antiga possui material de estudo suficiente para encher mais de mil enciclopédias. Foi uma cidade que se transformou rapidamente ao longo do tempo, tornando difícil separar os momentos históricos. A arqueologia não conseguiu bater o martelo sobre muitos fatos estabelecidos ou tradições que tratam da Monarquia e da República. A Monarquia Romana, que deu início a tudo, é uma ponta de iceberg rodeada por um nevoeiro denso e quase intransponível. Muito provavelmente eu anexei à ideologia do livro, os estereótipos e enganos sobre os romanos passados de geração em geração entre os estudiosos do tema. Fazer o que? Eu tentei pesquisar e tentei compreender coisas muito complexas do direito, da religião e da cultura romanos. Há elementos que não consegui entender e que aparentemente nenhum historiador conseguiu elucidar de maneira clara, então, eu me apeguei ao que eu entendia. Pode ser que tenha acertado, ou não. Para ser otimista, eu diria que 75% desse livro tem alguma assertividade.
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