XXX. Queimando ao luar
Nada ruim realmente havia acontecido... Isso era um problema.
Não que Harry desejasse que algo ruim acontecesse, mas depois de Andrômeda falecer, Teddy ser sequestrado e Draco sucumbir à melancolia, finalmente tudo parecia melhorar. Claro, os problemas continuavam lá, Teddy tinha pesadelos, Draco tinha dias ruins, e para Harry, todo dia era uma batalha vencida por insistência, ainda sim, estavam bem.
Fazia algumas semanas que Teddy começou a frequentar a escolinha e o resultado era ótimo, Pansy comentou sobre ele ser gentil e calmo, apesar de ser teimoso e não apreciar muito dividir, ele era uma boa criança. Sua fala progrediu à medida que atualmente falava sem parar.
— obrigada - ele agradeceu quando Harry ajudou ele a fazer um penteado, ou tentar.
— meninos dizem "obrigado" Teddy - Harry corrigiu com um sorriso.
Apesar dos pesares, ainda era uma criança, então errava os pronomes até mesmo com os outros e erros de conjugação eram comuns. O garotinho inclinou a cabeça para o lado e piscou gracioso.
— mas Teddy é uma menina.
— como assim? Teddy você é um menino - Harry se apressou, mas coçou a garganta e tentou pensar melhor antes de continuar — quer dizer, você pode ser o que quiser mas... sempre achei que gostava de ser um menino.
Harry procurou o olhar de Draco que continuava calado olhando para Teddy. Os dois se encararam em puro desespero, sempre pensaram que o garoto poderia entrar em algum tipo de crise por poder se transformar em qualquer gênero ou animal. Mas nunca imaginaram que seria tão cedo.
— eu gosto - ele disse, tranquilizando os adultos que soltaram suspiros de alívio, realmente não estavam prontos para lidar com situações complexas.
— então qual o problema? - Draco pareceu mais calmo ao continuar, ele se ajoelhou ficando do mesmo tamanho que Ted.
— os meus amigos da escolinha disseram que se eu brincava de boneca, então eu era uma menina.
— ah... - Harry imaginava que isso aconteceria, por isso ele não permitiu que Ted vestisse saias mesmo com ele insistindo. Não queria que o garoto se sentisse envergonhado vendo que algumas pessoas tinham um pensamento duro sobre os gostos dele e mesmo tentando proteger a inocência dele, lá estava Ted, se deixando acreditar em baboseira.
Teddy tinha gostos que muitos diriam ser afeminados e nessa idade, Draco provavelmente estava querendo colocar fogo em algum canteiro do jardim ou surrupiar a vassoura de seu pai, mas Ted nunca faria algo assim, era sensato demais. Ao mesmo tempo, era um menino ingênuo o bastante para não ver maldade nem mesmo nos atos dos colegas, Pansy havia contado que era comum trocar os gêneros das palavras e artigos quando crianças por confusão, o próprio Ted fazia isso, mas ao que parece, algumas crianças da escolinha estavam chamando Teddy por nomes femininos propositalmente.
Tudo se complicou porque ele não entendia a hostilidade e sorria para todos, se dava bem com as meninas em geral e elas gostavam de pentear o cabelo dele e enche-lo de enfeites como uma boneca, mas quando ele tentava fazer o mesmo com outros garotos, começava uma confusão.
Harry e Draco estavam estendendo a situação sem saber lidar com isso, O loiro insistia em tirá-lo da escolinha - lugar o qual ele nunca quis que Ted fosse - mas Harry não acreditava que esse era o melhor jeito de resolver a situação, afinal, o menino gostava do lugar e se acabasse indo para outra escola, talvez a mesma coisa aconteceria e eles não poderiam ficar fugindo disso sempre.
— você é um menino, não importa o que os outros dizem, se você quer ser um menino, vai ser, não importa se usa saia ou brinca de boneca. - Harry declarou, talvez o tom de voz tenha soado irritado, porque não conseguia controlar seus sentimentos sobre a ignorância de alguns.
— mas meus amigos-
— você não acredita nos seus pais? - Draco olhou para Ted como se estivesse ofendido e o garotinho sorriu envergonhado.
— acredito, desculpa duvidar.
— eu acho que vamos conversar com seus amigos da escolinha, eles parecem não saber de nada, você também tem que explicar para eles e ser paciente, tudo bem?
Teddy sorriu assentindo, seus amigos não eram tão inteligentes como seus pais, pensou, então iria seguir o conselho de Draco e lidar com eles aos poucos para eles descobrirem que não tinha problemas brincar de bonecas.
Com a ingenuidade e pureza de uma criança, não poderia entender o preconceito de outros já corrompidos.
— se isso está resolvido vamos continuar nossa festa! - Harry declarou animado.
Os adultos estavam sentados ao redor da mesa na sala de brinquedos, xícaras de plástico que imitavam as de verdade e um bule foram colocados lá com delicadeza, além de comidas de mentira e todo tipo de brinquedo necessário para uma bela refeição.
— eu não entendi sua fantasia, você é um rei ou um vampiro? - Draco zombou de Harry, ele usava uma coroa falsa de plástico e havia presas de mentira na boca.
— sou um rei-vampiro, é óbvio. E você, senhor asas com glitter?
— eu sou uma fada, Potter! Foi Teddy que escolheu minha fantasia. - Draco parecia ao mesmo tempo envergonhado e orgulhoso
— é porque o cabelo do Draco brilha igual uma fada - o garotinho explicou animado, cheio de gestos e sorriso.
— e você é o que Ted?
— um unicórnio cozinheiro - ele apontou para o único chifre que ele mesmo havia criado com seus poderes, seus cabelos um tanto curtos foram amarrados em dois lados abaixo das orelhas.
Havia uma bagunça de cores, quase semelhante a um arco-íris. Draco não poderia estar mais contente, adorava aqueles dois e principalmente os momentos em que estavam se divertindo juntos.
— o que foi? - Harry era rápido em notar qualquer mudança na expressão de Draco e estava ainda mais alerta sobre isso ultimamente.
— sinto que você sempre faz tudo, se declarou, oficializou nossa relação, sempre me protege. Quero mostrar que também posso me importar - Draco confessou.
Teddy se concentrava totalmente em sua mini cozinha de brinquedo e mexia com seriedade nas panelas de plástico como se a comida fosse estragar se não fizesse isso.
— o que vai fazer? Preparar nosso casamento? - os olhos divertidos pareciam zombar da preocupação banal, o loiro revirou os olhos, mas estava sorrindo.
— não seja idiota.
— perto de você? impossível, eu também fico idiota perto da pessoa que eu gosto.
Definitivamente seu flerte estava melhor.
— sabe, tem uma história engraçada... não foi por querer, digo, a minha declaração com o patrono e tudo. - Harry começou a explicar coçando a nuca, desviou o olhar e riu vendo Teddy correr de um lado para o outro mexendo com seu microondas e a geladeira.
— como assim?
— naquele dia, eu estava fazendo o patrono para te acalmar como antes e eu usei uma memória sua, eu não sei realmente, mas então percebi que meu patrono se transformou no seu pavão.
"A comidinha vai queimar!" O garotinho declarava, Draco interrompeu Harry para oferecer ajuda ao mais novo, mas ele negou dizendo que o chef unicórnio deveria fazer tudo sozinho.
— então eu deixei escapar a frase "eu gosto de você", não me declarando, mas desesperado porque não sabia o que fazer. E de algum jeito era um patrono falante. - nem mesmo Harry sabia como articulava as palavras em meio aquela situação.
— por que não me contou?
— eu estava em pânico! Quando entrou no meu quarto e perguntou: "você mandou um patrono falante?". Eu estava certo que ia levar um crucio.
— ei - Draco deu um empurrão de leve, mas riu concluindo — eu pensei nisso, tipo, "o que eu vou fazer se ele negar? Jogar um crucio!" É a minha resposta automática, apesar de não fazer sentido.
— ainda bem que eu não neguei. - Harry fingiu soltar um suspiro aliviado e sorriu recebendo mais um empurrão.
— a comidinha está pronta - Teddy declarou e então colocou os pequeninos pratos de plástico e amarelos na frente dos dois adultos, havia uma forma plástica de alface e tomate junto com algo que Draco imaginou ser carne.
— que delícia, tem mais pratos? - Harry declarou fingindo terminar de comer.
— eram só esses, agora tem que pagar a conta. - Teddy estendeu a mão para pegar o pagamento.
— mas não tem nada pra beber? - Draco provocou.
— se quiser água tem que pagar mais. - o menino declarou inflexível.
— parece que estou negociando com a máfia - Draco falou para Harry e os dois adultos riram.
...
Vincent Crabbe estava em uma situação bem ruim.
O primeiro dia do julgamento não foi favorável, o ministro Kingsley havia retomado seu lugar, o parlamento, que ajudava Crabbe, tinha muito poder, mas ainda eram subordinados ao ministro e não restava muito a fazer.
"Não podemos controlar tudo" era o que eles diziam enquanto Crabbe pedia ajuda. Estava abandonado e pela expressão deles, aquilo já era esperado.
Um golpe.
Era o que o parlamento planejava há muito tempo, desde que se juntaram, desde que o cargo de ministro da magia começou a existir, no entanto, era um processo delicado e sempre interrompido. Todavia a guerra distraiu muitos e agora os tempos de paz traziam a sensação de que nada poderia abalar, iriam se aproveitar do momento em que todos tinham a guarda baixa.
Ernesto Burke, um influente político do parlamento, aparentemente o escolhido para ser o ministro, aconselhou Vincent a ter um plano viável, e se fosse possível, iria fornecer os recursos necessários. Isso era bom, quer dizer que nem tudo estava perdido, eles sabiam pagar os favores.
Daphne Greengrass foi condenada a uma pena de dois anos e parte em prisão domiciliar; era um feito de Potter, ele testemunhou a favor dela por ela ter salvo Draco e Teddy. Claro, era um homem de palavra.
Rufo era sobrinho do ex-ministro, era difícil dizer como as coisas iriam se desenrolar. Para completar, ele não era maior de idade, tinha muitas coisas trabalhando ao seu favor, inclusive dinheiro para suborno.
Todavia, Vincent não tinha nada disso no momento, sem o apoio da mãe seria um qualquer. Afinal, a família Crabbe nunca fez parte das Sagrado Vinte e Oito, o que significa que eles não tinham sangue puro, e para bruxos tradicionais como os que estavam no parlamento, aquilo era inaceitável.
Não queria ir para Azkaban, obviamente, mas o problema é que não havia muitas chances e começava a ficar conformado, no entanto, não iria sozinho. Havia alguém que queria levar.
...
Um estalo fora ouvido, quando as três figuras - ou melhor, duas e meia - apareceram na lareira da família Weasley.
— bom dia, Merlin me permitiu viver mais um dia e estou prestes a fazer disso um problema de todos - Draco anunciou sorrindo com sarcasmo, seu olhar rapidamente caiu sobre George que antes tomava seu café da manhã calmamente, mas logo subiu as escadas correndo para se esconder.
Malfoy usava um casaco verde feito a mão, tinha um enorme D prateado no meio, e como se isso não bastasse para mostrar que definitivamente não era mais o mesmo, usava calças jeans trouxas, ele nunca admitiria, mas gostou delas.
— Draco, querido, está uma graça nesse casaco - Molly sorriu em aprovação vendo ele usar o casaco que ela havia feito, não se importou com a fala ameaçadora ou o rosto ainda mais ameaçador.
— eu estaria ainda mais gracioso se lançasse uma azaração no seu filho - ele sorriu e se abaixou dando um abraço na mulher que sorriu como se fosse uma piada, todos ali conheciam Draco o suficiente para saber que não era.
— oh, qual deles? - ela pareceu cogitar a possibilidade de uma negociação, não que ela realmente estivesse, apenas sabia agradar Draco.
— se for eu você deixaria, não é? Eu vi que olhou pra mim, mãe. - Ron falou ressentido e estreitou o olhar tomando um gole de café com clara decepção.
— é ele? - Molly perguntou a Draco, ignorando o filho.
— não, estou falando do George.
— o mesmo problema da última vez? Eu conversei com ele, não vai mais mexer com Ted, o traga mais vezes. - ela se abaixou para pegar o garotinho no colo que foi de bom grado.
A senhora Weasley pediu indulgente e Draco pareceu concordar pela superfície, mas isso já fazia dias e George ainda não tinha coragem de dividir o mesmo cômodo que o loiro, já que toda vez recebia um olhar assustador juntamente de um sorriso malicioso de quem estava tramando algo. Além disso, na primeira vez que viu George depois de descobrir o que ele havia feito, Draco o perseguiu por longos vinte minutos seguidos, até Gina chegar a ajudar a controlar a situação.
— eu preciso me vingar dos seus irmãos, como fazer eles sofrerem, Gina? - Draco havia perguntado naquele dia.
— espera, meus irmãos? O que te faz pensar que eu-
— eles ensinaram a palavra prostituta pro Ted. - Draco cortou com o olhar sério somente em lembrar da situação.
— aranhas para Ron - Gina respondeu prontamente, sabia exatamente qual dos irmãos faria algo assim — e para o George, qualquer coisa trouxa estranha, esses dias ele chorou vendo uma televisão.
Depois, ela mesma bateu em Geoge, não exatamente por Draco, mas porque sua vassoura que foi polida a mão estava jogada de qualquer jeito no chão, e então o loiro sentiu-se vingado o suficiente, pelo menos por hora. Desde aquele dia, toda vez que iam na Toca, Draco preparava alguma coisa, seja trazer aranhas exóticas e soltá-las no quarto de Ron "sem querer", ou objetos trouxas estranhos aparecendo pela casa, hoje, George havia acordado com o despertador de um relógio digital com gravador de voz, foi perturbador que a primeira coisa a ouvir pela manhã tenha sido Draco o ameaçando.
— pode me dar chocolate? - Ted perguntou correndo de volta para Harry, sinal de que havia cumprimentado os Weasley. Ou pelo menos a maioria, levaria horas se falasse com todos eles.
— Draco deixou?
— não - ele fez um bico com os lábios que o tornava ainda mais adorável.
— e por que eu deixaria?
— porque ele não manda em você. - Harry arqueou a sobrancelha diante da astúcia que brilhou nos olhos do menino. Ele teria que se esforçar mais se queria ser um lufano.
— eu sei que é uma manipulação, mas me sinto tentado.
O moreno balançou a cabeça, era muito difícil lidar com tantas pessoas persuasivas ao seu redor, isso incluía Hermione que já havia lhe lançado o segundo olhar, queria o interrogar por descobrir que eles iriam se mudar. Ela com certeza não gostava da ideia de ter Harry longe do radar.
— de qualquer jeito, você também sabe que ele manda em todos nós e vai ficar furioso se você comer açúcar demais. Não deixe o papai brigar comigo, ok?
Contava com a sensatez da criança e que seu coração fosse tocado pelo olhar de pena. Mas o garotinho colocou o indicador no lábio, um gesto clássico pensativo e então sorriu, não era mais seu sorriso ou sua boca, com o rosto se tornou mais redondo e os cabelos loiros crescendo um tanto ondulados.
— você pode dar chocolate para a Victorie? - o garotinho se transformou na menina, uma cópia de muita qualidade, os olhos azuis eram dóceis quando estendeu a mão pedindo o doce.
— negativo - Harry sorriu bagunçando o cabelo de Teddy. Estava pensando seriamente em sua relação e talvez "pai" não fosse uma palavra horrível, por isso acrescentou — boa tentativa, filho.
Teddy sorriu pela última frase e se tornou tão energizado como quando comia açúcar, cantarolava correndo pela casa, a menina já corria e falava algumas palavras, perto de fazer um ano, enquanto isso, naquela semana o menino faria três anos.
— você deu açúcar para ele? - Draco apareceu com os braços cruzados acusadoramente. Com um vislumbre do comportamento de Ted já pode supor que algo havia o deixado elétrico.
Draco no modo pai era assustador.
— nunca me atreveria. - Potter sorriu sincero e se aproximou para abraçar o namorado que lhe deu um olhar desconfiado e olhou ao redor tendo certeza que nenhum adulto estava próximo, só então permitiu. — eu o chamei de filho.
Harry sussurrou ao ouvido do namorado, ele ficou em silêncio como se refletisse sobre algo. O moreno tentou olhar para seu rosto e ter certeza que havia ouvido o que dissera.
— e como se sentiu?
— não pareceu tão errado quanto eu pensei que seria - respondeu com sinceridade, foi estranho e definitivamente uma nova sensação, mas algo naquilo parecia aconchegante.
— você merece tanto, eu queria que entendesse isso - antes de falar, Draco havia soltado um suspiro, virando de frente para Harry segurou o rosto dele com uma mão em cada bochecha, seus olhos eram emotivos. E então escondeu o rosto do ombro dele, como se ao olhar para os olhos verdes sua energia fosse exaurida.
Teddy havia desenvolvido a metamorfose de um jeito assustador desde que começou a treinar com Pansy, ele até mesmo se transformava em Victoire e seus pais com facilidade, reproduzindo os traços com uma quase perfeição. Mesmo assim, nunca causou problemas na escolinha com suas transformações, era cuidadoso.
Agora, tinha cabelos loiros longos, um corpo menor e o rosto mais redondo com olhos azuis brilhantes e bochechas salientes. Usava uma roupa tradicional dos bruxos, um tipo de bata, larga o suficiente para que as mangas que iam até os cotovelos dançassem ao redor dos braços finos enquanto ele corria, possuía uma gola V e o comprimento alcançava os joelhos do menino, o toque infantil eram as corujas fofas estampadas.
Parecia um vestido trouxa - Draco odiava a comparação que Harry insistiu em fazer - e no final era quase isso, afinal, o próprio Ted só aceitou usar porque foi enganado por Harry, este o fez acreditar que aquilo era um vestido.
Ele sorriu lembrando do rosto irritado do namorado quando ouviu o comentário mais cedo, estava prestes a fazer outro quando a boca rosada se aproximou da sua e no momento em que teve toda a atenção de Potter, ele parou e falou em um tom aveludado:
— ei, eu já te falei que está horrível?
— cara, você sabe estragar o clima - Draco riu da fala enquanto se afastava, isso era porque ele havia dito para Harry usar uma roupa parecida com a de Ted, e ele se negou, ainda por cima, teve a audácia (palavras de Draco) de colocar uma roupa trouxa.
— não se atreva a chamar de "cara" a pessoa que beija sua boca todo dia - Draco retrucou, era o jeito que Harry chamava Ron e seus amigos em geral, não aceitaria ser chamado assim.
— me desculpe, meu bombom. Venha cá, melzinho. Qual apelido prefere, chuchu? - Harry falou para irritar Draco e funcionou perfeitamente à medida que ele arregalou os olhos com o ultraje, parecia que havia visto-o cometendo um crime e então inflou as bochechas bufando.
— a relação de vocês realmente me inspira - a voz de George foi ouvida da janela em que colocou seu rosto e com um sorriso brincalhão concluiu —... a ser solteiro.
— como se você fosse solteiro por escolha. Todo mundo sabe que levou um pé na bunda ontem. - Draco mostrou a língua de um jeito infantil, Harry sorriu, era engraçado como tinha lados divergentes.
— eu vou te perdoar porque ainda acho incrível ouvir você dizendo coisas como "pé na bunda" - o ruivo sorriu sem se importar.
— Vic, venha tomar banho - Fleur entrou na sala sem notar mais ninguém, apenas preocupada em trocar a roupa da filha, então notou que haviam duas dela — de novo? Teddy, isso não tem graça.
Teddy se sentou no chão desajeitado e não falou nada para não estragar o disfarce, afinal, sua dicção e vocabulário eram melhores que de Victoire, a menina copiou sua ação deliberadamente e sorriu sem entender a situação. A única coisa que os diferenciava era a roupa, a menina usava um macacão branco, mas por ser a mesma cor do vestido de Ted, Fleur parecia ter os confundido na euforia de levar a filha para tomar banho.
— Teddy, eu sei que é você - ela falou para a bebê.
— na verdade- Harry segurou o riso e iria explicar, mas foi interrompido.
— a tia Fleur não sabe de nada - Teddy voltou a sua forma original e saiu correndo, Draco explodiu em gargalhada conforme Fleur olhava para sua filha, a quem jurava ser Teddy, seus olhos estavam arregalados percebendo o que havia feito.
— não ligue para ele, as imitações estão muito boas, sabe, se fosse comigo eu não iria notar - Harry tentou a confortar, mesmo que em sua mente, pensasse que talvez iria sim, porém, talvez fosse apenas seu ego.
— esse pirralho! - Fleur gritou ao mesmo tempo que a gargalhada alta de Ted ecoou pela Toca.
Como sempre, o lugar estava agitado no almoço de domingo, onde mais gente ainda se concentrava na modesta casa.
George discutia divertidamente com o irmão mais novo, os dois sentados no sofá de modo que eram ouvidos em bom som mesmo em outros cômodos.
— sabe, nossa mãe tinha o sonho de ter a casa cheia de netinhos, mas o sonho dela desapareceu rápido. Um é apaixonado por dragões.
Apontou para Carlinhos um pouco mais distante dali, conversava com o pai sobre seu trabalho e contava as novidades. O Sr. Weasley não parecia particularmente interessado, todavia era gentil demais para demonstrar e sabia que também era assim com os outros quando falava sobre trouxas.
— Percy está noivo - Ron relembrou. A carta do segundo irmão mais velho havia chegado há pouco e rapidamente ignorada depois que Molly respondeu de forma educada.
— mas Percy foi expulso da família, ele não conta - o irmão retrucou e prosseguiu — eu não arranjo namorada, Gina é lésbica, você dormiu anos com um homem-rato.
— eu literalmente vou comprar um anel de noivado hoje, acabei de te falar- Ron ficou um pouco irritado com as besteiras que saiam da boca do mais velho.
No entanto, George apenas murmurou "cala a boca" e continuou:
— Mas foi Harry que namora com o antigo inimigo da escola, Malfoy arrogante, que lhe deu um único neto, mas que pode se transformar em vários - concluiu rindo.
— você incluiu até mesmo Harry, mas não lembrou de mim? - Gui franziu o cenho apontando para a filha em seu colo e depois para si mesmo.
— ah, eu sabia que estava faltando alguém! - Ron parecia de fato ter esquecido. Não deveria, Gui era seu favorito, havia se tornado a favorito depois de sair de casa e não o importunar falando sobre Dragões como certos irmãos mais velhos.
— você não conta, sempre foi o favorito. - George disse com um tom óbvio e o irmão revirou os olhos.
Harry e Draco riam ouvindo a conversa. Não era verdade, todos sabiam que Gina era a favorita de Molly, e obviamente, Gui perdeu muitos pontos ao sair debaixo da asa da mãe para casar com Fleur, mas provavelmente Victoire cobria essas perdas.
Em algum momento, uma harpia pousou na janela e silenciosamente esperou sem ao menos um barulho para se fazer presente. Felizmente, Harry tinha um bom senso de movimento e mesmo a janela estando em suas costas, ele se virou encontrando a ave.
Draco se virou junto a ele perguntando o que havia de errado, mal conseguiu concluir a frase vendo a harpia com a carta sendo segurada pelo bico, era algo pouco confiável, afinal, uma ave não bem treinada facilmente derrubaria e mais do que isso, algo que alguém com muita pressa escolheria fazer. O pânico preencheu-lhe de vez, tomando ciência de que aquelas penas presta e comportamento arrogante era específico de uma casa. A sra. Zabini era conhecida por manter o adestramento de harpias como hobby.
— o que diz a carta? - Hermione se aproximou preocupada notando a comoção.
— diz que precisamos agir antes que algo ruim aconteça.
...
— ei, você veio mesmo, realmente, parece que essa coragem Grifinória é contagiosa - Crabbe declarou quando Blaise chutou a porta do cômodo para forçar sua entrada, usou tanta força que a porta caiu no chão.
Há pouco, Blaise Zabini havia recebido um bilhete de Crabbe, no qual afirmava ter algo muito interessante e que precisavam conversar a respeito de Draco e como ficariam tristes se ele voltasse para Azkaban, afinal, agora tinha uma família completa, com direito a um filho adorável.
Blaise era um homem esperto, mas às vezes, principalmente quando era sobre Draco, tomava decisões muito estúpidas. Como por exemplo, ter deixado de lado o fato de que estava em Hogwarts para se proteger de Crabbe e ir encontrar ele sem avisar ninguém, inclusive Neville, que ultimamente vinha sendo especialmente gentil.
— o que você quer?
— uma porta nova seria um bom começo - Vincent sorriu com um olhar afiado para a porta caída conforme Blaise se jogou em um sofá na frente da poltrona do outro.
— sem enrolações ou vão notar que eu desapareci.
— não precisa voltar para lá, continue aqui até o julgamento - Crabbe se referia ao julgamento do próximo dia, Blaise iria testemunhar exatamente contra ele.
— engraçado, o que está planejando?
— eu gosto de como é direto, mas vamos com calma. - Crabbe se inclinou sobre a pequena mesa que havia entre eles e pegou o copo dando um gole, tudo isso como se estivesse com a velocidade atrasada.
— certo, então vamos falar sobre quem está te ajudando e porque? - Blaise não fazia questão de esconder, se havia aceitado o convite foi porque queria tirar alguma informação útil daquele idiota.
— você sabe, é a assembleia do ministério de magia, minha mãe tem bons amigos lá. - também não fazia questão de esconder isso.
— você é só um peão para eles. Seja lá porque o parlamento te ajuda, na verdade eles estão ajudando a si mesmos. - a voz não soava odiosa, do contrário, parecia um conselho sincero.
Blaise não sabia muito da situação, mas tinha certeza que estava certo, mais ainda depois de ver a expressão afetada no rosto do outro.
— talvez, mas eu sou o peão bem simpático, e você sabe, quando o peão chega até o outro lado do tabuleiro, ele pode se promover a uma peça mais forte.
— espero que se lembre, esse julgamento é um zug* e seu jogador não vai hesitar em te sacrificar.
— ah, não use termos difíceis, você sabe que eu não jogo xadrez de verdade. - Crabbe fez uma careta, sem parecer realmente importar, estava calmo e sarcástico de um jeito que não lhe era comum, as pessoas mudam, claro, mas Blaise notou que conhecia alguém que poderia agir, era óbvio, como Crabbe tentava imitar Draco.
(Nota:Zug ou Zugzwang, no xadrez, se refere a uma situação onde um jogador é obrigado a fazer a jogada, o que piora a sua situação. (Fonte do Wikipedia) explicando o contexto da fala do Blaise, ele quis dizer que o jogador foi obrigado a fazer um movimento, e sabe que a melhor situação seria sacrificar o peão - Crabbe -, e mesmo que ele seja um peão precioso, não tem como ser salvo.)
— ele não agiria assim - Blaise deu um sorriso perigoso, sabendo que não deveria estar provocando-o.
— o que?
— se está imitando Draco, esperava que fizesse um melhor trabalho. Para começar, Draco quem me ensinou xadrez, ele sabe o que é um Zug, o que você claramente não conhece.
Vincent paralisou por um segundo, como se custasse um tempo entender a fala de Zabini. Levou a cabeça para trás soltando um riso forçado quando compreendeu.
— você é um cara muito relaxado, Blas. Não tem medo da sua mãe morrer pelas besteiras que diz?
— está com a minha mãe - não soou como uma pergunta, os olhos de Blaise semicerrados eram acompanhados por um pequeno sorriso de desdém.
— esperto como sempre. - Crabbe comentou e quando viu que o outro não iria dizer nada continuou — não se preocupe comigo, e sim contigo. Você vai ao tribunal dizer que eu não fiz nada contra você, já cuidei para que sua poção da verdade não faça efeito.
— como? - Zabini parecia especialmente curioso, era normal, o veritaserum era conhecido por ser a poção mais forte e confiável.
— existe alguém que já fez isso. Voldemort. E existe um lugar em que esse segredo está guardado - Vincent dizia meias palavras deixando um ar de mistério.
Lucius Malfoy era o braço direito de Voldemort, se esse segredo estivesse em algum lugar a mansão Malfoy seria um bom começo, um esconderijo óbvio e exatamente por isso, perigoso. Não era preciso ser um comensal para saber do perigo da Mansão. Mesmo bruxos experientes poderiam ser enganados por ela, o que impede algo pior acontecer com Vincent?
— me lembre de novo, quando eu concordei em te ajudar? - a voz arrogante de Blaise o interrompeu, mentalmente, anotando o que deveria contar para Draco depois.
— está hesitando em trair Draco? - Crabbe franziu o cenho como se realmente não contasse com essa variável, provavelmente era exatamente isso.
— é quase decepcionante como sempre esquecem que lealdade não é algo exclusivo dos lufanos, "Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa/ E ali fará seus verdadeiros amigos" ninguém nunca lembra dessa parte da música.
Enquanto Blaise ria de modo elegante, parecia especialmente calmo, Vincent se sentia confuso, desde o começo sua vida estava uma bagunça e ninguém agia como ele queria. Com beligerância, ele apertou sua varinha, cansado daquilo, queria apenas que tudo acabasse, balançou a cabeça e passou a mão pelo cabelo raspado.
Ele simplesmente se levantou, lançou um olhar para Zabini que bebia a xícara de café encostado no sofá como se estivesse em sua própria casa e saiu. Precisou respirar fundo para encontrar Flint, seu comparsa, e trazer a Sra, Zabini para a sala. A mulher ficou calada do início ao fim, mesmo quando foi trazida, não fez muitas perguntas ou tentou resistir, tinha uma expressão frágil no rosto, pensou em Blaise comentando algo sobre sua mãe ter uma saúde delicada, fazia muito tempo, mas Crabbe tinha uma memória excepcional.
A sra. Zabini era quase a versão feminina e um pouco mais velha do filho, não aparentava a idade, tinha uma pele com poucas rugas ou imperfeição, seu corpo todo era como um vaso de porcelana cara. Os olhos pequenos e escuros, lábios carnudos, pele negra e cabelos cacheados.
— vamos deixar as coisas claras Blaise, isso não é um jogo, é a sua vida e a da sua mãe.
— não pode me matar, ela talvez, mas eu não. - Blaise interrompeu, era verdade, qualquer comensal ou pessoa ligada tinha muita atenção dos aurores e da mídia, não que essas pessoas gostassem deles, mas era assustador para elas verem algum conflito os envolvendo, por isso, os aurores não iriam deixar a situação impune, não importa que tipo de poder tenham.
— não me interrompa. Ouça, irá até aquela droga de julgamento e dirá que foi Draco quem te machucou, ele não tem álibi nem proteção, e foi um dos primeiros suspeitos da lista. Eu ainda posso matar sua mãe, e vou fazer isso se não me obedecer.
— vou ter que sacrificar algo de todo jeito. Pago o preço, se for melhor para Draco. - Blaise sustentou o olhar, mais vazio do que nunca quando falou.
— se sacrificaria por ele?
— eu já fiz isso por quem valia muito menos - Crabbe hesitou, por um segundo pensou que a fala se dirigia à ele, mas Blaise virou o rosto — não é, mamãe?
A mulher desviou o olhar sem suportar a pressão que havia, estava claro como ela não iria contradizer as palavras do filho, ela concordava com ele. A questão era que Vincent amava sua mãe, não era segredo que por todos os anos que esteve em Hogwarts, ele diligentemente escrevia cartas para sua mãe. Por isso tinha esse princípio de não machucar mães, afinal, odiaria se fosse a sua, mas esse parecia o único ponto fraco de Blaise que não fosse Draco.
No entanto, mesmo se conhecendo há anos, Crabbe teve a surpresa de descobrir que estava errado. Sabia que era melhor ter ido atrás de Pansy, mas ela era ainda mais difícil, além de Draco e Blaise, ela não tinha ninguém.
— ela é sua mãe, Draco é só um idiota que te trata como se fosse o cãozinho dele.
— esse é seu maior problema, sempre acha que sua realidade reflete a de todos, mas nem todos tem uma relação boa com a mulher que os gerou - cada palavra escolhida para evitar repetir o termo "mãe", da última vez havia soado como um deboche, agora estava claro que nem suportava falar mais uma vez. — e se Draco é meu dono, devo ser leal a ele, não?
— vai deixá-la morrer?
— não é que eu queira isso, mas não posso fazer nada para ajudar - parecia sincero, até mesmo algo parecido com dor brilhou em seu olhar — esperava um pouco mais de atitude, o que há com você?
A última fala foi direcionada para a mãe, ainda encolhida no canto da sala, e com isso, foi como se ela fosse transformada em outra pessoa, sua cabeça levantou em um sorriso envergonhado por ter o filho lhe repreendendo, as mãos soltas e a corda que estava às amarrando antes foi transfigurada em um fino palito de ferro tão grande como uma varinha mágica, ela sorriu perigosamente apontando o objeto afiado para Vincent, antes de levar as mãos para a cabeça e usá-lo para prender os cabelos escuros cacheados em um coque alto.
— obrigada, Blas. Eu estava esperando um momento melhor, mas você sempre quer dificultar as coisas para mim - ela sorriu gentilmente quando se aproximou de Blaise,
— que merda está acontecendo? Você sempre disse que sua mãe era fraca - Crabbe anunciou confuso. Supôs que ela não teria nenhuma magia sem a varinha mágica como a maioria dos bruxos e não se deu ao trabalho de restringir a magia. Mas a mulher que antes se fingia de fraca, estava de pé com a postura ereta e um sorriso malicioso.
— esse é outro problema seu, confiar demais no que eu digo. Vince, você só sabe o que eu deixei você saber. - Blaise tinha o mesmo sorriso da mãe.
Vincent pensou em toda informação que lhe foi dada, como na vez Blaise disse que sua mãe era fraca e pensando melhor, talvez tenha visto ele dando um sorriso maldoso para Draco, mas do contrário, Draco parecia preocupado. Pensou em cada presente que chegava para Zabini e em como ele sempre dava para os outros, se fosse uma comida era porque não gostava, se fosse uma roupa o tecido estava ruim.
Ele nunca aceitou os presentes da mãe. E nunca enviou, Crabbe lembrou do dia em que Draco o mandou comprar brincos alegando que era para Narcisa, mas se juntasse as peças, no dia seguinte Blaise havia recebido uma carta da mãe que estava radiante pelo presente, e depois disso, houve uma grande discussão entre ele e Draco.
Naquela época, lembrou de Pansy o dizer que isso era por causa de uma mulher, novamente, Crabbe não deu importância, pensou que era um mal entendido e de qualquer jeito, logo tudo seria resolvido, Blaise não conseguia ficar bravo com Draco por muito tempo.
— Oh, deveríamos mandar aurores virem aqui? Tenho um bom amigo que adora educar delinquentes - a Sra. Zabini colocou a mão sobre a boca de forma elegante e tinha um olhar malicioso.
— não seja exagerada. Sei que Vincent estava apenas confuso, ele não quer provocar a família Zabini - o queixo levantado e o olhar afiado era uma combinação que Crabbe havia visto muitas vezes em Blaise.
Era rara, Blaise sempre foi um cara quieto e não provocava as pessoa enquanto ninguém o irritasse demais, só usava essa expressão para dominar os outros e colocá-los no lugar quando passavam da linha, nunca havia sido usada em Vincent, mas sabia o que tinha que fazer e quase instintivamente abaixou a cabeça e encarou o chão. As mãos se fecharam e ele podia sentir sua respiração vacilar, queria chorar por puro ódio pela humilhação que sentia.
— garoto, devo te avisar, qualquer problema que tenha com Draco é um problema com Blaise e isso é pode gerar um problema enorme para você. Capiche?
Vincent assentiu lentamente, sem mostrar o rosto, sentia a primeira lágrima prestes a cair e todos seu corpo tremia.
A família Malfoy caiu, e eles foram abandonados pelas outras que queriam se salvar, mas Draco sempre foi diferente dos outros, seja que tipo de barganha fizera, conquistou lealdade verdadeira da família Zabini.
Era fato, uma coisa que Crabbe preferiu ignorar no fervor de seus planos, a família Zabini tinha muito dinheiro, não faziam parte do parlamento, do contrário, havia rumores sobre os Zabini apoiarem o atual ministro e mesmo assim também havia rumores sobre a mulher ser amante de alguém do parlamento, novamente, os dois poderiam ser verdade. Eram poderosos, mas era só uma mulher e seu filho, parecia fácil esquecer deles e talvez essa fosse a maior vantagem que tinham.
...
Pansy estava confortavelmente jogada na poltrona de couro preta, tinha os pés sobre a pequena mesa de centro da sala e sorria como sempre, um pouco maldosa, mas ao mesmo tempo amigável. Era ótimo estar em Hogwarts, mesmo que fosse em uma sala sem graça e com Blaise e Neville.
— eu só estou dizendo, se eles podem colocar um homem na lua... por que não colocar todos? - Parkinson declarou antes de tomar mais um gole do drinque.
— Eu acho que você deveria começar a cultivar alguma planta e carregar com você - Blaise comentou.
— ...o que isso tem a ver com o que eu disse? - Pansy pensou que conviver com o amante de plantas estava alterando a racionalidade de Blaise.
— nada, é só pra repor o oxigênio que você gasta existindo.
Neville olhou um pouco assustado pela fala, era claramente agressiva, apesar de vim acompanhada de um sorriso, Pansy sorriu de volta e era difícil dizer se eles ainda eram amigos ou inimigos completos. De qualquer jeito, sua boca se abriu sem controle querendo corrigir a informação, talvez fosse um hábito de professor vendo o aluno errar, talvez apenas quisesse tentar amenizar o clima.
— na realidade, apesar das plantas produzirem oxigênio, elas também consumem. Assim, tecnicamente, uma planta que ele poderia carregar não iria repor o oxigênio dele. Somente uma árvore de grande porte, elas produzem oxigênio suficiente para duas pessoas.
— Isso é tão nerd e estraga prazeres, mas por algum motivo eu esperava que dissesse algo assim - Pansy assentiu consigo mesma e pegou a garrafa para encher o copo.
O dia foi agitado, de manhã, Blaise havia desaparecido, e depois que contou a situação Neville - que sentiu um misto de emoções tão grande que preferia não citar - passou a tarde com Draco na lareira planejando um contra-ataque e sem contar nada a Pansy, a convidou para beber.
— não beba tanto, você vai querer jantar? - Blaise perguntou amigável.
— eu já jantei. Uma salada de frutas - Pansy respondeu com com a voz arrastada, o rosto estava um pouco corado como se estivesse bêbada.
Blaise estranhou, ela não deveria ser afetada por alguns goles, a não ser que já tivesse bebido antes. O olhar do amigo deixava bem claro a desconfiança e ela continuou para tentar convencê-lo:
— tecnicamente era só uma fruta. Uvas. uvas... fermentadas - o tom de voz se tornou baixo como se ela não quisesse que ninguém escutasse.
— vinho? - dessa vez foi Neville quem interferiu, com certo divertimento a mulher sorriu.
— é, uma garrafa de vinho inteira. Estava ótima - Pansy confessou compulsivamente. — não tenho arrependimentos.
— você deveria - Blaise retrucou sem hesitar.
— eu sei - ela respondeu no mesmo tom e ainda sorria com calma.
— vocês realmente se dão bem - Neville comentou, um misto de alegria e surpresa em ver a dinâmica deles ao vivo.
— não tenho certeza - Blaise franziu o cenho olhando para a bruxa.
— você me ama, nós até fizemos um pacto, se ficarmos solteiros até os 30- Pansy se interrompeu para beber outro gole e Neville ajudou a completar.
— ah, aquele pacto de se casar se não achar ninguém?
— eca, não. - ela quase cuspiu a bebida — se estivermos solteiros até os trinta vamos batalhar até a morte um com o outro e quem sobreviver se mata também.
Neville abriu a boca com a expressão dividida em ficar surpreso e confuso, além de preocupado, fechou a boca e abriu mais uma vez antes de desistir.
— mas trinta não é muito, muitas pessoas estão solteiras nessa idade. Então é bem provável que vocês vão estar. - dele decidiu que essa era a melhor coisa que poderia falar sem ofender ninguém.
— exatamente! Essa é a intenção, mas Blaise parece estar querendo fugir da batalha, qual é a de vocês dois?
Todos já sabem, mas vale lembrar. Pansy era o tipo de pessoa que perdia a pouca noção que tinha depois de beber. Assim, ela já começava a falar coisas inconvenientes.
— Pansy, acho que está na hora de ir para casa - Blaise se levantou e foi até a mulher para tirar o copo dela e ela começou a protestar tentando fugir.
— vamos lá, Blas. Eu estou tentando ajudar, não quebre o coração desse pobre Grifiótario.
Ela apontava de modo inescrupuloso para Neville que ficou preocupado com o quão bêbada ela estava para cambalear daquele jeito e falar coisas com um tom e postura que ele nunca havia visto antes.
— Pansy! - Zabini a repreendeu irritado e segurou o copo dela.
— só esse gole - ela puxou o copo para si e cambaleou de modo que precisou de apoiar na estante próxima a Neville que se levantou temendo que ela caísse.
— essa bebida é forte, eu lhe dei porque achei que estava sóbria.
— me deixe terminar o copo e eu vou embora - Pansy precisou apenas de um segundo para levar o copo à boca e virar de uma vez. Impedindo qualquer reclamação.
Os dois amigos se encararam e ela sorriu antes de deixar o copo cair e logo depois seus olhos fecharem e as pernas amoleceram, mas antes de cair também, Neville, que imaginou que isso poderia acontecer, havia se levantado e corrido para impedir a queda.
— desculpe pelo copo - julgando pela reação de Blaise, imaginou que era algo comum para Pansy, mas não pode deixar de ficar preocupado, não era nada saudável beber descontroladamente.
— não é um problema.
Mordeu o lábio julgando se deveria dizer algo sobre isso, ou a advertência iria fazer Blaise o odiar. Com certa facilidade, Neville passou o braço por trás dos joelhos de Pansy de modo que carregou ela até seu quarto, a colocando na cama, pensou sobre onde iria dormir, mas isso não era importante, afinal, não tinha como deixar Pansy voltar para casa sozinha.
— eu arrumei a mesa, pode deixar ela comigo - Blaise declarou em vou baixar entrando no quarto.
Pansy parecia adormecida, mas assim que ouviu a voz do amigo, fez uma tentativa fraca de alcançá-lo cegamente com o braço, ainda estava com os olhos fechados e seguia apenas o som da voz.
— D-draco - ela chamou e Blaise se aproximou com calma, deu um sorriso triste e tentou transformar em um sorriso gentil quando se virou para Neville, era claro, Pansy não queria que outra pessoa a visse bêbada além dos amigos.
— ele está logo atrás de nós - ouviu a mentira de Blaise antes de fechar a porta do quarto.
Neville não conseguiria ficar bravo mesmo se quisesse, assim era Blaise, havia confiado sua vida para Neville, mas não entregaria tão facilmente a amiga aos seus cuidados. Mesmo ele parecendo tão cooperativo e aberto consigo, talvez Pansy não estivesse certa quando disse que o amigo era diferente com ele, pois sentia essa distância clara que Blaise fazia, cada vez mais esse limite se tornava visível.
E quando Neville tentava se aproximar por conta própria, ele se afastava.
...
Naquela mesma noite, Draco e Harry entraram no jardim de rosas, a magia fazia com que elas continuassem exuberantes mesmo que ninguém houvesse cuidado delas por um longo tempo, mas o jardim se mostrava negligenciado e nenhuma magia traria a uma alma capaz de animar o local, isso porque a energia do local era sombria.
A mansão Malfoy.
Harry não tinha certeza do porquê de estarem ali, mas seguia Draco confiante, andava pelo local a céu aberto como se pudesse fazer isso de olhos fechados, de fato, poderia. Passou um bom tempo de sua infância vagando pelo local.
— Blaise me ligou, não disse muito, mas Vincent fez um movimento hoje - Draco explicou com o rosto sereno admirando as flores — não funcionou como queria, ele tem a nossa idade, mas é realmente infantil e acima disso, insistente.
— é perceptível.
Harry se sentou em um banco de pedra que havia lá, tentava fingir que não estava incomodado e se concentrava em não pensar demais nas memórias que o lugar carregava. Draco explicava com cuidado, mas ao mesmo tempo, parecia concentrado em outra tarefa, e finalmente arrancou a rosa que tanto admirava indo se sentar ao lado de Harry.
— ele queria que Blaise testemunhasse a favor dele e também me incriminasse, acho que o plano não é sobre se salvar, e sim me ferrar.
— e como ele pretende fazer isso? Ele vai ter que tomar Veritaserum - essa era poção de verdade mais forte que havia, não se lembrava de alguém que conseguiu enganá-la.
— não é impossível, Voldemort usou magia das trevas para anular o efeito, mas ninguém sabe exatamente que feitiço ou artefato. Porém, é dito que os Malfoy esconderam isso na mansão. Eu ouvi meu pai falando sobre isso. - o loiro despedaçava a rosa tirando suas pétalas vermelhas como sangue.
— acha que é verdade? - ele indagou desconfiado, Draco furou o dedo em um espinho, mas continuou.
— talvez, tem muitas passagens secretas, a mansão inteira é um labirinto, os aurores só foram pelo caminho óbvio, pegaram os mais intrigantes e saíram em segurança.
— quer dizer que se formos procurar isso, além de demorar, provavelmente não trará resultados positivos. - Harry compreendeu a situação.
— de fato. - ele tirou outra pétala, o chão logo abaixo estava coberto delas.
— então porque estamos aqui?
— é fácil, vamos queimar o labirinto e assim destruímos tudo que ele esconde. - assim, deixou a flor cair de suas mãos, e se juntar as pétalas que foram arrancadas.
— isso é um tipo de metáfora? Eu não entendi.
— não tem metáfora, estou falando sobre queimar a mansão, pra valer. - sorriu para Harry que não pareceu entender de imediato.
— hum, não! De jeito nenhum, isso é loucura.
Potter negou veementemente, quase como se a casa fosse dele e não de Draco que sorria sem parecer levar a sério, mas ele percebeu que era isso que o outro pensava e fechou o sorriso.
— não é uma decisão impulsiva, sério. Eu pensei em destruir a casa há um tempo. É irritante... os quadros, os segredos e todos fantasmas me chamando de traidor estão me incomodando. E também, meu pai concordava comigo, ele escreveu na carta póstuma que recebi.
— tem certeza? - o semblante preocupado era óbvio.
— está tudo bem.
— vão rastrear a varinha que fez o feitiço, traços de magia, qualquer coisa detectável - Harry advertiu hesitante mesmo diante da confiança de Draco, sabia que os aurores levavam o trabalho a sério, afinal, era um.
— por isso não vamos usar feitiços - Draco pegou a bolsa que havia trago, e assim que abriu, começou a tirar galões e mais galões de gasolina que couberam ali graças ao feitiço de expansão.
Não foi exatamente rápido e o local era grande, por sorte, o jardim, com exceção das rosas, estava morto e as plantas secas alastraram o fogo com facilidade. A mansão não tinha nenhum material que dificultasse o trabalho de fogo.
E sob o luar da madrugada, Draco foi abraçado por Harry e olhou a mansão onde cresceu em chamas e séculos da família Malfoy queimar, junto com os fantasmas que gritavam por vingança.
Qualquer esperança que Crabbe poderia ter queimou junto a mansão.
————-
Notas da Haru:
Aqui é a autora e acho que já passamos da fase em que eu me desculpo pela demora.
Esse capítulo tem quase 8k de palavras, então esse é meu pedido.
Não se esqueçam de votar!!
Tenho uma notícia, não sei se acham bom ou ruim, mas a fic foi estendida. Em sumo, esse deveria ser o último capítulo, mas está óbvio que ainda está em aberto, eu me enrolei e decidi que ainda não queria terminar e agora não sei quantos capítulos vão ter, também não prometo rapidez, mas não vou abandonar a fic, fiquem tranquilos.
Interação •
• o que acharam do Ted nesse capítulo?
• e sobre o Blaise? Qual vocês acham que é a história entre ele e a mãe dele?
Falando nisso, eu vou fazer um capítulo separado para os casais de suporte, Blaise e Neville e um curto sobre a Gina e Helena, mas não sei se vou incluir o Ron e Hermione.
Além disso, queria dizer que no próximo capítulo estou planejando um lemon - Harry top/ativo - vão ser na mesma ideia do primeiro, sem muitos detalhes e mais diálogo. Fiquei muito feliz por não terem comentários criticando sobre quem seria o ativo e passivo, e novamente espero que se comportem.
Obrigada por lerem e comentarem. Se cuidem.
Até a próxima❣️
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top