XXVI. Aquilo com a boca


Os raios de sol invadiram o quarto no qual as janelas não possuíam cortinas. Ser acordado daquele jeito era quase ofensivo para Malfoy, mas então notar quem estava do seu lado e lembrar que a noite anterior não foi um sonho fez valer a pena.

Pelo menos dessa vez, não foi empurrado por estar deitado ao lado de Harry. Estava com um pouco de calor e tinha a blusa de botões um tanto aberta e a barriga parcialmente revelada, mas os braços do moreno não permitiam que muita pele fosse exposta, bem como sua cabeça deitada no peitoral dele.

Completamente preso no abraço de Harry, era difícil se mover, mas também com a claridade não conseguia dormir. Soltou um suspiro e lentamente, o moreno levantou a cabeça e direcionou seu par de olhos verdes ainda inchados pelo sono para ele, deveria imaginar que ele já estava acordado e assim como Draco, apenas não queria que esse momento acabasse.

— bom dia - Harry sorriu abobalhado enquanto disse isso e não se importou com mais nada.

Draco desviou o olhar para o teto e jogou o braço livre sobre seus olhos tentando bloquear a claridade e também esconder parte do rosto ruborizado por essa simples situação.

— eu queria dormir mais, droga, por que não tem uma cortina aqui? - a voz do loiro estava rouca, o que fez o coração de Harry acelerar, além de ser atrativo como seu maxilar inferior era bem desenhado.

"Definitivamente, se você acha sexy até quando ele está reclamando por bobagens, só pode ser amor." Harry riu do seu próprio pensamento.

— eu gosto de acordar com o sol, é um ótimo jeito de não perder a hora e ainda tenho uma ótima vista. Janelas são incríveis.

— trouxas não tem janelas? - Draco franziu o cenho, e descobriu os olhos procurando o rosto de Harry para ver que expressos fazia e tentar entender seus pensamentos.

— eles têm, mas não debaixo do armário da escada, pelo menos, não uma janela grande e com uma vista tão legal como essa - os olhos verdes miraram a janela transparente, daquele ângulo, era possível apenas ver o céu com algumas nuvens, em um clima de inverno típico de Londres, o Sol se escondia entre as nuvens cinzas.

— você morava em um armário debaixo da escada?

— eu gosto de como me entende rápido - Harry sorriu admirado, como se a questão de que falavam não fosse importante, e pra ele, já havia deixado de ser há muito tempo.

— Merlin, isso é horrível, até eu tinha um quarto decente e meu pai me jogava um crucio - Draco declarou inconformado com a situação de Harry, que por sua vez, ficou surpreso pela fala dele.

— isso também é horrível e um crime!

— não era forte. Pode ser difícil de acreditar, mas ele só queria meu bem.

— jogando um crucio em você? - Harry franziu as sobrancelhas de um jeito acusatório e o loiro suspirou, sim, tinha alguns problemas com seu pai, mas ainda era seu pai, não gostava quando falavam dele, principalmente considerando que agora nem mais vivo estava.

— diga o que quiser, ele até me deixou uma carta e muitos presentes sinceros pra mim - Draco comentou com o nariz empinado, era a primeira vez que falava sobre o presente. Havia aberto a caixa sozinho, que continha um enorme álbum com suas fotos de criança, livros e pergaminhos com magias da casa Malfoy e uma carta manuscrita de Lucius.

— realmente falar sobre seu pai às sete da manhã não é exatamente agradável.

— tem razão, isso era pra ser uma conversa romântica de bom dia. Por que não está me beijando ou algo do tipo?

Harry se aproximou para lhe dar um beijo, um tanto tímido por toda a claridade e consciência de seu ato, e por isso parou no meio do caminho.

— porque se eu te beijar vou querer continuar, e tenho que me levantar logo.

— mas é sábado - Draco esticou os braços tentando alcançar Harry em vão conforme ele levantava da cama.

— desculpe, tento evitar trabalhar no final de semana, mas é difícil. Vai ser rápido, volto até o almoço - ele sorriu enquanto se perdia nos olhos azulados, o que deixou sua mente confusa e o fez relaxar e esquecer de suas obrigações.

— coloque o uniforme preto, eu gosto mais dele - Draco soltou um sorriso conforme seus olhos brilharam, ele se ajeitou, sentando e encostando no travesseiro que apoiou na cabeceira. E o de olhos verdes desviaram para o relógio na cômoda e só então lembrou que deveria ir trabalhar.

Harry abriu seu guarda roupas, que era de um tamanho bem modesto, já que não havia muito o que guardar lá. E puxou o conjunto preto do uniforme. Um sobretudo longo que funcionava como uma capa, possuía o grande M do ministério da magia, além de uma blusa com alguns detalhes dourados e sua calça. Não via nada de especial no uniforme, mas podia imaginar que Draco gostava porque era justo e preto era uma cor que combinava consigo.

— Draco Malfoy com fetiches em aurores de uniformes?

— não, tenho fetiches em você de uniforme - o loiro sorriu e deliberadamente passou a mão arrumando os cabelos enquanto carregava uma expressão maliciosa.

Tinha vergonha de receber um bom dia sorridente, mas falava coisas assim sem ao menos piscar. Draco Malfoy ainda era um mistério para Harry Potter.

— você é bom nessa coisa de flerte.

O moreno tirou a blusa do pijama depois de debater mentalmente e decidir que não tinha tempo livre para timidez. Mas logo correu para o banheiro que ficava em seu quarto em uma tentativa de se esconder lá.

— sim, por isso tem que melhorar, não posso fazer tudo sozinho.

— eu não sou ruim, você é difícil de flertar - teve que falar um pouco mais alto, na dúvida se Draco poderia ouvi-lo bem lá de dentro.

— é claro, se fosse fácil perderia a graça.

Harry abriu a porta e apenas colocou seu rosto para fora, tinha uma escova em sua boca e um pouco de espuma ao redor de seus lábios, mas sem se importar com sua aparência, queria ver que expressão Draco fazia, e por trás da fala maliciosa e voz calma, seu rosto estava completamente vermelho, assim que viu que foi descoberto colocou um travesseiro sobre o rosto e o moreno tentou segurar o riso.

Um segundo depois, ouviram batidas hesitantes na porta do quarto, já sabendo que a única possibilidade era ser Teddy, Draco se levantou para abrir a porta, imaginando que tipo de explicação diria quando perguntado o que fazia no quarto de Harry.

O garotinho do outro lado estava tão atordoado em seu próprio problema, que assim que a porta foi aberta, ainda com a cabeça baixa e o cobertor em mãos, não observou para ver quem era e começou a falar com sua voz chorosa.

— disse que não ia, mas molhou a cama de novo, não conta pro Duaco - ele ofegou quando levantou a cabeça e notou que quem estava na porta era o próprio Draco.

Não via Teddy enrolar a língua e ter uma fala tão difícil de ser entendida há um tempo, mas isso provavelmente também se dava ao choro.

— por que eu não posso saber? - ele abaixou de modo que seus olhos ficassem quase na mesma altura do que os da criança.

— não quero deixar você triste.

— eu não- Draco se interrompeu e olhou para Harry que agora deu um olhar confortante, ele soube o que deveria fazer e abraçou o garotinho — deve me contar se molhar a cama de novo, não esconda mais, tudo bem?

Teddy o apertou ainda mais de volta, os bracinhos pequenos faziam uma pressão leve, mas tremiam mostrando que era toda sua força.

— desculpa.

— me desculpa também, eu te deixei preocupado, agora está tudo bem - Draco sorriu, vendo como tudo parecia tão simples agora que o problema fora resolvido, assim que falou, o menino se afastou do abraço e lhe lançou um olhar curioso misturado com o sorriso.

— Harry devolveu seu coração?

— hum? - franziu o cenho e procurou o moreno que coçou a nuca sem ter certeza de como responder aquilo.

— acho que Teddy ouviu alguma conversa sua com Pansy, ao que parece, eu peguei seu coração e quebrei.

— ah, você ouve coisas demais monstrinho. Mas respondendo sua pergunta, eu resolvi apenas pegar o coração do Harry em troca - o loiro arqueou a sobrancelha enquanto lançou o olhar malicioso para Harry que apenas riu balançando a cabeça em negação e então entrou no banheiro com a toalha pendendo em seus braços.

...

Teddy estava distraído brincando e foi quando Draco aproveitou para se preparar na batalha contra a cozinha. Pensando o qual atencioso seria se Harry chegasse e o almoço já estivesse pronto.

Meia hora.

Foi o tempo que precisou para lembrar que era horrível na cozinha, mas até aí, já havia queimado algumas panelas e feito muita bagunça, que por sorte foram consertadas com magia.

Pensou que se fosse trouxa provavelmente teria morrido bem cedo e por um segundo, se sentiu admirado em como eles viviam sem nenhuma dependência de magia. Mas se lembrou como eram idiotas e agrediram crianças inocentes, não merecem admiração.

— Ted, quer ir comprar comida pronta e fingir que fomos nós que fizemos? - Draco perguntou sentado no sofá próximo ao garotinho.

— o que eu ganho?

— Harry vai ficar muito feliz e orgulhoso... e eu deixo você comer chocolate.

— vamos! - ele subiu as escadas saltitando animadamente, Draco sabia que tinha ganhado o garoto no momento que falou que Harry iria ficar feliz, Ted era um bom menino que gostava de ver a felicidade dos outros.

Sem perceber, essa era a primeira vez desde o sequestro que Draco estava saindo sozinho com Ted, ficou feliz consigo mesmo quando notou sua nova conquista. Não teria medo de nada, porque ainda sabia ser uma cobra sonserina e protegeria o filhote texugo, sabendo que existia um leão dourado o protegendo.

Realmente, não foi exatamente agradável receber os olhares, dessa vez não eram totalmente em desgosto, mas alguns com pena ou curiosidade, ainda sim, as pessoas murmuravam enquanto ele passava com Teddy que sorria inocente sem entender a situação.

— por que tem uma foto minha aqui? - o garotinho perguntou olhando para o papel nas bancas ao lado do caixa enquanto Draco pagava.

Era o terceiro sábado seguido em que  Harry, Draco e Teddy caminhando pelo beco diagonal eram a capa no jornal mais lido em toda a Londres, O Profeta Diário. Toda a situação deveria ser um segredo, mas de alguma forma, desde a situação sobre o sequestro de Teddy e muitos outros ataques estavam detalhados em várias páginas, além de uma parte especial sobre Draco, a opinião da mídia mudou um pouco sobre Malfoy, continuava sensacionalista, mas agora de um jeito menos negativo.

Não se importava realmente com o que os outros diziam, a única coisa que importava era que agora estava tudo bem.

Foi o que Draco pensou enquanto segurava sua câmera olhando a foto que havia tirado de Harry naquele momento, ele estava distraidamente lavando a louça, Draco gostou da cena demais para lembrá-lo que poderia fazer isso com magia. Uma coisa sobre Harry: ele frequentemente esquecia que era um bruxo. Talvez por ter sido criado sem saber da existência da magia, ou às vezes apenas pensar que tudo era algo irreal demais.

— o que está fazendo? - deu um sobressalto quando notou o garotinho lhe olhando debaixo.

— silêncio, eu estou tirando fotos do Harry - Draco colocou o dedo nos lábios enquanto respondeu em um sussurro, voltando seu olhar pela fresta para ter certeza se não haviam sido descobertos.

— por que?

— isso é assunto de adultos - nem ele sabia o motivo, afinal, levando a relação deles em consideração, Harry provavelmente não iria negar uma foto — de qualquer jeito, não conte pra ele.

Teddy abriu um sorriso interessado, Draco viu o que ele iria fazer e apenas abaixou a câmera esperando o garotinho começar a negociação.

— quero uma saia que brilha, ir na escolinha e-

"Esse pirralho realmente quer ir para escolinha" Draco pensou vendo a ousadia de Teddy.

— boa tentativa, mas você acha que eu sou Harry? Se eu pensar que você vai contar, eu te azaro e tiro sua voz.

— você não pode fazer isso - Teddy arregalou os olhos surpresos conforme eles se tornavam amarelos, mas também soou como um desafio quando ele rapidamente mudou a expressão, franziu o cenho e fez um bico com os lábios parecendo irritado.

— tente contar e vai descobrir.

Draco se inclinou e ficou com os olhos alinhados a Teddy, se encararam por alguns segundos com as testas quase coladas, até que o garotinho se transformou em uma mini versão Draco Malfoy. Os cabelos tão loiros que chegavam a ser brancos, olhos azuis acinzentados e feições finas e angulosas.

— quando eu crescer quero ser igual a você - o garotinho disse em um sorriso animado.

— seja melhor - Draco bagunçou os cabelos, que agora estavam iguais aos seus, em um ato carinhoso e Harry olhou para eles de longe, decidindo que havia posado para fotos o suficiente, quando viu a demonstração de afeto se aproximou sem saber o que fazer, mas queria ser incluído.

Teddy viu isso e se virou para pedir colo a Harry que se aproximou. Draco ficou incomodado, não pela presença de Harry, mas em como ele parecia hesitante em pedir um simples abraço. Então agiu como se estivesse indo abraçar o menino, que estava no colo de Potter, então envolveu os dois em um abraço apertado.

Malfoy também não era bom em demonstrar suas emoções, principalmente com contato físico, tanto porque não havia sido criado nesse tipo de ambiente, quanto por apenas não se sentir exatamente confortável com abraços. Mas vendo que era a vontade dos outros dois que apenas não sabia se expressar devidamente, resolveu fazer um pequeno sacrifício.

— seu cabelo fica lindo assim, Ted - Harry elogiou com um riso, e Draco precisou separar o abraço para ver.

O garotinho tinha o cabelo perfeitamente dividido com as mesmas cores dos cabelos dos dois adultos. A parte esquerda do lado de Draco era lisa e de cor loira platinada, quase parecendo branco, enquanto o lado direito era um pouco ondulado e preto como penas de um corvo.

— isso foi uma boa imitação - Draco comentou notando que os olhos dos garotinho também estavam heterocromáticos, imitando o verde e azul.

— com um pouco de gel ele iria ficar parecido com você no primeiro ano - Harry olhou novamente admirando a transformação, Teddy parecia cada vez melhor nisso, mas em um segundo voltou a ser apenas o garotinho de cabelos azuis e então sorriu alegremente recebendo os elogios.

— eu gastava muito gel mesmo, acho que todo mês minha mãe mandava um pote novo - Draco deu um sorriso pela nostalgia, mas os olhos verdes brilhavam maldosos com a risada debochada como complemento.

— porque você usava o cabelo com gel?

— eu gostava - deu de ombros e pequeno Teddy em seu colo o garotinho enquanto começou a puxar os fios loiros e bagunça-los tentando organizar algum penteado que em sua mente parecia muito bonito.

— então você tinha um gosto horrível, sério, parecia lambido por uma vaca - Harry comentou em um riso, odiava aquele penteado.

— realmente, e meu gosto não deve ter melhorado já que eu namoro com você - Draco concluiu com um sorriso falso, conforme a expressão de Harry se tornava uma mistura de riso e surpresa.

Namorar. Não haviam falado sobre isso, mas era algo esperado depois das confissões, não era que sentia vergonha da palavra, mas pareceu estranho escutar ela saindo da boca de Draco de um jeito tão natural, se assustou com o quanto as coisas haviam mudado.

— não está falando sério, eu sou nota seis, nota seis é ótimo - Harry continuou a conversa tentando não transparecer sua surpresa ainda sobre a palavra anterior, disse a nota referente a sua aparência.

— e eu sou o que?

— cinco - o moreno abriu sua mão próxima ao rosto do loiro mostrando os cinco dedos, Teddy alheiamente copiou o ato.

— o que? - Draco pareceu verdadeiramente irritado pela nota.

— na verdade, você é 10, mas está me namorando e usava o cabelo com gel, então eu tive que tirar pontos.

— eu te odeio - os olhos acinzentados traziam uma nostalgia, havia ouvido coisas assim e muito piores há tempos vindo da mesma pessoa, mas agora era diferente, Draco tinha as bochechas rosadas enquanto falava isso e um sorriso reprimido.

— não, não odeia. Você me ama - Harry sorriu confiante.

A expressão de Draco se destruiu em um segundo, se transformando em um sorriso também sem aguentar manter a irritação vendo o sorriso de Harry em sua frente.

— Ted ama - o garotinho falou alegremente, havia aprendido essa palavra com Pansy, e só então os adultos notaram quão pouco usaram ela, arriscaria dizer que nunca falaram isso para Teddy, afinal, nenhum deles era do tipo que se expressava com palavras, até mesmo agora, a palavra apareceu mais em uma brincadeira.

— ama eu ou Harry?

— os dois.

— nós também te amamos - Harry deu um pequeno beijo na bochecha de Teddy e aproveitando que Draco havia abaixado a guarda, também roubou um beijo dele que lhe lançou um olhar cortando.

— não faça isso na frente do Ted.

— oh, ele já viu um beijo mais imoral antes - Harry comentou com um sorriso sarcástico em resposta recebeu um empurrão e o rosto corado de Draco que se virou tentando disfarçar

...

— uma maçã na mão, pra não ter que beber poção - Blaise recitou o ditado popular bruxo, sorriu segurando a maçã e então jogou no homem, mas ao que parece lidar com plantas necessitava de bons reflexos, pois ele desviou com certa facilidade.

— você supostamente deve comer a maçã e não jogar em mim. Entende essa parte do ditado? - Neville franziu o cenho enquanto pegou a maçã checando para ter certeza que não havia estragado nenhuma parte e colocou sobre o prato de frutas novamente.

— jogar é mais divertido - Blaise sorriu, Pansy observou a cena com estranhamento, mas não fez nada além de sorrir.

— mesmo se jogar, eu vou preparar a poção, é meu trabalho - Neville comentou, foi especialmente colocado lá para fazer a poção com seus ingredientes que ele mesmo cultivou.

Não era exatamente bom em poções, mas como essa planta era difícil de lidar e precisava ser manipulada com precisão, não era qualquer pessoa que fazia, por sorte, estava com um dia livre em Hogwarts e cedeu seu tempo para cuidar da poção de Blaise Zabini e Theodore Nott. Ao menos no quarto de Nott apenas foi ignorado, já que o paciente estava ocupado demais dando em cima de Astoria, a quem Neville não sabia exatamente qual ligação tinha, mas pareciam próximos.

— você leu o jornal?

— de novo? - Neville respondeu sem perceber e recebeu um olhar de julgamento da mulher que claramente não tinha direcionado a pergunta a ele.

— bem, o jornal sai todo dia, sabe? Por isso são novidades. - provocou sarcasticamente e Blaise revirou os olhos.

— o que aconteceu? - o negro indagou em um suspiro, tentando ignorar o sarcasmo sabendo que provavelmente era porque estava tentando canalizar o nervosismo.

— Crabbe está aguardando o julgamento no conforto da casa e deu uma entrevista confiante que era inocente.

— ele deve ter uma família poderosa por trás, os Greengrass? - nem mesmo Blaise e Pansy sabiam exatamente o que havia acontecido, afinal, Draco não queria realmente falar sobre o momento difícil, então apenas sabiam o que foi descoberto pelo jornal, o que não era exatamente confiável.

— não tenho certeza, em geral foi o conselho quem interviu, os Greengrass fazem parte e ter uma filha presa não deve ser o que desejam. Mas pra que ajudar Crabbe, se eles poderiam apenas colocar toda a culpa nele e deixá-lo pagar sozinho? - o pensamento sonserino assustou um pouco o único Grifinório que tentava ignorar isso e fazer seu trabalho.

— isso é bem estranho. De qualquer jeito, Draco me disse que foi Crabbe quem mandou os novos comensais para me bater - Blaise parecia mais curioso do que raivoso, como se falasse sobre algo que aconteceu com outra pessoa — me pergunto porque ele não me matou.

— e então, quer fazer uma visita pro nosso querido amigo e descobrir as respostas? - a mulher cruzou os braços e comentou sarcástica.

— talvez - ele deu de ombros pensativo, então deu um sorriso fraco — ou talvez eu apenas mate ele.

Longbottom sentiu sua mão vacilar por um segundo pelo rumo da conversa, não acreditava em quão levianamente falavam sobre vida e morte. Os dois amigos riram, e não tinha como saber o quanto daquelas palavras foram piada ou expressão de seus verdadeiros desejos. Tentando ignorar isso, Neville estendeu a poção para ele.

— tome.

— isso tem um gosto horrível, não quero tomar - Zabini protestou, como uma criança birrenta, mas pegou a poção.

— acho que está melhor agora, eu adicionei mel, disse que gostava de coisas doces.

— colocou mel só porque reclamei do gosto? - um misto de descrença e então malícia, as suas expressões elegantes o suficiente para não serem exageradas e combinarem com o tom rouco de Blaise.

— sou bem atencioso com pacientes - Neville respondeu tentando não dar importância.

— você disse que tinha uma reunião ou algo do tipo daqui a pouco, Longbottom? - Pansy interrompeu com um certo ar de arrogância, mas sorria com leveza como se não notasse a indelicadeza de suas palavras.

— tem razão, estou atrasado - o de cabelos castanhos assentiu notando o horário e juntou seus materiais e os restos dos ingredientes rapidamente, quando saiu, foi seguido pela mulher que também disse estar ocupada.

Ela seguiu o mesmo caminho, passo após passo, atrás de Longbottom, quando ele diminuiria a velocidade, ela o copiava e quando aumentava, ela também aumentava, até que ele hesitou, de fato, aquele era o caminho para a saída, mas estava claro que ela queria algo dele, do contrário, não teria feito toda aquela cena dentro do quarto. Por isso ele diminuiu a velocidade e com um suspiro parou, vendo o espaço ao redor deles vazio, olhou para trás obtendo uma visão clara do rosto inexpressivo.

— quer algo de mim, senhorita Parkinson?

— nada, apenas estou caminhando - ela hesitou, talvez ela mesma ainda não tivesse certeza se queria ou não falar com ele. Sentia que estava começando a entender a excentricidade sonserina, parecer como uma presa prestes a atacar, mas no fim nem mesmo gostar de carne.

— parece próxima do Zabini, se está preocupado sobre as poções que ele toma - começou a explicar, pensando que talvez seja esse o motivo, já que ela deu um pequeno vacilo quando ouviu a palavra "preocupada".

— não entendo disso, mas confio em seja lá o que faz, afinal, não acho que tenha coragem suficiente para fazer algo ruim - os olhos ônix brilharam em desafio, o de olhos claros ignorou.

— não tenho, mesmo se tivesse, com o trabalho que me dá fazer seu amigo tomar a poção, seria melhor uma azaração, não? - comentou pensando que isso seria o mais sonserino que conseguiria agir.

— tem razão - como esperado, Pansy sorriu um pouco como se reconhecesse o esforço de Neville — mas sabe, ele normalmente não é assim, nunca vi ele fazendo birra nem reclamando.

— ah, isso é inesperado - não lembrava de muito sobre Zabini em Hogwarts, era apenas mais um filho de família rica sonserina que fazia bullying com os outros, mas o que havia visto no hospital desde que ele se internou que estava acompanhando seu tratamento, nunca iria pensar nele como alguém maduro — ele parece mimado.

— ele só é assim com você, esse negócio de demonstrar fraquezas, é realmente raro pra ele. E eu não faço ideia quando ficaram tão próximos ou porquê, mas espero que reconheça o esforço dele em se abrir - ela deu um pequeno sorriso, aliviada consigo mesma por ter falado o que queria, e sem mais nenhuma palavra, continuou andando rapidamente para a saída, porque no fundo tinha mesmo algo para fazer naquele horário.

Neville ficou congelado, tentando absorver a veracidade das palavras que lhe foram ditas. Começou a conversar melhor com Zabini há poucos meses, desde que ele foi para o hospital, e em grande parte das vezes nunca falavam sobre si, era mais algo sobre as poções e os tratamentos, às vezes algum professor de Hogwarts ou uma celebridade em comum que gostavam. Não conhecia ele o suficiente para entender porque agiria como se fossem próximos. Mas apreciou as palavras de Pansy.

...

O vento se rasgava conforme as vassouras passavam, em uma rapidez impressionante e como se um deles não segurasse uma criança com pouco menos de três anos. Harry fazia manobras ficando em pé e as vezes de ponta cabeça, enquanto Draco apenas se contentava com curvas, sabendo que mais do que isso poderia ser perigoso para Teddy.

Um sorriso brilhante estava estampado no rosto do garotinho, em pura alegria, ele gritava quando sentia o frio na barriga e gargalhava sozinho em diversão. Olhou o chão e tentou acenar para as pessoas, mas ninguém parecia o notar, a ingenuidade da criança não o permitia entender que adultos apenas não se importavam o suficiente para olhá-lo.

— eu estava sentindo tanta falta disso! - o loiro declarou quando eles finalmente pousaram no topo de alguma colina com uma bela vista ao pôr do sol e se olhassem para o lado podiam ver o Big Bang e as luzes de Londres começando a acender.

Por causa do vento frio constantemente batendo contra seus rostos, os três estavam com bochechas avermelhadas, bem como as pontas dos narizes. Teddy usava um casaco grosso de cor vermelha junto com calças jeans, uma das poucas roupas Trouxas que Draco aprovou, que, por sua vez, usava uma roupa bruxa, com sobretudo um pouco mais justas com partes de algodão e outras couro de dragão. Harry tinha a perfeita polaridade entre trouxas e bruxos, de calças jeans e sobretudo, usava luvas de couro de dragão, e uma blusa trouxa que havia até mesmo o nome da famosa marca estampado, ele realmente não ligava muito pra isso, fora Draco quem comprou revistas trouxas e passou horas descobrindo quais eram as marcas famosas e caras, e depois fez questão de gastar dinheiro com elas.

— faz tempo que não voa na vassoura? - com a cesta aberta, Teddy aproveitou para pegar um pedaço do bolo de chocolate, Harry olhou para o repreender pela bagunça, mas apenas recebeu um sorriso de quem sabia o que fez de errado.

Draco olhava para a paisagem sem notar o caos acontecendo ao seu lado e Harry resolveu não falar nada e arriscar estragar o momento. Ainda sentado sobre a vassoura que flutuava pouco acima do chão, apenas porque estava com preguiça de descer.

— sim, a última vez foi quando- Draco congelou por um instante, sua expressão ficou nostálgica quando ele abaixou o tom de voz — foi quando você me salvou, obrigado por aquilo.

— obrigado por não ter contado que era eu, naquele dia que fomos pegos.

— e-eu não gostava de você, mas também não queria que morresse, quando eu vi... digo- os lábios perfeitamente vermelhos se apertaram um nos outros em nervosismo.

— então gostava de mim? - Harry arqueou a sobrancelha vendo através da mentira e se divertindo com isso, era difícil ver Draco com a guarda baixa, até mesmo Teddy parecia curioso observando a reação dele e parou de comer o bolo por um instante.

— não!

O moreno ficou em pé sobre sua vassoura mágica que continuou voando e começou a provocar Draco discursando sem pensam muito nas palavras.

— bem, eu acho que sim, gosto de você, talvez desde aquele tempo. Então eu gosto de você já bem mais tempo do que gosta de mim, e fui eu quem me declarei também... você vai precisar se esforçar pra provar seu amor. - ele disse em um tom de desafio e facilmente Draco mordeu a isca quando retrucou em um tom elevado.

— ridículo! Eu gosto de você desde que tinha quinze! - ele gritou em irritação, pelo espanto causando tanto pelas palavras quanto a elevação de voz, Harry que estava em cima da vassoura, caiu de modo que ficou pendurado pelos pés e de ponta cabeça. Cara a cara com Draco que lhe lançou um olhar de "eu sabia que iria cair, agora pare de dar um mau exemplo"

Porém, logo notou que o efeito de seu olhar de repreensão eram fraco comparado a aura apaixonada que emanava dos olhos esmeraldas, próximos demais para serem facilmente ignorados. Malfoy cobriu o rosto tentando organizar seus pensamentos, e se desviar daquele que deixava sua mente entorpecida.

— isso é bastante tempo - Harry ficou verdadeiramente surpreso, não podia imaginar que aquilo era verdade, ao mesmo tempo, parecia fazer sentido.

Quando ele se remexeu desconfortável pela posição de ponta cabeça, mas fascinado demais pela vista para mudar, ficou ainda mais próximo de Draco. Analisando bem seu rosto, via os lábios vermelhos e podia notar uma coloração rosada marcando seus olhos, parecia maquiagem, mas julgando que era o mesmo tom de suas bochechas, talvez fosse o frio.

— mas eu não gostava, era uma quedinha, todo mundo tinha uma quedinha por você - ele tentou se explicar, tento plena ciência em quão idiota parecia, mas apenas não conseguia parar a si mesmo. Sempre sendo um idiota perto de Harry.

Draco virou o rosto fingindo estar ocupado escolhendo algo para comer, apenas não queria continuar olhando para aqueles olhos verdes que olhavam através de si. Toda vez que se permitia prestar atenção nos detalhes tinha mais vontade de se aproximar, tocar a cicatriz, passar a mão entre os cabelos pretos e beijar os lábios rosados.

Harry, por sua vez, estava ainda mais intrigado tentando descobrir se Draco estava usando algum tipo de batom para seus lábios ficarem daquela cor. Se aproximou e sem pensar muito, levou a mão para o rosto pálido, o virando de frente para si.

E então beijou, foi estranho por ainda estar de ponta cabeça, mas bom, porque ainda era Draco. Absorvendo pelo momento, sua perna que o sustentava vacilou e ele caiu por cima do loiro que reclamou de imediato.

— eu sabia que isso iria acontecer, até Ted se comporta melhor - Draco reclamou em um gemido de dor, apesar da altura não ter sido grande, ainda era o peso de um homem sobre si.

Empurrou Harry que murmurava desculpas entre risos e o fez rolar para o lado enquanto chacoalhava suas roupas tirando os fiapos que poderiam ter aparecido.

Os lábios vermelhos intactos, Harry colocou o dedo sobre seus lábios e mais uma vez olhou para Draco.

— não é batom - ele murmurou pra si mesmo e sorriu como se houvesse feito uma descoberta vital para a sobrevivência da espécie humana.

— o que estão fazendo? - o menino indagou com a boca melada em chocolate e os olhos curiosos.

— nada - Harry respondeu em imediato, sentindo o olhar acusatório de Draco sob si.

— vocês estavam com uma boca sobre a outra de novo.

— isso chama beijo, Ted. É algo que adultos fazem quando se gostam muito - Draco tentou explicar, ignorando o rubor crescente em seu rosto.

— por que? - o garotinho perguntou e o loiro buscou o olhar de Harry, deixando claro que agora era a vez dele e era melhor não estragar.

— porque eles querem demonstrar que se gostam.

— eu também gosto de vocês.

— ah, mas não podemos beijar, isso é um beijo de namorados só com adultos, mas pode dar um beijo na bochecha, assim - Harry sorriu e demonstrou dando um pequeno beijo na bochecha do menor que também sorriu de volta e fez a mesma coisa, satisfeito, ele encerrou o assunto. Conforme os adultos soltaram suspiros de alívio e Harry olhou procurando a aprovação de Draco que revirou os olhos vendo como ele parecia orgulhoso de algo tão simples.

— voltando ao assunto, em Hogwarts, todo mundo tinha uma queda por você! - estava cansado de ouvir as garotas na sala comunal xingarem os sonserinos e logo depois se lembrarem da beleza deles e então xingarem Draco por ser tão bonito. Gina costumava dizer "um desperdício de rosto".

— ah, isso é verdade - Draco não podia negar que havia ouvido muitas declarações — mas você era tão popular! O querido eleito grifinório que exalava nobreza.

— vamos realmente brigar sobre isso? - Harry respondeu, apesar de ter sido ele quem trouxe o assunto à tona.

— não, porque isso seria patético e eu deixo esse papel pra você - Draco retrucou irritado, Teddy se esgueirou para ir até ele e fazê-lo olhar para si, com a boca suja de farelos.

— se a gente voar bem alto, eu vou poder ver a vovó? - o menino perguntou com um sorriso animado. Os adultos engoliram cedo, aquela fase cheia de dúvidas era tão complicada.

— hum? - foi o único som que saiu de sua boca.

— você disse que ela estava no céu. A gente pode ir ver agora, né?

Draco alternou o olhar entre a criança sorridente e Harry, fez isso três vezes em um rápido momento, até que passou a mão ajeitando os cabelos azuis e virou o garotinho na direção do moreno.

— Ted... isso é... Harry quer falar com você.

— não precisa, pode continuar Draco - ele gesticulou em desespero, também não sabia o que dizer.

— Harry!

O olhar firme de Draco disse tudo o que precisava para Harry entrar em pânico e falar a primeira coisa que veio à sua mente tentando soar convincente.

— não conseguimos ver a vovó, mesmo com essa vassoura. Ela não voa alto o suficiente.

— e como eu faço pra voar mais alto?

— um avião - Harry se arrependeu assim que as palavras saíram de sua boca e Draco não pode evitar bater em sua própria testa — Draco, por favor, eu vou chorar se tiver que continuar.

— monstrinho, lembra que eu te disse, você é muito novo pra entender, mas as coisas são bem mais complicadas. Mesmo se a gente tivesse um avião, ainda não conseguiríamos ir ver eles.

Com a conclusão de sua fala, Malfoy lançou um olhar de repreensão para Potter que engoliu seco aceitando aquilo, sabia que merecia.

— por que todos eles tiveram que ir pra tão longe? - o garotinho soltou um suspiro frustrado, aquele assunto era tão difícil de entender. Os adultos se entreolharam notando que Teddy não falava só de sua avó, bem como o plural indicava, também se perguntava dos pais.

— eles não queriam, de verdade, mas foi pra um bem maior. Seus pais são heróis, sabia? A sua avó também, ela foi uma bruxa incrível e protegeu muitas pessoas e chegou uma hora que ela precisou descansar - Harry comentou tentando se redimir, Draco assentiu apoiando a tentativa.

— igual quando eu brinco muito e fico cansado?

— sim, mas ela... não vai acordar mais, porque o corpo dela se desgastou, mesmo assim, ela continua cuidando de você, só está longe - Harry sentia que estava estragando tudo vendo o olhar do garotinho voltar a ficar confuso.

— isso é tão difícil. Ela está dormindo ou está acordada?

— eu também não sei, Teddy. Ah, eu não sei explicar isso também, não faça perguntas tão difíceis. É complexo - Harry bagunçou os próprios cabelos e olhou para o par de olhos mercúrio buscando auxílio.

— por que não contamos histórias sobre eles? Assim vai sentir que eles estão aqui também.

Esse era o ponto, falar dos mortos com a alegria pelos momentos felizes, sem a hesitação de lembrar da morte. Aceitá-la, e ainda sim, saber apreciar as histórias em vida é o único jeito de superar o luto. Um luto que o próprio garotinho passava sem entender. Ele teria o suporte e a família que Harry não teve. Todo amor e carinho que nenhum dos adultos tiveram o luxo de possuir iriam ser dados para Teddy.

———————
Notas da autora:
Obrigada por lerem e comentarem, espero que tenham gostado. Não se esqueçam de votar.

•interação:

Tem um mini spoiler do bem mais abaixo, então se quiserem ler desce a tela. Mas vamos interagir primeiro.

O que acharam desse capítulo?

Viram esse ship Neville e Blaise que eu deixei no ar?
Nem eu sei da onde tirei isso, mas pareceu interessante kkkk

Infelizmente, eu contei uns oito capítulos até o final, queria que durasse pra sempre kkkk mas se tudo der certo eu vou fazer alguns extras.

Spoiler
.
.
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Vai ter lemon no próximo capítulo.
Eu ainda estou escrevendo, é meu primeiro e não vai ser muito explícito, até pq isso é uma fic de família kkkkk
Mas sério, não tenham muitas esperanças, é detalhado o suficiente para saberem quem vai ser o top e bottom, o que aliás, não quero ler reclamações.

Claro, vocês tem opiniões diferentes, ótimo. Mas aqui eles vão ser flex e o sexo não é o foco. Pode comentar "achei que ia ser fulano o ativo" mas não quero ver "aí, ele não combina sendo o ativo, não quero ler" pq se vc não quiser ler, não se dê ao trabalho de comentar, só pula essa parte, ou procura outra fic.

Espero não ter soado muito grossa kkk se pareceu, leiam o parágrafo acima novamente imaginando uma voz de loli.

Obrigada de novo.

Até a próxima❣️

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