CAPÍTULO V - CONTE-ME SEUS SEGREDOS

POR ELIOT ORLOFF

                Conte-me seu maior segredo. Aquilo que te envergonha tanto que ninguém além de você mesmo possui conhecimento. Deixe-me lhe conhecer bem, Eliot Orloff.

É a frase que brilha no ecrã de meu celular. O primeiro segredo que LUX me fez revelar foi algo fácil, simplório, que não era tão segredo assim, porém, todas as vezes nas quais tento desbloquear algo novo, o pedido fica maior. Tal como se ele almejasse saber tudo sobre mim para ter o que usar ao tentar me derrubar.

Mas é só um aplicativo, afinal, o que ele realmente pode fazer contra mim? Caso algo vaze eu certamente posso fingir demência e dizer que fui hackeado... não posso? O mais complicado nisso tudo é saber qual segredo contar, não creio que eu guarde algo tão medonho assim, ao menos não tenho nada que me envergonhe verdadeiramente.

Talvez envergonhe-me do dia em que me declarei para Christopher, o mago viajante que, na época, estava em seu segundo ano na Universidade de Brakebills, mas, por outro lado, isso não seria um segredo, tendo em vista o fato de que ele fez questão absoluta de me humilhar na frente de todos os estudantes daquela universidade ridícula.

Fecho meus olhos enquanto pondero sobre o que digitar. O meu maior segredo do qual me envergonho... talvez seja o fato de eu ser apaixonado pelo ex namorado de minha melhor amiga; o que, certamente, faz de mim um ser desprezível.

Digito as palavras na aba de liberação, respiro fundo após tornar a fechar meus olhos clico em enviar e guardo meu celular no bolso de meu blaser, afinal, ainda estou na reunião que eu gosto de chamar de show de horrores.

Olho ao redor, sentindo a culpa me corroendo, se Pearl descobrir que sou a fim de Noah desde o momento em que coloquei meus olhos sobre ele, nossa amizade estará completamente acabada. Se há duas coisas que a Quinn mais velha despreza essas coisas são a mentira e a traição, e eu meio que cometi os dois ao escolher esconder o fato de ser — aparentemente — apaixonado por Noah.

O que consola minha alma aflita é o fato de que Pearl Quinn não faz a linha de pessoa que curte aplicativos, assim sendo, ela provavelmente nunca baixará LUX em seu celular; o que reduz, e muito, a probabilidade de ela descobrir sobre meu affair.

O celular vibra em meu bolso, o pego e meus olhos quase saem de suas órbitas ao se depararem com as palavras brilhando no écran bem em sua frente.

Eliot, ambos sabemos que este não é o seu maior segredo... tampouco o segredo do qual mais se envergonha. Diga-me a verdade, caso contrário a função não será liberada.

Sinto meu sangue gelar, isso está começando a perder sua graça. No começo era divertido revelar os segredos ao aplicativo, agora, dada a magnitude que os pedidos estão tomando, não creio que seja algo inteligente a se fazer. Eu sei sobre qual segredo ele está a falar, contudo, tal segredo arruinaria minha vida por completo caso vazasse. Não tenho certeza de que uma função a mais no aplicativo realmente faça com que a possibilidade de tal dano valha a pena.

Pondero por um tempo e volto a bloquear meu celular. Tal episodio me faz pensar que talvez, mas apenas talvez, o desenvolvedor do programa seja algum aluno, aluno o qual viu o meu pequeno — grande — deslize acontecer.

Que porra! Eu estou tão fodido! — É tudo o que consigo pensar

Se alguém realmente viu aquilo acontecendo tudo em minha vida está um passo mais próximo de ruir; afinal, duas pessoas apenas são capazes de guardar um segredo se uma delas estiver morta; parafraseando Pretty Little Liars, é claro. Eu realmente creio que tal premissa seja verdadeira, afinal, uma hora ou outra alguém acaba dando nos dentes.

Pearl passa ao meu lado como um furacão e atenho-me a encolher-me todo na cadeira. Eu sei que o que eu fiz foi completamente errado, mas; se um não quer, dois não fazem. Não estou a tentar minimizar a minha culpa, apenas estou a dizer que não sou o único culpado nesta trágica história; porém, tenho cem por cento de certeza de que se ela vir a tona eu serei o maior prejudicado.

Qual é, Eliot, eu só aceitei ficar com você porque estava curioso. Sempre quis saber como era beijar meninos. Mas eu a amo e não a trocarei por você. Pode contar a ela o que fizemos, mas, pense bem, quem sairá prejudicado nesta história? Eu, o cara com quem todas sonham ou você, o cara que só tem amigos por causa dela?

Sua fala ecoa por meu cérebro, por mais que eu odeie admitir, ele estava certo ao fazer tal observação, eu realmente só tenho amigos por causa dela e certamente todos eles me abandonariam no instante em que descobrissem sobre o que eu fiz. Eles eram amigos dela primeiro; afinal.

Espero que tenha sido algo completamente aleatório que a irritou e não o fato de meu segredo ter sido revelado à ela. Tudo bem, admito que há uma grande probabilidade de eu estar começando a surtar é que talvez, mas só talvez, todo esse surto seja coisa da minha cabeça, fruto de minha imaginação. Mamãe costumava dizer-me que tenho uma imaginação fértil, afinal.

Instantes após a Quinn mais velha sair exarcebada pelo salão, a Quinn mais nova faz o mesmo; admito que isso me alivia um pouco, afinal, para as duas saírem assim, deve ser assunto de família... ou seja, nada que tenha a ver comigo e com minha infidelidade. O que me faz pensar que se eu contar este segredo à alguém ele deixará de ser um segredo.

Mas para quem contar?

Todos em gozo de sua plena capacidade mental me condenariam por tal ato, mamãe surtaria, papai provavelmente me expulsaria de casa, ele já acha o fato de eu ser homossexual o cúmulo, jamais aceitou, porém não posso reclamar tanto; ao menos ele me respeita... respeito o qual ele perderá totalmente caso conte a ele o que eu fiz.

Talvez devesse procurar um psicólogo, excluir este aplicativo idiota e me distanciar um pouco das mídias sociais, de Pearl e de todos os seus amigos. É, isso pode me fazer bem, no final das contas.

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