XXXIII. A boneca

Era um dia comum em Hogwarts, a tarde caia, Neville não tinha aulas naquele horário, por isso estava deitado no sofá macio do seu quarto, Blaise estava sentado na mesa de estudos, fazendo qualquer coisa além de estudar, folheava uma revista que achou lá em cima e mantinha uma pose arrogante colocando seus pés sobre a mesa.  

— Você iria me azarar por um milhão de galeões? - Blaise perguntou passando mais uma página da revista de botânica, com certeza não tinha esse tipo de assunto lá, mas só Merlim sabia de onde ele havia tirado a pergunta.

Neville precisou de um segundo para garantir que havia ouvido corretamente, afinal, aquilo surgiu do nada e no momento ele estava concentrado lendo a coluna no jornal sobre descobertas de Luna Lovegood. Todavia, Blaise esperava a resposta com uma expressão interessada e sorriu conforme o outro fazia uma careta.

— não. - factual. Sem desgosto pelo assunto aleatório ou ofendido pela pergunta, era algo desprovido de emoções, porque não precisava delas para responder. Falou como o fato que era, do mesmo modo que afirmaria sem hesitação que amava plantas.

— sério? Tipo, é muito dinheiro.

— Eu sei, mas não te machucaria por dinheiro. - era quase fofo como a frase era dita com convicção. Seu nariz enrugou um pouco, mostrando sua reprovação ao tipo de pergunta, talvez porque estava começando a ficar ofendido por Blaise parecer duvidar de sua resposta.

— Vamos lá, a gente pode dividir e comprar uma casa gigante. - Blaise insistiu bem humorado.

— Já disse que não.

Zabini caiu na gargalhada, achava adorável como era protegido, mesmo que um lado de si achasse que não merecia. Neville o observou, primeiramente de modo simples, apenas querendo olhar a reação espalhafatosa que lhe era rara, e então se encantando por cada movimento, por fim, tentando analisar objetivamente fingindo não estar encantado.

— já foi azarado? Digo, uma azaração para machucar.

— na sonserina isso acontecia muito. - o moreno disse breve como sempre, não gostava de falar sobre si e Neville respeitava e se interessava por aquele ar de mistério, mas ultimamente aquilo só o incomodava.

— Malfoy? - a suposição ingênua de Longbottom foi o suficiente para acabar com o riso dele.

— não fale uma besteira dessa.

— bem, Draco falou muitas besteiras para mim.

Não era a intenção de Neville fofocar ou causar intriga entre os amigos, mas meio que esperava que Blaise fizesse algo. Diante da declaração, o moreno teve uma sequência de reações, primeiro ele pareceu confuso, meio segundo depois surpreso e então irritado, antes de sequer darem três segundos, seu rosto havia escondido qualquer dessas emoções.

— o que acha das coisas que ele falou?

— sinceramente? Uma idiotice, mas de algum jeito, parece que ele se importa mesmo com você. Sabe, entendo porque gosta dele, mas você só vai se machucar  - Neville começou, nem mesmo sabia o que queria dizer, as palavras simplesmente saíram de sua boca.

— não me importo se me machucar assim. Draco salvou a minha vida, mesmo quando eu não queria mais viver.

Ele não falou "Draco é meu irmão", "Me sinto grato e vou mostrar isso ficando ao lado dele sempre", "eu não queria viver e estava quebrado, mas ser salvo não significa que estou curado agora" mas os dois entenderam tudo isso.

O silêncio ficou pesado com as palavras não ditas, os olhares se quebravam para se encontrarem de novo, Zabini sentiu o suor em sua mão o incomodando, limpou a mão na calça e soltou um sorriso pensando em como era patético, não merecia alguém como Neville, e admitir isso era ainda mais patético.

— mas e você?... Pode garantir que não vai me machucar se eu gostar de você? - os olhos escuros foram de encontro com os olhos claros, havia algo mais neles, não só determinação ou malícia usual, mas expectativa. Ele queria algo, e isso tornou Neville ainda mais nervoso para achar a resposta certa.

— eu, quer dizer, isso é difícil - Em meio a falta de palavras do outro, o moreno continuou.

— eu não posso prometer que não vou te machucar, e também não quero me machucar... sabe, já me machucaram o bastante para uma vida.

Tem razão, era errado cobrar algo de Blaise, mas Neville também se sentia machucado por ele, tanto que lágrimas pareciam brotar a qualquer momento.

A pessoa que você mais ama, é a que mais pode te machucar.

Essa é a pior parte de gostar de alguém, você dá esse poder para a pessoa, o poder de te machucar com simples palavras, porque você se importa tanto que se torna vulnerável a tudo que ela faz. Encarando essa situação pela primeira vez, Longbottom se sentia aterrorizado. Mesmo assim, ele fechou os olhos por um segundo, respirou fundo e disse:

— Eu sei que não posso prometer não te machucar, mas também não posso me deixar enlouquecer pensando no "e se" porque eu passei tempo demais assim, não vou suportar ficar pensando no que a gente poderia ser. Eu arrisco tudo para ter tudo.

A veracidade naquele olhar gentil que dava lugar à determinação grifinória abalaria qualquer um, Blaise não era diferente e adorava aquilo, adorava demais para se deixar aproximar. Então ele sorriu, sem a malícia usual, era apenas um sorriso triste. Ele levou a mão à bochecha de Neville acariciou lá, sentindo as esperanças dele florescerem, e então o moreno respondeu:

— Mas eu não vou me arriscar. - quando terminou de falar, ele tirou a mão do rosto de Neville, que parecia ainda mais pálido e sem expressão, e se afastou sem sorrisos.

O silêncio pairou naquelas palavras frias, Blaise aceitaria qualquer xingamento que viesse, mesmo que não acreditasse que algo assim poderia sair da boca de Neville. Sabia que o havia machucado, de novo, podia parecer proposital, e ele realmente queria o afastar colocando um ponto final na discussão, mas não pretendia falar palavras tão maldosas, era como algo em si estivesse sempre pronto para magoar as pessoas e no momento em que vacilava, isso perdia o controle, ainda sim não causaram mais dano do que as seguintes.

— Malfoy estava certo sobre você quebrar meu coração. Está fazendo isso agora, Zabini.

— me desculpe, Longbottom — qualquer que fosse o sentimento que brilhava no olhar de Blaise havia sumido quando ele olhou para Neville antes de se levantar e sair em direção ao quarto.

...

Finalmente, lá estavam Harry e Draco, de frente com Narcisa em um casa decorada em estilo vitoriano, as cores escuras esclarecem ser uma propriedade dos Black. A mulher tinha a postura alinhada com a xícara em uma mão e o pires em outra, no sofá em sua frente, o casal se sentou, os dois estavam de mãos dadas e exalando ansiedade quando Draco pareceu cansado do silêncio terrível e suspirou.

— Então mãe, eu e Potter estamos namorando.

— eu gostaria que tivesse me pedido antes, Potter - ela lançou um olhar um tanto desgostoso para Harry que ficou ainda mais nervoso.

— hum, você é muito bonita, mas não faz meu tipo - ele falou um sarcasmo misturado com uma tentativa desesperada de fazer uma piada para melhorar o clima.

— ...pedido a permissão pro namoro - ela falou franzindo o cenho, não tinha entendido a piada e agora achava que Harry era um retardado. Tudo ia bem.

Ao que parece, ela não compartilhava do mesmo humor que Harry, Draco pelo menos sorriu, bem melhor que o semblante desgostoso de Narcisa.

— eu vou pegar o álbum de fotos, vou escolher só as que eu estiver bem - Draco falou animado por conseguir prevenir qualquer constrangimento da sua parte.

Não tinha certeza se ele deveria ouvir, ou sua mãe achava que sua audição havia piorado, todavia ouviu perfeitamente a proposta de Narcisa, mesmo já do lado de fora da sala e com a porta fechada.

— Eu te dou dez mil galeões para terminar com meu filho.

— Eu te dou vinte mil pra você nos deixar ficar juntos. - Harry retrucou com agilidade e tentou sorrir educado como Draco havia o instruído, mas no contexto, apenas pareceu sarcástico.

Draco, que parou por um segundo no corredor, sorriu e balançou a cabeça imaginando perfeitamente a expressão insolente que Harry deveria ter enquanto falava. Queria ouvir o resto, por isso pegou dois álbuns quaisquer na prateleira e correu para se aproximar da porta novamente.

— esqueci que agora está rico - Narcisa suspirou lembrando que aquele garoto com meros vinte anos tinha heranças imensuráveis, mas ela não teria dignidade se desistisse tão fácil — trinta mil!

— cinquenta!

— um milhão!

— três milhões, e a mansão Black é sua. - ele falou sério, não era um blefe, mas Draco sabia que no fundo ele não queria se desfazer da casa, mesmo que fosse para dar a sua "sogra" e uma mulher que foi criada naquela mansão. Ao menos, eles ainda não tinham falado apropriadamente sobre isso, mas ele parecia decidido naquele momento.

— eu claramente valho mais do que isso, me sinto um pouco ofendido - Draco resolveu entrar de surpresa para interromper a conversa.

A Sra. Malfoy ao menos fingiu estar surpresa, Harry ao menos se moveu, mesmo de costas, ele havia notado a presença de Draco desde o começo.

— eu acabei de lembrar como ele é, pode ficar com ele, Potter. - a bruxa disse segurando um álbum que o filho lhe entregou.

— pensando bem, eu vou devolver.

— ei! - Draco cruzou os braços indignado por ser a piada entre os dois. — achei que a senhora iria se opor.

— até parece que você iria me deixar fazer algo contra. Bem, depois de todo esse tempo, não acho que tenho coragem de estragar isso. - ela sorriu, por trás do tom calmo e quase entediado, parecia uma mãe orgulhosa, e então olhou para Harry — sem devoluções, é todo seu. Me convidem para o casamento.

— oh, também ficou sabendo - Harry pareceu um pouco surpreso e o loiro ficou confuso sobre o assunto.

— o que?

— agora voces podem se casar na Holanda - Narcisa explicou, naquele ano de 2001, a Holanda foi o primeiro país a autorizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas ainda era um assunto complicado do Reino Unido.

— não vai demorar se eu conseguir jogar imperium nele, ai vamos nos casar  - Draco sorriu malevolente.

— sabe, as vezes eu acho que ele está falando sério.

— não está - Narcisa riu se inclinando na direção do moreno e então abaixou o tom de voz — mas se eu fosse você ficava atento.

— não precisa, sabe, já pedi seu filho em casamento, mas ele zombou de mim - confessou um tanto bem humorado, havia um traço de orgulho naquela expressão

— oh, como será que está o clima na Holanda? Sempre quis visitar Bruxelas - Draco comentou levianamente, parecia quase tentado a fazerem suas malas.

— Bruxelas é a capital da Bélgica, Draco. - a mãe o corrigiu com um sorriso presunçoso, ele deu de ombros como se não se importasse, pensou mais um pouco e apenas concluiu frustrada:

— De fato, não consigo me lembrar de nenhuma cidade de lá.

Em seguida, ela olhou para o filho e os dois riram, apesar de Draco ser uma cópia do pai na maioria das vezes, inexplicavelmente, ficava parecido com a mãe quando estavam próximos assim, talvez algo em sua expressão que relaxa frente a presença materna. Provavelmente, era porque tinha o sorriso de Narcisa, era elegante, mas singelo, mostrando apenas o necessário para demonstrar que estavam se divertindo.

Ante toda essa interação estranha, mas que de algum jeito foi boa, a melhor parte foram as fotos, já que pela distração, Draco teve a terrível sorte de pegar as piores fotos, no caso, para Harry, eram as melhores.

— meu Deus, isso é você fantasiado de mim? - Harry falou com um sorriso estampado no rosto.

— troque seus óculos, você não estava enxergando bem - Draco tirou a foto das mãos de Harry, mesmo que claramente fosse ele, não parecia querer admitir.

— oh, esse dia foi hilário, acho que Draco tinha cinco anos, foi a primeira vez que ele tinha ouvido sobre o garoto que sobreviveu, ele insistiu para se fantasiar de Harry Potter e Lucius quase teve um ataque do coração, como a outra fantasia que queria era Morgana, seu pai não tinha muitas escolhas e acabou cedendo.

— estava tão fofo - Harry olhou novamente para a foto, agora nas mãos do namorado, o pequeno garotinho tinha uma cicatriz na testa e os cabelos presos com grampos para deixá-la mais visível, além disso, também tinha uma varinha de brinquedo na mão, ele sorria e tinha as bochechas vermelhas, se movia de modo que parecia estar pulando ou correndo.

— É uma pena, alguns amigos da família ficaram incomodados com isso, depois Lucius o contou uma versão um tanto distorcida da história.— a mãe acrescentou isso com um claro arrependimento na voz, sinceramente, Draco não se lembrava muito bem dessas coisas, mas sorriu tentando confortar a mãe.

— meu deus, seu pai era um idiota - Harry disse, mas draco não o repreendeu pois sabia que isso ainda era se segurando, afinal, Harry tinha a boca bem mais suja.

Com o homem já falecido, a viúva e o filho dele presentes, era uma atitude ousada, mas ele não parecia disposto a retirar suas palavras, Narcisa não parecia particularmente ofendida, talvez um pouco desconfortável, não se importou em mudar de assunto, e também estava um tanto curiosa sobre a questão

— Quem é esse 'Deus' que ele fica falando?

— eu também não tenho certeza, é uma gíria de trouxas. - Draco desdenhou, na verdade, a única coisa trouxa que ele gostava era mitologia grega, que envolvia muitos deuses, mas não sabia se Harry falava sobre algum desses deuses, se sim, achava que não os deveria chamar, eles eram um tanto inúteis.

— espera, vocês realmente não sabem quem é Deus?

Depois de receber a confirmação, Harry estava parcialmente chocado, mas entendia, eles não costumam se misturar com trouxas e sabiam muito pouco sobre qualquer coisa deles. Se sentiu até um pouco aliviado de poder mostrar para a senhora Malfoy de que não era um completo idiota e tentou explicar sobre a religião que nem ele mesmo conhecia muito bem.

— então esse tal Jesus é chamado de salvador e morreu para salvar a humanidade e depois ressuscitou? - Draco concluiu depois da explicação.

— eu acho que sei onde quer chegar - Narcisa acenou concordando com o filho antes mesmo de ele falar.

— Harry também morreu para salvar o mundo e ressuscitou-

— por favor, tenha limites para suas maluquices - Harry interrompeu vendo onde a linha de raciocínio do loiro os levaria.

— você deveria criar uma religião, acho que ia pegar bem mais levando em conta que pelo menos você ainda está na Terra.

Draco não podia ser parado por ninguém, e Harry eventualmente desistiu de tentar desencorajar suas ideias, de qualquer jeito, ele tava um tanto concentrado em rir das fotos e admirar Malfoy criança, relembrando o passado, ele ainda era adorável com 12 anos, mas com sete parecia verdadeiramente um pestinha que arrumava confusões e depois se livrava com sorrisos e olhares amáveis. Era um pouco deprimente que com o passar dos anos, havia menos e menos fotos dele sorrindo, em certa idade, já não havia nenhuma.

— oh, não fique assim, eu ainda tenho fotos sorrindo desse tempo, estão com Pansy ou Blaise, elas provavelmente são indecentes demais para ficarem em um álbum de família, então é melhor assim. - Draco zombou quando percebeu a expressão de Harry segurando uma foto onde Draco parecia mais sério que nunca ao lado do pai.

— às vezes tenho pesadelos pensando no que aprontaram.

— oh, mamãe, pelo menos agora sou um homem comprometido.

— e com um filho - Harry incluiu satisfeito pela resposta de Draco, também preferia não pensar sobre os tempos libertinos.

— o adorável Edward, me contem mais sobre ele - ela encorajou animada.

Assim, eles passaram uma agradável manhã, bem melhor do que o previsto por Harry, na verdade, qualquer coisa seria melhor do que ele previu se não terminasse com ele recebendo uma imperdoável.

— tchau, sogrinha. - ele acenou pela lareira, já pronto para jogar o flúor sobre si.

— tchau, meu querido genro.

— eu odeio vocês - Draco revirou os olhos abraçando rapidamente sua mãe e então segurando a mão de Potter, os dois desapareceram assim.

...

Naquela tarde, Harry e Ron tiveram trabalho de campo, o que supostamente deveria significar lutar com alguém ou fazer qualquer tipo de coisa perigosa, no entanto, ele estava sentado em uma sorveteria com o amigo, tomando um ótimo sorvete de menta enquanto considerava levar um pouco para Teddy.

— Você já encontrou a pessoa que quer passar o resto da sua vida junto, mas sabe que não vai ser feliz com isso porque vocês vão ter que passar o resto da vida juntos? Tipo, eu quero esganar essa pessoa a cada segundo.

— Credo, está falando de Malfoy?

— estou, mas não é esse o ponto, como você sabe que realmente quer passar o resto da vida com essa pessoa e não matar ela? Porque, pra mim, é uma linha tênue - Harry disse em sua sinceridade usual, principalmente quando estava confuso.

O ruivo encarou o amigo seriamente, debateu se deveria fazer uma piada e zombar dele, fazer uma denuncia de possível homicídio de Draco Malfoy, ou simplesmente tentar levar aquilo a sério, e apesar de estar tentado a fazer a primeira opção, queria cumprir o papel de bom amigo e respirou fundo antes de continuar.

— preciso de exemplos para entender a situação.

Potter não precisou pensar muito, ele mordeu o lábio e brincou um pouco com o sorvete no pote antes de falar:

— ontem, acabamos brigando, eu empurrei ele e sei lá, eu perguntei se estávamos flertando ou brigando, ele disse "minha mão está literalmente no seu pescoço" eu respondi "isso não esclareceu nada" ele começou a rir e eu continuei sem saber, mas nos beijamos depois, então acho que era flerte.

— tem horas que eu realmente queria não ser seu amigo - Ronald fez uma careta desistindo rapidamente do seu papel de ser o amigo maduro e conselheiro, afinal, esse era o cargo de Hermione. Pensar nisso, na verdade, o lembrou de algo e por isso contou:— ontem, Mione estava fazendo palavras-cruzadas do Diário do Profeta, ficou irritada e disse "tem um erro de digitação nisso" só sorriu satisfeita quando consertou o erro. Naquele momento, eu percebi que era com ela que eu queria passar o resto da minha vida.

Weasley sorriu sem perceber lembrando do momento, obviamente sabia que queria envelhecer com a noiva antes disso, aliás, a pediu em casamento já entendendo nisso, mas eram momentos como aquele que o lembravam de novo do motivo da sua decisão e o faziam se apaixonar ainda mais. Harry parecia analisar seriamente a situação quando colocou uma mão no lábio, acenou pensativo e respondeu:

— eu entendo, acho que aconteceu a mesma coisa comigo quando o Draco disse que xingou a Umbridge na cara dela e ela não percebeu.

— eu acho que são coisas bem diferentes, mas tudo bem. - o amigo deu de ombros, se ajudou a voltar um sorriso no rosto de Harry, então valia.

O moreno terminou seu sorvete bem mais contente do que antes, e Ron se sentiu orgulhoso por ter ajudado, mas assim que terminou seu sorvete de morango, ele franziu o cenho.

— Harry, o que nós estávamos fazendo?

— seguindo o Ernesto Burckle, um dos membros da assembleia, que parece planejar um golpe e tomar o cargo de ministro - Harry respondeu um tanto robótico enquanto pagava a conta.

— é, e onde está ele? - Ron apressou o passo para sair da sorveteria e parou na enorme rua olhando de um lado para o outro no meio da legião de pessoas que circulavam por lá.

— ele entrou na loja da frente, estamos esperando ele sair. Ron, você está meio esquecido.

— não, é meio engraçado... porque ele não está mais na loja! - Dramaticamente, ele abriu as duas portas da loja, o interior minúsculo ficou totalmente à mostra, não havia ninguém lá.

— ah, merda.

Se ele soubesse que estava sendo seguido desde o início, talvez todos os lugares que foram e pessoas que anotaram o nome fossem distrações, de qualquer jeito, ter sumido deixando claro que tinha algo a esconder também significava muito. Ele estava perto de agir, por isso não tinha medo.

...

— os átomos nunca se tocam, não é assim que a física funciona? - Draco falou relembrando a conversa que teve com Hermione naquele final de semana, ele aprendeu muito sobre a física trouxa.

— e?

— e nós somos feitos de átomos, o que quer dizer que não nos tocamos, então não, eu não empurrei o menino, Pansy.

— Eu vou fingir que não ouvi isso por causa dos nossos anos de amizade - Pansy apenas respondeu isso.

— De qualquer jeito, por que estamos falando disso? - Draco cortou a enrolação rapidamente.

Os dois haviam sido chamados na escolinha novamente, Harry achava que eles eram os pais que mais tinham que ir na diretoria e parte disso era por causa das brigas de Draco, mas dessa vez o incidente parecia envolver mais crianças, ao menos, tinham mais pais aglomerados no local, mas isso provavelmente era porque os que ouviram as fofocas do que aconteceu começaram a se juntar para especularem.

O que aconteceu, essa é uma boa pergunta, Harry ainda não sabia respondê-la, mas Pansy estava disposta a explicar.

— houve um certo desentendimento entre as crianças, elas brigaram e-

— Teddy se meteu em uma briga? - Draco interrompeu, mais animado do que um adulto responsável deveria estar  — ele ganhou?

— Draco! - Harry repreendeu pela pergunta, mas então lançou um olhar curioso para Pansy — Ted ganhou, né?

— ugh, vocês são terríveis. Ele não brigou fisicamente, na verdade, o problema foi Andrew.

Ela gesticulou para eles a seguirem, estavam parados em frente a uma porta, e só então ela a abriu, revelando o cômodo com Teddy em uma expressão chorosa e com sua aura que reluzia pelo espaço e Andrew, cuja presença era fácil de ignorar, talvez por ser pequeno ou a roupa preta se camuflar no sofá da mesma cor em que estava sentado. Andrew McLaggen, o primeiro e provavelmente único amigo de Teddy, olhou para os adultos com um semblante feroz e nada arrependido. Harry e Draco rapidamente se aproximaram de Teddy e o confortaram. Pansy suspirou antes de se sentar ao lado de Andrew para cumprir seu papel de cuidadora.

— Teddy, você está se sentindo bem? Se machucou? - Draco foi o primeiro a puxar o garotinho para seu colo e segurar o rosto dele procurando qualquer ferida ou marca, ele viu a testa um pouco vermelha.

— a boneca - ele tentou começar a falar, mas caiu no choro assim que a boca abriu. Harry o confortou e secou suas lágrimas, Andrew ficava feliz pelo amigo, mas não podia se impedir de sentir um gosto amargo por não receber esse tipo de preocupação, sequer sabia onde seus pais estavam, mas com certeza preferia continuar sem eles.

— De certa forma, fico feliz que tenha protegido Teddy, mas não pode simplesmente machucar outras pessoas por causa disso, poderia ter sido um acidente mais sério. - Pansy repreendia o garotinho, havia algo cômico em vê-la agindo como uma adulta responsável e não a bêbada fazendo piadas sujas no final de semana. Draco segurou o riso.

— Pode contar o que aconteceu, Teddy? - Harry perguntou tentando ser cauteloso.

O garotinho olhou para o adulto com os olhos vermelhos e assentiu lentamente passando a mão no rosto.

— Eu peguei a boneca da Kate, mas aí ela chegou e disse que eu não podia pegar. Ela disse que era um brinquedo de menina, então se eu gostasse também era uma menina.

— Nós já falamos sobre isso. - Draco o lembrou da conversa que tiveram para ele não se afetar com aquilo.

— eu sei, falei pra ela, eu disse que era um menino e gostava de coisas fofas, como a boneca dela. Mas ela continuou dizendo que eu era uma menina e que eu deveria me transformar em uma e... eu fiquei bravo então quando ela foi tentar pegar, eu não deixei e ela começou a gritar e chorar. Depois o Andrew veio e derrubou todo mundo, e ela ficou mais brava e jogou um outro brinquedo em mim. - ele sinalizou para a testa, o loiro estreitou os olhos para o machucado agora que sabia bem a causa dele.

— ele teve um motivo- Draco se interrompeu notando o olhar de Harry e com uma tosse forçada continuou — ... que não foi exatamente bom, apesar de que eu faria pior.

Pansy concordou em silêncio, porque não achou apropriado falar em voz alta e correr o risco de alguém ouvi-la. Sabendo que o conto de Teddy era um pouco confuso, ela tentou acrescentar a informação que tinham.

— eu não sei exatamente porque não estava lá na hora, mas parece que ele viu Teddy discutindo com a garota e entendeu errado e no calor do momento teve uma manifestação de magia, o vento foi tão forte e derrubou todas as crianças ao redor, Teddy foi o único em pé.

— meu deus, isso pode ser um caso para o ministério - Harry os lembrou, crianças usando magia já era uma coisa problemática, crianças usando magia no mundo trouxa e contra trouxas poderia causar um tribunal.

Antes que qualquer um pudesse expressar a reação diante dessa situação inesperada, a porta foi aberta pela diretora que sorria educadamente para a mãe que falava sem parar, ou melhor, gritava e já tinha o rosto vermelho de raiva. A diretora foi para a mesa dela e se sentou, era como se uma audiência judicial estivesse prestes a começar, a diretora em uma mesa de frente para outra mesa na vertical que continha cadeiras opostas, no canto da sala, o sofá preto que todos se acomodavam antes, mas naturalmente se levantaram e foram seguindo a mais velha.

— vocês acham que eu não tenho mais o que fazer? Deveriam ficar felizes que eu vim. - a mulher de longos cabelos escuros esbravejou, ela tinha uma bolsa de marca na mão e um batom vermelho chamativo, Draco a odiou desde a primeira palavra.

— então saia, mas fique sabendo que não vamos mais receber seu filho. - a diretora disse simplista.

A mulher estava prestes a retrucar, quando um homem alto e magro entrou na sala com seu sobretudo esvoaçante e foi até ela obstinado a para-la. Era Cormac McLaggen.

— Olivia, já basta. - ele disse quando segurou seu pulso, só então olhou para as pessoas sentadas à mesa e acenou envergonhado pela cena. Rapidamente se aproximou do filho, que diferente dos outros, ainda continuava no sofá.

— ótimo, antes dos responsáveis da Kate chegarem, eu quero falar algo com vocês, bruxos - a diretora declarou, os adultos prenderam a respiração, afinal, não sabiam que a mulher os conheciam — eu sei que não sou bruxa e não entendo bem sobre as leis de vocês, só sei desse outro mundo porque meu filho tem poderes, e por isso sempre recebi seus filhos sem preconceito - ela esclareceu. — mas em momentos como esse fica claro que a situação é delicada.

— Por favor, não pense que corre esse perigo com outras crianças bruxas, Andrew é um caso especial que despertou os poderes cedo demais, normalmente, isso não acontece até os 10 anos. - Cormac pediu, educado e humilde como nunca, era estranho o ver tão... humano. Afinal, Harry só o via como um babaca, e Draco o achava arrogante, mas ser pai também é sobre se esforçar para ser melhor por seu filho.

— Cormac, eu não entendo porque parece colocar isso como um problema, é uma dádiva que nosso filho despertou cedo - disse a mulher que ele chamou de Olivia anteriormente.

— por favor, não agora, não na frente dele - o bruxo soltou um suspiro cansado e olhou para o filho de cabeça baixa, diante disso, a mãe se calou.

— bem, eu posso garantir que Teddy não vai despertar a magia tão cedo, mas será que devo contar sobre a metamorfose? - Draco indagou sorrindo culpado, Harry bateu a mão na testa, eles seriam expulsos se continuasse.

Por sorte - ou azar, chame do que quiser - Draco não teve a oportunidade de continuar, visto que a mãe de Kate chegou, ela estava tão brava quanto a mãe de uma garotinha que foi empurrada por uma força inexplicável poderia estar.

— certo, vamos resolver isso rápido - ela disse se sentando na cadeira ao lado de Cormac, parecia uma mulher decidida e tinha a voz firme.

— crianças brigam sempre, faz parte da infância, certo? Vamos apenas nos desculpar e resolver isso - Harry tentou aliviar o clima, a briga não era realmente uma grande coisa para ele, o problema era o preconceito, mas não é como se pudesse curá-lo, então achava melhor apenas resolverem aquilo logo, principalmente porque estava no horário de trabalho e veio correndo.

Tanto ele quanto Draco estavam de uniformes. Harry com sua farda, a blusa com a logo dos aurores e a calça escura, veio correndo depois de ser avisado, então apenas pensou em tirar a capa chamativa. Draco ainda tinha até mesmo o jaleco do St. Mungus escrito 'dr. Draco Malfoy' em belas letras cursivas. 

— Minha filha não vai se desculpar, ela foi a vítima.

— Teddy também foi uma vítima - o loiro constatou e passou a mão no cabelo agora loiro de Teddy que estava levantado para que a marca vermelha em sua testa ficasse exposta.

— Eu não sei como é na casa de pessoas como vocês, mas para as pessoas normais é proibido roubar, se Kate se defendeu ou não é outro ponto - ela respondeu com desdém

— desculpe, pessoas normais? Quer dizer preconceituosas? - Harry retrucou sem ao menos pensar

Harry se exaltou, havia muitas coisas que aceitava calado, seja olhares ou sussurros, mas uma agressão verbal tão clara em sua frente não era algo que planejava deixar passar, mas surpreendentemente, Draco pareceu calmo e sorriu, em um gesto encantador ele falou se direcionando a mãe da garotinha que estava irritada pelo acontecimento.

— tem razão, nada justifica Ted ter pegado as coisas da sua filha sem pedir, ou ter gritado com ela. Peço desculpas, vou educá-lo melhor de agora em diante - ele abaixou a cabeça com uma expressão completamente arrependida o que deixou a mulher completamente sem reação. Claro, Harry sabia que ela era falsa, mas ainda achava um absurdo estarem se desculpando.

— você não precisa-

— Ted, desculpe-se também - o garotinho parecia ter muito para contrariar sobre a ordem do loiro, mas depois de um olhar de comando, era difícil ir contra.

— me desculpe por ter pegado a boneca sem pedir. - ele disse em uma voz baixa, apesar da sinceridade por entender que agiu erroneamente. Era claro que não queria pedir desculpas. Ele começou a chorar — desculpa, Kate.

Harry tentou controlar sua boca e apenas lançou um olhar irritado para o noivo, mas ele não percebeu, então o ignorou por enquanto e pegou Teddy em seus braços para o confortar e sussurrar que estava tudo bem.

— então eu acho que tudo está acertado agora. Eu vou conversar com ele em casa.

— não seja duro, eu estava brava mas... - a mulher perdeu a fala, completamente envergonhada com os olhares acusatórios direcionados a ela conforme sua voz se tornava mais baixa.

— um pedido de desculpas com certeza resolve toda a situação. - Olivia McLaggen tentou continuar a hostilidade, mas inesperadamente a fúria foi voltada para ela.

— e você que nem pediu desculpas pelo o que seu filho fez? - Harry nem se importava em controlar sua própria boca, ele estava bravo por ele e por Draco, além disso estava bravo com Draco..

— meu filho não fez nada.- Olivia parecia severamente ofendida pela acusação.

— minha filha disse que ele tentou atacar ela - a mãe de Kate respondeu.

— Andrew estava a quase meio metro de distância, o que ele poderia fazer? Edward era quem estava perto - ela mentiu convincente, falava com indignação de quem havia sido acusada injustamente, mesmo que alguns ali soubessem da verdade.

Era verdade que Teddy era o mais próximo da garota, então Harry tinha uma expressão preocupada, pensando em como iriam explicar aquilo. Mas Malfoy era ótimo em mentir, sorriu suavemente.

— de fato, mas devo lembrar que os professores presentes falaram que todas as crianças caíram também, foi por causa de um vento forte, ou acha que Edward iria conseguir empurrar todas ao mesmo tempo como algum tipo de truque de mágica? - ele tinha seu sorriso malicioso estampado no rosto quando olhou para Olivia, ela queria jogar, ele era um ótimo jogador.

— certo, no fim, nada disso teria acontecido se o seu... filho? - a mulher soou incerta, Harry e Draco acenaram no mesmo instante e ela pareceu confusa, mas continuou — se Edward soubesse que não deveria brincar com bonecas.

Harry estava prestes a falar algo ácido novamente, mas seu celular o interrompeu, ainda estava um pouco desacostumado e levou um susto antes de se recompor e o pegar, olhando o nome na tela, viu que era Ron, que também comprou o aparelho apenas pela diversão, era sua primeira vez testando de verdade.

— desculpem, preciso atender. - ele declarou se levantando, afinal, se Ron o ligava, algo tinha acontecido no trabalho.

Assim que ele saiu da sala, encostou-se na porta e atendeu a ligação.

— Harry, você tá me ouvindo? Essa coisa é estranha.

— sim, fale logo. - ele apressou o amigo que ainda estava incerto da tecnologia trouxa.

— Eu fui ver Crabbe como pediu, parece que o Ernesto realmente não apareceu, mas ainda acho que tem algo estranho nisso tudo. Não faço ideia de onde esse cara está.

— provavelmente planejando fugir do país, eu vou desligar agora. - ele fez menção de afastar o celular, mas Ron o chamou antes.

— não, espera. Eu tenho o pressentimento que devemos descobrir isso logo, antes que seja tarde demais.

— Crabbe deve saber de algo, faça ele falar - ele elevou um pouco o tom de voz, estava irritado com toda a situação, seja no trabalho ou na escola de Teddy.

— como?

— Sei lá, ameace destruir a alma dele, se não funcionar quebre a perna dele ou algo assim. Eu estou em uma reunião de pais, me ligue depois.

Ele desligou sem dar tempo de Ron o chamar novamente, e quando se desencostou da parede, ele passou a mão no cabelo tentando se acalmar para entrar na sala. Em seguida, entrou na sala, mas para a sua surpresa ela estava em completo silêncio e todos o olhavam. Ah, as paredes eram finas. Buscou a confirmação no olhar de Draco, é, com certeza ouviram a conversa dele. E obviamente, todos estavam chocados, Harry ainda tinha um rosto angelical e ar jovial no auge dos seus 20 anos e era de longe o mais amigável entre os adultos daquela sala, com certeza não esperavam aquilo dele, na verdade, até Draco estava um tanto surpreso.

— então, Olivia estava falando que Teddy gosta de brincar de bonecas, eu já sabia disso, é ótimo, certo? - mesmo surpreso, era o talento de Draco saber ignorar a situação com o tom calmo e sorriso gracioso.

Alguns, em especial as duas mães, tinham reclamações sobre isso, mas diante do que haviam acabado de ouvir, não tiveram coragem de reclamar abertamente.

...

Assim que eles saíram da sala da diretora, ficou claro que muitas mães curiosas estavam ao redor tentando ouvir e elas correram para Pansy, que tentando tirar informação da cuidadora, ou as próprias mães que estavam lá antes, Olivia estava terrivelmente silenciosa e ignorou todas que se aproximaram, nenhuma foi realmente até Harry e Draco, afinal, não os conhecia ou sequer sabia porque estavam lá. Em uma sociedade patriarcal, ainda era motivo de espanto ver um homem levando a criança para a escola e cuidando desses assuntos, era ainda mais estranho imaginar que eram dois homens, por isso, nenhuma delas realmente pensou na possibilidade de eles serem um casal.

Puderem passar ouvindo apenas murmúrios sobre quem eram, e Draco com seus passos pesados e jaleco branco voando, Harry estava irritado demais para pensar nisso, sequer pensava sobre como ainda tinha o uniforme de auror e que levaria uma bronca por se expor assim, pelo menos ninguém falou nada sobre sua roupa, estavam ocupadas demais julgando sua simples presença. Assim que saíram para ficar na calçada, Teddy, ainda cabisbaixo, saiu para brincar a pedido de Harry, e olhando o garotinho se afastar para ir no balanço e se deixar ser empurrado por Andrew, o moreno começou a reclamar.

— eu não acredito que você fez Teddy se desculpar e nem exigiu desculpas!

— qual o problema, Harry? - franziu o cenho, genuinamente não entendia a raiva do noivo.

— Nós saímos de idiotas, talvez Teddy estava errado, mas aquela pirralha egoísta também e só nós  pedimos desculpas. - disse sem fazer questão de abaixar o tom de voz, não ligava se a mãe dela o ouvisse.

— mas você viu o constrangimento dela? Isso vale mais que um pedido de desculpas feito apenas para manter as aparências. - Malfoy tentava explicar seu lado, visto que parecia não ser compreendido, mas também se sentia confuso em ter que explicar, não sabia como colocar em palavras sem parecer um sociopata.

— não foi você que disse que Teddy deveria aprender a não ter vergonha de ser quem é? Mas elas o tratam mal e não falou nada.

— está certo, e vou explicar isso para ele, mas eu não ia tirar o preconceito delas se eu retrucasse, só ia gastar a minha energia. - Draco tentava soar o mais razoável possível e não é como se Harry não entendesse, mas ainda era frustrante.

Era um tanto clichê, mas Harry iria priorizar a justiça e não foi aquilo que aconteceu, por isso ficou decepcionado, mas entendia que Draco tinha outras prioridades e objetivos a atingir fazendo aquilo e julgando pela sua satisfação, tinha atingido-os.

— eu apenas pensei que não era relevante receber ou dar um pedido falso de desculpas. Às vezes, é importante fingir abaixar a cabeça. Mas acho que terem ouvido você mandando quebrar a perna de alguém não me ajudou a manter a pose de bonzinho. -  ele deu um pequeno riso no final, na verdade, talvez tenha sido até bom, poderia servir para intimidar eles a não os provocarem mais, ou a se sentirem gratos pensando em como eles poderiam ter sido mais agressivos, porém, foram humildes para se desculparem.

— mas aquela menina estava errada! - Harry esbravejou tentando aliviar a raiva.

— e ela sabe disso - Harry continuava indignado e vendo isso, o loiro resolveu mudar de estratégia quando se aproximou calmamente e abraçou o noivo — me desculpe, ok? Na próxima vez você faz o que achar melhor e eu vou concordar.

Harry virou o rosto para olhar ao redor, só algumas crianças brincavam lá fora e eles não podiam se importar menos com dois adultos desconhecidos, de qualquer jeito, deu um ombro frio para o loiro, pois ainda estava irritado.

— não quero que tenha uma próxima vez.

— tem razão. Mas se houver, não vou me intrometer.

Vendo Draco ser tão submisso, obrigava Harry a abaixar a guarda, mesmo que soubesse que era totalmente proposital. Aquele bastardo sabia se fingir de obediente e mesmo sabendo disso, o moreno se deixava enganar.

— não é isso, sabe que eu não quero te impedir de cuidar de Ted como acha melhor, mas pedir desculpas pra aquela menina mimada fere o orgulho dele. É a mesma coisa de quando eu quis esconder o copo de Teddy e você brigou comigo por fazer ele triste, você o deixou triste agora.

Harry estava certo, mesmo no balanço, era claro que Teddy continuava triste, ao menos sorriu desde que saíram da sala. Estava tudo bem cometer erros, eram humanos e às vezes machucavam até as pessoas que amavam, mas ainda era horrível ver aquilo acontecendo, pelo menos, agora o moreno pode ver como Draco se sentiu. Entendia, eram pais de primeira viagem, não sabiam o que estavam fazendo e mal tinham noção de como cuidar de si mesmos, mas queriam proteger o garotinho e faziam seu melhor por ele, o problema era que algumas vezes mesmo se esforçando magoavam o menino.

— eu sei, vou falar com ele e resolver isso. Não confia em mim?

Draco o encarou com aqueles olhos cheios de prepotência, acreditaria que ele podia fazer qualquer coisa quando o encarava assim, soltou um pequeno riso arrumando o óculos antes de responder com uma ameaça:

— arrume isso, se eu chegar em casa e você não tiver feito as pazes com ele, vamos comer peixe na janta.

— você sabe que eu odeio peixe-

— peixe frito. - Harry destacou.

Malfoy simulou uma ânsia de vômito enquanto Harry parecia relaxar sua expressão de raiva para sorrir de sua expressão. Assim, ele teve que partir logo e Draco buscou o garotinho para eles irem para casa, na realidade, ele provavelmente teria passar no hospital, pelo menos para dizer que não poderia trabalhar mais por hoje, esconderia esse segredo de Harry, mas não deixaria Teddy voltar naquela escola agora. Ele passou pelo pátio vazio, pois todos tinham ido para suas respectivas salas e sorriu vendo algo muito interessante.

...

Admitia que talvez naquele momento queria magoar Blaise, ainda sim, suas palavras frias não deveriam ser motivo suficiente para ele simplesmente sumir. Neville passou a manhã toda procurando por Hogwarts, até notar que ele simplesmente não estava lá, foi um monitor que contou tê-lo visto saindo com uma mala antes mesmo do sol nascer.

Eram adultos, o mínimo que esperava era um pouco de maturidade vinda dele. Mas tudo bem, podia continuar mesmo sabendo que levou um pé na bunda e logo em seguida o cara fugiu para onde Merlim perdeu as botas. Repetiu aquilo para si mesmo algumas milhares de vezes, mas não adiantou nada e quando teve que ir ao St. Mungus para dar algumas plantas que eles usavam de ingredientes, se viu na frente da sala escrita o nome de Draco Malfoy, ficou parado ali sem ao menos saber o que queria com aquele idiota. Provavelmente descontar sua raiva. Nunca poderia imaginar-se louco o suficiente para dizer que iria descontar sua raiva em Malfoy quando era um estudante e provavelmente até alguns meses atrás, mas então descobriu que essa era uma tarefa ousada, mas bem simples.

Draco sabia o que era sentir raiva, e ele se sentia um tanto responsável pelos amigos, logo, os problemas que Blaise causavam estavam ligados a si e reconhecia quando alguém estava magoado, era fácil culpar ele por tudo ter dado errado. Mesmo sendo algo hipócrita, Neville estava lá pronto para fazer isso. Olhou o loiro se aproximando, Teddy em seu colo e sua face de quem estava ocupado, não deveria o interromper, não deveria falar aquilo, mas as palavras saiam de sua boca sem permissão.

— você estava certo, ele quebrou meu coração, em milhares de pedaços.

— oh, não tenho tempo para a sua vida amorosa melodramática, estou trabalhando. - Draco passou por ele para abrir a porta e deixou o garotinho no chão.

— certo, já conseguiu o que queria. - não entendia de onde aquilo vinha, era tão "não Neville" que ele se assustava.

Teddy ainda estava irritado e demonstra isso com um silêncio absoluto, Draco gesticulou para que ele entrasse primeiro, mas olhou por um segundo para Neville e ficou animado em o ver, tentou fingir que não e correu para dentro da sala.

— é bom que não tenha dado certo, me sinto aliviado. - o loiro fingiu um sorriso e estava prestes a fechar a porta.

— Se sinta, ele desapareceu da minha vida. Literalmente.

— como assim? - ele continuava com a mão na maçaneta, mas não fechou a porta.

Neville parecia ter passado a noite em claro, isso ficou ainda mais evidente quando passou a mão pelo rosto e coçou os olhos indicando que deveria estar cansado, mesmo que ainda nem fosse meio-dia.

— Eu não sei, eu acordei e as coisas dele tinham sumido. Ele deve ter voltado para casa.

— ele não tem uma casa, seu idiota. Santo Merlin, onde ele foi?

— Pansy Parkinson? - Neville sugeriu sem pensar muito.

— ela me diria algo. - o loiro descartou a possibilidade — Ele poderia ter ido para um hotel, tinha dinheiro?

— não, e a casa dos Zabini?

— É mais fácil ir atrás de Pansy e ter se perdido ou pedido para ela não me contar. - Draco roía a unha preocupado.

— ah sim, ele falou algo sobre ter uma relação ruim com a mãe.

— relação ruim? Eu tenho uma relação ruim com a minha mãe. Blaise vomita se ficar no mesmo lugar que a mãe dele. - Draco retrucou preocupado demais sobre o sumiço do amigo para se importar se falou algo que não deveria.

— e a sua casa? Podem ter se desencontrado.

— ah, droga. Eu não posso ir agora - Draco pensou na fila de pacientes que ainda tinha e olhou de volta para o homem — vá, ele não vai conseguir entrar na casa, então é melhor que vocês se acertem ou apenas o convença a ir na casa da Pansy até eu terminar.

Neville se lembrou do feitiço, qualquer tipo de entrada na casa só poderia ser feita com algum dos inquilinos - Harry, Draco ou Teddy - presentes, do contrário seria impossível entrar mesmo se a janela estivesse aberta.

— Se ele não estiver na minha casa volte aqui e vamos procurá-lo juntos - Draco comandou em seu tom usual mandão, mas seu rosto parecia preocupado.

— certo, se eu não voltar em meia hora é porque o achei. Enfim, eu vou logo.

Ele se apressou correndo pelos corredores, Draco teve o reflexo de querer o repreender por isso como fazia com Teddy, mas se calou para apenas apreciar com ironia o contraste de seu humor quando chegou e quando foi embora, definitivamente, aquele era um cara simples.

Voltando para sua sala, ele olhou para o garotinho emburrado sentado no sofá e suspirou se preparando para enfrentá-lo, se sentou ao lado dele no mesmo instante que ele cruzou os braços em forma de protesto.

— Teddy, eu ainda tenho que atender alguns pacientes, mas depois podemos ir comer naquele lugar que gosta e tomar um sorvete. - Draco disse com a voz calma e sorriu.

— você não gosta de mim, por que vai me dar sorvete? - ele respondeu apenas isso.

— o que te faz pensar que não gosto de você? - o adulto respondeu tentando fingir que não ficou surpreso pelas palavras dele.

— ficou do lado da Kate.

— não é verdade, eu gosto muito de você e quero te criar para ser um bom garoto, e não ser como a Kate. - ele tentou se aproximar conforme Teddy descruzou os braços e olhou para ele.

— você diz que ela estava errada, mas me fez pedir desculpas. - seus cabelos agora estavam azuis sem o feitiço, Draco adorava eles assim.

— porque deveria ter pedido a boneca dela antes, o mais importante disso: Você tem uma boa reputação agora e a reputação dela é ruim.

— o que quer dizer reputação? - ele inclinou a cabeça confuso.

— é o que as pessoas pensam de você, como você tem uma boa reputação, eles veem você como um garoto honesto e bom. Mas ela tem uma reputação ruim e as pessoas não vão acreditar no que ela diz.

— ah - ele suspirou parecendo frustrado, era um tanto engraçado um garotinho daquela idade fazendo esse som — não  adianta ter uma boa reputação se ela ainda não deixa eu brincar com a boneca dela.

Malfoy deu um sorriso sarcástico ao ouvir isso, mas tentou se segurar e substituir por um sorriso gentil quando passou os braços ao redor do filho.

— fique tranquilo, eu vou te comprar bonecas mais bonitas, e além disso, eu vi ela chorando porque perdeu a boneca, nunca seja assim, esse tipo de pessoa acaba perdendo as coisas por serem descuidadas.

— entendi. Então eu vou sempre me esforçar pra ter uma boa reputação e cuidar das minhas coisas.

— isso mesmo, assim você pode deixar que Draco vai cuidar de qualquer outro problema. - Draco sorriu, pensando nas loucuras que faria para aquele sorriso continuar, coisas bem piores que roubar uma boneca de uma garotinha.

Não queria se gabar por pegar algo de uma criança, mas foi bem simples, porque realmente estava jogada pelo pátio e foi mais fácil ainda quebrá-la com as próprias mãos e jogar na lixeira mais próxima, a boneca nem era muito boa, com certeza era um material ruim, pois foi destruída com muita facilidade.

...

Acordou no escuro, em um lugar tão apertado que não conseguia esticar as pernas, as mãos pareciam presas com algum tipo de corda amarrada firmemente para trás, e os pés também estavam presos juntos. E talvez o lugar não estivesse tão escuro e na verdade fosse o efeito da venda em seus olhos, contudo não havia nada restringindo sua boca e poderia gritar, mas não tinha certeza se queria que aqueles caras soubessem que havia acordado. Tentou organizar seus pensamentos, havia brigado com Neville e simplesmente ido embora, ele provavelmente não acharia estranho, não iria atrás dele, duvidava que alguém fosse notar que havia sido sequestrado antes que já estivesse morto, mas também era difícil saber se tinham interesse em matá-lo ou não, imaginava que não, pois ainda não haviam feito isso, mas talvez isso fosse algum tipo de terror psicológico.

Se queriam o aterrorizar estavam indo muito, ele estava hiperventilando, sem conseguir respirar direito e com os batimentos cardíacos acelerados. Julgando pelo fluxo intenso de pensamentos negativos poderia ser um ataque de pânico, quem sabe.

Odiava lugares escuros, por um segundo sua mente estava tão confusa que até se esqueceu porque os odiava, mas então lembrou o motivo e percebeu que seria melhor ter esquecido, por fim riu de quão patético era. Céus, estava enlouquecendo, não sabia quanto tempo ia durar.

— Não é hora para isso, Blaise. - sussurrou o comando para si mesmo — se controle.

Pensando bem, eles estavam rondando a casa de Draco e Harry, então talvez só tivesse azar e não fosse o verdadeiro alvo, provavelmente era isso, o que o aliviava um pouco pensando em si mesmo, mas o deixava preocupado sobre Draco. Porém, tinha que focar na própria sobrevivência para ter o luxo de pensar nos outros, então colocou o ouvido contra a parede ou seja lá o que para tentar ouvir o lado de fora. Por causa de seu azar usual, a porta foi aberta no mesmo instante e ele quase caiu percebendo que estava apoiado nela.

— vejo que está acordado, fique tranquilo, agora não vai ficar entediado sozinho. Tem companhia - o homem mascarado falou assim que jogou um corpo ao lado de Blaise e fechou a porta novamente.

Sem a visão, era difícil saber se a pessoa estava apenas desacordada ou morta e isso começava a lhe dar calafrios, além disso, o espaço era mínimo, claramente não era projetado para caber sequer uma pessoa, muito menos para duas. Não aguentava toda aquela situação, e mesmo sabendo que era arriscado não se importou e apenas se concentrou em usar sua magia para conseguir se desamarrar. Sua mãe era especialmente boa em magia sem varinhas, mas ele não era nenhum tipo de prodígio e demorou alguns tortuosos minutos para conseguir, enquanto estava nisso, ouviu o corpo se mexer, ao menos estava vivo.

Assim que as cordas se soltaram, ele tirou a faixa que o impedia de ver. De fato, o local não estava iluminado, mas a pouca luz era o suficiente para iluminar a silhueta do homem, o bastante para Blaise o reconhecer. A raiva tomou seu corpo enquanto encarava o homem que se sentou e o olhou de forma pragmática antes de tentar dar um sorriso.

— que coincidência, estava te procurando.

— Vai se fuder, Neville.

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Notas da autora: esse capítulo ficou gigante, né? Eu me esforcei muito, confesso que estou meio desaminada por algumas coisas, mas estou aqui. Por favor ajudem no engajamento.

O próximo vai ser a conclusão da história, mas eu vou lançar outros como extra, um para o Blaise e Neville, outro sobre Drarry mais velhos (provavelmente vou separar esse em 2 partes), e um sobre Teddy.

interação

o que estão achando?

e sobre Blaise, quem sequestrou eles e por quê?

Duas coisas importante, primeiro, sigam @dezdrarry para mais fics Drarry, eu até betei algumas, juro que são otimas. E eu também to voltando com uma fanfic tododeku, para quem gosta de omegaverse (abo), quem não gosta pode ler tbm, eu odeio e to escrevendo, o que te impede de ler? kkkk Enfim, é uma historia um pouco mais delicada que essa, mas sempre vale a pena expandir os horizontes.

Obrigada por lerem e comentarem, eu acho que não deveria ter prolongado a história, mas enfim, obrigada de coração por chegarem até aqui.

Não se esqueçam de votar.

até a próxima ❣

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