10 - Elegante demais para dizer não

Agora

Eles já estavam do lado de fora quando Aiyra se deparou com uma enorme lona vermelha. Nem se comparava com a que ela havia passado a noite. Era de um tom muito intenso e haviam muitos detalhes coloridos. Algumas bandeiras de cores diversas enfeitavam ao seu redor.

- Magnífico! - não achou outra palavra para descrever o que estava a sua frente além desta.

- Não é lindo? - Zyskla apressou o passo e virou de frente para eles. - Respeitável público, sejam bem-vindos ao lugar onde a magia acontece e os seus mais fantasiosos sonhos se tornam realidade! - Ela gesticulava de forma exagerada e sorria de orelha a orelha.

- Menos, Zyskla. O dia acabou de começar e você não está num espetáculo.

- Ah! Você acorda muito ranzinza. Está precisando relaxar um pouco. - olhou para Aiyra ao dizer a última frase.

Ele riu meio que para dentro e balançou a cabeça.

- Você não vale uma moeda de ouro.

Ela riu de se acabar, ele estava com uma expressão risonha no rosto mas não fez como ela, se conteve.

Aiyra não entendeu o porquê de dizer para uma mulher que ela não tem valor ser motivo de riso.

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A parte de dentro era ainda mais magnífica. Talvez pelo fato de não receber interferências climáticas como a grande lona do lado de fora, as cores eram mais vivas. Os bancos de madeira subiam gradativamente e Aiyra pensou como haviam pessoas corajosas o suficiente para sentarem num lugar tão alto. As luzes das lâmpadas penduradas por fios eram coloridas. Eles passaram por toda a extensão de terra no meio, que estava vazia, e bancos novamente e entraram em uma sala com cores tão fortes que beirava o psicodélico. Não era a sala em si, e sim os figurinos. Todos jogados aleatoriamente, aquilo estava uma bagunça generalizada. Até que entraram num lugar que era um contraste absoluto àquele que acabara de ver. Uma mesa, duas cadeiras à frente, alguns compartimentos. Tudo no seu devido lugar. Inclusive, o homem atrás daquela mesa era a pessoa mais arrumada que ela já havia visto. Ele usava preto e um chapéu enorme da mesma cor. Seu corpo era fino, assim como o rosto. Exceto os seus olhos, que eram grandes e redondos, escuros e atentos.

Assim que entraram, ele se levantou para recebê-los.

- Você! - ele se aproximou dela - Você é a menina que estava perdida na floresta. Permita-me fazer as devidas apresentações. Me chamo Pefrus Artem, sou o dono de tudo isto que você achou tão magnífico.

- Como você sabe o que eu achei?

- Sou um mágico, sei de coisas que ninguém sabe. - ele a fitou intensamente por um momento e então voltou a sorrir - Então, qual é o seu nome?

- Pensei que também já soubesse. - respondeu, sincera.

Todos riram, mas ela ficou olhando para os lados sem saber o que fazer.

- Eu disse, ela é das minhas!

- De fato, Zyskla. De fato. - eles se entreolharam por alguns segundos.

- Ele se apresentou, será rude se não disser o seu nome. - sussurrou Badika no ouvido dela.

- Me chamo Aiyra Vitania.

- Sim, sim. Meras formalidades, é claro. De todo jeito... - o mágico estendeu a mão - É um prazer conhecê-la.

Ela retribuiu, e Pefrus levou sua mão até a boca, deu um beijo demorado de olhos fechados e soltou.

- Por favor, venha comigo. - disse, passando por eles e indo em direção ao grande espaço que haviam passado antes. Os três o seguiram.

- Sabe, Aiyra - continuou-, me agrada muito conhecer pessoas novas, principalmente quando elas são assim, como você. Vejo em seus olhos o desejo por conhecer o desconhecido, o tipo de interesse que apenas a nossa família pode lhe oferecer. - estavam parados bem no meio quando ele se virou e olhou para ela. - Há algo de magnético na sua pele - ele tocou com uma varinha recém retirada de sua manga e do braço dela saíram alguns feixes dourados como faíscas -, de cobiçoso nos seus olhos - ele rodou a varinha e fez um vento tão forte que jogou os cabelos dela para trás -, e de quente no seu coração - ele foi descendo com a varinha, que deixava uma linha vermelha e brilhante conforme ela passava -, que a trouxe até aqui. Eu acredito que o acaso nos protege a partir do momento que ele nos guia involuntariamente para situações como esta. Nós não te procuramos, ainda assim, está aqui. Não é curioso? Agora, se me permite, gostaria de lhe fazer uma pergunta. - Ele retirou o enorme chapéu e de dentro dele puxou um pequeno coelho. - No pouco tempo em que esteve aqui, algo lhe despertou algum interesse?

Ele pegou o pequeno e frágil animal e o ninava, acariciando-lhe o pelo. Parecia que sua esposa havia acabado de dar a luz, e aquele em seus braços era seu filho.

- Como você faz estas coisas?

- A que se refere? - ele colocou o coelho no chão e abriu a mão direita, nela estava sua pulseira. Ela não fazia ideia de como tinha ido parar ali, tinha certeza de que estava no seu pulso até aquele exato momento. - Magia?

- Por favor, devolva a minha...

Pefrus se aproximou dela.

- Fique calma, minha querida. - interrompeu, levou a mão até a parte de trás da orelha dela e retirou de lá uma flor de pétalas laranjas. - Olhe para o seu pulso.

Lá estava a pulseira de volta. Ela ficou deslumbrada e intrigada com o que acabara de ver. Como ele fazia aquelas coisas? De repente, um barulho vindo do lado de fora despertou a todos de um transe.

- Aiyra, seja bem-vinda ao Circo de Xalen, perdoe-me ter de me ausentar, mas se me permite. - ele fez uma reverência, então se virou para Zyskla - Faça o possível para que ela se sinta à vontade. Esta pode levar o tempo que quiser para escolher.

E saiu.

- Acho que isto significa que temos permissão para irmos em todas as salas!

- Ele não disse isso. - Badika protestou.

- Mas foi o que quis dizer!

- Se você acha...

- Eu conheço ele melhor que você. - retrucou, com um sorriso.

- Que bom, pretendo manter as coisas assim. - deu de ombros.

- Vamos, Aiyra. - Zyskla estava com seu tom empolgado novamente - Agora que você pode ficar temos todo o tempo do mundo, mas não sou de desperdiçar minha energia.

- Me desculpe, mas ele disse Circo de Xalen? - ela indagou.

- Sim. - disse Badika - Por que a pergunta?

- Minha amiga Nevere está aqui! - ela explodiu numa alegria repentina como se ainda estivesse sob efeito de bebidas. - Onde está ela? Posso vê-la?

- Uma amiga sua? Claro! Podemos nos juntar e procurar por ela hoje mesmo.

- Ah, muito obrigada! Que enorme coincidência encontrá-la aqui!

- O acaso nos guia, Aiyra. Não é coincidência, é destino. - disse Badika.

- Bom, só saiba que nossa família é gigantesca. - acrescentou Zyskla - Então não há garantias de que iremos achá-la imediatamente.

- Você disse Nevere, não é? - indagou Badika.

Aiyra assentiu. Ele olhou para Zyskla.

- Sim, de fato podemos levar um bom tempo até acharmos ela. - concluiu.

- Mas nos diga, minha amiga, de onde vocês se conhecem? - Ver Zyskla chamá-la de amiga quando, na verdade, haviam se conhecido no dia anterior era risível. Principalmente no meio de uma conversa sobre alguém que era, de fato, próxima desde pequena.

- Nós somos da Vila, nos conhecemos desde a infância.

- Que Vila?

- A Vila de Prudenta, não sei se você sabem de nós, mas não temos o costume de sair de lá e...

Como que surgindo das sombras e brotando do chão, Pefrus Artem estava de volta com toda sua elegância no andar e fascinação no olhar.

- Com licença, minha querida Aiyra. Se me permite participar da conversa, gostaria de fazer uma ou duas perguntas. Se não for de muito incômodo, é claro!

- Tudo bem... - Pefrus tinha uma educação tão grande no falar e um tom tão suplicante ao pedir as coisas que deixava embaraçoso de se discordar dele.

- Muito obrigado. - ele pigarreou - Você disse que tem uma amiga aqui? Como ela se chama?

- Nevere. Você sabe onde ela está?

- Eu... - ele olhou para o alto - não tenho certeza.

- Nós já explicamos para ela que nossa família é grande e será difícil de encontrar a amiga. - disse Zyskla.

- Oh, perfeito! Espero que entenda e, por favor, nos perdoe pelo inconveniente. - ele levou a mão ao coração ao dizer isto e então voltou a sua postura inabalável - Você também disse que veio de uma vila de onde as pessoas não podem sair. Gostaria de entender um pouco mais sobre isto. Pode me explicar?

- Claro, nós acreditamos em Kreinto e...

De um súbito, como quem não se controla, Pefrus começou a gargalhar alto.

- Tudo bem, tudo bem... me perdoe. Estou um pouco fora de mim nos últimos dias. - ele limpou algumas pequenas lágrimas de riso dos seus olhos e continuou: - Na verdade, a culpa é minha, eu não soube explicar com clareza o que estava pensando.

Aiyra apenas continuou olhando para ele.

- Apenas acho inadmissível que um grupo de pessoas vivam assim. Onde já se viu ser privado da própria liberdade? Acredito que sentiu felicidade e um grande alívio ao se ver livre. - subitamente ele parou de falar e deu um pequeno sobressalto como se tivesse acabado de tomar um susto consigo mesmo - Me perdi num devaneio, perdão. O que de fato quero saber é... onde podemos encontrar as pessoas presas? Você pode me mostrar?

- Claro.

- Perfeito.

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