CAPITULO VIII - O CAOS QUE NOS HABITA

POR LION WICKER

Certa vez foi-me dito que o caos é o princípio de tudo, que é ele o principal responsável pela vida, pela ordem, pela magia e por todas as coisas incríveis que nos cercam. O caos não é, nunca foi e nunca será algo ruim, isso é algo que os humanos passaram a pregar no intuito de desvalorizar os argumentos usados por nós, magos; na época na qual nos era permito revelar a magia à eles.

Orgulho-me em dizer que nunca duvidei de tal afirmação, contudo, agora, estando sentado na mesa que se tornou o olho do furacão — ou o centro das atenções, como preferir chamar — passei a acreditar que o caos pode ser maléfico as vezes, tal como quaisquer outras coisas neste vasto universo. Todo Ying tem seu Yang, afinal.

A expressão estagnada no rosto de Pearl Quinn beira ao indecifrável, duvido piamente que algum de nós seja capaz de dizer o que ela está sentindo, o que se passa por sua cabeça. Sua expressão mantém-se séria; porém, em contrariedade à isto, há um leve sorriso ladino adornando-lhe os lábios volumosos.

Desvio meu olhar para Noah, ele continua quieto em seu canto, comendo seu macarrão alho e óleo como se nada tivesse acontecido, tal como se um segredo bombástico — que envolve  a vida e expõe uma pessoa inocente como sequela — não tivesse acabado de ser revelado ao colégio todo.

Seguro na mão da Quinn mais velha, por debaixo da mesa mesmo, ninguém precisa ver isso, tudo o que a garota menos precisa agora é de mais fofoca utilizando-se de seu nome e eu odiaria caso isso acontecesse por minha causa.

Seus olhos fitam os meus com intensidade, sempre achei interessante o fato de seus olhos serem de cores divergentes e um deles ter um tom rosado, beirando ao lilás, certamente é um adendo à toda sua beleza. Porém garotas como Pearl não tem olhos para caras como eu. Caras como eu são fadados à friendzone e eu já aceitei isso, ou, ao menos, finjo ter aceito.

Estou longe de ser o mago mais poderoso deste colégio, assim como estou longe de ser o mago mais estudioso, ou mais talentoso, para ser sincero, eu sou bem mediano em tudo e; até hoje, não entendo o motivo pelo qual me aceitaram no grupo dos populares, uma vez que são seletivos em demasia com quem colocam para dentro de sua bolha.

Obrigado. — Seus lábios se movem de maneira a formar tal palavra e sua mão acaricia a minha

Por nada. — É o que penso, entretanto não me dou ao trabalho se sibilar tais palavras

O fato irrefutável de toda esta narrativa está presente na premissa de que eu farei de tudo para que a garota de cabelos alourados sorria verdadeiramente, para que ela não permita que os acontecimentos de hoje a marquem de maneira negativa. A parte triste desta história é saber que o meu tudo jamais será o suficiente, é saber que ela merece mais do que eu posso oferecer.

Solto de sua mão com cuidado, de forma a não parecer rude, levanto-me e deixo minha bandeja sobre o balcão destinado à estas; deixando o refeitório logo em seguida. Preciso espairecer, controlar um pouco do caos que habita em minha calmaria, ele está um tanto quanto agitado hoje.

Admito que há uma grande probabilidade de isto se dever ao fato de que o segredo de Orloff foi revelado, ele usa — ou ao menos fazia uso — do aplicativo LUX , também faço e agora estou começando a me indagar se foi o aplicativo que revelou seu segredo... ou a pessoa por detrás do aplicativo. Bem vindo à minha leve paranoia.

Sento-me sob a antiga macieira, que fica no "jardim" aos fundos do colégio, a brisa fresca de outono faz com que meus cabelos esvoacem e algumas das folhas da enorme árvore caiam sobre o gramado esverdejante. Recosto minhas costas em seu tronco e ponho-me a olhar para a sua copa, ela já teve os seus dias de glória, certamente, contudo, tudo o que lhe resta hoje são algumas — poucas — folhas que estão a lhe ser usurpadas.

Dizem os mais velhos que ela é a árvore do amor, se você escrever seu nome junto do nome da pessoa por quem é apaixonado vocês ficarão juntos pela eternidade. Creio que seja por isso que sua casca está tão marcada.

Apanho meu celular e vou até o aplicativo cuja integridade eu comecei a duvidar. Talvez eu deva excluí-lo, afinal; não estou a fim de esperar que algum de meus segredos seja revelado para confirmar a minha tese. Já dizem os idosos: melhor remediar do que se lamentar.

EXCLUIR.

Clico no botão brilhante em meu écran, entretanto, nada acontece, o aplicativo continua em minha área de trabalho tal como se nada houvesse ocorrido, tal como se eu não tivesse acabado de confirmar sua exclusão.

Que porra é essa? — É tudo o que eu consigo pensar

"Que tal um joguinho, jovem Wicker?" — É a mensagem que brilha em letras disformes — "Você me revela um segredo, um grande, e eu finjo que você não tentou se livrar de mim. Parece algo justo?"

Engulo em seco e olho ao redor, em busca de alguém que estivesse a me observar, porém falho miseravelmente em minha empreitada, tendo em vista que eu continuo a ser a única alma viva neste jardim e, levando em conta que o manto de invisibilidade de Harry Potter não existe, é impossível ter alguém invisível por aqui.

OK.

Arrependo-me instantaneamente após clicar no botão, sinto que acabei de fazer um pacto com um demônio, demônio o qual fará de tudo para foder minha vida e levar minha alma, entretanto, há a probabilidade de eu estar enganado — o que, devo admitir, ocorre com uma frequência absurda.

"Meu maior segredo é que eu não sou quem eu digo ser, não sou filho de quem eu jurei ser para adentrar neste colégio."
ENVIAR.

Mordo meu lábio com força e clico em enviar; rogando aos deuses gêmeos para que eu esteja enganado quanto ao aplicativo.

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